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É o que se diz em 1Cor 13, 13: agora, portanto, permanecem fé, esperança,

No documento As Virtudes Morais - Santo Tomás de Aquino (páginas 97-99)

Décimo segundo, se pergunta se as virtudes se distinguem entre si Pergunta-se sobre a distinção das virtudes [ 156 ]

1. É o que se diz em 1Cor 13, 13: agora, portanto, permanecem fé, esperança,

caridade, estas três coisas; e em Sb 8,7: ensina a temperança e a prudência, a justiça e a fortaleza.

Respondo

Respondo, dizendo, que cada coisa se distingue segundo a espécie, conforme o que é formal nela mesma. No entanto, o formal em cada coisa é aquilo que completa a sua definição. Com efeito, a última diferença constitui a espécie. Por isso, por ela, o definido se distingue segundo a espécie dos outros, e se a diferença mesma é formalmente múltipla, conforme as diversas razões formais, o definido se distingue em diversas espécies, conforme a sua mesma diversidade. No entanto, aquilo que completa e constitui o elemento formal último na definição da virtude é o bem, pois a virtude considerada universalmente se define assim: a virtude é o que faz bom aquele que a possui e torna boa a sua obra: como se mostra no livro da Ética[ 165 ]. Por isso, também, é necessário que se distinga, segundo a espécie a virtude do homem, da qual falamos, enquanto se distingue o bem segundo as diversas razões formais. Contudo, como o homem é homem, enquanto é racional, é necessário que o bem do homem pertença àquilo que é de algum modo racional. No entanto, a parte racional, ou a intelectiva, compreende a parte cognoscitiva e a apetitiva. Contudo, a parte racional não só pertence ao apetite que está na própria parte racional, o que segue a apreensão do intelecto e o que se designa por vontade, mas também o apetite que está na parte sensitiva do homem, e se divide no irascível e no concupiscível. Com efeito, também este apetite segue no homem a apreensão da razão, enquanto obedece ao império da razão. Por isso, também se afirma que participa, de algum modo, da razão. Portanto, o bem do homem não só é o bem da parte cognoscitiva, mas também o bem da parte apetitiva. No entanto, o bem não é atribuído a uma e outra parte, segundo a mesma consideração. Com efeito, o bem é atribuído à parte apetitiva formalmente, pois o mesmo bem é o objeto da parte apetitiva, contudo, o bem não é atribuído à parte intelectiva formalmente, mas só materialmente. Com efeito, conhecer o verdadeiro é um certo bem da parte cognoscitiva, ainda que não se relacione com a parte cognoscitiva, sob a razão de bem, porém mais propriamente com a apetitiva, pois o conhecimento mesmo do verdadeiro é algo apetecível. Portanto, é necessário que seja de uma natureza distinta a virtude que aperfeiçoa a parte cognoscitiva para conhecer o verdadeiro, e a que aperfeiçoa a parte apetitiva para apreender o bem. E, por causa disso, o Filósofo, no livro da Ética[ 166 ], distingue as virtudes intelectuais das morais e como as intelectuais se designam as que aperfeiçoam a parte intelectual para conhecer o verdadeiro, como

morais, contudo, as que aperfeiçoam a parte apetitiva para desejar o bem. E porque o bem convém mais apropriadamente à parte apetitiva do que à intelectiva, por causa disso, o nome da virtude corresponde mais conveniente e propriamente às virtudes da parte apetitiva que às virtudes da parte intelectiva, ainda que as virtudes intelectivas sejam perfeições mais nobres do que as virtudes morais, como se prova no livro VI da Ética[ 167 ]. No entanto, o conhecimento do verdadeiro não é da mesma razão em relação a todas as coisas. Com efeito, o verdadeiro necessário e o verdadeiro contingente são conhecidos de um modo distinto e, às vezes, o verdadeiro necessário é conhecido de certa maneira, se é admitido como verdadeiro ao ponto de ser conhecido, como os primeiros princípios conhecidos pelo intelecto, e de outro modo, se é conhecido a partir de outro, como são conhecidas as conclusões pela ciência, ou pela sabedoria em relação às coisas mais elevadas, nas quais também há um outro modo de conhecer, porque por este o homem é conduzido a conhecer outras coisas. E de modo semelhante em relação às realidades contingentes, não é da mesma natureza o conhecimento das que estão em nós, que são denominadas operáveis, como são as nossas operações nas quais ocorre errar frequentemente por causa de alguma paixão, sobre as quais versa a prudência. E aquelas coisas que são exteriores a nós e feitas por nós, em relação às quais nos dirige alguma arte, cuja reta estima não é corrompida pelas paixões da alma. E por isso enuncia o Filósofo, no livro VI da Ética[ 168 ], como virtudes intelectuais, a saber, a sabedoria, a ciência, o intelecto, a prudência e a arte. Além disso, de modo semelhante, o bem da parte apetitiva não se dá segundo a mesma forma em todas as coisas humanas. No entanto, este modo de bem é buscado em três classes de matéria, a saber, nas paixões do irascível, nas paixões do concupiscível, e em nossas operações relativas às coisas exteriores que concernem ao nosso uso, como se dá na compra, na venda, no salário, no arrendamento e outras coisas semelhantes. Com efeito, o bem do homem nas paixões é de tal maneira que ao se relacionar com elas não declina do juízo da razão pelo seu ímpeto. Por isso, se há algumas paixões que são naturalmente inclinadas a impedir a realização do bem da razão incitando a agir ou a ir em busca de algo contrário, o bem da virtude consiste principalmente em certo refrear e retrair, assim como se mostra na temperança, que refreia e reprime as concupiscências. No entanto, se a paixão principalmente é por natureza inclinada a impedir o bem da razão retraindo dele, como no caso do temor, o bem da virtude em relação a esse modo de paixão estará no resistir, o que faz a fortaleza. Contudo, em relação às coisas exteriores, o bem da razão consiste em que recebam a proporção devida, conforme se referem à comunicação da vida humana. E por isso se assinala o nome da justiça, da qual é próprio regular e encontrar a igualdade nessas classes de coisas. Mas deve-se considerar que tanto o bem da parte intelectiva, como da parte apetitiva é duplo: o bem que é o fim último, e o bem que é em razão do fim, pois a natureza de ambos não é a mesma. E, por isso, além de todas as virtudes mencionadas, pelas quais o homem alcança o bem nestas coisas que são relativas ao fim, é necessário que haja outras virtudes, conforme as quais o homem se disponha retamente em relação ao último fim, que é Deus. Por isso são denominadas teologais, porque não só tem a Deus por fim, mas também por objeto. No entanto, para

que nos movamos retamente até o fim, é necessário que o fim seja conhecido e também desejado. Contudo, o desejo do fim exige duas coisas: a confiança de obter o fim, porque nenhum homem prudente se move ao que não pode conseguir, e o amor do fim porque o fim não se deseja a não ser que seja amado. E por isso, as virtudes teologais são três: a fé, pela qual conhecemos a Deus, a esperança, pela qual esperamos possuí-Lo, e a caridade, pela qual O amamos. Logo, dessa maneira, é evidente que há três gêneros de virtudes: as teologais, as intelectuais e as morais, e que qualquer destes gêneros contém, sob si, muitas espécies.

Respostas aos argumentos

No documento As Virtudes Morais - Santo Tomás de Aquino (páginas 97-99)