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RIBEIRO, 95 20 IANNI, 2004.

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SOCIOCULTURAL DAS ASSEMBLEIAS DE DEUS NO BRASIL: a figura do Pastor-presidente.

19 RIBEIRO, 95 20 IANNI, 2004.

herdadas”, as quais nos impedem de avançarmos aos padrões considerados como modernos, éticos, dinâmicos e tecnológicos, referência dada aos países considerados como desenvolvidos. É importante pontuarmos que essa forma opaca e obtusa de olhar a realidade social brasileira recai também as muitas interpretações dadas ao movimento pentecostal brasileiro, em especial o assembleiano. Tendo como objeto central dessa pesquisa a relação de poder, prestígio e dominação atribuída à figura dos Pastores-presidentes da ADMM e as atuais práticas de sucessão familiar, cabe a perguntar se as relações produzidas por esse movimento são frutos de práticas personalistas, reafirmadas por uma forma patrimonialista- histórica que são possíveis de ser encontrados nos mais diferentes estratos de nossa sociedade como formas homogêneas de reprodução do poder e da dominação, que não passariam de uma mera reprodução das práticas sóciohistóricas herdadas de nossa condição de colonizados. Desprezaria assim as condições inerentes desse, ou de qualquer outro movimento social, que tende a cria formas próprias de disputas internas, a fim de obter o poder e a dominação em seu interior, ora de forma naturalizada, ora por meio do conflito.

Para muitos a figura do Pastor-presidente das ADs, pode dar a impressão e, ao mesmo tempo não passar de uma reprodução histórica de figuras como os donatários, os senhores do engenho e os coronéis do período colonial e imperial brasileiro, que segundo o pensamento do “senso comum” nacional, não passariam de produtos de um personalismo herdado e que garantiria sua condição patriarcal e patrimonial no favorecimento daqueles que estão a sua volta - clientelismo. Essa questão será analisada mais adiante, mas já devemos destacar sobre o perigo de não alcançarmos uma melhor compreensão do fenômeno se cairmos nessa forma de reducionismo proporcionada pelo que podemos denominar de “culturalismo liberal conservador” (SOUZA, 2015) produzido e reproduzido ainda hoje, por muitos teóricos que tentam explicar não apenas o nosso desenvolvimento, mas também nossas condições atuais de “atraso” social e moral como uma “herança maldita” (SOUZA, 2015).

Nesse sentido, devemos caminhar sobre uma óptica interpretativa que consiga perceber que desde seu “achamento”21 em 1500, o Brasil tem se constituído

21 Termo usado para referir que os portugueses não descobriram o país, com convencionalmente

está descritos em alguns manuais de história, pois antes de sua chegada as terras brasileiras já existiam grupos sociais que habitavam não apenas o litoral mais também o interior do país, e estes

como um local totalmente diverso em questão cultural, pois a confluência de diferentes povos ao longo de seu processo de formação (indígenas, africanos, portugueses, holandeses e franceses em breve espaço de tempo e depois uma série de imigrantes vindos de diversas partes do mundo, inclusive da Ásia), fez do Brasil, um lugar onde o encontro de diversas culturas seja extremamente rico do ponto de vista das Ciências Sociais e Humanas. E aqui, está o ponto fundamental, pois toda “a sociedade humana é opaca, não é transparente22 para nenhum observador”, assim, parafraseando Maduro23, aquele que quer estudar o seu próprio ambiente é

ao mesmo tempo juiz e parte do processo, não só observando as lutas sociais, mas si colocando no centro delas (MADURO, 1981, p.37), a fim de “trazer à luz” aquilo que histórica e socialmente está obscurecido pela ignorância e preconceito produzidos pela classe dominante. Daí pensar em uma cultura brasileira é lembrar que a “mestiçagem” envolve todas as etnias que compõem a população, desde as várias etnias nativas e africanas24, até as europeias e asiáticas. Nas palavras de

Ianni, o Brasil é,

[...] um laboratório étnico excepcional. Aí se combinam tolerâncias e intolerâncias, formas veladas e formas abertas de preconceito racial, outra vez envolvendo as múltiplas etnias que formam a sociedade. Sem esquecer que a densidade social, compreendendo etnias, situações econômicas, condições políticas, elementos culturais, é desigualdade nas distintas regiões do país, bem como em diferentes setores ou estratos sociais; criando-se assim toda uma gama de acomodações e tensões, tolerância e intolerâncias, um caleidoscópio multicolorido, ao mesmo tempo estridente e fascinante. (IANNI, 2004, p.159.).

Assim, pensar em Brasil é ter em mente uma gama muito complexa e muitas vezes contraditória de práticas culturais que foram sendo criadas e desenvolvidas ao longo de mais de quinhentos anos de sua existência. Não podemos então cair em uma celeuma simplista, ao pensar que as formas de patriarcalismo/patrimonialismo sejam apenas uma mera herança colonial, como se fosse um processo de “osmose”, fruto de uma pré-modernidade muito mais homogenia e insossa e que apenas

grupos estavam organizados política, social e religiosamente, produzindo assim uma cultura própria e diversificada. Para melhor compreensão do assunto (RIBEIRO, 1995).

22 Crivo do autor.

23 Esse autor escreve sobre o papel do sociólogo na árdua tarefa de descrever, compreende, explicar,

predizer e resolver os conflitos presentes na realidade desse personagem/especialista. (MADURO, 2000).

24 Uma vez que tanto os povos nativos brasileiros, quantos os africanos não podem ser observados

de forma unívoca desprezando a sua multiplicidade cultural, pelo contrário tanto um como o outro é um conjunto de saberes próprios, com conhecimentos culturais próprios e até superiores a dos europeus neste período de nossa história. (RIBEIRO, 1995).

seguiu um caminho que já estava “preestabelecido” ao desenvolvimento do país. Pelo contrário, essa concepção pseudocientífica (SOUZA, 2009, 2015) foi sendo construía pela classe dominante e aceita pela maioria dos pensadores brasileiros em um determinado período de nossa história, na qual se buscava criar o “mito da identidade nacional”, que pudesse abarcar todas as diferenças em um só bojo, retirando do foco as tensões e os conflitos que ocorriam internamente. Nessas perspectivas, as concepções Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de Holanda se encaixaram como “uma luva” para as pretensões do “culturalismo liberal conservador” (SOUZA, 2015). E que está implicitamente ligada às muitas concepções interpretativas atuais sobre o movimento pentecostal assembleiano brasileiro.

Segundo Souza, em “A Tolice da Inteligência Brasileira”, Gilberto “Freyre é o pai-fundador da concepção dominante” de como percebemo-nos dentro desse senso comum de um “personalismo virtuoso” (2015, p. 30-31) de nossa miscigenação, ou seja, uma visão que busca dar dignidade a nossa formação “multiétnica” (IANNI, 2004), em contraposição as concepções racistas que atribuía o nosso atraso a nossa formação étnica. Mas, se por um lado Freyre busca dar um sentido “positivo” a nossa formação, pois criamos uma “civilização singular”; é, em, Sérgio Buarque de Holanda que encontramos “o pai-fundador das concepções dominantes” das ciências sociais brasileiras, em cuja visão atribui que nossa “maior virtude”, não passa de nosso maior “problema social e político” (SOUZA, 2015, p. 32). Pois ao buscar as “Raízes do Brasil”, ele identifica nesse “homem cordial” um indivíduo tomado de uma cultura personalista, clientelista e autoritária, ao qual produz uma dualidade irreversível, entre uma ausência de “ética ao trabalho”, mas que, ao mesmo tempo nele reside uma “ética da aventura” (HOLANDA, 1995, p.44). O mesmo estaria disposto a enfrentar perigos inimagináveis na condição de obter fortuna e prestígio de forma rápida, ao invés de lograr o seu sucesso do esforço laborioso racional de seu trabalho cotidiano, como ocorria nos países capitalistas modernos, principalmente os de vertente protestante.

Em sua concepção os indivíduos e as instituições que se formam em nosso território, se pautam na excessiva relação de pessoalidade, “apadrinhamento” em detrimento das relações de impessoalidade típicas das “sociedades modernas capitalistas”. Pelo contrário, essas relações de pessoalidade e “apadrinhamento” dão origens as práticas de patrimonialismo, que são “uma espécie de amálgama

institucional do personalismo”, pois o “‘homem cordial’ é emotivo e particularista e tende a dividir o mundo entre ‘amigos’, que merecem todos os privilégios, e ‘inimigos’, que merecem a letra dura da lei” (SOUZA, 2015, p.32). Essa visão de nossa formação nos impede de ver aquilo que está nos alicerces da mesma, uma vez que, não conseguimos perceber as nossas próprias relações internas que são tensas e contraditórias, pois,

O Brasil criou-se, sob uma fachada de harmonia, uma sociedade contraditória. As contradições têm várias fontes. Elas são um produto da miscigenação de povos – indígenas, europeus e africanos – e da cultura derivada dos portugueses que mantêm o Brasil unido. [...] Em suma, o Brasil exemplifica todos os problemas do capitalismo no mundo em desenvolvimento. (SKIDMORE, 1998, p.15.).

Muito mais que uma mera herança da colônia, nossa formação se pauta da construção e formação capitalista de exploração e luta de classes, pois nessa órbita a grande massa populacional de nosso país é excluída não apenas do processo de formação, mas do próprio processo de consolidação e distribuição dos bens escassos e necessários para a sobrevivência. E não somente isso, pensar o Brasil, a partir de uma concepção “unívoca” de identidade nacional é um problema ainda maior, pois em nossa historicidade, nunca levou em conta a ideia básica de identidade nacional que permitiria uma identificação com um povo em sentido de homogeneidade e que compartilharia de um mesmo senso “identitário” como possuía, por exemplo, o inglês, o francês, o espanhol ou mesmo o estadunidense. Pelo contrário, o que encontramos em nossa história foi a grande demarcação “étnico-territorial”, preconceituosa e racista entre os indivíduos que detêm esses recursos escassos, em detrimento aos que não os detêm, mas que também compõem a nação. Se utilizando de pensamento de Ianni, devemos pensar o Brasil como um experimento “multicultural e multiétnico”, no qual “diferentes civilizações encontram-se, acomodam-se, combinam-se, dissolvem-se e recriam-se, ao mesmo tempo em que se tencionam e reafirmam” produzindo o que ele chama de multi- etnias, termo por ele utilizado para afirmar que o Brasil é um “produto” de diferentes culturas e etnias, e não uma homogeneidade nascida de um pensamento eurocentrista e elitista. (IANNI, 2004, p.153).

A partir dessa concepção, em que somos o “experimento simultaneamente social, cultural e étnico” (IANNI, 2004, p.153), precisamos romper com essa visão “pseudocientificista do culturalismo liberal conservador” (SOUZA, 2015) de muitos

intelectuais brasileiros que ajudaram a reproduzir e reforçar em nossa sociedade a ideia de que somos uma “mera herança” e lembrança dos resultados do colonialismo europeu dos séculos XVI, XVII e XVIII, retirando de nós mesmos as condições materiais e espirituais enquanto produtores e reprodutores de sentido de nossa própria realidade. Precisamos ainda, destacar que o Brasil que vemos hoje é sem dúvida o resultado de uma obra que se desenvolveu em meio ao tempo, em que não apenas existimos enquanto um empreendimento mercantil derivado das grandes navegações ibéricas, com o objetivo de acumular o máximo possível de reservas financeiras em um período de transição para os capitalismos, mas que se perpassou e se desenvolveu dentro e pelos diferentes momentos desse sistema, ou seja, o comercial, o industrial-monopolista, chegando por fim ao capitalismo financeiro, estágio de exploração mais aguda do mesmo.

Pois, assim fazendo, conseguiremos romper em definitivo com as teorias reducionistas de um patriarcalismo/patrimonialismo personificado em alguma dada figura como o donatário, o senhor do engenho, o coronel, o Estado, chegando até o objeto de nossa pesquisa que é o Pastor-presidente das ADMM, como figuras guiadas pela irracionalidade, pela emotividade, ou ainda pelo egoísmo puro e simples, o qual tende a privilegiar uns poucos em detrimento da maioria. Sendo estes desprovidos de qualquer tipo de estrutura de poder racional e burocraticamente organizada, que os ajudasse a pôr em prática os seus mais diferentes projetos e desígnios materiais, ou seja, ao invés de termos a capacidade de perceber o que está por de trás das relações de poder e dominação. Essa forma de pensamento daria a entender que o mesmo ocorreria pelo simples fato da existência dessa determinada figura, e, ela ser carregada de uma personalidade “ancestral” e herdada da condição de ex-colônia.

Esse rompimento se faz ainda mais necessário, uma vez que esses intelectuais brasileiros (como Sérgio Buarque de Holanda, Raymundo Faoro) tentam apoiar suas preposições e afirmações sobre o Brasil, nos estudos weberianos de poder e da consolidação do sistema capitalista na sociedade Ocidental. Weber em sua obra “Economia e Sociedade” (1922) busca explicar sociologicamente, como a diferentes formas de poder e dominação atuavam e se reproduziam nas diferentes sociedades humanas. Como clássico que é esse trabalho, o mesmo vai ser apropriado pelos intelectuais brasileiros, na tentativa de dar peso teórico aos seus argumentos sobre como se forma e desenvolve o patrimonialismo no Brasil.

Para Souza (2015), os intelectuais brasileiros interpretam as concepções weberianas, principalmente do patrimonialismo muito mal e de forma estática, como se o pensamento de Weber não tivesse tido a capacidade de ver para além “dos meros” tipos ideais – lembrando que são modelos abstratos, que tem a função de ajudar na compreensão do objeto estudado. Ainda segundo o autor, Weber tinha a plena consciência que a conduta ética “empresarial” dos primeiros protestantes estadunidenses era muito diferente de seus descendentes, que viviam naquele momento em uma sociedade de base secularizada. Assim essa noção de patrimonialismo “abrasileirada” que repousa no personalismo de um indivíduo, ou mesmo da instituição, tende a demonizar a figura do Estado como agente corrupto por natureza, mas ao mesmo tempo o Mercado é visto como uma entidade de pura virtude, escondendo todas as relações, tensões e contradições que os mesmos geram em relação com a sociedade na qual estão inseridos. Nesse sentido ele afirma que,

A tese do patrimonialismo pressupõe, portanto, tanto que se esconda e se esqueça a “sociedade”, e com ela os conflitos sociais como arena da disputa por recursos escassos, como também se simplifique mercado e Estado, onde um é o mocinho e o outro é o vilão. Esse é o nome da operação ideológica que permite que o tipo de liberalismo redutor e mesquinho que temos entre nós possa ser visto com o “flair” de uma teoria crítica da sociedade. [...] Mais uma vez o “homem cordial” de Sérgio Buarque passa a habitar, por algum milagre nunca explicado, apenas o Estado, e nunca o mercado. (SOUZA, 2009, p. 86)

Aqui reside o ponto central para a nossa pesquisa, pois ao percebermos essa inversão de mundo realizada pela intelectualidade liberal conservadora, para se explicar o tipo de patrimonialismo que existe no Brasil, podemos então começar a demarcar que a figura do Pastor-presidente das ADMM não é um produto de um “estoque cultural herdado” (SOUZA, 2015) do colonialismo português, mas sim, uma construção racional e burocrática, a fim de conseguir melhor administrar o poder que foi sendo consolidado dentro do processo de formação e desenvolvimento das ADs, seja ela do Ministério de Madureira, Missões ou de qualquer outro Ministério ao longo de seu processo histórico. Dessa forma necessitamos de um rápido retorno a esses conceitos que foram elaborados pelo sociólogo alemão Max Weber, na tentativa de melhor explicitarmos como foi por ele elaborado a questão do patriarcalismo/patrimonialismo, para depois sim, utilizarmos os mesmos na

elucidação dessa figura tão importante para ADs no Brasil que é o Pastor- presidente.

E apesar da AD não ser uma igreja exclusivamente brasileira, pois a encontramos em outras localidades, como por exemplo, em países do continente Americano25, pode-se notar que figura do Pastor-presidente só é encontrada nas

igrejas ADs que foram fundadas no Brasil ou por brasileiros em outras localidades. Por este motivo a importância de romper com a interpretação tradicional do pensamento social brasileiro, a fim de nos aproximarmos o máximo possível de uma interpretação mais próxima da realidade do nosso objeto em questão.

1.1.1. O Patriarcalismo/Patrimonialismo em Max Weber: os conceitos de poder e dominação.

Nesta seção recorreremos à visão weberiana sobre os conceitos de poder e dominação, que nos dará os aportes necessários para melhor compreender o que é, e como se constituiu a figura do Pastor-presidente das ADMM. Também nos auxiliará em uma melhor percepção de como essa figura se mantém no poder da instituição de forma “quase que intocável”, como se tem visto em muitas das ADs no Brasil, não somente no Ministério de Madureira como também as ligadas à CGADB. Atualmente além de se perpetuar no poder recebendo em muitos casos a designação de “presidente-vitalício” do ministério26 (como é no caso de Madureira), o

mesmo passa a ter poder para postular a indicação de filhos, ou mesmo parentes próximos como genros e netos, para sucedê-lo no cargo.

25A “logomarca” Assembleia de Deus é utilizada pela primeira vez em 1914 pela igreja fundada nos

Estados Unidos, no caso brasileiro apesar de ter sido fundada em 1911, a igreja em Belém do Pará era chamada de Missão da Fé Apostólica, somente em 1918 é que passa utilizar o logo de Assembleia de Deus. (ALENCAR, 2010; 2013).

26 Segundo o Estatuto da CONAMAD do ano de 2007, em seu CAPÍTULO XI; DAS DISPOSIÇÕES

GERAIS; no Art. 95. Diz-se: “Poderá haver reeleição em todos os cargos da CONAMAD; exceto para

aqueles ocupados atualmente pelo Presidente e 1º Vice Presidente, por serem seus ocupantes vitalícios, de acordo com a decisão soberana e unânime da Egrégia Assembleia Geral Extraordinária realizada em 1º de maio de 1999. Ainda segundo o mesmo no em Parágrafo Único: “No caso de

vacância dos cargos de Presidente e 1º Vice Presidente da CONAMAD, extingue-se, de plano, a

vitaliciedade quanto aos cargos vacantes; e o preenchimento dar-se-á de acordo com as normas

estatutárias vigentes, quanto à eleição, posse e mandato”. Um ponto interessante a se ressaltar é que, no Estatuto da instituição alterado em 2013, desaparece a vitaliciedade do 1º vice-presidente, que a época estava a cargo do Pr. Lupércio Vergniano (que ainda está vivo, mesmo que doente) e que hoje é do Pr. Samuel Cássio Ferreira (que na última convenção da CONAMAD ocorrida em 2016, ele se tornou o Presidente Executivo da instituição). Esse assunto será tratado com mais profundidade no terceiro capítulo, o qual tratará diretamente sobre a ação dos filhos do Bp. Manoel Ferreira.

Pois bem, Weber define poder como a “probabilidade de impor a própria vontade numa relação social, mesmo contra a resistência, seja qual for o fundamento da probabilidade” (WEBER, 2012, p.33). Que seriam neste caso os recursos que o dominador dispõe nesse momento, que podem ser financeiros, bélicos, políticos, entre outros. Para ele o conceito de poder é sociologicamente amorfo, uma vez que as qualidades de uma pessoa e as condições das relações sociais podem fornecer as condições necessárias para que essa imposição se efetive em uma determinada relação. Já a dominação “é a probabilidade de encontrar (através da habilidade do dominador27) obediência a uma ordem de

determinado conteúdo”, sendo este conceito mais preciso na questão de encontrar a obediência (WEBER, 2012, p. 33), mesmo que o dominado não perceba esta relação de domínio, ou aceite esta relação entendendo que a mesma é necessária para a sua existência e permanência dentro da relação social. Um bom exemplo é como se legitima o poder e a dominação de um Pastor-presidente da ADMM, pois nasce da concepção sobrenatural, ou seja, para explicar por que determinada pessoa ocupa o posto de Pastor-presidente se usa a concepção que a mesma, ocupa esse posto por escolha divina, aquilo que nas entrevistas apareceu na fala de todos os pastores (sejam eles presidentes, ex-presidentes ou apenas pastores de congregação) como o “chamado de Deus” ou “vocação divina” para o ministério, incluindo em algumas falas também sua “trajetória de fidelidade” dentro do ministério.

Porém acredito ser importante neste momento destacar que em algumas falas colhidas de nossas entrevistas, em especial a de um Pastor-presidente, quanto de um Ex. Pastor-presidente, na qual encontramos a possibilidade atualmente de outra forma de escolha. Segundo eles, muitas vezes essa escolha é feita por interesses intramundanos, como por práticas de favorecimento a amigos e parentes para a obtenção de fidelidade, ou mesmo, chegando a alguns casos ocorrer o pagamento de uma espécie de “pedágio”, na busca de se tornar um pastor-presidente. Notava- se que a fala era carregada de um tom de inconformidade e saudosismo de um tempo diferente dos dias atuais, nos quais segundo eles “era Deus que chamava”. Segundo a fala do Pr.P(ex)-A, quando perguntado se ele via alguma diferença entre

os pastores-presidentes das gerações anteriores para os da geração atual, ele disse:

“Olha, é duro a gente ter que falar, mas tem diferença, tem diferença,

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