• Nenhum resultado encontrado

Além do mais, diz o Filósofo no livro IV da Ética [ 210 ] , que a magnanimidade opera o grandioso nas virtudes, e é como o ornamento das demais virtudes Ora, isto

No documento As Virtudes Morais - Santo Tomás de Aquino (páginas 118-120)

E primeiro se pergunta se estas são as quatro virtudes cardeais, a saber, a justiça, a prudência, a fortaleza e a temperança [ 195 ]

15. Além do mais, diz o Filósofo no livro IV da Ética [ 210 ] , que a magnanimidade opera o grandioso nas virtudes, e é como o ornamento das demais virtudes Ora, isto

maximamente parece convir ao principal da virtude. Logo, parece que a magnanimidade é uma virtude cardeal. Portanto, as quatro virtudes cardeais, já ditas, estão enumeradas de um modo inconveniente.

Ao contrário

1. É o que diz Ambrósio[ 211 ] sobre o que se lê em Lucas 6, 20: Bem-aventurados os pobres de espírito: sabemos que as quatro virtudes são: a temperança, a justiça, a prudência e a fortaleza-

Respondo

Respondo, dizendo, que “cardeal” se diz da dobradiça, na qual se gira a porta, conforme o que se lê em Pr 26, 14: A porta gira nos seus gonzos, e o preguiçoso no seu leito. Por isso se chamam virtudes cardeais aquelas nas quais se fundam a vida humana, pela qual se entra pela porta. A vida humana, porém, é a proporcionada ao homem. No entanto, em relação ao homem se encontra, primeiramente, uma certa natureza sensitiva, na qual coincide com a dos animais irracionais. A razão prática, que é própria do homem se encontra conforme o seu grau, e o intelecto especulativo, que não se encontra de modo perfeito no homem, assim como se encontra nos anjos, mas segundo uma certa participação da alma. Por isso a vida contemplativa não é propriamente humana, mas sobre-humana. Contudo, a vida voluptuosa, que se apega aos os bens sensíveis, não é humana, mas bestial. Logo, a vida propriamente humana é a vida ativa, que consiste no exercício das virtudes morais. E, por isso, são chamadas propriamente de virtudes cardeais, aquelas pelas quais, de algum modo, a vida moral se funda e se altera, assim como em certos princípios de tal vida. Por causa disso também as virtudes desta natureza são chamadas de principais. No entanto, deve-se considerar que a razão do ato virtuoso inclui quatro condições. Das quais, a primeira é que a substância do mesmo ato esteja modificada em si mesma e, por isso, o ato se diz bom, como uma relação da devida matéria existente, ou como revestido das devidas circunstâncias. Contudo, a segunda condição é que o ato seja devido ao se relacionar com o sujeito, a partir do qual adere firmemente ao sujeito. A terceira condição, porém, é que o ato seja devido ao modo proporcionado por algo extrínseco assim como está para o fim. E estas três condições provêm da parte daquilo que é dirigido pela razão. No entanto, a quarta, se dá a partir da própria razão dirigente, isto é, o conhecimento. E o Filósofo mostra estas quatro condições no livro II da Ética[ 212 ], onde diz que não é suficiente à virtude que algumas coisas sejam justas ou moderadamente comparadas, o que pertence à modificação do ato. Mas outras três condições são requeridas por parte da operação. A

primeira, pois, que seja conhecida, o que pertence ao conhecimento que dirige. A outra, que seja eleita e reeleita por causa disto, isto é, por causa do devido fim, que pertence à retidão do ato em ordem a algo extrínseco. A terceira, que firmemente e de um modo imutável se adira à operação. Portanto, estas quatro coisas, isto é, o conhecimento que dirige, a retidão, a firmeza e a moderação, ainda que sejam requeridas em todos os atos virtuosos, todavia cada uma delas tem uma certa principalidade em algumas matérias e atos especiais. Por parte do conhecimento prático são requeridas três coisas. Primeira, o conselho: segunda, o juízo sobre o aconselhado; assim como também na razão especulativa se encontra a invenção ou a investigação, e o juízo. Ora, porque o intelecto prático ordena a fugir ou a prosseguir, o que não faz o intelecto especulativo, como se diz no livro III Sobre a alma[ 213 ], por isso, a terceira, premeditar sobre o agir, pertence à razão prática. E isto é o principal a que se ordena os outros dois requisitos. No entanto, em relação ao primeiro, o homem se aperfeiçoa pela virtude da eubolia, que é uma boa conselheira. Em relação ao segundo, porém, o homem se aperfeiçoa pela synesis e a gnomem, com as quais o homem faz bons juízos, como se diz no livro VI da Ética[ 214 ]. Ora, pela prudência a razão se faz bem preceptiva, como se diz no mesmo lugar. Por isso, é manifesto que convém à prudência o mesmo que é principal no conhecimento que dirige. E, por isso, sob esta perspectiva, se assinala a prudência como uma virtude cardeal. De modo semelhante, a retidão do ato por comparação com algo extrínseco, tem razão de bem e de louvor, inclusive naquilo que pertence ao uno conforme ele mesmo, mas é louvado maximamente nas coisas que são relativas a outro, isto é, quando o homem retifica o seu ato não apenas nas coisas que pertencem a ele mesmo, mas também na que se relaciona com os outros. Com efeito, diz o Filósofo no livro V da Ética[ 215 ], que muitos realmente podem servir-se da virtude por uma causa própria, contudo não podem fazer aquelas coisas que são relativas aos outros. E, por isso, sob esta perspectiva, a justiça é posta como uma virtude principal, pela qual o homem se adapta e é adequado, de um modo devido, aos outros, com os quais tem de comunicar. Por isso, vulgarmente se diz, que justas são aquelas coisas que são adaptadas de um modo devido. No entanto, sobretudo a moderação, ou o freio, é louvado e tem razão de bem, onde, principalmente impele a paixão, a qual deve refrear a razão, para que se situe no meio termo da virtude. Contudo, a máxima paixão impele a alcançar os máximos deleites, que são deleitações do tato. E por isso, sob esta perspectiva, se coloca como cardeal a virtude da temperança, que reprime as concupiscências dos deleites do tato. No entanto, a firmeza é principalmente louvada e tem razão de bem naquelas circunstâncias em que a paixão move maximamente à fuga. E isto, sobretudo, ocorre nos perigos máximos, que são os perigos da morte. E, por isso, sob esta perspectiva, a fortaleza é posta como uma virtude cardeal, pela qual o homem se comporta intrepidamente em relação aos perigos da morte. No entanto, destas quatro virtudes, a prudência está na razão, a justiça na vontade, a fortaleza, porém, no irascível, a temperança, contudo, no concupiscível. As únicas potências que podem ser princípios do ato humano, isto é, do ato voluntário. Por isso, é evidente a razão das virtudes cardeais, tanto pela parte dos

modos da virtude, que são como as razões formais, quanto também pela parte material, como também pela parte do sujeito.

Respostas aos argumentos

No documento As Virtudes Morais - Santo Tomás de Aquino (páginas 118-120)