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Fonte: Google Maps, adaptado pela autora.

No que tange ao posicionamento em relação aos grandes eixos estruturantes, o mapa acima revela claramente que o Coque encontra-se inserido em vários nós de circulação tão viários que ferroviários e marítimos, dos quais se beneficiam diretamente os moradores do Coque. A localização estratégica do Coque faz com que um fluxo grande de carros circula nas horas de mais circulação para atingir várias áreas da cidade. Todavia, um participante do grupo focal sublinha que esses movimentos são relativamente recentes, o que mostra que a imagem do Coque como lugar perigoso esta se modificando,

na Cabo Eutrópio aqui, essa avenida central, a partir das cinco horas da tarde, você não consegue avançar mais porque o povo que vem da Agamenon, da Imperial, tudo mundo que vem cortar o Coque passa agora por aqui, porque agora esse tabu, meio que acabou né [...] rapaz, faz dois anos, de dois anos pra cá, ficou um fluxo de carros maior e é muito mesmo, até para a gente passar, é ruim. Tem

91 engarrafamentos, fica parado mesmo [...] Tudo mundo quer passar pelo Coque agora porque acabou agora de o Coque passar direto na reportagem. (MORADOR C)

Todavia, vale assinalar que as linhas de ônibus que passam pelo Coque não o atravessam, o que vale dizer que os moradores das partes mais distantes da estação de metro e ônibus ou andam até lá ou atravessam o rio e usam as linhas de transporte do bairro vizinho, Afogados. Assim, como o sublinha uma participante do grupo focal,

O pessoal que mora no Novo Mangue esta muito desfavorecido para pegar ônibus, tem que andar tudo, tem que pegar no afogados, o bairro vizinho porque é mais perto. (MORADOR B)

Em relação aos serviços públicos, divididos em equipamentos de saúde e escolas, levantamos quatro escolas da rede municipal de ensino fundamental que só atende a população do Coque (escolas Costa Porto, Municipal do Coque, Josué de Castro, Novo Mangue). Da rede estadual, levantamos a escola Nossa Senhora do Carmo de ensino fundamental, e as escolas Joaquim Nabuco e Monsenhor Manuel Leonardo de Barro Barreto de ensino médio e fundamental.

Importante anotar que as escolas da rede estadual se encontram na área do Coque I, do outro lado da linha do trem, o que cria uma divisão/fragmentação em relação aos moradores do Coque II que se referem às essas escolas como situadas em outra área que não é deles.

Outro aspecto denotando uma falta de inserção interna ao Coque é o fato de que todas essas escolas estão cercadas por muros altos, expressão da percepção do medo à violência e que não permitem uma interação e inserção com o entorno.

Sobre os equipamentos de saúde, existem dentro da ZEIS dois postos de saúde que só atendem a população do Coque, sendo que um funciona só meio expediente. Os moradores reclamam do atendimento em geral: a fila, a falta de médico e de ser atendidos por um enfermeiro.

Está prevista a construção de uma policlínica especializada na ZEIS do Coque, localizada perto das infraestruturas de transporte já existentes (metrô, linhas de ônibus) e que atendara à população da cidade inteira (começo das obras até agosto de 2014). O

92 objetivo é claramente de “abrir” o Coque à cidade inteira, fator de inserção sócio- espacial, mas é preciso garantir que a valorização da área consecutiva à instalação dos equipamentos urbanos não ameaça a permanência das populações pobres na área.

Em relação aos equipamentos comunitários, fizemos em primeiro lugar um levantamento dos espaços de lazer disponíveis. Como espaços públicos, identificamos uma grande praça, Francisco Barreto, equipada com brinquedos para crianças, mas sem nenhuma arborização para proteger do sol nas horas mais quentes do dia (foto 12). Além dessa, existe a “Praça da Piriquita” (foto 13), bem arborizada, mas de pequeno tamanho, usada como depósito pelos próprios moradores e sem brinquedos ou instalações comunitárias. Importante anotar que essas praças não são frequentadas por pessoas de fora do Coque, mas apenas por moradores.

Fonte: a autora, 2014.

Mais, levantamos a existência da Academia da Cidade (foto 14) construída em outubro de 2008, fazendo parte do programa da Prefeitura de Recife do mesmo nome e que visa a prática regular de atividades físicas e de lazer em espaços públicos, com a presença de profissionais das áreas de educação física. O espaço é totalmente aberto, mas ele se revela de difícil e perigoso acesso porque cercado de vias de circulação de velocidade media, frequentada por carros, ônibus, motos etc. Isso enfraquece a inserção sócio-espacial do espaço que não é frequentado por moradores de Recife exterior ao Coque e também é separado espacialmente das moradias pelas vias de circulação. Além

93 disso, um participante do grupo focal sublinhou a má qualidade dos equipamentos implantados

Áreas de lazer para as crianças é difícil, a questão é que como é aqui para o Coque, o material usado pela Prefeitura é um, o do dona lindu é outro, lá tem funcionários, limpam, aqui nunca acontece isso. Eles fazem de proposito pra mostrar que o povo não respeita. Poderia fazer palestras, formações para as crianças que iam cobrar umas das outras. (MORADOR B)

Fonte: Prefeitura do Recife – 2012.37 Fonte: a autora, 2014.

Existe ainda um campo improvisado de pelada (foto 16) muito frequentado pelos moradores e que ocupa uma área grande da ZEIS. O Instituto da Cidade avançou em varias reuniões a ideia de mudar o campo de football de lugar para abrir ruas, ganhar espaço para construir a policlínica, conjunto habitacional etc.

Enfim, existe o clube Mocidade que serve de área de lazer (bar), mas também de espaço para realizar cursos, reuniões comunitárias etc.

Dentro das obras previstas para o Coque esta sendo anunciada a implantação de uma pista de esportes radicais, uma Academia Recife (para malhação) e a entrega de um Centro Comunitário da Paz - COMPAZ38 já em fase de construção.

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Disponível em: <http://agendaculturaldorecife.blogspot.com.br/2011/05/coqueilha-joana-bezerra.html>

38 Promessa de campanha do atual prefeito Geraldo Júlio, o principal objetivo do Compaz é oferecer alternativas para prevenir a criminalidade e o consumo de drogas,principalmente entre os jovens, além de funcionar como uma ferramenta de inclusão social. Esse trabalho será realizado através de políticas integradas e equipamentos de alta qualidade.

Foto 14: Academia da Cidade do Coque

94 Ao nível do comércio, existem mercadinhos e muitas lojas pequenas disponíveis para fazer a feira e compras cotidianas, mas não grandes supermercados. A proximidade do mercado de Afogados e do centro da cidade, que são áreas muito comerciais, incentiva os moradores a sair com muita facilidade do Coque para efetuar compras.

No que tange às condições de higiene e salubridade, anotamos o principal vetor de contaminação de doenças a ausência de sistema de coleta e tratamento de esgotos, que até hoje, vão diretamente ao canal Ibiporã que perpassa pelo Coque a céu aberto, juntando lixos. Um dos principais objetivos da obra de revestimento do canal é justamente reverter esse quadro.

Fotos 16 e 17: Canal Ibiporã - Esgoto a Céu Aberto e Depósito de Lixo

Sobre acesso e mobilidade, já anotamos a grande quantidade de linhas de transportes disponíveis, usadas diariamente pelos moradores do Coque por diversos motivos: lazer, trabalho, saúde, compras, estudos...

Segundo a Grande Recife Consórcio de Transporte, o Terminal Integrado de Joana Bezerra, inaugurado em 1994, é um dos principais terminais do Sistema Estrutural Integrado (SEI). Ele movimenta aproximadamente 40 mil usuários diariamente, operando com 1.122 viagens diárias, divididas em dez linhas que atendem vários municípios da região metropolitana (Recife, Olinda e Paulista) e 116 coletivos. O novo terminal sendo construído foi projetado para ser o maior em operação do Sistema Estrutural Integrado (SEI), com cinco mil metros quadrados de área construída e capacidade para atender a 67 mil passageiros por dia.

95 Ao nível do metrô, a estação Joana Bezerra como a estação Recife são privilegiadas com acesso facilitado para os dois ramais de metrô que desservem a região metropolitana, como o mapa abaixo o mostra, o que revela sua importância para os fluxos da RMR toda.