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Além do mais, há as gerações e corrupções, a partir dos contrários Ora, a virtude

No documento As Virtudes Morais - Santo Tomás de Aquino (páginas 68-70)

Nono, se pergunta se as virtudes são adquiridas pelos atos [ 105 ] E parece que não.

3. Além do mais, há as gerações e corrupções, a partir dos contrários Ora, a virtude

se corrompe pelos atos maus. Logo, é gerada por atos bons.

Respondo

Respondo, dizendo, que como a virtude é o último da potência, e que qualquer potência se estende para realizar a operação, isto é, uma operação que seja boa, é evidente que a virtude de cada coisa é aquela pela qual se produz uma operação boa. Mas, porque toda coisa é por causa da sua operação, pois qualquer coisa é boa segundo o que tem de bem em relação ao seu fim, é necessário que pela própria virtude cada coisa seja boa, ou opere bem. No entanto, o bem próprio de uma coisa é diferente do que é próprio à outra coias. Com efeito, de diversos perfectíveis há perfeições diversas. E por isso o bem do homem é algo diferente do bem do cavalo e do bem da pedra. Também, em relação ao mesmo homem, conforme diversas considerações do mesmo, o seu bem se entende de diversas maneiras. Com efeito, não é o mesmo o bem do homem, enquanto é homem, e enquanto é cidadão. Porque o bem do homem, enquanto é homem, consiste que a razão seja perfeita no conhecimento da verdade, e que os apetites inferiores sejam regulados conforme a regra da razão, pois o homem é homem porque é

racional. No entanto, o bem do homem, enquanto é cidadão, consiste em que se ordene conforme a cidade em relação a todos os outros homens. E por causa disso diz o Filósofo no livro III da Política[ 120 ], que não é a mesma virtude do homem enquanto é bom, e a virtude do homem enquanto é bom cidadão. No entanto, o homem não só é cidadão da comunidade terrena, mas também é partícipe da cidade celeste, Jerusalém, cujo soberano é o Senhor, e são cidadãos os anjos e todos os santos, seja os que reinam na glória e descansam na pátria, seja os que peregrinam na terra, segundo o que diz o Apóstolo em Ef 2, 19: sois concidadãos dos santos e membros da família de Deus, etc. Contudo, para que o homem seja partícipe desta cidade não é suficiente a sua natureza, mas que seja elevado pela graça de Deus. De fato, é evidente que aquelas virtudes que são próprias do homem, enquanto é partícipe desta cidade, não podem ser adquiridas por ele, mediante as suas capacidades naturais. Por isso não são causadas por nossos atos, mas são infundidas em nós, por um dom divino. No entanto, as virtudes que são próprias do homem enquanto é homem, ou enquanto é partícipe da cidade terrena, não excedem à faculdade da natureza humana. Por isso, o homem pode adquiri-las por suas capacidades naturais, a partir dos próprios atos, o que é evidente desta maneira. Com efeito, enquanto alguém tem uma aptidão natural para alguma perfeição, se esta aptidão é conforme a um princípio só passivo, pode adquiri-la, porém, não a partir do próprio ato, mas pela ação de algum agente natural exterior, como no caso do ar que recebe a luz do Sol. De fato, se alguém tem uma aptidão natural para alguma perfeição, conforme a um princípio ativo e passivo simultaneamente, então pode alcançá-la mediante o próprio ato, como no corpo do homem enfermo há uma aptidão natural para a saúde. E porque o sujeito é naturalmente receptivo da saúde, por causa da virtude natural ativa que há nele para se curar, por isso sem a ação do agente exterior, o enfermo, algumas vezes, se cura. No entanto, foi mostrado na questão precedente, que a aptidão natural para a virtude que o homem possui, é conforme os princípios ativos e passivos, o que certamente se adverte, a partir da própria ordem das potências. Com efeito, na parte intelectiva, o intelecto possível é um princípio de certo modo passivo, que se reduz à sua perfeição pelo intelecto agente. Contudo, o intelecto em ato move a vontade, pois o bem do intelecto é o fim que move o apetite. E a vontade movida pela razão é naturalmente apta para mover o apetite sensitivo, a saber, o irascível e o concupiscível, que são naturalmente aptos a obedecer à razão. Por isso, também é manifesto que qualquer virtude que torna boa a operação do homem tem o próprio ato no homem, que pode reduzi-la a ato por sua ação, seja no intelecto, seja na vontade, seja no irascível e no concupiscível. No entanto, de diversos modos se reduz a ato a virtude que está na parte intelectiva e a que está na parte apetitiva. De fato, o ato do intelecto, e de qualquer capacidade cognoscitiva, consiste em que de alguma maneira se assimile o cognoscível. Por isso, a virtude intelectual se dá na parte intelectiva, conforme o que pelo intelecto agente das espécies se torna inteligível atual ou habitualmente, na dita parte intelectiva. No entanto, a ação da virtude apetitiva consiste em certa inclinação ao apetecível. Por causa disso, para que haja a virtude na parte apetitiva, é necessário que se lhe confira uma inclinação para algo determinado. No entanto, deve-se saber que a inclinação das

coisas naturais segue a forma e por isso é em relação a uma só coisa, conforme a exigência da forma, permanecendo esta, tal inclinação não pode ser removida, nem ser conduzida a objetos contrários daquele aos quais se inclina. E por isso, as coisas naturais nem se habituam nem se desabituam a algo. Com efeito, por mais que a pedra seja levada até acima nunca se habituará a isso, mas sempre se inclinará para baixo. Ora, as coisas são em relação a um ou a outro, não possuem alguma forma pela qual se inclinam de um modo determinado a uma só coisa, porém, pelo próprio movente são determinados a uma só coisa. E porque são determinadas ao mesmo, de algum modo se dispõe ao mesmo objeto, como também se inclinam, muitas vezes, se determinam ao mesmo objeto pelo próprio movente, e se afirma nelas uma inclinação determinada até aquele objeto, de tal maneira que essa disposição acrescentada é como certa forma por um modo da natureza, que tende a uma só coisa. E por causa disso, se diz que o costume é uma segunda natureza. Portanto, porque a faculdade apetitiva se relaciona com um e com outro, não tende a uma só coisa, a não ser conforme seja determinada para aquela razão. Por consequência, ao inclinar a razão à capacidade apetitiva, muitas vezes, até uma só coisa, chega a ter certa disposição firmada na força apetitiva, pelo que se inclina a uma só coisa à qual se habituou. E esta disposição assim firmada é o hábito da virtude. Por isso, se se considera de modo reto, que a virtude da parte apetitiva não é outra coisa além de certa disposição ou forma gravada e impressa no poder apetitivo pela razão. E, por causa disso, por mais forte que seja a disposição na força apetitiva em relação a algo, não pode ter razão de virtude a não ser que haja ali aquilo que é da razão. Por isso, também na definição de virtude se menciona a razão, pois diz o Filósofo no livro II da Ética[ 121 ] que a virtude é um hábito eletivo determinado pela mente em certa espécie que o homem prudente determinará.

Respostas aos argumentos

No documento As Virtudes Morais - Santo Tomás de Aquino (páginas 68-70)