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Toda a virtude é moral, ou intelectual, ou teologal No entanto, a virtude moral é

No documento As Virtudes Morais - Santo Tomás de Aquino (páginas 108-110)

Décimo terceiro, se pergunta se a virtude é um meio termo [ 177 ] E parece que não.

1. Toda a virtude é moral, ou intelectual, ou teologal No entanto, a virtude moral é

um meio termo, pois segundo o Filósofo, no livro VII da Ética[ 188 ], a virtude moral é o hábito eletivo que consiste em um meio termo. Também a virtude intelectual parece ser um meio termo, pelo que diz o Apóstolo, em Rm 12, 3: não tenha de si mesmo um conceito mais elevado do que convém, mas uma justa medida. De um modo semelhante também a virtude teologal parece ser um meio termo. Com efeito, a fé avança em meio de duas heresias, como diz Boécio no livro Sobre as duas naturezas[ 189 ], também a esperança é o meio termo da presunção e do desespero. Logo, toda virtude é um meio termo.

Respondo, dizendo, que as virtudes morais e intelectuais são um meio termo, ainda que umas de um modo e outras de outro. No entanto, as virtudes teologais não consistem em um meio termo a não ser, talvez, por acidente. Para que seja mais evidente, deve-se saber que o bem de qualquer um que possua regra e medida consiste em adequar-se à sua regra ou medida, por isso denominamos bom àquilo que não tem mais nem menos do que se deve ter. No entanto, deve-se considerar que a matéria das virtudes morais são as paixões e as operações humanas, como as coisas factíveis são matérias da arte. Por consequência, assim como o bem nestas coisas se realiza mediante a arte, consistindo em que os artefatos recebam a medida segundo o que exige a arte, que é a regra dos artefatos. Do mesmo modo, o bem nas paixões e nas operações humanas é o que se alcança pelo modo da razão, que é a medida e a regra de todas as paixões e as operações humanas. Com efeito, como o homem é homem porque possui a razão, é necessário que o bem do homem seja conforme a razão. No entanto, quando nas paixões e nas operações humanas algo excede à medida da razão, ou é deficiente em relação a ela, ou é um mal. Portanto, como o bem do homem é a virtude, se segue que a virtude moral consiste em um meio termo entre a superabundância e o defeito; de tal maneira que a superabundância, o defeito e o meio termo são considerados, segundo a regra racional. Contudo, dentre as virtudes intelectuais, que estão na própria razão, algumas são práticas, como a prudência e a arte, outras especulativas, como a sabedoria, a ciência e o intelecto. E, certamente, as paixões e as operações humanas ou as mesmas coisas artificiais são a matéria das virtudes práticas. Mas as coisas necessárias são a matéria das virtudes especulativas. No entanto, a razão se relaciona de um modo diverso com ambas. Pois a razão se relaciona como uma regra e medida em relação a essas coisas que opera, como já foi dito. Mas a razão se relaciona como o mensurado e o medido em relação à regra e à medida relativa a estas coisas que são especuladas. Com efeito, o bem do nosso intelecto é a verdade, o qual certamente o nosso intelecto alcança ao adequar-se à coisa. Portanto, assim como as virtudes morais consistem em um meio termo determinado pela razão, assim também a prudência, que é a virtude intelectiva prática relativa às coisas morais, pertence ao mesmo meio virtuoso enquanto o estabelece em relação às ações e paixões humanas. E isso é evidente pela definição da virtude moral, que, como se diz no livro II da Ética[ 190 ], é um hábito eletivo, o qual consiste em um meio termo, que o sábio determinará. Logo, o meio termo virtuoso da prudência e da virtude moral é o mesmo; mas é da prudência como do que o imprime, da virtude moral como do impresso, assim como é a mesma a retidão da arte como a do que retifica e a do artefato como a do retificado. No entanto, nas virtudes intelectuais especulativas o meio termo virtuoso será a própria verdade, considerado como tal, enquanto alcança a sua medida. Pois, certamente, não é um meio termo entre certa contrariedade que se dá por parte da coisa. Com efeito, as coisas contrárias entre as quais se considera o meio termo da virtude não são por parte da medida, mas por parte do mensurado, enquanto excede ou é deficiente em relação à medida, assim como é evidente a partir do que foi dito em relação às virtudes morais. Portanto, é necessário considerar os contrários dentre os que estão neste meio termo das virtudes intelectuais, por parte do intelecto mesmo. No

entanto, os contrários do intelecto são opostos, segundo a afirmação e a negação, como é evidente no livro II Sobre a interpretação[ 191 ]. Logo, o meio termo das virtudes intelectuais especulativas, que é a verdade, se considera entre as afirmações e as negações opostas. Assim, por exemplo, porque é verdadeiro quando se diz que algo é o que é, e não é o que não é. Mas algo será falso segundo o excesso, quando se diz que é o que não é, porém, segundo o defeito, quando se diz que não é o que é. Portanto, se no intelecto não houvesse alguma contrariedade própria fora da contrariedade das coisas, não haveria de se considerar nas virtudes intelectuais o meio e os extremos. No entanto, é manifesto que na vontade não há de considerar alguma contrariedade própria, mas apenas segundo a ordem das coisas apetecidas contrárias, porque o intelecto conhece algo segundo o que está nele mesmo, mas a vontade é movida à coisa segundo o que é em si. Por isso, se há alguma virtude na vontade conforme a relação com a sua medida e regra, tal virtude não consiste em um meio. Com efeito, não se consideram os extremos por parte da medida, mas apenas por parte do mensurado, segundo o que exceda ou diminua em relação à medida. No entanto, as virtudes teologais se ordenam à sua matéria ou ao objeto, que é Deus, mediante a vontade. E o que é manifesto sobre a caridade e a esperança, se diz de modo semelhante em relação à fé. Com efeito, ainda que a fé esteja no intelecto, contudo, está nele enquanto que este é dirigido pela vontade, pois ninguém crê a não ser que queira. Por isso, como Deus é a regra e medida da vontade humana, é manifesto que, propriamente falando, as virtudes teologais não estão em um meio, ainda que, às vezes, ocorra que alguma delas esteja em um meio por acidente, como depois será exposto.

Respostas aos argumentos

No documento As Virtudes Morais - Santo Tomás de Aquino (páginas 108-110)