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PAULO LEIVAS MACALÃO: O PRESTIGIO DO “GENERAL RELIGIOSO”.

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BRASILEIRA: do Pr Paulo Leivas Macalão ao Bispo Manoel Ferreira.

Mapa 2 – Localização dos Bairros onde foram abertas as duas primeiras ADMM

2.1. PAULO LEIVAS MACALÃO: O PRESTIGIO DO “GENERAL RELIGIOSO”.

O Pr. Paulo Leivas Macalão hoje faz parte do “mito fundante” das ADs no Brasil. Figura icônica, permeada de toda uma construção histórica de carisma, heroísmo e intrepidez. Sua memória sempre lhe resguarda os títulos de “patriarca”, de “apóstolo”, de “líder maior”, o “fundador”, “precursor” entre vários outros títulos que identificamos em nossas seis entrevistas e em nenhum momento, quando fizermos a pergunta “O que representa a figura do Pr. Paulo Leivas Macalão ao Ministério de Madureira?” ouvimos alguma palavra que não “enaltecesse” essa figura. A memória aqui ocupa um ponto de extrema importância para afirmação, reafirmação e continuidade de um grupo religioso, em especial, uma vez que existe uma necessidade constante de retorno às raízes para reafirmar algo, ou mesmo afirmar um algo novo. Halbwachs (1990) em seu livro “A memória coletiva” afirma que “para confirmar ou recordar uma lembrança, as testemunhas, no sentido comum do termo, isto é, indivíduos presentes sob uma forma material e sensível, não são necessárias” (1990, p. 27), pois a memória parte de uma construção coletiva e que é repassada pelas gerações garantindo sua permanência viva entre os membros deste grupo.

Segundo Rivera (que se utiliza da teoria de Halbwachs), mesmo que exista uma memória individual, sua pertença a vários grupos sociais possibilita que a

mesma se entrelace a múltiplas memórias coletivas. Sendo então “a memória individual um ponto de vista sobre a memória coletiva” e que a mesma estará em constate mudança, dependendo do “lugar ocupado pelo indivíduo” e da relação que o mesmo desempenhou com os outros indivíduos do mesmo grupo (RIVERA, 2001, p.32). Nesse sentido as recordações se sobrepõem umas as outras, cabendo uma validar a outra, na intenção de criar uma memória coletiva (HALBWACHS, 1990). Aqui temos um indício do porque os membros e os entrevistados recordem de seu líder com tamanho saudosismo e apreço. Rivera ainda enfatiza que essa memória coletiva só se torna uma verdade quando ela atende um desses três requisitos: - um acontecimento, uma figura pessoal ou um lugar. Sendo o lugar o que tem “maior possibilidade de se apresentar de maneira concreta” (2001, p.39).

Sem dúvida alguma o pentecostalismo brasileiro, em especial, o de vertente “assembleiana” leva isso muito a sério, pois é possível encontrar esse “tripé”, dentro da construção da memória desse movimento ao longo de sua história no Brasil. O qual pode ser descrito da seguinte maneira: a) o acontecimento, realizado pelo processo de conversão ao movimento, por uma “revelação” divina, ou mesmo, por um “chamado” da parte do próprio Deus. Marcando aqui o início, princípio, ou seja, onde tudo começou, sem se esquecer dos desafios enfrentados (percalços, barreiras, inimigos que ameaçam até mesmo a vida desses “desbravadores”)62 para

se cumprir “o que já estava designado”. b) a figura pessoal, pessoas normais dotadas de um carisma “divinizado”, que foram “convocadas” para realizar um trabalho designado pelo próprio Deus. Está figura cheia de prestígio, carrega em seu próprio corpo a história da igreja-mãe/igreja-sede que ela própria fundou, ou deu continuidade ao trabalho (mas em suas mãos obteve um crescimento extraordinário), o qual hoje, só é o que é graças aos incansáveis esforços dessa personagem. c) o lugar, esse centro geográfico das ADs no Brasil é demarcado nas Igrejas-Mães/Igrejas-Sedes, ou seja, a primeira igreja a ser implantada e onde tudo começou. Os acontecimentos e as figuras podem cair no ostracismo e seus detalhes podem ser esquecidos gradativamente, eles até podem ser repetidos, porém nunca

62 Um bom exemplo do que estamos expondo, podem ser encontrados nas duas biografias oficiais

dos fundadores das ADs no Brasil, os missionários suecos Gunnar Vingren (“Diário do Pioneiro”) e Daniel Berg (“Enviado por Deus”), ambas as obras estão cheias de histórias de perigos e “socorro divino”. Vale lembrarmos também que o próprio “chamado” para o Brasil, se deu a partir de uma visão, na qual o nome Pará apareceu, recorrendo a um a biblioteca da cidade em busca de um “mapa

mundi”, para que pudessem identificar onde se localizava o chamado Pará. Segundo o relado das

biografias ninguém conhecia o nome e muito menos sua localização (BERG, 1984, p. 29; VINGREN, 2000, p. 27).

mais serão os mesmos (RIVERA, 2001). Já o lugar demarca fisicamente a memória, pois ao revisitá-lo tudo que estava se perdendo volta imediatamente.

As pessoas e os acontecimentos são passageiros e podem ser imitados, mas não se repetem jamais. As pessoas não são instantâneas como os acontecimentos; durante o tempo da vida, elas podem contribuir com seus testemunhos para a fixação de uma lembrança. Os lugares permanecem, oferecendo à memória certa estabilidade. É possível voltar ao lugar dos acontecimentos ou ao lugar onde as pessoas estiveram e encontrar o mesmo quadro espacial. É claro que ele já não será o mesmo depois dos acontecimentos e na ausência das pessoas, mas continuará oferecendo uma materialidade não encontrada nos outros elementos (RIVERA, 2001, p. 39).

Qual o perigo que podemos encontrar nesta atividade de recuperação da memória? “Mitificar” os acontecimentos e idealizar a personagem de tal forma a não perceber sua relação com os acontecimentos materiais de seu tempo. Assim os tornando anacrônicos, fora do tempo histórico, fora de sua realidade material de seu tempo e acreditando que sempre existiram assim, ou que é herança de um tempo anterior a eles mesmos. Essa forma de anacronismo é facilmente percebida no pensamento social brasileiro e que já nos debruçamos no capítulo anterior. Nesse sentido para falarmos sobre o Pr. Paulo Leivas Macalão devemos o fazer, a partir dos acontecimentos materiais que foram se desenrolando durante a sua própria história de vida, pois só assim poderemos ter as condições de desmitificá-lo, a fim de percebê-lo como produtor de sua própria história, mas que por muitas vezes é idealizada e confundida com a dos “heróis bíblicos”, devido às qualidades pessoais consideradas extraordinárias dele e que conota o tipo de dominação carismática exemplificada por Weber (WEBER, 2012, p. 158-159).

Algo que nos chamou atenção enquanto pesquisávamos sobre esse personagem, foi uma fala feita em uma de suas biografias63, intitulada “Paulo

Macalão: a chamada que Deus confirmou”, na qual encontramos a seguinte citação sobre o pastor “pioneiro” das ADMM, no último capítulo intitulado “Pastor, descanse em paz!”. Segue a citação: - “pastor de pastores, não seria humano que um homem assim deixasse de cometer falhas, principalmente no resolver os inúmeros e difíceis problemas que se apresentavam” (ALMEIDA, 1983, p. 81). E aqui cabe a pergunta –

63 O Pr. Macalão teve duas biografias oficiais, uma produzida pela sua própria esposa (“Traços Da

Vida De Paulo Leivas Macalão” - 1986) e a outra pela CPAD (“Paulo Macalão: A chamada que Deus confirmou” - 1983); há também uma pequena biografia dele reproduzida em um encarte especial da Revista Obreiros do ano de 2001, intitulado Pioneiros e líderes da Assembleia de Deus, neste encarte encontramos trinta biografias tanto de missionários europeus e estadunidenses, quanto de brasileiros.

Qual a real intenção do biógrafo (que era pastor assembleiano e contratado da CPAD) em fazer esse comentário? Impedir que essa figura caísse dentro de uma espécie de personalismo “beatificador”, muito comum às biografias atuais? Ou aludir uma qualidade que poderia estar se perdendo no meio da organização já em meados da década de 1980?

Mais a frente no mesmo capítulo, o autor buscou frisar que, se ele cometeu erros, o fez “na convicção íntima de estar fazendo a vontade de Deus” e ainda destaca a “humildade” de Macalão, ao registrar que o mesmo uma vez foi visto pedindo perdão (em sua posição de pastor-presidente) a uma pessoa que ele ofendera (ALMEIDA, 1983, p. 82-83). O grande indicativo dessas falas é destacar uma das “muitas qualidades” carismática do dominador e, que só é identificada pelos dominados livremente ao tentar retratar seus feitos (WEBER, 2012, p. 159).

Certamente que a história produzida em torno dessa figura demarca muito bem que em meio a sua trajetória, conflitos, divergências, lutas pelo poder e a dominação, junto à busca por prestígio estão presentes. E o seu resgate é importante, pois “geralmente a história começa somente no ponto onde acaba a tradição, momento em que se apaga ou se decompõe a memória social” (HALBWACHS, 1990, p. 80). Quem sabe, encontramos aqui o porquê de seu biógrafo trazer a história de seus feitos e qualidades, sendo que as mesmas estariam se tornando em uma mera lembrança de uma tradição distante e que já estava se perdendo.

Acredito que feito essa “desmitificação” de nossa personagem em foco, podemos neste momento dar continuidade, fazendo uma breve passagem em sua biografia. Natural de Santana do Livramento, fronteira do Rio Grande do Sul com o Uruguai, Macalão nasceu no dia 17 de setembro de 1903, sendo ele o mais novo dos irmãos. Filho do General João Maria Macalão64 e de Joaquina Georgina Leivas

Macalão, a Dona Georgina (MACALÃO, 1986); Paulo e seus dois irmãos Fernando e Maria Macalão tiveram que conviver como a educação e disciplina militares (ALMEIDA, 1983, p. 11-12). Aos cinco anos de vida, Macalão sofre a perda de sua mãe (1908), passando a ser criado apenas pelo seu pai, que nunca mais se casou respondendo ao último pedido de sua mulher (MACALÃO, 1986, p.14).

64 Segundo o relato contido na biografia escrita pela sua esposa, o General Macalão chegou a

comandar o Batalhão de Guardas, localizado na Avenida Pedro II, em São Cristóvão. (MACALÃO, 1986).

Seu pai vem a falecer no dia 6 de setembro de 1933, após ter “aceitado a Cristo como o seu Salvador” na última pregação que o seu filho (já um pastor assembleiano) fizera para ele (ALMEIDA, 1983, p. 53). De família rica e com um bom grau de instrução, Paulo começa a ser alfabetizado pela sua própria mãe, que era uma mulher muito católica e sempre o conduzia às missas e procissões (1983, p.12). Mais tarde, já morando no Rio de Janeiro ele estudou no Colégio Batista, cumprindo seus estudos secundários no Colégio Pedro II (1983, p.20). Aprendeu música e se especializando em tocar violino, também aprendeu outros idiomas, fato importante em sua história, pois o mesmo foi tradutor65 e autor de 244 músicas

contidas na Harpa Cristã (principal hinário das ADs no Brasil).

Ele mesmo foi responsável pela organização deste principal hinário das ADs no Brasil (ARAÚJO, 2007). No MP da 1ª quinzena de Julho de 1939, o Pr. Paulo Leivas Macalão traz um aviso aos irmãos desejosos de possuir a nova edição do mesmo. Segundo ele, está nova edição já se encontrava no número 250, faltando ainda mais 240 para o seu término, porém a demora se dava, segundo ele, “por achar-me sozinho, na correção da letra e música dos hinos”. No entanto, o jovem pastor, que nesta época estava como seus 36 anos, expressava sua felicidade e agradecimento por poder fazer parte do “serviço glorioso que Deus me proporcionou”, segundo suas palavras. E ainda pedia que os irmãos orassem por ele, pois segundo ele “Deus me ajudará, em breve, a terminar o nosso hinário, que servirá para atrair muitos pecadores aos pés de Cristo” (Mensageiro da Paz, 1ª quinz. de julho de 1939, p.2).

Antes de continuarmos essa breve biografia, devemos ressaltar alguns pontos, que sem dúvida alguma nos “saltam aos olhos” neste momento e ao mesmo tempo foram importantes para a construção de sua personalidade e daquilo que mais tarde viria a ser o Pr. Paulo Leivas Macalão. O primeiro ponto a destacar, é a forte influência da educação militarizada que recebeu, algo que parecia refletir em sua forma de pregar e que causou certo desconforto com alguns “irmãos” no começo de sua trajetória dentro da AD de São Cristóvão (ALMEIDA, 1983). Não

65Segundo uma de suas biografias o Pr. Paulo Leivas Macalão foi responsável por traduzir “vários

hinos ingleses, franceses e espanhóis” para o português. Ele ainda escreveu muitos outros hinos que compõem este hinário, mostrando-se um hábil compositor, qualidades raras nos dias atuais entre os Pastores-presidentes das ADs no Brasil. (ALMEIDA, 1983; ARAÚJO, 2007).

conseguimos encontrar registros sobre se o seu pai66 houvera participado da

Revolução Federalista (1893-1895) ocorrida no Sul do Brasil, mas com certeza uma vez sendo um general da República, João Maria Macalão deve ter lutado nesse conflito civil brasileiro. Se como soldado, ou já, como um oficial, não podemos afirmar, mas com certeza este episódio marcou uma característica que mais tarde contribuiria nas ações do Pr. Paulo Leivas Macalão - sua postura nacionalista, pois este evento marcou a luta pela consolidação da República recém-proclamada (FAUSTO, 1995; SKIDMORE, 1998). O segundo ponto a destacar, foi sua passagem pelo Colégio Batista, pois foi nele que Macalão teve seu primeiro encontro com a “mensagem protestante” e, ela era pregada pelo missionário e teólogo batista americano Alva Bee Langston. Segundo Almeida “Langston impressionava a todos pela sua formação doutrinária autêntica, pela sua firmeza e largueza de visão e pela sua vida de alto conteúdo espiritual” (ALMEIDA, 1983, p. 21). Segundo ainda o autor, Macalão foi fortemente influenciado por essas qualidades, resultando em muito no estilo que o mesmo adotara em suas pregações (FRESTON, 1994).

Por último, suas discussões com os professores do Colégio Pedro II, que segundo Almeida, eram abertamente ateus (1983, p. 21), somado a falência da República Oligárquica na década de 1920, foram o ponto de “ebulição” para a sua conversão. Ianni afirma que este período da história nacional é marcado pelo “arbítrio dos governadores contra setores populares” (IANNI, 2004, p. 215). Segundo ele,

Por sobre os interesses do povo, ou às costas deste, o Presidente da República, os governadores estaduais e os coronéis locais articulavam-se como um vasto aparelho estatal de fato. Essa política, iniciada por Campos Sales (1898-1902), garantiu a submissão do Legislativo, em todos os níveis, ao Executivo. Assim, os interesses populares urbanos, que haviam empolgado o movimento republicano, logo foram afastados. (IANNI, 2004, p. 215)

Assim o contexto social vivido não era fácil, pois o país enfrentava uma série de conflitos que refletiam o descontentamento de setores da sociedade com a condução dos problemas nacionais. Essas questões ganharam força após a Primeira Guerra Mundial (1914 a 1918), devido à política de valorização do café

66 Alencar destaca em uma nota de rodapé que não conseguiu encontrar no Centro de

Documentação do Exército, em Brasília, nenhum documento que confirmasse a existência e patente do “General Macalão”, segundo o pesquisador em conversa com o oficial de plantão esse título poderia ser uma herança do período da Guarda Nacional, ou seja, um “título honorífico” (ALENCAR, 2013, p. 176).

expressa no Convénio de Taubaté (1906), o qual retirava os recursos da sociedade aumentando a inflação, o custo de vida e a dívida externa. As greves operárias irrompiam pelo país, e a classe média mostrava-se descontente com os governantes. Enquanto isso o país sofria com a Política do Café com Leite (1894- 1930), apesar da oposição da oligarquia gaúcha o que vigorava neste período era o mandonismo, o coronelismo e o voto de cabresto (FAUSTO, 1995; SKIDMORE, 1998). Por fim, a população pobre continuava excluída da mínima dignidade, pois a carência de infraestrutura para eles era total no país. Eventos ligados ao movimento Tenentista67 agitavam o país e a mente de muitos brasileiros (PRESTES, 1997).

Sendo Macalão de uma família militar e com boas condições financeiras, sem dúvida, assuntos como esses eram recorrentes durantes os momentos em que se reuniam em seu dia a dia. Se estes realmente foram os motivos que levaram ao Pr. Paulo Leivas Macalão a não ingressar na carreira militar não temos condição de afirmar com certeza, porém, certo é, que ajuda muito a entender a história de sua conversão (FRESTON, 1994).

Nas biografias oficiais, podemos encontrar que o mesmo enfrentava um “conflito interno” muito grande, as indecisões sobre qual profissão seguir, as incertezas e inseguranças quanto ao futuro angustiavam sua alma (ALMEIDA, 1983, MACALÃO, 1986). Segundo Almeida em uma das discussões com os professores ateus do Colégio Pedro II, levou Macalão em uma oportunidade “andar pelas ruas de São Cristóvão, silencioso e cabisbaixo”, no qual encontrou um “pequeno pedaço de papel impresso, aparentemente insignificante, mas que iria mudar completamente o rumo de sua vida” (1983, p. 23). Em outra biografia, assim é descrito o seu processo de conversão,

Num belo dia de 1924, um jovem chamado Paulo Leivas Macalão, ao andar pelas ruas de São Cristovão em grande luta interior (pois ainda não encontrara as respostas que esperava alcançar para sua vida, nem conhecia a verdade divina), se abaixou para apanhar no chão um folheto evangélico amassado. Ao apanhar aquele folheto, o

67 É importante dizer que o movimento Tenentista, ou as “revoltas nos quartéis”, não foram totalmente

organizados, tal como uma hierarquia, ou uma estrutura organizacional de caráter nacional. “O tenentismo enquanto fenômeno social claramente estruturado jamais existiu. A própria denominação que lhe foi atribuída surgiria mais tarde, com o intuito evidente de melhor caracterizá-lo”, afirma Anita Prestes. Durante toda a década de 1920, havia uma constante movimentação da jovem oficialidade do Exército, que conspirava, preparavam levantes (Rio de Janeiro, São Paulo, Pará, Amazonas, Rio Grande do Sul) alguns totalmente fracassados, outros um pouco mais vitoriosos como o levante ocorrido em 1924, no Amazonas, em que os revoltosos tomam a capital por mais de um mês, realizam diversas reformas. Esse episódio ficou conhecido como a Comuna de Manaus. (PRESTES, 1997)

jovem não sabia que sua vida estava prestes a mudar para sempre como resultado da leitura do texto - uma mensagem genuinamente bíblica e arrebatadora. No verso daquele folheto havia um endereço e um convite para o comparecimento aos cultos na Rua São Luis Gonzaga nº 12, à igreja do Orfanato. Paulo Macalão visitou aquela igreja e lá conheceu vários crentes, dentre eles a irmã Florinda Brito (sua futura sogra, o que ele ainda não sabia), que o convidou a frequentar os trabalhos de oração que acontecia naquela igreja. (BÍBLIA DO CENTENÁRIO - História do Centenário 2011, p.85 - Editora Betel)68

Mesmo contrariando o General69 (expressão utilizada quando se referia ao

seu pai) que não gostava dos “crentes”, pois “alguém lhe dissera que aquele povo era pobre e sem princípios [...] quando se reuniam, cantavam e oravam de modo a serem ouvidos por todos, o que, para ele, era uma afronta ao decoro e à ordem” (ALMEIDA, 1983, p. 25-26), tão necessárias para a postura um militar. Paulo Macalão continuou frequentando as reuniões que aconteciam na casa de Eduardo de Souza Brito (que mais tarde viria a ser seu sogro, pois o mesmo casa-se com Zélia Brito). Se decidindo de vez no dia 5 de abril de 1924, a integrar esse grupo de pessoas que se denominavam de pentecostais (CABRAL, 2002). Segundo Souza (1969), o pentecostalismo seria uma forma de recomposição/ressocialização de uma pessoa, ou grupos de pessoas que enfrentam um estado de anomia, pois abandonando sua região de origem tradicional e sendo incorporados ao mundo modernos, estes não conseguia se adequar a nova condição. Ainda segundo essa autora “o fiel passa a ter elementos para ajustar-se às contínuas frustrações causadas pelas doenças e dificuldades de relacionamento social” (SOUZA, 1969, p. 18), por isso adere ao grupo. Esse não parece ter sido o caso de Macalão, que se “converte” ao pentecostalismo, mesmo desfrutando de uma boa condição de vida.

Já d’Epinay (1970) mesmo considerando o pentecostalismo conservador e autoritário, não contribuindo em nada para tornar o espaço a sua volta moderno e muito menos democratizado, afirma que o pentecostalismo provoca mudanças a sua volta, a qual chamou de “substituições culturais”, citado William E. Carter, ele diz:

68 Em uma matéria no MP de maio de 1961, em comemoração ao cinquentenário das ADs no Brasil,

o próprio Pr. Paulo Leivas Macalão faz um relato de seu testemunho de conversão, o qual menciona que “ao findar o ano de 1923 eu andava em plena busca da verdade” (Mensageiro da Paz, maio de 1969). Podemos encontrar essa fala de Macalão na integra também na biografia de Gunnar Vingren (2000).

69 Segundo a biografia escrita por sua esposa Zélia Macalão, seu pai tentou o afastar da nova fé, o

mesmo passou a frequentar mais vezes a casa de campo e a enviar o jovem para passar temporadas na casa de seus tios (pessoas de classe média alta), porém todos estes esforços foram insuficientes, pois Macalão já estava decidido enquanto a nova fé. (CABRAL, 2002; MACALÃO, 1986).

O pentecostalismo não apenas soube responder a uma necessidade sentida, senão que soube também enraizar seu ritual na cultura, preservando ao mesmo tempo sua incontestável identidade. (VALLIER apud D’EPINAY, 1970, p. 121)

É essa característica mutável do pentecostalismo que deve ser observada, pois não podemos olhar esse movimento como algo homogêneo, pelo contrário, o pentecostalismo tende a responder determinadas demanda específicas em

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