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C APÍTULO 6 O RGANIZAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO DO ESTUDO

6.2. M ÉTODOS E T ÉCNICAS DE RECOLHA DE DADOS

6.2.2. T ÉCNICAS DE RECOLHA DE DADOS

Segundo Hermano do Carmo (1998: 216) as técnicas são procedimentos operatórios rigorosos, bem definidos, transmissíveis, susceptíveis de serem novamente aplicados nas mesmas condições, adaptados ao tipo de problema e aos fenómenos em causa. A escolha das técnicas depende do objectivo que se pretende atingir, o qual, por sua vez, está ligado ao método de trabalho.

No que respeita aos instrumentos utilizados para a recolha dos dados necessários à verificação da hipótese formulada, relativamente ao grupo de sujeitos-alvo Autores e ao grupo de sujeitos-alvo Conferencistas, recorreu-se à técnica da entrevista. Para o grupo de sujeitos-alvo Públicos: alunos e professores, utilizou-se a técnica do inquérito por questionário87. Recorreu-se ainda à observação das videogravações das apresentações com a finalidade de recolher mais dados sobre as estratégias de comunicação usadas pelos sujeitos-alvo Conferencistas. Finalmente, para avaliar o impacto da iniciativa, procedeu-se ao levantamento documental das notícias sobre os colóquios dos ciclos “Despertar para a Ciência” divulgadas nos meios de comunicação.

87 O inquérito por questionário distingue-se do inquérito por entrevista essencialmente pelo facto de investigador e inquiridos não interagirem em situação presencial. Tal como no inquérito por entrevista quando se escolhe o inquérito por questionário como instrumento de recolha de dados deve respeitar- se o conjunto de procedimentos habitual para qualquer investigação: definir rigorosamente os seus objectivos; formular hipóteses e questões orientadoras, identificar as variáveis relevantes, seleccionar a amostra adequada de inquiridos, elaborar o instrumento em si, o guião, testá-lo e administrá-lo para depois poder analisar os resultados (Carmo & Ferreira, 1998: 137).

Com o objectivo de se testar a hipótese inicialmente formulada, procedeu-se à análise das informações recolhidas através das entrevistas e dos questionários, e da observação das videogravações das conferências, cruzando as várias informações e tentando identificar os factores da eficácia da comunicação em ciência nos ciclos de colóquios “Despertar para a Ciência”, tendo em conta também a opinião dos inquiridos.

Nas entrevistas aos sujeitos-alvo Autores88, cruzaram-se as opiniões recolhidas com os objectivos iniciais dos ciclos de conferências, expressos nos folhetos divulgados e, também, cruzando as expectativas iniciais com os resultados finais em termos de adesão do público e da eficácia da comunicação da ciência. Nas entrevistas aos sujeitos-alvo Conferencistas, cruzaram-se as informações obtidas com as opiniões transmitidas pelos sujeitos-alvo Públicos: alunos e professores, relativamente às estratégias de comunicação por eles apresentadas e também sobre as suas qualidades enquanto comunicadores.

O parecer dos sujeitos-alvo Autores dos ciclos de colóquios “Despertar para a Ciência” constitui um elemento fundamental e potencialmente revelador do segredo da eficácia da comunicação em ciência para um público não especializado naquela iniciativa, mas também uma ajuda preciosa para uma visão alargada das várias informações recolhidas. Para se ter acesso mais focalizado à ideia que presidiu à criação desta iniciativa, até à avaliação final sobre como decorreram os vários ciclos, elaborou-se um guião de entrevista para os sujeitos-alvo Autores89, tento em conta os dados que se pretendiam recolher e analisar. As perguntas foram pensadas em função dos objectivos que se propunham alcançar e para tentar perceber se haveriam factores facilitadores da comunicação em ciência para um público não especializado em contexto de conferência.

88 Como já referido os autores foram os protagonistas da criação do ciclo de colóquios Despertar para a Ciência, Fernando Ramôa Ribeiro, presidente da FCT e João Caraça, director do Serviço de Ciência da FCG.

Após a elaboração do guião realizaram-se, através de audiogravação, as entrevistas aos sujeitos-alvo Autores90 o que permitiu obter informações indispensáveis à compreensão alargada do assunto a estudar – possibilitando também cruzar as expectativas dos autores com as resultados obtidos e com as opiniões dos outros intervenientes do processo: recolhidas nas entrevistas aos sujeitos-alvo Conferencistas e nos questionários efectuados aos sujeitos-alvo Públicos: alunos e professores do ensino secundário, participantes dos ciclos.

Também para os sujeitos-alvo Conferencistas se teve a necessidade de elaborar um guião de entrevista 91 . Efectuaram-se onze entrevistas 92 , duas através de audiogravação e as outras nove, por falta de disponibilidade dos sujeitos-alvo Conferencistas, remetidas por email93.

A análise dos dados obtidos nas entrevistas aos sujeitos alvo-Conferencistas foi efectuada através do programa informático de análise qualitativa, MAXQDA94. Esta análise foi facilitada pois não existia uma grande dispersão nas respostas dos entrevistados. Construiu-se uma grelha em que, numa coluna, constavam as questões que se pretendiam analisar e, na outra, os entrevistados. Seguidamente, preencheu-se essa grelha com as respostas dadas.

Nos casos em que as respostas estão dispersas, ou seja, quando se responde a algo e se focam simultaneamente outros aspectos, que não dizem apenas respeito à questão colocada, nas grelhas teve de fazer-se corresponder cada excerto ao tópico correspondente. Assim elaborou-se uma grelha com tudo o que foi dito a respeito de cada questão por cada um dos entrevistados. Esta foi apenas uma forma de mais facilmente se comparar a resposta de cada entrevistado à mesma pergunta. A partir

90 Cf. transcrição das entrevistas aos sujeitos-alvo Autores in Anexo 6, pp. 69-76. 91 Cf. guião das entrevistas aos sujeitos-alvo Conferencistas in Anexo 5, p. 58.

92 Cf. texto das entrevistas aos sujeitos-alvo Conferencistas, incluindo as transcrições das duas audiogravações in Anexo 6a, pp. 79-110.

93 No capítulo seguinte, apresentam-se os principais dados recolhidos nas entrevistas aos sujeitos- alvo Conferencistas, questão a questão, salientando os aspectos que parecem mais relevantes em função dos objectivos do estudo de modo a poder-se ficar com uma ideia geral sobre o princípio orientador que presidiu às estratégias de comunicação de cada um.

daí, com a grelha preenchida, escreveu-se o texto, à medida que se foi analisando a grelha, questão a questão.

Aproveitando a potencialidade das entrevistas, efectuou-se uma análise descritiva e qualitativa. Por exemplo, em relação ao factor “mais satisfação na preparação da conferência”, teve-se acesso aos factores apontados pelos entrevistados, mas também às suas justificações e à forma como expressaram essa satisfação.

Nas entrevistas aos sujeitos alvo-Autores, uma vez que se tratavam apenas de dois inquiridos, sendo por isso acessível e fácil estabelecer as comparações, realizou-se a análise qualitativa das informações obtidas sem necessidade de recorrer ao programa MAXQDA.

Quanto à recolha de dados ao sujeito alvo-Públicos elaborou-se um guião de questionário95 e realizou-se um inquérito a 125 alunos e a 23 professores do ensino

secundário, tendo em consideração o objectivo do presente estudo. Introduziram-se algumas questões abertas96 para possibilitar a recolha de informação adicional que poderia ajudar a enriquecer a investigação e a testar a hipótese avançada, fornecendo outros dados, possíveis factores facilitadores da eficácia da comunicação em ciência no contexto dos colóquios dos ciclos “Despertar para a Ciência”.

A análise estatística dos dados obtidos através do inquérito por questionário efectuou-se recorrendo ao programa informático de análise quantitativa de dados SPSS (Statistical Package for the Social Sciences). Antes da construção da base de dados e da análise dos resultados, procedeu-se à codificação das questões abertas do questionário (perguntas para as quais não se apresentam previamente uma gama de respostas possíveis, sendo que os inquiridos podem responder livremente,

95 Cf. guiões dos questionários aos sujeitos-alvo Públicos: alunos e professores in Anexo 5a, pp. 61- 66. Salienta-se a especificidade de cada um dos guiões com questões direccionadas para cada tipo de público.

96 Questões abertas - quando não são apresentadas opções de resposta (está um espaço em branco para se escrever o que se quiser). Questões de resposta múltipla - quando são apresentadas opções de resposta e se pode escolher mais do que uma opção de resposta (assinalar com uma cruz mais do que uma opção).

escrevendo textualmente, sem limitarem a sua escolha a um rol fixo de alternativas), por forma a tornar a informação comparável e analisável do ponto de vista quantitativo. Esse processo consiste em listar todas as respostas distintas às questões em causa, identificando diferentes categorias e fazendo corresponder cada resposta que expressa uma mesma ideia ou opinião a uma dada categoria, procedendo assim ao seu agrupamento através da atribuição de um código.

Nos quadros cruzados97, relativos aos dados obtidos através das respostas do grupo de sujeitos alvo-Públicos: alunos e professores aos questionários, fez-se o cruzamento das questões com as variáveis selectivas que lhes dão origem. Por exemplo, a questão "razões de escolha da conferência" cruzada com a "conferência escolhida". Nesse caso pode-se ver para cada conferência escolhida as razões que foram apontadas como estando na base dessa escolha.

Com o objectivo de obter mais informação sobre os possíveis factores facilitadores da comunicação em ciência procedeu-se à análise das estratégias de comunicação utilizadas pelos oradores através das videogravações das conferências. Esta técnica serviu de complemento à análise dos dados recolhidos pelas técnicas de entrevista e de questionário, cruzando as respostas dos sujeitos alvo-Públicos: alunos e professores com as estratégias de comunicação utilizadas pelos oradores, tendo em conta as conferências e os conferencistas que são mencionados nos questionários. Elaborou-se previamente uma grelha de observação, onde se inscreveram algumas técnicas de comunicação mas com colunas em branco para possíveis itens a adicionar à medida que se iam analisando as apresentações98. Com a grelha preenchida, o objectivo desta investigação era saber se seria possível estabelecer relações entre a utilização pelos sujeitos alvo-Conferencistas de determinadas estratégias de comunicação e a eficácia da comunicação da ciência nos ciclos “Despertar para a Ciência”. Estes dados seriam cruzados com os resultados obtidos

97 Cf. Quadros Cruzados in Anexo 7, pp. 113-153.

98 Cf. Quadro das estratégias de comunicação utilizadas pelos sujeitos-alvo Conferencistas in Anexo 9, pp. 187-195.

através dos questionários aos sujeitos-alvo Públicos: alunos e professores, nomeadamente com as suas opiniões sobre a conferência e o seu conferencista preferidos. Informação que se cruza também com os dados obtidos através das entrevistas aos sujeitos-alvo Autores e aos sujeitos-alvo Conferencistas.

No propósito de investigar o impacto que os ciclos de colóquios “Despertar para a Ciência” obtiveram na comunicação social, recorreu-se à técnica de recolha documental, procedendo-se a um levantamento de todos os artigos em que aquela iniciativa foi notícia nos meios de comunicação99. A este propósito considera-se oportuno referenciar os estudos de José Azevedo100 cuja finalidade é traçar a evolução do jornalismo de ciência em Portugal. Para este autor “os jornais ainda representam uma fonte de informação significativa e o número de jornalistas a trabalhar em secções de ciência em jornais portugueses tem aumentado nos últimos anos” (2008: 121).

Aquela recolha documental foi facilitada pelo facto de o Departamento de Comunicação da FCG, em 2001, ter aderido a um serviço, prestado pela empresa Manchete, Gestão de Informação, SA, denominado NetPress101. Este serviço é uma plataforma integrada de gestão de informação noticiosa que permite tratar os dados difundidos na imprensa escrita, nas publicações on-line e nos meios audiovisuais: rádio e televisão.

99 Cf. tabela do impacto dos ciclos de colóquios “Despertar para a Ciência” nos meios de comunicação social in Anexo 10, pp. 199-221.

100 Investigador coordenador do projecto “A Ciência na Imprensa em Portugal”, financiado pela FCT (2005-2007). Este projecto procura caracterizar a evolução da forma como a ciência foi reportada em Portugal desde a II Guerra Mundial até hoje.

Investigador coordenador do projecto “A Crise das Vocações Científicas”. Projecto financiado pela FCT (2005-2007). Este projecto procura caracterizar as razões para o decréscimo de escolhas de certas áreas científicas registado na maioria dos países europeus.

Investigador responsável pela parte portuguesa do inquérito “A relevância da Educação da Ciência” (ROSE). Projecto internacional que procura comparar atitudes e motivações dos jovens, de diferentes países, face às questões de C&T. Coordenado pelo Professor S. Sjoberg da Universidade de Oslo, Noruega.

101 O NetPress da FCG – MyNetpress - recolhe as notícias em todos os meios de imprensa nacional, regional, publicações on-line nacionais, principais meios internacionais, TV e Rádio, disponibilizando a todos os seus colaboradores um serviço de clipping diário on-line. Este serviço de clipping permite consultar a informação de vários temas, através de palavras-chave introduzidas previamente no sistema. O MyNetpress proporciona, assim, o acesso via Internet a um centro noticioso, orientado de acordo com o perfil e interesse informativo da FCG.