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2.5 PROCESSO DE PENSAMENTO DA TEORIA DAS RESTRIÇÕES

2.5.1 Árvore da Realidade Atual

A Árvore da Realidade Atual(ARA) é uma ferramenta baseada na lógica. É usada para identificar e descrever relacionamentos de causa e efeito, podendo determinar os principais problemas que causam os efeitos indesejados no sistema.(COX; BLACKSTONE; SCHLEIER, 2003; SCHEINKOPF, 1999). Por meio de uma representação detalhada dos relacionamentos do tipo efeito-causa-efeito, é possível concentrar esforços de melhoria nos pontos que causam os efeitos indesejados.(SELLITTO, 2005). A ARA permite, também, uma compreensão da ligação desses efeitos indesejados a outros processos organizacionais.(LACERDA; CASSEL; RODRIGUES, 2010).

Essa ferramenta é um instrumento eficaz também quando há uma restrição política em oposição a uma limitação física do sistema (KIM; MABIN; DAVIES, 2008).Isso porque a ARA pode evidenciar restrições políticas ou administrativas que outros instrumentos de melhorias tradicionais não apontariam.Nesse sentido, pode avaliar o foco da situação problema,

priorizando e formulando um plano de ação.(GUPTA; BOYD, 2008; LIBRELATO et al., 2014).A construção da ARA segue dez passos, que envolvem a busca pelas causas prováveis para os efeitos indesejados.(KIM; MABIN; DAVIES, 2008; NOREEN; SMITH; MACKEY, 1996).Esses passos estão expostos noQuadro 8.

Quadro 8:Passos para construção da ARA

Passos Atividades

01 Faça uma lista de cinco a dez efeitos indesejados relacionados com a situação;

02 Se encontrar uma conexão entre dois ou mais efeitos indesejados, conecte a este grupo e verifique se existe uma ressalva de clareza entre eles. Se a ressalva não existir, escolha um efeito ao acaso e prossiga para o passo seguinte;

03 Conecte os outros efeitos indesejados ao resultado do passo anterior, fazendo as ressalvas a cada entidade e conectando com flechas ao longo do processo;

04 Leia a árvore de “baixo para cima”, fazendo novamente as ressalvas de clareza de cada flecha e entidade, procedendo às correções necessárias;

05 Pergunte a si mesmo se a árvore reflete a sua intuição sobre a área. Se não, verifique cada flecha para descobrir ressalvas adicionais;

06 Não hesite em expandir a ARA, a fim de conectar outros efeitos indesejados;

07 Reexamine os efeitos indesejados, identificando as entidades na árvore que sejam intrinsicamente negativas, mesmo que a entidade não conste da lista original ou que necessite expandir a ARA para cima;

08 Elimine da ARA qualquer entidade que não seja necessária para conectar todos os efeitos indesejados;

09 Apresente a árvore para alguém que o ajude a aflorar e desafiar os pressupostos nela encontrados;

10 Examine todos os pontos de entrada da ARA e decida quais os que você deseja atacar, escolha os que mais contribuem para a existência de efeitos indesejados.

Fonte: Adaptado de Noreen, Smith e Mackey (1996).

De acordo com esses passos, ao definir a situação de interesse listam-se e conectam-se os efeitos indesejados.(SELLITTO, 2005). Essas conexões são feitas por meio de flechas, as quais pressupõem suficiência de causa. Isso significa que, para que o efeito indesejado ocorra, é necessárioque outro efeito ocorra simultaneamente, individualmente ou ambos (NOREEN; SMITH; MACKEY, 1996). Para que a ARA se apresente concisa e correta, realiza-se a análise da consistência dos efeitos indesejados e das causas, por meio de sete pressupostos: a) existência de entidade; b) existência de causalidade; c) tautologia; d) existência de efeito previsto; e) suficiência ou insuficiência de causa; f) causa adicional; g) esclarecimento ou claridade.(ALVAREZ, 1995; NOREEN; SMITH; MACKEY, 1996). Em termos de análise e compreensão das entidades descritas na ARA, recomenda-se sua leitura de forma bottom-

up(NOREEN; SMITH; MACKEY, 1996), analisando: “se existe a causa X, então o efeito é Y”. Em termos de construção, recomenda-se que ela seja feita com grupos multidisciplinares, proporcionando uma comunicação eficaz dos principais problemas da

organização e um entendimento comum dessassituações(LACERDA; CASSEL; RODRIGUES, 2010). Ao construir a ARA, tem-se mecanismos para: identificar o impacto de políticas, procedimentos e ações nas organizações; comunicar, clara e concisamente a causalidade dessas ações; identificar o problema central em uma decisão; e permitir a criação de um clima favorável de relação frente aos problemas.(KLEIN; DEBRUINE, 1995; LACERDA; RODRIGUES; SILVA, 2011).

Para contextualizar as potencialidades dessa ferramenta e seus usos, selecionou-se um conjunto de trabalhos que utiliza tal abordagem. Desse modo, a ARA já foi aplicada em diversas áreas, individualmente e em conjunto com outros métodos.(LIBRELATO et al., 2014). Alguns estudos ilustram a integração entre a aplicação da ARA e a engenharia de processos de negócios. Lacerda, Cassel e Rodrigues (2010)contextualizamo uso integrado da modelagem de processos de negócios com o TP, visando a contribuir para a obtenção de uma visão sistêmica dos problemas encontrados e, consequentemente,a propor um redesenho de processo. O uso da engenharia de processos de negócios e do processo de pensamento para redesenho de processos em uma instituição de ensino superior também foi apresentada por Pergher, Rodrigues e Lacerda et al.(2011), buscando atuação nos pontos de alavancagem do sistema.

Também é possível verificar a aplicação dessa ferramenta para identificar a solução de diferentes tipos de problemas.Chou, Lu e Tang (2012) utilizam o TP para encontrar os efeitos indesejados e as causas-raiz dos problemas de gerenciamento de materiais em uma empresa do segmento aeroespacial. A ARA também foi aplicada, por meio de estudo de caso, em uma empresa que desenvolve processo de design, com vistas a identificar as causas básicas e os efeitos indesejados que inviabilizam a ampliação de sua capacidade de produção. (SCOGGIN; SEGELHORST; REID, 2003).

De maneira abrangente, essa técnica também pode ser aplicada em intervenções organizacionais, como fezSellitto (2005), que usou o TP como alternativa para o planejamento de uma intervenção organizacional em uma empresa do setor de saúde pública. Pode, ainda, ser aplicada em análises de cadeias completas, como fizeramFeitó Cespón et al. (2015), que executaram um diagnóstico estratégico da gestão da cadeia de abastecimento em termos econômicos e ambientais no setor empresarial cubano.Observa-se, portanto, que a ARA possui um caráter de aplicação dinâmico e que seu uso é oportuno para análise do Ecossistema de Valor do Futebol.

Em termos gerais, o uso da TOC para análise de ecossistemas de valor é interessante, pois propicia identificar as possíveis causas dos efeitos indesejados em um sistema complexo com múltiplos inter-relacionamentos. Além disso, ao utilizar as ferramentas do TP da TOC, é

possível amplificar a visão crítica da realidade, com vistas a melhorar o desempenhodas empresas que participam do ecossistema em situações problemáticas. A ARA, por sua vez, possibilita estruturar logicamente os relacionamentos do ecossistema e concentrar os esforços de melhorias nos pontos que ocasionam os efeitos indesejados. Desse modo, as etapas expostas inicialmente na Figura 12 foram alteradas, de modo a incluir a ARA. A versão final é exposta na Figura 13.As etapas alteradas estão em vermelho.

Figura 13: Método utilizado para análise e proposição sistêmica do EVF

Fonte: Elaborado pela autora (2018)

Em ecossistemas, a identificação dos problemas centrais que afetam o desempenho é um processo difuso e complexo. Isso acontece, primeiramente, porque os interesses das entidades, organizações e atores que participam desse ecossistema são individuais. Em segundo lugar, porque ao fomentar a competitividade individual, os efeitos indesejados são sentidos coletivamente no ecossistema, amplificando os problemas e dificultando a identificação das causas que geraram esses efeitos.Portanto, o uso de ferramentas que busquem a compreensão das causas dos efeitos indesejados, tais como a ARA, possibilita priorizar ações que atendam aos interesses coletivos e, por sua vez, impactem individualmente.

(1) Definir uma situação complexa de interesse: ”tema de pesquisa” (3) Identificar as variáveis-chave (4) Desenvolver a ARA (6) Identificar Pontos de alavancagem (7) Identificar possíveis cenários (10) Apresentar e analisar os resultados (8) Modelar em computador (9) Teste ”t” (2) Desenvolver CVF e EVF (5) Desenhar estrutura sistêmica

ECOSSISTEM A

DE VALOR DO

FUTEBOL

Os relacionamentos descritos pela ARA são do tipo efeito-causa-efeito,contudo, em ecossistemas de valor, os relacionamentos se afetam mutuamente. Por conseguinte, aliar as prerrogativas da ARA a outras abordagens sistêmicas, tais como o Pensamento Sistêmico e a Dinâmica de Sistemas, pode gerarresultados satisfatórios na resolução de problemas.

O Pensamento Sistêmicopossibilita o entendimento das forças estruturais presentes no ecossistema de valor. Além disso, a partir delas é possível identificar pontos de alavancagemque podem concentrar ações pequenas e focadas com o objetivo de alavancara variável-chave do Ecossistema de Valor do Futebol. Porém, esse processo é subjetivo, de modo que pontos de alavancagem importantes podem não ser identificados. Desse modo, a ARA pode complementar esse processo ao fundamentar a identificação dos pontos de alavancagem, buscando legitimartal escolha.A Modelagem de Dinâmica de Sistemas, por sua vez, propicia compreender dinamicamente a interação entre as variáveis do Ecossistema de Valor do Futebol. Além disso, é possível testar a influência dos pontos de alavancagem e das causas básicas e os efeitos indesejados sobre a variável-chave, analisando o impacto dessas ações no tempo e espaço. Posto isso, o próximo capítulo expõe o método de pesquisa e de trabalho utilizado no âmbito desta pesquisa.

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Pesquisar é reunir as informações necessárias visando a encontrar respostas para uma pergunta e, assim, chegar à solução de um problema. (BOOTH; COLOMB; WILLIAMS, 2005). A fim de se chegar à solução confiável de um problema, utilizam-se métodos, que são definidos como conjuntos de passos empregados por pesquisadores para a construção do conhecimento científico. (ANDERY et al., 2007). Desse modo, a pesquisa pode ser delimitada como uma investigação sistemática, cujo objetivo central reside no desenvolvimento e refinamento de teorias ou na resolução de problemas. (DRESCH; LACERDA; ANTUNES JR, 2015). Assim, este capítulo apresenta o delineamento da pesquisa, abordando os métodos adotados para a sua condução e, por fim, o método de trabalho.