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4.1 CADEIA DE VALOR DO FUTEBOL

4.1.2 Avaliação do modelo inicial da CVF

O modelo inicial de CVF (Figura 18) foi identificado como representativo por 02 (dois) entrevistados, como parcialmente representativo por 06 (seis) e como totalmente representativo por 02 (dois) pesquisados. Assim, “o modelo representa parcialmente, pois alguns dos atores

apresentados, dependendo da área de atuação, podem variar de posicionamento na cadeia”

(ENTREVISTADO CF1). Como exemplo, pode-se citar o ator escolas de formação dos clubes,

que pode transitar entre a indústria de transformação e a extração, dependendo do posicionamento do clube com relação ao desenvolvimento interno de sua categoria de base. O ator denominado “empresário parceiro” é descrito no elo indústria de transformação, porém

sugeriu-se inseri-lo “no elo distribuição, pois ele faz o intercâmbio entre a compra e a venda

dos jogadores em mais de uma etapa da cadeia”. (ENTREVISTADO CF4). Contudo, optou-se

por deixá-lo nomeado somente na indústria de transformação, pois se entendeu que é neste elo que se inicia o envolvimento do empresário com o atleta e o clube.

Os entrevistados também citaram que “faltam alguns atores, tais como a arbitragem” (ENTREVISTADO CF2). Sobre esse aspecto, argumentou-se que a arbitragem está contida no

ator federações e confederações, ao que o entrevistado respondeu dizendo que “a arbitragem

exerce um papel significativo em uma partida, pode auxiliar ou prejudicar o clube”

(ENTREVISTADO CF2). Desse modo, compreende-se que a inserção desse ator na CVF versão

preliminar seja interessante.

Um entrevistado citou os“agentes de investimento, pois este ator pode determinar o

orçamento do clube” (ENTREVISTADO CF1). Entende-se como agentes de investimento

ospatrocinadores, pois Lonsdale (2004) descreve esse gerador de receita. Dois atores descritospor Ducrey et al. (2003) não haviam sido inseridos na versão inicial, porém foramcitados pelos entrevistados, a saber,“os campos de futebol amador, campinhos, nestes

locais são descobertos futuros profissionais” (ENTREVISTADO I1) e “os profissionais

gestores de futebol, pois existe a necessidade da presença de um profissional capacitado

profissionalizando o clube.” (ENTREVISTADO C1).

Verificou-se que os atores/produtos listados pelas cadeias apresentadas no Quadro 3 não esboçam a questão jurídica, o torcedor de campo, os cursos e analistas de jogos. Destarte, “o

departamento jurídico e os profissionais do direito esportivo e tributário têm papel

fundamental por gerenciar passivos e causas trabalhistas do clube.” (ENTREVISTADO CF1).

“O cliente de jogo, o torcedor de campo, é aquele que não é sócio, mas vai assistir ao

jogo.”(ENTREVISTADO CF3). Esse torcedor comparece às partidas e consome produtos

influenciado pelos resultados do clube.Por conseguinte, ao conhecê-lo, ações podem ser desenvolvidas para atrair sua lealdade. (STANDER; BEER, 2016).

Adicionalmente, os entrevistados citaram ser importante“incluir a venda de planos de

saúde” (ENTREVISTADO C2) e “a segurança pública, pois estes atuam nas partidas de

futebol.” (ENTREVISTADO C1). Os entrevistados ainda salientam a questão de capacitação

técnica, ou seja, de “cursos e profissionais” (ENTREVISTADO I1). Tal perspectiva

representa a formação do profissional que atuará com o jogador e os cursos de capacitação específicos, tais como de arbitragem, de gerenciamento, entre outros. Além disso, também foi mencionada a inserção do novo elemento denominado “infraestrutura, contendo

(ENTREVISTADO C2) e “os jogos de videogame, os profissionais que elaboram as análises

estatísticas, probabilidade e softwares para uso no futebol.”(ENTREVISTADO T1).

Foi apontada, nas entrevistas, a inclusão da “venda do direito federativo do jogador,

pois representa 20 a 30% do orçamento anual dos clubes” (ENTREVISTADO CF4) e do

“intercâmbio de jogadores em formação entre os clubes nacionais e

internacionais.”(ENTREVISTADO I1). Porém, entendeu-se que a venda do direito federativo

do jogador e o intercâmbio são atividades que acontecem independentemente de sua existência nomeadamente. Nicoliello e Zampatti (2016) salientam que os clubes devem atrair novos investidores, reduzir despesas, investir em infraestrutura e capital humano e, por último, em jovens jogadores, pois estes eventualmente podem ser negociados.

Outro ponto abordado pelos entrevistados foi a “inserção dos clubes de fachada, pois

são clubes com foco na lapidação e melhoria do jogador para depois irem para o mercado”

(ENTREVISTADO C2). Entretanto, ainda que exista essa conduta, a CBF reconhece os clubes

formadores como especializados na formação de jogadores. (CBF, 2018). Igualmente, apesar da existência do ator“indústria do jogo, apostas, cassino, a exploração mais profunda do

futebol” (ENTREVISTADO T1), a legislação brasileira prevê ações restritivas quanto

àcaptação de recursos por meio de apostas. (BRASIL, 2015).

Foram citados, ainda, os“investidores como pessoas físicas e donos de clubes” (ENTREVISTADO I1), cuja representatividade no Brasil é ínfima se comparada às associações

sem fins lucrativos. Também foi mencionada a“inserção de ex-atletas na cadeia auxiliar, como

exploração de imagem” (ENTREVISTADO OF1), porém, neste primeiro momento,

considerou-se a atuação do atleta diretamente no clube, de modo que se optou por não inserir esse ator.

Por conseguinte, “o modelo apresentado tem alguns atores/elos a realocar” (ENTREVISTADO OF1). Uma alteração seria“trazer as federações e confederações para o

elo de transformação”,pois “são atores importantes”, que “organizam os regulamentos dos

campeonatos” (ENTREVISTADO OF2), e cuja atuação é no inicio da cadeia. Observou-se

que no elemento saúde“a avaliação física geralmente não é realizada na indústria extração,

pois é uma etapa muito inicial na formação do futuro atleta” (ENTREVISTADO I1),

sendofeita posteriormente, quando esse atleta ingressa na escola de formação do clube. Igualmente, houve uma opinião no sentido de que o “clube amador deve estar na

indústria de transformação, pois são de desenvolvimento e na indústria de bens já existe a

categoria de base de um clube” (ENTREVISTADO C2). Corroborando as percepções dos

como um todo, substituindo médicos por profissionais de saúde” (ENTREVISTADO C2) foi

efetivada, pois se entendeu que era significativa.

Alguns entrevistados não concordaram com a presença de atores na cadeia, e expressaram sua percepção. Apontaram, pois, sugestões como“rever o posicionamento dos

empresários, ou seja, sua presença na cadeia” (ENTREVISTADO C1) e “retirar os olheiros

de futebol, pois podem representar um problema para o clube ao persuadir o atleta a migrar

para um clube novo” (ENTREVISTADO C5). Contudo, como esses atores fazem parte da

CVF,sendo responsáveis por captar possíveis jogadores, optou-se por deixá-los.

Desse modo, o modelo inicial da CVF foi reavaliado, e é exposto na Figura 19. No que tange à apresentação dos atores/elos na CVF, foi realizado um sequenciamento dos atores considerando o que eles representam e em que elos atuam na cadeia. A cor laranja representa os clubes de futebol, que atuam desde a indústria de extração até os clientes, com níveis de intensidade diferentes. As cores azul e lilás expõem os produtos derivados dessa cadeia, ou seja, a representatividade de terceiros que atuam na cadeia de forma direta, tais como as empresas de bens licenciados e a mídia, que exercem um papel significativo na cadeia em termos de captação de recursos financeiros.

As inclusões de atores/produtos e elos solicitadas pelos entrevistados são identificadas na Figura 19,em itálico e em vermelho. A cadeia principal representa as etapas/atividades ligadas diretamente ao desenvolvimento do clube e do atleta.Ela continua composta por 06 (seis) elos. Foram incluídos os seguintes atores: “campos de futebol amador”, “patrocínio

público/privado”, “departamento jurídico”, “jogos de futebol/campeonatos” e “torcedor de

campo”.

Em termos de realocação e/ou exclusão de atores/elos, foram realizadas as seguintes alterações: “clube/time amador” e “federações e confederações” passaram para indústria de transformação. Na cadeia auxiliar, que apresenta o suporte ao atleta e ao clube, foram acrescentados os seguintes elementos:“capacitação técnica” e “infraestrutura”.Além disso, foi ajustada a “avaliação física” no elo indústria da extração, sendo que cirurgias e fisioterapia foram substituídas por “área médica”.As demais alterações estão grifadas na Figura 19.

Como exposto na seção de metodologia, as respostas das três questões referentes à avaliação do modelo foram submetidas à análise procurando verificar o nível de concordância geral entre os entrevistados. Evidencia-se que as questões foram agrupadas para que a amostra fosse significativa.Por meiodo software R Development Core Team (2011), foi verificado o grau de concordância, como expõe o Quadro 18.

Quadro 18: Resultado da concordância entre os entrevistados

Número de questões 3

Número entrevistados 10

Kappa 0.0376 P-value 0.549

Fonte: Elaborado pela autora (2018).

Os resultados obtidos apontam que uma leve concordância entre os 10 entrevistados.Em uma escala de 0 a 1, 0.0376 concordam que esse modelo representa a Cadeia de Valor do Futebol. Em termos de resultado, verificou-se que o Fleiss Kappa é limitado quando a quantidade de indivíduos ou objetos avaliados é pequena.(FALOTICO; QUATTO, 2015; SILVA; PEREIRA, 1998), como no caso desta pesquisa.

Por fim, ainda que a maioria dos entrevistados identifique a CVF inicial como representativa, salientou-se que ela“parece confusa, os atores na cadeia estão misturados, ou

seja, não há uma separação do futebol dentro e fora do campo. Analisando o futebol, este não apresenta um encadeamento perfeito de atividades. A CVF não é linear, mas sim com inter-

relações”(ENTREVISTADO CF3). Em outra percepção, a CVF inicial “está bem organizada,

mas precisa de mais reflexão, pois a classificação utilizada é tipicamente industrial,

intangível”(ENTREVISTADO T1).Assim,não se consideraa forma de organização apresentada

Figura 19: Cadeia de Valor do Futebol – Versão Preliminar

Um dos entrevistadospercebeu a seguinte mistura de conceitos:“no elo grandes

varejistas abordam pessoas e no elo seguinte expõem-se os produtos, à primeira vista parece que os conceitos estão misturados. Sugiro que no elo distribuidor fiquem os empresários, os clubes, as marcas esportivas e que varejo físico/virtual passe para a cadeia auxiliar”

(ENTREVISTADO I1). Contudo, a organização de atores/elos continuou sendo segregada em

cadeia principal e auxiliar. No entanto, propôs-se o desenvolvimento de entrevistas complementares a fim de confirmar ou refutar esse apontamento, o que é expostona próxima seção.