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Árvore Genealógica dos Principais Campos Ligados a ADMM a partir das Primeiras Igrejas fundadas até início da década de 1960

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BRASILEIRA: do Pr Paulo Leivas Macalão ao Bispo Manoel Ferreira.

Diagrama 2 Árvore Genealógica dos Principais Campos Ligados a ADMM a partir das Primeiras Igrejas fundadas até início da década de 1960

FONTE: Autor.

Devido ao censo brasileiro considerar as ADs como uma entidade religiosa única, não conseguimos retratar esse crescimento em números82, o que nos daria

uma maior visibilidade da realidade. Porém pelo diagrama 2, temos a condição de entendermos o porquê o tema da “invasão de campo” preocupava em muito aos outros líderes dessas ADs. Mesmo que na teoria o discurso fosse de unidade entre

81 Não conseguimos encontras as datas de fundação das primeiras igrejas nos Estados de Minas

Gerais e Paraná, mas segundo Almeida (1982, p. 224), a ADMM em Minas Gerais abriu igrejas em Recreio, Cataguases, Ubá, Rio Branco, São Geraldo, Bicas, Juiz de Fora, entre outras. No Paraná temos Londrina, Maringá, Foz do Iguaçu, Peabiru, Cianorte, entre outras.

82 Encontramos no jornal “O Semeador” de 2001, no caderno “Suplemento Especial”, com o tema

“CONAMAD: o maior ministério pentecostal da Terra” a seguinte afirmação sobre o tamanho naquela época da ADMM. Diz a matéria, “[...] o Ministério de Madureira, depois da cisão, ele só cresceu e se ampliou [...]. Somam 23 mil templos espalhados por todo território nacional [...]. O exército de pregadores soma mais de 17 mil ministros, espalhados nos seus 575 campos e nas 27 Convenções Estaduais, que perfazem cerca de 20 milhões de crentes” (junho de 2001, p. 02). Acreditamos que o número “de crentes” apresentados nessa matéria nem de perto representa a realidade, uma vez que no Censo de 2000 o número total de pentecostais no Brasil não alcançava o número de 18 milhões, mas a “propaganda é a alma do negócio”.

as ADs no Brasil, as lideranças que iam se formando em cada região não estavam dispostas a aceitar uma “concorrência”, ao seu poder, prestígio e dominação.

Nesse sentido Macalão desempenha um papel de “profeta” contra a estrutura constituída das ADs no Brasil, não que o mesmo não possa ser considerado também como parte do “estamento” religioso instituído da mesma. Entretanto como afirma Bourdieu, o profeta é aquele que traz consigo uma mensagem “diferente”, ou com uma maior ênfase a mensagem já instituída pelo(s) sacerdote(s), ou seja, a forma como o Pr. Paulo Leivas Macalão justifica essa “invasão de campo”, reside na percepção bourdieusiana de “recalque mais absoluto do interesse temporal” (BOURDIEU, 2013, p. 61) na concretização da “obra de Deus”. Segundo essa compreensão, ele não estaria preocupado com o seu crescimento pessoal e financeiro, mas apenas no cumprimento da missão que a ele foi reservada pela “providência divina”. Sem visar o bem próprio, porém apenas cumprido “o ide do Senhor”, justifica a abertura de novas igrejas em cidades que já existam igrejas estabelecidas, uma vez que “grande é a seara, mas poucos são os ceifeiros”83.

As tensões eram cada vez mais fortes, quando o assunto de “invasão de campo” entrava na pauta das discussões de uma determinada assembleia convencional. Um bom exemplo, que podemos mencionar ocorreu na Convenção Geral de 1949, quando o pastor Bruno Skolimowski acusa a Macalão de interferir no campo de Santos, pois ele havia aberto um trabalho naquela região, o que causou um desconforto para essa AD que já existia na região desde 1924. Esse assunto acabou se prolongando até o ano de 1953, quando o Pr. Paulo Leivas Macalão se viu obrigado a transferiu as igrejas que abrira na região para o controle da AD de Santos (DANIEL, 2004, p. 272). Em meio a um duro debate e sendo pressionado também pelo trabalho que iniciara na cidade de São Paulo (1938), Macalão diz, em sua defesa, que só abriu a igreja na cidade de São Paulo depois de ter pedido permissão ao então falecido Pr. Francisco Gonzaga da Silva, que era o pastor da AD de Santos. Mas em sua fala, o mesmo cai em contradição, pois ele dissera que iria “abrir trabalho84 em São Paulo, exceto em Santos” (2004, p. 295); promessa essa

que não cumpriu!

83 Parafraseando o texto bíblico de Lucas capítulo 10, versículo 2.

84 Essa expressão se refere ao conjunto de igrejas que são abertas em um determinado lugar e que

Essas discussões pela posse do “território” demarcam muito bem as tensões e lutas existentes nas ADs, uma vez que cada pastor-presidentes e seus quadros administrativos querem a exclusividade da determinada região, se consolidando como o único a ter direitos de “exploração” da mesma. Essa exclusividade, ou monopólio pode ser explicado pelo senso de patrimonialismo existente nos mesmos, que apesar de manterem um discurso pautado na “unidade da igreja” o que prevalece são os interesses pessoais de posse e predomínio sobre os “recursos escassos” em disputas. Conquanto, qual seria a explicação para essa tensão? Interferência no trabalho? Ou a não disposição de dividir os “recursos escassos”? Aqui encontramos um paralelo muito forte com a construção patrimonialista weberiana.

O clima da discussão estava muito acirrado e o ânimo dos convencionais indicava que a qualquer momento um possível racha nas ADs no Brasil poderia ocorrer, o qual levou o líder da ADMM a “apelar para uma solução conjunta pela paz entre todos” (DANIEL, 2004, p. 296). A mesma ocorreu quando Macalão abriu mão das igrejas localizadas na “linha Itariri e Juquiá”, para a AD de Santos (2004, p. 298). Apesar de “perder” o controle dessas igrejas, Macalão conseguiu manter as igrejas da cidade de São Paulo sobre a sua jurisdição. Pacificada a questão cada igreja seguiu “os seus rumos”, mas a “invasão de campo” seria uma marca registrada das ADMM e uma das principais acusações que recaia ao Pr. Paulo Leivas Macalão, o de promover a divisão nas ADs no Brasil. Esse assunto voltaria ainda outras vezes à pauta e na Convenção Geral de 1957 ficou estabelecida uma resolução de proibição para que fossem abertos “novos trabalhos” em cidades que já existiam uma igreja estabelecida. Essa resolução veio a ser ratificada na Convenção Geral de 1962 (2004, p. 316).

Mas como a realidade social é dinâmica, o próprio Macalão foi obrigado a enfrentar problemas relacionados à sua “dominação patrimonial”, pois ao momento em que ADMM se institucionalizou criando o seu corpo diretivo, o próprio Macalão teve que enfrentar problemas na estrutura estruturante (BOURDIEU, 2004) gerada pelo movimento. Ou seja, a internalização de disposições, que é denominada por Bourdieu habitus, criaria certa disposição à determinada prática do grupo sobre as estruturas objetivas das suas próprias condições materiais, que gerariam por sua vez, respostas objetivas ou subjetivas para a resolução de problemas postos da reprodução social que diferenciam os espaços a serem ocupados, ou disputados

pelos homens. Caso que analisaremos a seguir em nossa pesquisa e que nos ajuda a compreender porque ele cria sua própria convenção, uma vez que legitimada sua existência o movimento tem que lutar contra os “novos profetas” que surgem no decorrer dos anos e que se opõem ao poder instituído, na tentativa de evitar “uma nova reforma” (BOURDIEU, 2013, p. 60) e consequentemente uma nova fragmentação do mesmo.

2.1.3. A Criação de uma Convenção Própria: a consolidação do poder patrimonial.

Neste momento da pesquisa nos ateremos a compreender por que Macalão cria uma convenção própria, estando ele ligado a CGADB e sem a menor intenção de se desligar da mesma, uma vez que o próprio desempenhou uma ação muito significativa dentro da Convenção Geral até o ano de sua morte. Mesmo em meio às muitas tensões e discórdias provocadas pela sua forma de atuação, não encontramos em nossa pesquisa nenhuma tentativa, ou mesmo desejo do Pr. Paulo Leivas Macalão de se separar da CGADB, uma vez que ele mesmo desfrutava de um prestígio significativo, chegando a ser nomeado como conselheiro vitalício da CPAD, a qual por muitos anos foi um grande entusiasta e promotor (DANIEL, 2004).

Mas o que explicaria a criação de uma estrutura racional-burocrática dentro de outra estrutura racional-burocrática? Ou seja, qual o real motivo que levou a Macalão fundar uma convenção própria (a CONAMAD), sob a estrutura já instituída da CGADB? A ameaça cada vez mais real da fragmentação ministerial! Uma vez que essa tendência era uma realidade dentro das ADs no Brasil na segunda metade do século XX, e, ele mesmo contribuía com esse fenômeno, uma vez que a sua postura autônoma e independente não só era percebida, mas também criticada pelos seus companheiros de dominação como já analisamos anteriormente. Nesse sentido podemos verificar que “os interesses do corpo sacerdotal podem exprimir-se na ideologia religiosa que produzem ou reproduzem” (BOURDIEU, 2013, p. 66), dessa forma Macalão apenas reproduzia uma ação de “contenção” a uma realidade social que estava ocorrendo dentro da própria igreja.

Para conseguirmos compreender os motivos que levaram ao pastor do Ministério de Madureira a tomar essa decisão precisamos nos voltar a um episódio ocorrido na igreja que se fundou na cidade de Brasília – Distrito Federal. A ADMM é a pioneira no Estado de Goiás, fundando sua primeira igreja no ano de 1936 na

cidade de Goiânia, através de um grupo de membros que se mudaram para aquela cidade em busca de trabalho (ALMEIDA, 1982; CONDE, 2008). Macalão convida para assumir essa tarefa seu amigo e diácono da igreja no subúrbio carioca Antônio Moreira (MACALÃO, 1986); sendo realizados os primeiros cultos no mês de dezembro desse mesmo ano. Os “frutos desse trabalho” não se demoraram a aparecer e já no ano de 1937 ocorreu o primeiro “Batismo em Águas” com a participação de trinta pessoas (ALMEIDA, 1982; CONDE, 2008).

A cidade de Goiânia foi oficialmente inaugurada no ano de 1942, mas já em 1937 passou a ter função de capital do estado. As bases da evangelização foram bem fincadas no estado, pois o Evangelho chegou à época em que se construía a nova capital. (PRATES; FERNANDES, 2012, p. 55)

E assim como nas outras ADs em outros Estados do país, em Goiás não foi diferente e com o passar dos meses outras igrejas foram sendo fundadas em outras cidades na região central do Brasil. Essa e outras igrejas eram o reflexo dos efeitos do processo migratório em nosso país, pois cada crente carrega consigo a sua igreja para aonde ele vai se acomodando (ROLIM, 1985). Como afirma Novais,

[...] Ser crente é não se submeter à organização e hierarquia da Igreja Católica. É realizar uma forma de organizacional oposta onde cada um deve ter entendimento; pode ter um contato direto, sem intermediários, com o sobrenatural; deve ter participação nos rituais e ser um pregador de sua fé. Ser crente é seguir os “ensinamentos de Deus” contidos na Bíblia, seja pela maneira de viver (longe dos vícios, vaidades, desonestidades), seja no sentido de invocar o recebimento dos dons do Espírito Santo. Ser crente, em última instância, significa sentir-se um escolhido. (NOVAIS, 1985, p. 61-62)

Nisso que podemos denominar de “essência de autonomia”, ou seja, o compromisso de cada um em fazer a “vontade de Deus”, contribuiu para o processo de expansão das ADs pelo Brasil. E é neste ponto que encontramos as desavenças, pois da passagem do carisma para o patrimonialismo de um tipo racional-burocrático os precursores buscam se apropriar dos chamados bens de salvação (BOURDIEU, 2013). Essa posse entra em conflito com o poder e a dominação já constituído anteriormente. Assim com a expansão da igreja no Estado, nos deparamos com um caso específico de tensões e conflitos que se deu na igreja que nasce em Brasília – futuro Distrito Federal. Essa igreja tem como data de fundação o dia 19 de novembro de 1956, mas segundo Tércio (1997), ela foi fundada informalmente pelos pastores Antônio de Freitas Inácio, Divino Gonçalves dos Santos, Lázaro Maléu de Oliveira, Jaime Antônio de Souza, Jamil de Oliveira, Albino Gonçalves Boaventura, Angelo

Constantino da Silva, Jácomo Guide da Veiga, João Freire de Souza, Manoel Joaquim da Silva e Antônio Alves Carneiro (PRATES; FERNANDES, 2012; TÉRCIO, 1997), todos residentes no Estado de Goiás e ligados a ADMM.

A igreja teve início na chamada Cidade Livre, ou Núcleo Bandeirantes por meio de uma doação vinda do Governo Federal, que a época era do presidente Juscelino Kubitschek e que buscava incentivar a imigração para aquela região do país (TÉRCIO, 1997, p. 45). A tarefa de “levar a mensagem pentecostal” e fincar as estacas da primeira AD em Brasília ficou a cargo do mineiro e ex-seminarista católico Antônio Alves Carneiro, que não se demorou em iniciar sua tarefa naquele lugar. Como já dispunham do terreno que fora cedido pelo Governo Federal, os primeiros membros dão início ao processo de construção do templo e por meio de doações vindas tanto da igreja de Madureira, quanto de suas filiais em Goiás e Minas Gerais (1997, p. 65), o templo foi concluído no ano 1957.

No dia de sua inauguração (15 de julho de 1957) com a presença do Pr. Paulo Leivas Macalão e de várias caravanas vindas do Estado de Goiás, o Pr. Antônio Alves Carneiro anuncia no púlpito daquela pequena igreja de tábuas que a mesma “estava já registrada, com personalidade jurídica”, e que ele “se autonomeara presidente” daquela igreja (1997, p. 112). Precisamos deixar claro que a igreja é um espaço de relações entre os seus agentes e comunidade que dela faz parte, aquilo que Bourdieu definiu como campo (BOURDIEU, 2003), sua construção se dá a partir das diferenciações sociais obtidas pelos tipos específicos de capitais que são acumulados por aqueles que pretendem exercer uma determinada dominação sob mesmo. Criando assim uma estrutura que tende a regular as ações tanto dos agentes quanto da comunidade, na luta pela a obtenção de determinados capitais específicos (BOURDIEU, 2013). Ele ainda procura apontar que mesmo sendo as estruturas um produto histórico, a mesma está sujeito às múltiplas ações de mutação produzidas pelas relações e tensões sociais inerentes a mesma.

Em outras palavras podemos dizer que Macalão e a ADMM passaram a experimentar de “seu próprio veneno”. Pois dentro do campo religioso a disputa pelo monopólio do poder simbólico e dos bens de salvação geram constantes tensões entre agentes, que Bourdieu denominou de sacerdote e profeta. Para o autor o sacerdote desempenharia o poder patrimonial e racional-burocrático, já o profeta seria aquele que em situações extraordinárias ou de crise estaria imbuído de uma

“nova mensagem” legitimada pelo carisma obtido no decorrer de sua ação (BOURDIEU, 2013).

Nessa disputa pela “conservação do monopólio de um poder simbólico como a autoridade religiosa depende da aptidão da instituição que o detém em fazer reconhecer” sua legitimidade frente aqueles que estão despossuídos ou excluídos da posse desse monopólio (BOURDIEU, 2013, p. 61). Por isso que o profeta com sua mensagem “ameaça a própria existência da instituição eclesiástica no momento que põe em questão não apenas a aptidão do corpo sacerdotal para cumprir sua função declarada, mas também a razão de ser do sacerdote” (2013, p. 62). A saída encontrada por Macalão, para resolver o impasse foi narrada da seguinte forma,

[...] Macalão contou a Carneiro que uma irmã do Rio tivera uma visão, uma profecia: um pastor jovem chegava em Anápolis e um idoso em Brasília.

- Eu interpretei a profecia como sua ida para Anápolis e a vinda de Antônio Moreira para Brasília – disse Macalão. (TÉRCIO, 1997, p. 112)

Assim se utilizando do prestígio e carisma que dispunha, Macalão conseguiu resolver o impasse, uma vez que prometerá entregar a igreja de Anápolis ao Pr. Antônio Alves Carneiro o que realmente fez (TÉRCIO, 1997, p. 113). Podemos então aqui compreender que na iminência de ter sua dominação carismática e patrimonial ameaçada por novos focos daquilo que Bourdieu chamou de “novas reformas” (BOURDIEU, 2013), o Pr. Paulo Leivas Macalão se viu obrigado a criar uma estrutura dentro da própria estrutura. Assim em 1958 fundou a Convenção Nacional dos Ministros Evangélicos da Assembleia de Deus em Madureira e Igrejas Filiadas (CNMEADMIF), na qual ele foi nomeado de presidente-geral do Ministério de Madureira (PRATES; FERNANDES, 2012, p. 84-85). Esta ação promovida por Macalão foi uma medida de centralização do poder em sua figura, com a criação de um corpo de especialista (diretoria) que tinha como função a legitimação de sua dominação. Nessa oportunidade participaram da criação dessa entidade os pastores Alípio da Silva, Manoel Francisco da Silva, Narbal Soares, José Leite Lacerda, Manoel Joaquim Rosa, Franklin Luiz Furtado, José Cecílio da Costa, Carlos Malafaia, Nicodemos José Loureiro, José Simpliciano Ferreira, Antônio Pereira, Otávio José de Souza, Raimundo Nonato Barreto, Enok Alberto da Silva, Irineu Ramos de Carvalho, que segundo o Estatuto atual da CONAMAD (herdeira dessa convenção), em seu Art 1º é função dela,

[...] como órgão máximo hierárquico, deliberativo, legislativo, gerenciador e articulador da unidade e integração das Igrejas Evangélicas Assembleias de Deus – Ministério de Madureira, suprindo carências, identificando necessidades, com competência ad perpetuam (para sempre85) para Ordenação, indicação, designação,

nomeação e posse de Pastores Presidentes para as Igrejas Filiadas. (ESTATUTO CONAMAD, 2003)

O Pr. Paulo Leivas Macalão acreditou que ao criar essa entidade não sofreria mais com aquilo que ficou conhecido no meio das ADs no Brasil como “rebeliões”. Entretanto isso não aconteceu, pois o mesmo não contava com o “espírito autonomista” de seu antigo desafeto, que no final de 1960 (o Pr. Antônio Alves Carneiro) apoiado pela AD em Anápolis, optou por romper com a jurisdição da ADMM, fundando o Ministério de Anápolis ao qual ficou pertencendo todo o patrimônio com que a igreja já havia adquirido. Mesmo sendo rígido e até retratado como alguém extremamente inflexível ao “obreiro de seu ministério que demonstrassem personalismo e um mínimo de independência” (TÉRCIO, 1997, p. 109), Macalão apenas era vítima da realidade e produção da dinâmica social, que outrora ele mesmo foi o causador para os missionários escandinavos.

Retomando o pensamento bourdieusiano,

Assim, quando as relações de força são favoráveis à Igreja (poder constituído), a consolidação dessa depende da supressão do profeta (o do rebelde) por meio da violência física ou simbólica (excomunhão), a menos que a submissão do profeta (ou do rebelde, ou reformador), ou seja, o reconhecimento da legitimidade do monopólio eclesiástico (e da hierarquia que o garante), permita sua anexação pelo processo de canonização. (BOURDIEU, 2013, p. 62)86 Neste caso a única saída de Macalão foi a exclusão do “rebelde”, que não foi aceita pelo Pr. Antônio Alves Carneiro, o qual recorreu a “estrutura maior” das ADs naquele momento, a CGADB. A qual na Convenção Geral de 1962 foi obrigada a tentar resolver esse impasse entre a ADMM e a agora AD de Anápolis. O Presidente-geral da ADMM recusou ir a essa convenção, uma vez que se sentiu deslegitimado pela própria, que não aceitou a “exclusão dos rebeldes”. O impasse deveria ser resolvido da seguinte forma, os irmãos tanto de Madureira, quanto os de Goiás se encontrariam (na igreja de Madureira – RJ), na qual selariam a reconciliação de ambos os lados (DANIEL, 2004, p. 337).

85 Crivo do autor. 86 Crivo do autor.

Não encontramos nada indicando que o evento tenha ocorrido, pelo contrário o que podemos verificar foi que a AD de Anápolis não apenas se manteve separada da ADMM, como também mais tarde criou a sua própria convenção, a CIAD – Convenção Internacional da Assembleia de Deus. Encontramos em nossa pesquisa no MP, um “Manifesto” elaborado à época pela Convenção Regional em Belém do Pará e que contava com as igrejas de Piauí, Maranhão, Pará, Amazonas, Amapá, Rondônia, Roraima e Goiás (região do SETA). No qual a mesa diretora, na pessoa do Pr. Alcebíades P. Vasconcelos declarava que “absolutamente desaprova qualquer divisão no trabalho do Senhor em qualquer parte, sob considerar a divisão sob qualquer forma e motivo, um ato anti-bíblico e, portanto condenado pela Palavra de Deus” (Mensageiro da Paz, 2ª quinzena de julho, 1963).

A questão das “divisões ministeriais” assombravam as ADs no Brasil nesse período, no qual a CGADB não conseguia dar conta para resolver diversos impasses que iam surgindo com as diferentes lideranças instituídas e os seus “rebeldes/reformadores”. Nenhuma das regiões e nenhum dos Pastores-presidentes estava livre de ter que enfrentar uma possível dissidência em “sua comarca”. E mesmo Macalão que havia criado uma convenção própria, ainda assim se deparava com este “fantasma” constantemente, pois o poder e a dominação dentro da ADs nunca foram homogêneos e tranquilos, nem nos primórdios da história dessa igreja no Brasil (ALENCAR, 2013). A riqueza e complexidade desse tema na história das AD no Brasil merece ser feita em pesquisas posteriores, uma vez que podem ajudar a explicar tanto os novos desdobramentos, quanto as novas configurações desse movimento “autenticamente” brasileiro.

Para finalizarmos esta seção da pesquisa, apenas queremos pontuar, que ADMM esteve nos holofotes das discussões e tensões até a sua “saída” em definitivo da CGADB (1989). Ora sendo acusada de “invadir campos”, ora acusando outros de “invadir campo”. Um caso emblemático foi o episódio ocorrido na

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