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1.5.1 – Ética sexual e capitalismo

Os séculos XVII e XVIII marcaram uma época de racionalismo e esclarecimento na Europa. Apoiados nas descobertas de Galileu, Newton e Leibnitz, os europeus postulavam que Deus criara uma ordem harmoniosa de funcionamento da Natureza, sendo que o homem deveria descobrir estas “leis naturais” e abandonar as leis feitas por eles que não estivessem de acordo com a natureza; e, ainda, que as descobertas científicas teriam mais progressos se o dogmatismo religioso desse lugar à razão. Através da razão, ao invés da fé, a verdade objetiva poderia ser alcançada. Desse modo o Racionalismo avançou enquanto a Teologia decaía.

O estilo de amor sofredor, idealizador, parece agora uma loucura supersticiosa da infância da humanidade. Talvez os rudes filhos dos comerciantes e as filhas beatas das classes inferiores pudessem ainda gozar desse “entusiasmo”, no entanto, entre a aristocracia refinada, homens e mulheres não poderiam mais ser escravizados pela emoção. Racional era elevar ao máximo o prazer e reduzir ao mínimo a dor. As classes sociais mais elevadas buscavam um prazer desvinculado do afeto e do matrimônio, provavelmente, porque ainda existiam muitos casamentos realizados por interesses comerciais entre os filhos de uma aristocracia empobrecida e de prósperos comerciantes que tinham especial interesse por nomes e títulos nobres.

A pequena burguesia tinha uma postura diferente das classes abastadas perante o sexo, o amor e o casamento. O matrimônio deixava cada vez mais de ser combinado pelos pais e a ser caracterizado por maior afinidade e amor. A moralidade da classe média mostrava-se severa e as relações extraconjugais eram pouco freqüentes. A mulher dessa época, já adquiria direitos como o de manter propriedades ou dinheiro fora da jurisdição do marido e datam desta época também leis mais liberais para o divórcio, possibilitando um segundo casamento, não apenas por adultério ou abandono, mas também por um motivo novo e do qual não se ouvira falar até então: a incompatibilidade psicológica. De modo gradual os indícios do casamento como inter-relação psicológica afetiva tanto quanto procriativo iam se firmando.

1.5.2 – A invenção da maternidade

Com a revolução industrial, os burgueses (comerciantes, profissionais liberais etc.) consolidavam cada vez mais o seu poder econômico. Insatisfeitos com a incapacidade da monarquia para realizar as reformas que exigiam, começaram a se voltar contra a estrutura vigente, por conceberem que somente eles próprios, dirigindo o Estado, poderiam atender aos seus interesses. As três revoluções burguesas repercutiram em todo o Ocidente e marcaram definitivamente o final da transição do feudalismo para o capitalismo, inaugurando a época contemporânea após a Revolução Francesa de 1789, com a queda do modelo absolutista europeu e a introdução de um novo ideal: liberdade, igualdade e fraternidade.

A partir de então a esfera doméstica passou a se opor à publica e a produção econômica foi transferida para as fábricas, fora de casa. Como o mercado de trabalho fabril mal absorvia os homens, as mulheres eram incentivadas a se manter em casa cuidando da prole, cultivando um lar. Desse modo, o grupo familiar foi se afastando da sociedade e criando a família burguesa, trazendo consigo novas ideologias como: o amor materno, o sentimento de infância e o amor romântico.

A publicação do livro Um Amor Conquistado: O Mito do Amor Materno (1980), da filósofa francesa Elisabeth Badinter (1980), provocou uma grande polêmica ao afirmar que amor materno não é um sentimento inato, que ele não faz parte intrínseca da natureza feminina, mas, sim, um sentimento que se desenvolve ao sabor das variações socioeconômicas da história e que pode existir, ou não, dependendo da época e das circunstâncias materiais em que vivem as mães.

Segundo Badinter (1985), na história da família ocidental, o poder patriarcal sempre definiu a autoridade absoluta do homem sobre os filhos e a esposa, sendo atribuído a esta última um papel de inferioridade e silêncio. A justificativa, desde os hebreus é que o homem era responsável perante Deus pelos filhos, portanto era necessário deter os meios para assumir tal compromisso. 93

Antes do século XVIII, o amor não era um valor familiar ou social, não tinha o estatuto que hoje lhe conferimos, as relações eram dominadas pelo medo. No caso de

insubordinação em quaisquer camadas sociais o pai recorria ao açoite para a mulher e para os filhos, tendo em vista que na sociedade hierarquizada o valor maior é a obediência. Esta construção distintiva de gênero, a partir de determinismos religiosos ou biológicos, além da divisão sexual do trabalho foi fundamental para solidificar o discurso patriarcal e a hegemonia masculina contemporânea.

De acordo com a autora, o amor materno resulta de uma construção social e cultural, nada tendo a ver com instinto ou fator sanguíneo, ou um determinismo da natureza. A sacralização da figura de mãe surge como uma forma de reprimir o poder e a autonomia da mulher, a partir da construção de um discurso que a culpará e a ameaçará, caso não cumpra o seu dever materno, dito natural e espontâneo. 94

Uma mulher pode ser “normal” sem ser mãe, e toda mãe não tem uma pulsão irresistível em se ocupar do filho diz a filósofa. Apesar da argumentação de Badinter, de que o amor materno foi "implantado" nas mulheres, a maternidade, ainda, é um tema sagrado, continua sendo difícil questionar o amor materno, e a mãe permanece, em nosso inconsciente coletivo, identificada a Maria, símbolo do indefectível amor oblativo.95

A contingência do amor materno suscita grande angústia em todos nós, pois como conviver com a “incerteza insuportável que põe novamente em questão o nosso conceito de natureza, ou nossa fé em Deus. Como pode o melhor dos mundos incluir, além do mal físico, moral e metafísico, a ausência possível do amor de mãe?” 96

1.5.3 – O sentimento da Infância

Junto com o amor de mãe, no século XVIII surge o sentimento de infância, vimos até aqui que desde a antiguidade as crianças, as mulheres e os escravos eram considerados inferiores e em relação de dependência com os seus senhores. 97 A Infância não existiu sempre, é um fenômeno histórico, o que hoje pode parecer evidente, nem sempre foi assim, a singularidade da infância ou o sentimento de infância nem sempre

94 Ibidem, p. 97. 95 Ibidem, p. 9 e 11. 96

Ibidem p. 18.

existiu. Um olhar histórico, revelador das relações sócio-econômicas, nos permite perceber a construção social da noção da infância. Philippe Ariès (1981) em seu clássico, História Social da Criança e da Família, identifica os sinais da emergência do sentimento de infância, cuja premissa básica é a ausência do sentimento de infância durante o Antigo Regime na Idade Média.

Ariès desvenda o processo de construção deste sentimento, tendo por objeto de estudo a criança e a família na França Medieval. A característica marcante desse período é que as crianças se encontram integradas no mundo dos adultos, o que difere substancialmente da situação encontrada no século XVIII, na qual, ao reconhecer a necessidade de limitar a participação das crianças no “mundo dos adultos”, separa-se o espaço infantil do espaço destinado aos adultos.

A invenção da infância

Segundo o autor até o século XVIII, não havia sequer termos na língua francesa para diferenciar infância de adolescência. A palavra enfant (criança) representava ambas, haja vista que não era o critério biológico98que distinguia as pessoas, a idéia de infância era marcada pela dependência econômica. Desse modo, considerava-se adulto quem não dependesse dos pais, ainda que fosse mais jovem do que outro dependente economicamente. A ausência de termos que caracterizem a infância indica a não percepção da singularidade dessa fase da vida.

Vale destacar que a ausência do sentimento de infância, não se confunde com o amor que os pais devotam aos filhos. É imperativa esta diferenciação, pois enquanto o sentimento de infância representa a tomada de consciência “da particularidade infantil, essa particularidade que distingue essencialmente a criança do adulto”,99 surgido dentro de um contexto histórico bastante específico, o amor dos pais, provavelmente, sempre teria existido.

O surgimento da percepção de infância rompe com a falta de consciência de uma sociedade que permitia e considerava natural que crianças vivessem e atuassem definitivamente no mesmo espaço dos adultos, logo após o fim da dependência de suas mães e amas. Tudo leva a crer que o pensamento da época não acreditava que a criança

98 O critério biológico é o existente atualmente. Assim, crianças são todas as pessoas até doze anos; adolescentes, todas as pessoas entre doze e dezoito anos.

já contivesse a personalidade humana, sobretudo, devido ao alto índice de mortalidade que estimulava a idéia de que era preciso ter vários filhos para salvar alguns. Como muitas crianças morriam devido às precárias condições de saúde e higiene, pensava-se que um desígnio divino determinava a sobrevivência de apenas algumas crianças. Aquelas que morriam, seriam abrigadas no Reino do Céu, pois, eram puras, qualidade que nenhum ser humano possuía.

A não percepção da criança enquanto pessoa humana dotada de personalidade, paulatinamente, vai sendo alterada. No século XVII, os jogos e brincadeiras eram comuns às crianças e aos adultos, envolvendo toda a sociedade. Isso revela a existência de uma outra moral na Idade Média, diferente da observada em nossa época, sob a qual impera uma rígida distinção entre jogos e brincadeiras destinadas aos adultos e crianças. As origens dessa mudança de mentalidade teria ocorrido nos séculos XVII e XVIII quando os moralistas começaram a difundir a idéia de que os jogos, sem exceção, eram imorais e a sua prática deveria ser evitada. Essa nova postura anuncia uma característica presente no sentimento da infância, uma certa preocupação antes desconhecida, de preservar a moralidade da criança e também de educá-la. Essa nova percepção da criança, portadora de uma pureza a ser resguardada caracteriza um segundo sentimento de infância. 100

A educação realizada por intermédio dos colégios, desenvolve e consolida o sentimento de infância. No século XIV, parece não ter existido a preocupação em separar os estudantes nas classes conforme as suas idades. Os contemporâneos do século XVII achavam natural que um adulto desejoso de aprender se misturasse a um auditório infantil, pois o que importava era a matéria ensinada, qualquer que fosse a idade dos alunos. Atualmente, essa idéia é inconcebível, sendo a aprendizagem escolar de crianças associada à existência de uma classe de alunos de idade similar. A ação dos colégios, a partir do século XVII, pretendeu evitar que a criança se inserisse no mundo dos adultos.

O colégio, difundido a partir do século XIII, é importante para a consolidação do sentimento de infância, evitando que a criança entrasse de imediato no mundo dos adultos, refletindo a sensibilização à fragilidade da infância e à necessidade da criança se desenvolver moral e intelectualmente (século XVII), na medida em que o ambiente

escolar propiciaria o desenvolvimento de uma infância mais longa ao adotar medidas pedagógicas inovadoras tal como, a divisão das classes de alunos pelas suas idades.

Contudo, nem todas as crianças francesas do século XVII foram ao colégio. Ao contrário, a antiga estrutura em que a criança, após os sete anos, realizava atividades no mundo dos adultos persistia, seja ao se possibilitar que as crianças fossem aprendizes de mestres, seja ao se possibilitar que ingressassem nos exércitos. Além disso, o processo educacional nos colégios não incluía as crianças do sexo feminino. Isso significou que às mulheres, pelo menos até o século XVII, após a infância, estava reservado o mundo dos adultos, sem prolongamentos. Ariès relata casos, perfeitamente normais para a época, em que meninas de 12 a 13 anos já estão casadas e agem com extrema consciência de seu papel. Comportam-se como adultas diante das responsabilidades que lhes são conferidas: cumprem os afazeres do lar, interpretando o seu papel social.

A diferença da moral medieval para a contemporânea é observada também na questão sexual. Na sociedade do medievo, não havia objeção à liberdade e intromissão das crianças em assuntos sexuais, não se pressupunha que tais assuntos ou práticas pudessem ser prejudiciais às crianças. Estes só viriam a ser censurados no século XVIII, quando uma nova moral surge impulsionada pela renovação religiosa. O emprego de ações e linguagens associadas a práticas sexuais não caracterizavam abuso na época, por acreditar-se que a criança impúbere era estranha à sexualidade.

Os moralistas pretenderam mudar o comportamento social que expõe as crianças aos assuntos referentes à sexualidade, para tanto elegem os jovens como atores privilegiados de suas práticas pedagógicas e o sentimento de culpa como instrumento decisivo para inculcar-lhes a nova moral. Dois elementos seriam fundamentais para o sucesso do trabalho: a escolha dos colégios (educação) como espaço de atuação e a repressão aos jovens mediante ensaios moralistas e castigos corporais. 101

O surgimento de sentimento de infância associa-se ao fortalecimento da família. A partir do século XIII, a família conjugal (pai, mãe, filhos, avós), formada por poucos integrantes, se fortalece, isso se deve ao surgimento de novas formas de economia monetária, ao ressurgimento das trocas comerciais, ao fortalecimento do poder real bem como à efetividade da segurança pública. Esse conjunto de fatores possibilitou o

desenvolvimento de uma família composta de menos integrantes que podia voltar os seus olhos para as crianças. Desse modo, o surgimento de uma família reduzida gera um sentimento de proteção, cuidado e atenção à criança.

É fundamental salientar que o sentimento de infância, construído historicamente, apresenta diferentes significados conforme os seus destinatários. Há aqueles que desfrutaram desse sentimento que, até então, não existia; há outros, contudo, que não puderam exercer esse sentimento. O reconhecimento do sentimento de infância redefine as relações familiares de determinados grupos, notadamente, os nobres franceses que podiam oferecer saúde, educação e melhores cuidados aos seus filhos, enviando-os aos colégios. O grupo que não exerceu o sentimento de infância encontrou limites nas possibilidades econômico-culturais de suas famílias. A conseqüência direta é que, para uns, seria reconhecido o direito de ter esse sentimento; para outros, as condições econômicas e culturais faziam com que os seus filhos, desde cedo, ocupassem o mundo reservado aos adultos, seja através do trabalho, do exército ou do casamento.

1.5.4 - A moralidade sexual na Revolução Francesa.

Entre ruínas, o amor e os prazeres sobreviviam na França. A revolução burguesa havia negligenciado os hospitais, porém nestes, nos campos de batalha e nos bairros pobres, a caridade aliviava a dor e o luto, a bondade opunha-se à maldade, e a afeição dos pais sobrevivia à independência filial. Muitos filhos admiravam-se com a incapacidade dos pais de compreender seu ardor revolucionário e suas idéias novas; alguns jogavam fora as velhas restrições morais e tornavam-se epicuristas descuidados. A promiscuidade florescia, as doenças venéreas se espalhavam e o número de crianças enjeitadas multiplicava-se.

O marquês Donatien-Alphonse-François de Sade (1740-1814), de família altamente colocada na Provance, chegou a ser governador geral dos distritos de Bresse e Bugey, e parecia destinado à vida de um comum administrador provincial. No entanto, em seu âmago ferviam e fermentavam imagens e desejos sexuais e este procurava uma filosofia que pudesse justificá-los. Depois de uma história envolvendo quatro moças, foi sentenciado à morte em 1772, por “crimes de envenenamento e sodomia”. Fugiu, foi

capturado, de novo fugiu, cometeu novas enormidades, escapou para a Itália, voltou para a França e foi preso em Paris.

Libertado em 1790, ele apoiou a Revolução e em 1792 já era secretário da seção de Piques.Em 1801, já sob o comando de Napoleão, foi preso por haver publicado as obras Justine (1791) e Juliette (1792), novelas de experiências sexuais, algumas normais, outras nem tanto. O autor preferia as pouco ortodoxas e despendia seu considerável talento literário defendendo-as. Sade argüia que: “todos os desejos sexuais são naturais, e devem ser tolerados com uma consciência tranqüila, mesmo o de encontrar prazer sexual erótico em infligir dor”, este último sentido o imortalizou com a palavra sadismo. Depois de passar por várias prisões, sempre escrevendo interessantes e apimentadas peças teatrais e morreu em um asilo de loucos.

Duran (1975) cita algumas particularidades da moral sexual pós-revolução francesa, fazendo referência à homossexualidade, encontrada entre os estudantes dos colégios na Revolução e da sua popularidade nas cadeias. As prostitutas e os bordéis eram numerosos nos arredores do Palácio Real; estas podiam ser encontradas no teatro, na ópera, e mesmo nas galerias da Assembléia Legislativa. Panfletos circulavam dando os endereços e os preços das casas e das mulheres. Em 24 de março de 1793, a seção do Templo publicou uma ordem: “A Assembléia Geral... desejando por fim às incalculáveis desgraças causadas pela dissolução da moral pública, e pela lubricidade e despudor do sexo feminino, por meio deste nomeia comissários.”102

Outras seções aderiram à campanha: patrulhas privadas foram formadas e algumas descuidadas foram presas. Robespierre apoiou esse esforço, porém após sua morte, a assiduidade dos guardiões relaxou e elas reapareceram e prosperaram sob o Diretório, momento em que mulheres de vasta experiência sexual tornaram-se líderes da moda e da sociedade. Para o matrimônio não havia necessidade de padre; depois de 1792, somente o casamento civil era legal; e este necessitava apenas de um compromisso mútuo assinado perante uma autoridade civil. Nas classes inferiores havia muitos casos de casais vivendo juntos sem serem molestados. Como no Antigo Regime, o adultério do marido era muitas vezes tolerado; homens de posses em geral tinham amantes, e sob o Diretório estas eram expostas tão francamente quanto suas esposas. O

divorcio foi legalizado por um decreto também em 1792; e daí em diante poderia ser obtido através de um acordo mútuo perante um funcionário municipal.

A autoridade paterna ficou diminuída com o crescimento dos direitos legais da mulher, e mais ainda pela auto-afirmação da juventude emancipada. Ainda Duran (1975), ao citar a experiência de uma historiadora que viajou pela França em 1802, relata o que um jardineiro lhe dizia:

Durante a Revolução não ousávamos repreender nossos filhos por suas faltas. Aqueles que se chamavam de patriotas consideravam que corrigir as crianças era contra os princípios fundamentais da liberdade. Isto fez com que elas se tornassem tão indisciplinadas que muitas vezes, quando um pai pretendia ralhar com seus filhos, este dizia para tratar de sua vida, ajuntando: ‘ Nós somos livres e iguais; a República é o nosso único pai e não existe outro’...Levará um grande número de anos para trazê-los de volta a ter juízo.103

Alguns pais radicais, por volta de 1795 mandavam seus filhos para escolas dirigidas por padres na esperança de salvá-los do afrouxamento de maneiras e de moral. A leitura pornográfica era muito comum e de acordo com um jornal da época, era a favorita dos jovens. O restabelecimento de uma rígida disciplina veio sob o império de Napoleão e posteriormente a Revolução Industrial caiu sobre a família com uma força continuada e fundamental.

As mulheres francesas mantiveram um lugar elevado no Velho Regime através da refinada influência de suas maneiras e o cultivo de suas mentes; porém este desenvolvimento era restrito à aristocracia ou à classe média superior. Em 1889, no entanto, as mulheres das classes comuns apareceram visivelmente na política; elas quase fizeram uma Revolução, marchando à Versalhes e trazendo o rei e a rainha de volta para Paris, como cativos de uma comuna que quase estourava com o seu poder recentemente descoberto.

Em julho de 1790, Condorcet publicou um artigo intitulado Sobre a Admissão da

Mulher aos Direitos de Estado. Em dezembro foi feita uma tentativa por Madame

Aëlders para estabelecer clubes devotados à liberação das mulheres. As mulheres faziam-se ouvir nas galerias das Assembléias, porém as tentativas de organizá-las para o progresso de seus direitos políticos acabaram se perdendo na excitação da guerra, na fúria do Terror e na reação consertativa pós-Termidor. Entretanto, alguns ganhos

puderam ser contabilizados: a mulher, assim como o marido, podia pedir o divórcio e, o consentimento da mãe e do pai só era necessário para o casamento de filhos menores. Sob o Diretório, as mulheres, embora sem direito a voto, tornaram-se um poder aberto na política, promovendo ministros e generais, e orgulhosamente expondo sua nova liberdade de maneiras, de moral e no modo de vestir-se. Napoleão, em 1795, com 26 anos, assim as descrevia:

As mulheres estão em todos os lugares – nos teatros, nos passeios públicos, nas bibliotecas. Vêem-se mulheres muito lindas nos estúdios dos homens letrados. De todos os lugares do mundo, somente aqui em Paris é que as