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C APÍTULO 3 A C OMUNICAÇÃO DA C IÊNCIA EM S OCIEDADE

3.1. A C OMUNICAÇÃO DA C IÊNCIA

Nas últimas décadas a velocidade dos avanços científicos e tecnológicos não foi acompanhada pela capacidade de compreensão destes conhecimentos pelo público. Na comunidade científica existe uma crescente consciencialização da responsabilidade e da obrigação dos cientistas em tornar o seu trabalho mais acessível e comprensível ao público em geral. Para muitos a comunicação com o público não ocorre naturalmente e precisam de ser motivados para divulgarem o seu trabalho.

Os jornalistas, por outro lado, sentem-se frequentemente intimidados pela ciência. Para eles torna-se difícil distinguir os temas mais interessantes e encontrar cientistas disponíveis para comunicarem com os media26.

Numa sociedade democrática, onde a ciência deve ser justificada perante o público (uma vez que em muitos casos a investigação científica é financiada por fundos públicos) existe uma necessidade real de encontrar formas inovadoras e mais eficazes de transmitir as vantagens da ciência.

Os mass media27 desempenham o papel mais importante no sentido de estimular o

debate na sociedade e a formação da opinião pública sobre temas e questões científicas. Se os cientistas não cooperarem com os media de forma eficiente, poder- -se-á estar perante o incremento de alternativas anti-ciência que não poderão dar as

26 Media significa “meios”. A palavra foi importada do inglês com a acepção de “meios de comunicação”.

27 Mass porque abrangem um grande número de pessoas. Incluem uma ampla variedade de formas, como a televisão, os jornais, os filmes, as revistas, a rádio, a publicidade, os jogos de vídeo e os CDs. Os mass media ou “meios de comunicação de massa” são frequentemente associados apenas ao entretenimento o que é uma visão redutora na medida em que estão presentes em muitos outros aspectos das actividades sociais (Giddens, 2007: 456).

respostas que o público tem necessidade de saber – o silêncio e o afastamento dos cientistas alimentarão a ignorância e a desconfiança em relação à ciência.

Por outro lado, os cientistas devem aceitar os novos parâmetros e a importância do papel dos media na sociedade actual. Os relatórios científicos, a nível mundial, estão a afastar-se dos temas “clássicos” (como, por exemplo, o espaço e os dinossáurios), aproximando-se de debates e de questões em torno do impacto da ciência na sociedade.

É importante desafiar os media a divulgarem a ciência mas é igualmente indispensável ajudar os cientistas a comunicarem melhor com o público uma vez que eles são os actores principais. Tal como a boa ciência, a boa comunicação requer envolvimento, planeamento, capacidade e recursos adequados.

A comunicação em ciência, indispensável para a sociedade, exige, assim, interacção, diálogo, respeito pelo público e pelo contexto – adaptando a linguagem de acordo com a audiência. Deste modo, a comunicação não deverá enaltecer a ciência sem nada questionar ou dar informação num só sentido.

Giddens, sociólogo inglês, define sociedade como “um sistema de inter-relações que envolve os indivíduos colectivamente” ou ainda como “um conjunto de inter- relacionamentos que ligam os indivíduos entre si” (2004). O facto de os membros de uma sociedade28 partilharem modos de vida comuns permite que a comunidade se organize. A cultura é o elo que estrutura as relações sociais. Não existe cultura sem sociedade. Mas, do mesmo modo, nenhuma sociedade pode existir sem cultura. Desde que se começou a reflectir sobre a necessidade de maior número de pessoas entender o papel da ciência na compreensão da realidade e no desenvolvimento do homem e do mundo, tem-se privilegiado o termo “divulgação”. Está implícita a ideia de transmissão de conhecimento pelos que dominam os segredos da ciência para

28 O conceito de sociedade refere-se aos aspectos das comunidades humanas que são aprendidos e não herdados. São partilhados pelos membros da sociedade e tornam possível a cooperação e a comunicação.

outros mais leigos. Pressupõe ainda um distanciamento hierárquico entre os “que sabem” e os que “não sabem”. O termo “comunicação”, julga-se, reduz o distanciamento. Tendo em conta que um dos objectivos primordiais dos ciclos de colóquios “Despertar para a Ciência” foi aproximar a ciência de um público tão alargado quanto possível, parece preferível utilizar neste estudo esta última designação – comunicação.

Para João Caraça (2003), o conhecimento é o resultado da comunicação com êxito com o mundo exterior, é a “nossa” representação da realidade; apoia-se em linguagens, num processo de partilha de significados. Para compreender a ordem e as estruturas naturais é fundamental utilizar instrumentos e conceitos científicos. A construção científica da realidade contraria, normalmente, o senso comum. Baseado no saber comum (ou conhecimento popular), o senso comum distingue-se do conhecimento científico pela forma de observação, o modo ou o método, e pelos instrumentos do “conhecer” - não pela veracidade nem pela natureza do objecto conhecido. A ciência tem confirmado que o senso comum – confinado a uma pequena parte da realidade – apenas pode orientar a curto prazo, dado que a escala do conhecimento é diferenciada de outras escalas da realidade.

Na sociedade actual, globalizada e mediatizada, as escalas da realidade, que só a visão científica permite conhecer, influenciam directamente o quotidiano, através dos produtos tecnológicos (das bio às nanotecnologias e às técnicas nucleares). Por outro lado, as questões ligadas à sobrevivência da humanidade, das alterações climáticas ao ambiente ou aos oceanos, entre outros, implicam uma atitude científica e um contributo decisivo da ciência na tomada de decisões de carácter político global. Uma sociedade avançada não pode ignorar a realidade que a rodeia. A ciência e a experimentação são essenciais para a educação dos jovens e para o pleno exercício da cidadania.

Fernando Gil define a ciência como “a colecção e a disposição técnica das observações” relativas a um objecto que se contempla e a arte como a colecção e a

disposição técnica das regras de acordo com as quais se executa um objecto. No entanto, ambas são “pontos de reunião” organizados de observações e de reflexões sobre objectos de natureza diferente (2000).

Existem duas características fundamentais ligadas à ciência moderna: o uso sistemático de instrumentos científicos – para observar, questionar e interagir com a natureza, e a prática da divulgação pública das suas interrogações e dos resultados alcançados o que garante, em termos de qualidade, a sua validação e avaliação. A ciência moderna, tal como se conhece e pratica hoje em dia, deve muito à circulação de dados e às publicações científicas.

É cada vez mais importante a circulação de conhecimento científico. É indispensável publicar os avanços e os resultados da ciência, divulgar as dúvidas e as interrogações dos investigadores. Uma sociedade só será sustentável se avaliar cuidadosamente as repercussões dos projectos e das tecnologias que pretende desenvolver. Razão bastante para que os media, a comunidade científica e os membros da sociedade com responsabilidades económicas, culturais e educacionais devam ser os principais impulsionadores da comunicação da ciência.

Na sociedade global, é fundamental que a componente científica seja cada vez mais generalizada e que abranja todas as franjas da população. Este factor deve constituir uma tarefa primordial para os dirigentes das comunidades que queiram ser competitivas e empreendedoras no mundo actual. Pode mesmo afirmar-se que qualquer tentativa de limitar a comunicação da ciência será, sem dúvida, uma forma de asfixiar e mesmo destruir o edifício, em constante desenvolvimento, do conhecimento científico: a ciência que não é comunicada “não existe”.

Para João Caraça (2003: 45) o aparecimento da vertente “comunicação” em todos os domínios de actividade de qualquer comunidade, do económico ao político, do social ao cultural, tem um poderoso e irónico efeito: não basta fazer, passa a ser preciso tornar-se conhecido pelo que se faz. De outro modo, “desaparece-se”. A falta de visibilidade é como um óbito. Ou seja, não há profissão, arte, ofício, organização,

hierarquia ou sistema que não seja afectado pela comunicação. Desde a política, onde à dimensão representativa se junta agora, inevitavelmente, a dimensão mediática, até à inovação, onde a vertente tecnológica se associa hoje irremediavelmente à publicitária.

Refere ainda que a questão central para a sobrevivência da ordem das sociedades democráticas no presente é conseguir entusiasmar os jovens para as carreiras e as novas profissões científicas e que a única linguagem verdadeiramente universal é a da ciência moderna porque é falada do mesmo modo em qualquer lugar do espaço e do tempo (Caraça, 2003: 111).

Adriano Duarte Rodrigues (2002: 56) considera que a comunicação tanto envolve os processos de transacção entre os indivíduos como a interacção dos indivíduos com a natureza, dos indivíduos com as instituições sociais como, ainda, o relacionamento que cada indivíduo estabelece consigo próprio. Os processos comunicacionais abrangem, por conseguinte, domínios extremamente diversificados que compreendem actos discursivos assim como silêncios, gestos e comportamentos, olhares e posturas, acções e omissões.

Para o mesmo autor, os actos comunicacionais podem, no entanto, ser compreendidos em duas grandes dimensões da experiência humana: a dimensão expressiva, que diz respeito à elaboração de manifestações significativas, e a dimensão pragmática, que diz respeito à prossecução de transformações do mundo que nos rodeia, quer se trate do mundo físico natural quer do mundo institucional. Recorde-se que no Século das Luzes o termo razão tinha uma dupla conotação, não designava apenas o pensamento abstracto e universal e a faculdade de «bem julgar e de distinguir o verdadeiro do falso». A razão comportava também uma dimensão ética e implicava uma vontade de esclarecer os espíritos para os emancipar.

A partir da década de 30 do século passado, começa a surgir um interesse crescente pela comunicação e sobretudo pela sua eventual eficácia em domínios como a

educação. Esta nova forma de encarar a comunicação vai alimentar, na sociedade da época, uma procura generalizada de material de investigação sobre os efeitos da comunicação de massa. A necessidade de entender a comunicação em todas as suas vertentes emerge e instala-se no pensamento científico.

A concepção de ciência, para o sociólogo Boaventura Sousa Santos (2003: 35), é uma determinada forma de conceber e praticar a ciência, uma ciência socialmente empenhada na afirmação dos valores da democracia, da cidadania, da igualdade e do reconhecimento da diferença.

A liberdade de duvidar é uma questão fundamental em ciência. Nem sempre foi possível duvidar, não ter certezas. Os cientistas têm a grande responsabilidade de lutar pela liberdade de pensamento e de ensinar que não se deve temer a dúvida, mas antes aceitá-la como a possibilidade de um novo potencial. É através da dúvida que se tem a possibilidade de mudar e inovar o conhecimento.

Salientando a importância da formulação de um problema para a metodologia ou teoria do conhecimento científico, Karl Popper (1996) fundamenta-se em duas teses. A primeira premissa é a de que o conhecimento é extenso e impressionante; a segunda, a de que a ignorância não tem limites e é esmagadora. Cada parcela do conhecimento que se adquire permite descobrir a vastidão da nossa ignorância. Um problema surge, cresce e torna-se importante graças aos insucessos na sua solução. Ou, para apresentar a questão noutros termos, a única maneira de se chegar a conhecer um problema é aprendendo com os erros – especialmente com aqueles que são indicados pela discussão crítica que tende a conduzir a um novo problema. Defendida por Carmen Gonçalves (2004: 28) é a tese de que, para alguns cientistas, a necessidade de difusão do conhecimento científico enquanto „antídoto para a anti- ciência‟ é essencial. Por um lado, a adesão do público passa por um melhor entendimento das concepções, dos objectivos e das oportunidades que a ciência proporciona; por sua vez, a ciência beneficia com aquela compreensão, através da confiança e da aceitação do público.

Na verdade, para muitos cientistas, a divulgação científica é uma necessidade e a comunidade científica deve apostar na difusão do conhecimento porque, se assim não for, com as inovações e os avanços científicos e tecnológicos torna-se maior o desfasamento entre a evolução da ciência e o conhecimento que a sociedade civil tem desse progresso. Não se trata de uma estratégia de sobrevivência da ciência, mas de uma necessidade de comunicação dos seus resultados: o que interessa aos cientistas e à sociedade.

Nesta perspectiva, para os cientistas parece ser a ausência de informação que justifica a falta de compreensão em relação aos objectivos e ao papel da ciência nas sociedades actuais, onde o conhecimento científico se torna fundamental na formação da opinião pública esclarecida. Para Fernando Gil (1998), a promoção da cultura científica resulta inevitavelmente de processos de comunicação da ciência. A investigadora atrás referida (Gonçalves, 2004: 87), interpretando R. K. Merton (1985), acrescenta que, por um lado, o desenvolvimento da ciência requer a participação activa das pessoas interessadas nos projectos científicos e, por outro, que o apoio à ciência só será assegurado por condições culturais adequadas que dependerão inevitavelmente de mecanismos de comunicação.

Para algumas disciplinas, como a Física Nuclear, a divulgação científica é ainda mais premente, não só pela imagem “falsamente” negativa que têm junto da sociedade mas também porque há um défice e um decréscimo no número de alunos que optam por carreiras nessas áreas. Nos nossos dias, a utilização do marketing e da publicidade nos órgãos de comunicação social tornou-se fulcral para os cientistas, no sentido de demonstrarem a importância da investigação que estão a realizar junto do público em geral e das instituições que lhes poderão atribuir subsídios para continuarem a desenvolver o seu trabalho.

Em termos metafóricos poder-se-á afirmar que a ciência é uma moeda de duas faces. Para a compreender talvez seja necessário aceitar o seu papel fundamental nas

condições de vida na Terra assim como as suas consequências menos positivas. A falta dessa compreensão é uma das razões por que, na maior parte das vezes, o público parece reagir à ciência com uma mistura de receio e adulação, com ausência de sentido crítico, o que poderia ser minorado através de processos de comunicação e de divulgação da ciência e consequente participação pública nas decisões sobre ciência.

Com a divulgação científica, os cientistas para além de contribuírem para a promoção da cultura científica, desenvolvem um dos seus papéis fundamentais: a sensibilização do público não especializado, da sociedade em geral, para a importância da compreensão da ciência e para uma reflexão crítica. Porque não basta transmitir o conhecimento, cabe ao cientista ajudar o receptor a adquirir espírito crítico e a aumentar a sua capacidade de reflexão, o que lhe irá permitir, como cidadão, participar activamente na tomada de decisões.

As dimensões da compreensão e da “confiança” na ciência e nos cientistas são indissociáveis. A cultura científica é assim fundamental para que o cidadão comum adquira e possua a capacidade de reflectir criticamente sobre os novos conhecimentos científicos. Como tal, ao reconhecer-se a necessidade de uma maior abertura do campo científico e de um diálogo mais profundo com públicos não especializados, como meio de construção da confiança e legitimidade públicas nas decisões, muitos cientistas falam da cultura científica como elemento de cidadania necessário para que os leigos estejam em condições de entender as decisões políticas sobre ciência. Na verdade, se não houver cultura científica, não se consegue formular um juízo de valor acerca de determinada decisão política dos órgãos de soberania relativamente ao resultado de uma investigação e às eventuais consequências da sua aplicação: um maior acesso ao conhecimento científico é um direito de cidadania em democracia.

Para que a sociedade possa ter um papel activo e interveniente na definição das políticas científicas, é fundamental, por um lado, uma opinião pública esclarecida e, por outro, a consciência e a responsabilidade social do cientista, no sentido de a

esclarecer dos perigos inerentes a alguns dos seus hábitos e a informar dos riscos que poderão estar associados à investigação que está a desenvolver (Alves, 2005: 95).

A par de uma comunicação mediatizada ou, em alguns casos, como alternativa à mesma, muitos organismos de investigação têm vindo a investir na comunicação directa com o público. O que está em causa já não é só a divulgação – ou popularização – do conhecimento científico, mas um dever de cidadania no sentido de aproximar a ciência da sociedade, como já se referiu. Anabela Carvalho reafirma o sentido e o propósito específicos desta aproximação como a necessidade de trazer a ciência como bem „per se‟ à população ou a possibilidade de uma real revisão das políticas científicas (2004: 34).

Pode-se já constatar um reposicionamento dos cientistas face ao público. Aquela investigadora refere haver indicadores que apontam para um quadro mais alargado de desenvolvimento de novas estratégias de comunicação dos profissionais da ciência, em particular no que diz respeito a questões políticas, éticas e ideológicas. Assim, no discurso público dos cientistas, é possível identificar com frequência uma maior frontalidade na comunicação do risco em matérias que dependem de decisões governamentais, apoio popular e/ou do comportamento dos cidadãos (2004: 40). A vida do cidadão comum tem hoje um vasto conjunto de conexões com a ciência. As aplicações da investigação no campo da alimentação e da saúde, a tecnologia presente nos mais variados objectos e a identificação e resolução de problemas ambientais são apenas alguns exemplos de como o público depende actualmente da pesquisa científica e tecnológica. Múltiplas decisões comportamentais resultam, pelo menos até certo ponto, de atitudes perante a ciência (Carvalho, 2004: 42).

Os mais variados organismos oficiais, seja a nível nacional ou internacional, mantêm um elevado interesse na percepção pública da ciência e nos níveis de conhecimento científico dos cidadãos. A existência de um público informado e interessado na ciência é considerado importante para a saúde económica e política das sociedades.

Este é o espírito do „Plano de Acção Ciência e Sociedade‟, por exemplo, em que a Comissão das Comunidades Europeias (2001) assume ir ao encontro da Estratégia de Lisboa29, contribuindo para fazer da União Europeia uma sociedade e economia „do conhecimento‟. Em Portugal refere-se, como exemplo, o programa Ciência Viva, da Agência Nacional para a Cultura Científica e Tecnológica e aponta-se a iniciativa dos ciclos de colóquios “Despertar para a Ciência” como um contributo para aquele desígnio: ao promover a cultura científica cria-se um público informado e participativo. A total “cidadania científica” e a plena “cidadania tecnológica” envolvem, segundo alguns autores, a capacidade de compreensão crítica da ciência e da tecnologia. Para além do conhecimento dos factos, a literacia30 científica significa saber pensar as consequências de uma determinada interpretação da realidade ou uma determinada proposta de acção. Significa também ser capaz de avaliar a qualidade e a fiabilidade da informação. A competência crítica do cidadão comum e a confiança que deposita na ciência e nos cientistas são cruciais para a sua análise dos problemas sociais e para a sua participação nos processos de discussão e decisão. A ciência surge não só como modo de conhecimento e prática de investigação, mas também, salienta o sociólogo Firmino da Costa (2002: 16), como instituição e como cultura e, além disso, como problema social e alvo de controvérsia pública. Neste contexto, a presença da ciência é não só cada vez maior na sociedade em geral, desdobrando-se em múltiplas vertentes, como adquire também um destaque particular na esfera comunicacional, onde se encontram referências crescentes tanto às ciências e às tecnologias como às suas aplicações e consequências.

29 Em Março de 2000 foi adoptado no Conselho Europeu de Lisboa o objectivo estratégico para a União Europeia de a tornar na economia do conhecimento mais competitiva e dinâmica do mundo. http://planotecnologico.pt/

30 Se o conceito de alfabetização traduz o acto de ensinar e aprender, o de literacia traduz a capacidade de usar as competências (ensinadas e aprendidas). O conceito de literacia – capacidades de processamento de informação escrita na vida quotidiana – não se opõe ao de alfabetização funcional que pressupõe as competências necessárias à execução de novas tarefas, de modo a que cada pessoa assegure o seu próprio desenvolvimento e o da sua comunidade (Benavente, 1996:4)

A primeira linguagem de comunicação entre os modernos homens de ciência foi o latim, que era a língua em que os eruditos daquele tempo se correspondiam. No século XV, a introdução da imprensa e a cultura da modernidade, que requer a verificação do que está registado e a certificação do saber, contribuíram fortemente para a circulação intensa de conhecimentos e de informações científicas. João Caraça (1997: 71) afirma também que só se estabelece «um novo saber se os seus objectivos, métodos e conhecimentos produzidos forem partilhados por uma assembleia de praticantes que os validem», assembleia constituída por indivíduos que se reúnem num determinado sítio ou por aqueles que comunicam à distância. A ciência moderna, com o seu espírito ecuménico e antecipando a sociedade global,