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Além do mais, sobre Ez 1, 11: cada qual tinha suas asas que se tocavam, diz a

No documento As Virtudes Morais - Santo Tomás de Aquino (páginas 127-129)

Segundo, se pergunta se as virtudes são conexas, de tal forma que aquele que tem uma possua todas [ 220 ]

3. Além do mais, sobre Ez 1, 11: cada qual tinha suas asas que se tocavam, diz a

Glosa[ 237 ] que as virtudes são conjuntas; de modo que quem carece de uma, carece de outra.

Respondo

Respondo, dizendo, que podemos falar das virtudes de dois modos: um modo, das virtudes perfeitas; outro modo, das virtudes imperfeitas. De fato, as virtudes perfeitas são conexas entre si, mas as virtudes imperfeitas não são necessariamente conexas. Para evidenciar isto, deve-se saber que por ser a virtude aquilo que torna bom o homem e torna boa a sua obra, é virtude perfeita aquela que torna a obra do homem perfeitamente boa, e o torna bom. Contudo, é imperfeita aquela que não torna o homem e a sua obra absolutamente bons, mas só quanto a algo. No entanto, o absolutamente bom nos atos humanos se encontra por aquilo que pertence à regra dos atos humanos, a saber, a reta razão, que certamente é homogênea e própria do homem, a outra, contudo, é como a primeira medida transcendental, que é Deus. No entanto, o homem atinge a reta razão pela prudência, que é a reta razão do agir, como diz o Filósofo no livro VI da Ética[ 238 ]. Contudo, o homem alcança a Deus pela caridade, conforme o que se lê em 1Jo 4, 16: aquele que permanece no amor,permanece em Deus e Deus permanece nele. Portanto, desta forma, há três graus de virtude. Com efeito, há certas virtudes que são totalmente imperfeitas, que existem sem a prudência, não alcançando a reta razão, assim como são inclinações que alguns têm até certas obras virtuosas, inclusive desde o nascimento, segundo o que se lê em Jó 31, 18: desde minha infância Deus criou-me como um pai, e desde o seio de minha mãe guiou-me. No entanto, as inclinações desta natureza não se dão igualmente em todos, mas alguns têm uma inclinação a uma coisa, e outros a outra. Contudo, estas inclinações não têm a natureza de virtude, porque nada usa mal a virtude,

segundo Agostinho[ 239 ], mas alguém pode utilizar mal e nocivamente as inclinações desta natureza, se se serve delas sem distinção, como o cavalo, se carecesse da visão, tanto mais forte cairia, quanto mais forte corresse. Por isso diz Gregório no livro XXII Sobre a Moral[ 240 ], que as demais virtudes, a não ser que apeteçam os que agem prudentemente, não podem ser virtudes de modo algum. Por isso, neste campo, as inclinações, que existem sem a prudência, não possuem perfeitamente o razão da virtude. No entanto, o segundo grau das virtudes corresponde àquelas pessoas que alcançam a reta razão, mas não alcançam ao próprio Deus pela caridade. De fato, estas, de algum modo, são perfeitas por comparação ao bem humano, porém não são perfeitas absolutamente, porque não alcançam a regra primeira, que é o fim último, como diz Agostinho em Contra Juliano[ 241 ]. Donde, carecem a verdadeira noção da virtude, como também as inclinações morais sem a prudência, carecem de uma verdadeira noção de virtude. O terceiro grau é o da virtude absolutamente perfeita, que se dá junto com a caridade, pois estas virtudes tornam bom o ato do homem de um modo absoluto, como atingindo o fim último. Além disso, contudo, deve-se considerar que, assim como as virtudes morais não podem existir sem a prudência, pela razão já dita, assim nem a prudência pode existir sem a virtude moral, pois a prudência é a reta razão do agir. No entanto, para a mesma reta razão de qualquer gênero se requer que alguém tenha a estimativa e o juízo, em relação aos princípios, dos quais procede essa razão como, por exemplo, na geometria, não pode alguém ter uma estimativa reta, a não ser que tenha a reta razão acerca dos princípios geométricos. Contudo, os princípios do agir são os fins, pois por eles se toma a razão do agir. Contudo, em relação ao fim, alguém tem a reta estimativa pelo hábito da virtude moral, porque, como diz o Filósofo no livro III da Ética[ 242 ], conforme cada um é, tal lhe parece o fim, como ao virtuoso lhe parece apetecível, enquanto fim, o bem que é conforme a virtude, também ao vicioso lhe parece apetecível aquilo que pertence a esse vício; e algo semelhante ocorre com o gosto debilitado e o saudável. Por isso, é necessário que todo o que tenha prudência, tenha também as virtudes morais. De um modo semelhante, quem tem a caridade, é necessário que tenha todas as outras virtudes. Com efeito, a caridade está no homem por infusão divina, segundo o que se lê em Rm 5, 5: o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado. No entanto, Deus que dá a inclinação a qualquer coisa, dá também algumas formas que são os princípios das operações e dos movimentos, aos quais uma coisa é inclinada por Deus, assim como dá ao fogo leveza, pela qual tende para cima pronta e facilmente. Por isso se diz em Sb 8, 1,governa o universo suavemente[ 243 ]. Portanto, é necessário que, de um modo semelhante, com a caridade sejam infundidas as formas habituais que produzem expeditamente os atos aos que inclina a caridade. No entanto, a caridade inclina a todos os atos das virtudes, porque ao se relacionar com o fim último, implica todos os atos das virtudes. Com efeito, qualquer arte ou virtude a que pertence o fim, ordena as coisas que são relativas ao fim, assim como o militar ao cavalo, e os prestos dos cavalos à equitação, como se diz no livro I da Ética[ 244 ]. Por isso, segundo o decoro da sabedoria e da bondade divina, para a caridade são infundidos simultaneamente os hábitos de todas as virtudes; e por

causa disso, se diz em 1 Cor 13, 4: a caridade é paciente, a caridade é prestativa, etc. Logo, desta forma, se tratarmos das virtudes absolutamente perfeitas, elas estão conectadas por causa da caridade, porque não pode dar-se nenhuma virtude, como tal, sem a caridade, e, tendo a caridade, tem-se todas as virtudes. No entanto, se tratarmos das virtudes perfeitas em segundo grau, relativo ao bem do homem, assim estão conectadas pela prudência, porque sem a prudência, nenhuma virtude moral pode existir, nem poderia ter a prudência se lhe faltasse a virtude moral. Contudo, se tratarmos das quatro virtudes cardeais, segundo incluem certas condições gerais das virtudes, conforme isto, tem uma conexão, porque não é suficiente para um ato da virtude que esteja em uma destas condições, a não ser que esteja em todas. E, por isso, parece que assinala Gregório as causas conexas no livro XXI Da Moral[ 245 ].

Respostas aos argumentos

No documento As Virtudes Morais - Santo Tomás de Aquino (páginas 127-129)