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SEXUALIDADE, EDUCAÇÃO E SOCIEDADE: PRESSUPOSTOS EPISTEMOLÓGICOS PARA ANÁLISE DA EDUCAÇÃO SEXUAL.

O presente capítulo apresenta uma reconstrução teórica centrada nas categorias de análise: Educação Escolar, Educação Sexual e Políticas Educacionais. Essa estrutura visa fundamentar as análises empíricas, apresentadas no último capítulo deste estudo, das concepções de sexualidade socializadas na práxis pedagógica dos professores no interior de uma escola básica da rede pública de ensino. Tendo como fio condutor a formação de professores, vinculamos essas análises ao panorama político, econômico e social, posto que sejam as forças políticas predominantes na sociedade que condicionam os processos de formação e, por via de conseqüência, a práxis pedagógica do professor.

A sexualidade se insere no rol das prioridades da educação, tanto no âmbito das políticas educacionais, quanto das demandas sociais. De um lado, os documentos oficiais enfatizam a necessidade de implementação de programas de educação sexual, baseados em demandas de saúde sexual e reprodutiva, e destacam a importância dos jovens terem acesso à informação quanto aos métodos contraceptivos e às formas de proteção do HIV/AIDS e das demais doenças sexualmente transmissíveis. No entanto, de outro lado, entendemos que a Educação Sexual, entendida do ponto de vista das necessidades sociais, não pode estar apenas ligada à raiz de patologias, prevenções e controle da população; mas, sobretudo, a um processo de construção coletiva de consciência, autonomia e inteligência sexual.

Em face dessa dualidade buscamos estabelecer pressupostos, a fim de focalizar o problema investigado e suas possíveis formas de superação.

3. 1 - Visão de Realidade

[...] se abandonar a ingenuidade e os preconceitos do senso comum for útil; se não se deixar guiar pelas idéias dominantes e aos poderes estabelecidos for útil; se buscar compreender a significação do mundo, da cultura, da história for útil [...] então podemos dizer que a filosofia é o mais útil de todos os saberes que os seres humanos são capazes. (Marilena Chauí)

As questões referentes à Educação Sexual na escola, sobre as quais lançaremos nosso olhar serão analisadas a partir de um foco filosófico. Segundo Saviani: “a reflexão filosófica, para ser tal, deve ser radical, rigorosa e de conjunto.” 189 Em outras palavras, a filosofia é radical, porque busca as raízes do problema investigado; rigorosa, pois procede, sistematicamente, segundo métodos determinados; e de conjunto, porque insere a questão investigada no contexto da totalidade de sua existência concreta.

O que distingue o saber filosófico do saber científico é o fato da filosofia, ao procurar apropriar-se da realidade, ir além da descrição e explicação, buscando o sentido dessa realidade. A filosofia caracteriza-se como uma reflexão que busca compreender os sentidos da realidade do ser humano em sua relação com a natureza, com os outros seres, com a cultura e com a história. A filosofia tem por objeto, portanto, os problemas que a realidade nos apresenta, e, neste trabalho específico, destacamos como problema a formação do professor para educação da sexual da criança.

Antonio Gramsci dizia que “todos os homens são filósofos”,190 enfatizando que a filosofia não é privilégio de alguns poucos eruditos ou iluminados, mas que todo ser humano torna-se filósofo ao interrogar o mundo, em busca de compreendê-lo e transformá-lo. Nessa direção, ao buscar o significado dos valores que norteiam as condutas e o comportamento sexual na sociedade indagamos: De que vale? Esta questão nos encaminha à ética, isto é, à filosofia do comportamento moral, solo da reflexão crítica sobre os valores na ação humana. Os valores não têm uma significação estática e imutável ao longo da história, uma mesma cultura apresenta mudanças de valores ao longo do tempo e podem ser encontrados valores diferentes nas diferentes culturas. No entanto, nunca podemos afirmar a ausência de valores em qualquer cultura.

189

SAVIANI, D. Educação: do senso comum à consciência filosófica, Camp: Autores Associados p.24. 190 GRAMSCI, A. Os intelectuais e a organização da cultura. RJ: Civilização Brasileira, 1978, p.11.

Os valores e os papéis sociais e sexuais não são iguais em todas as sociedades, pois cada organização social possui o seu ethos, o que lhe confere um caráter singular. Não raro, a literatura apresenta os vocábulos ethos (grego) e mores (latim), ambos, significando “costume ou maneira de ser.” O costume diz respeito à criação cultural, uma vez que inexiste costume na natureza. Ele é resultado do estabelecimento de um valor para a ação humana e é criado pelos próprios seres humanos em suas relações entre si: O domínio do ethos é a moralidade.

Para Sánchez Vásquez (1975), a moral é “um conjunto de normas e regras destinadas a regular as relações dos indivíduos, numa comunidade social dada.” 191 As relações que os seres humanos estabelecem entre si, instituem, também, a organização do poder nessa sociedade. A articulação existente entre o dever e o poder encaminha, necessariamente, à indissociável relação entre moral e política, uma vez que o ethos só pode se realizar na instância da polis.

A ética configura-se como a reflexão crítica sobre a moralidade da conduta do ser humano e, enquanto uma investigação filosófica, busca a concepção profunda, metódica e de totalidade dos valores sociais e sexuais instituídos e sua problematização.

Com efeito, a ética não pode ser confundida com a moral, posto que no campo desta, os critérios que orientam a ação são os mesmos que a julgam, os quais estão intimamente ligados aos interesses de cada organização social. Já no âmbito da ética, encontramos uma perspectiva de juízo crítico, característico da filosofia, que busca compreender os sentidos de cada ação.

Destarte, a moral sexual de uma determinada sociedade indica o comportamento que deve ser considerado bom e mau, certo e errado, justo e injusto. A ética, por sua vez, busca o fundamento do valor que norteia os relacionamentos e condutas sexuais, partindo da historicidade presente nos valores.

A filosofia da educação, nosso âmbito específico de atuação profissional e acadêmica, por sua vez, busca caracterizar o esforço de reflexão sobre os problemas que desafiam a educação, nesta investigação específica, temos como objeto a Educação Sexual na práxis educativa do professor da escola básica. Ao investigarmos este fenômeno procuramos identificá-lo sob a totalidade de seus aspectos, destacadamente: o

econômico, relacionado à produção da vida material na sociedade; o político, relativo ao poder que permeia as relações e os papéis sociais e sexuais; e o ético, que diz respeito aos valores que subjazem à formação e à prática social e pedagógica, no que se refere aos relacionamentos afetivos e às condutas sexuais.

É fato reconhecido, que todas as escolas praticam algum tipo de educação sexual, mesmo quando não tocam no assunto. Tem-se a idéia de que a educação sexual limita-se a falar sobre o sexo e dar orientações preventivas. Ocorre que a sexualidade humana se situa em um contexto mais amplo, uma vez que se relaciona a aspectos biológicos, psíquicos e sociais. Assim, as informações do aspecto biológico de reprodução, que fazem parte da disciplina de Biologia, não contemplam toda a amplitude que o tema da sexualidade humana comporta, uma vez que deixam de levar em conta os comportamentos, atitudes e experiências, as condutas, regras e valores expressos, os conceitos e preconceitos socializados, as diferenciações de gênero, as posições éticas e políticas dos professores e os tipos de convivência que a escola constrói.

Desse modo posto, reiteramos que esses pressupostos se prestam a tecer as referências epistemológicas que irão nortear o processo de identificação e análise das principais concepções e ações docentes referentes à sexualidade no contexto da práxis educativa, desenvolvido no último capítulo deste estudo. Através da articulação entre os pressupostos teóricos e os dados empíricos, procuraremos situar os valores, princípios e normas que orientam este trabalho, as suas principais necessidades, dificuldades, assim como suas contradições e limitações, de modo que, integrando a nossa práxis pedagógica à investigação acadêmica, possamos buscar novos e melhores caminhos para a formação de professores e por via de conseqüência para a Educação Sexual na escola.

3.2 - Educação e Sociedade

Educação é comunicação, é diálogo, na medida em que não é transferência de saber, mas um encontro de sujeitos interlocutores, autores que buscam a significação dos significados.[...]Educação não transforma o mundo. Educação muda pessoas. Pessoas transformam o mundo. (Paulo Freire)

Uma reflexão filosófica sobre a Educação Sexual na práxis pedagógica do professor da escola básica deve partir do contexto da prática social concreta, uma vez que o contexto é lhe confere especificidade. Este ponto de partida nos remete à análise

da sociedade brasileira, buscando os condicionantes que a sua organização econômica confere ao processo educativo e suas relações com a cultura. A cultura é um conceito fundamental quando se busca estabelecer a relação entre educação e sociedade, pois está contida em ambas.

A cultura pode ser sinteticamente caracterizada como o mundo transformado pela ação humana. O mundo existe para o ser humano na medida do conhecimento que tem dele e da ação que exerce sobre o mesmo. O ser humano se relaciona com o mundo em duas dimensões: a natureza, da qual herda seus aspectos biológicos e fisiológicos; e, a cultura, dimensão do mundo por ele transformada, que é a mais significativa.

O que leva o ser humano a desenvolver a cultura é a necessidade de organizar a vida, num primeiro momento, para garantir a sua sobrevivência. De acordo com Vázquez (1975):

Para que o homem satisfaça propriamente suas necessidades, ele tem que libertar-se delas, superando-as, ou seja, fazendo com que sejam especificamente humanas. Isso quer dizer que a necessidade humana tem que ser inventada ou criada. O homem, portanto, não é apenas um ser de necessidades, mas, sim o ser que inventa ou cria suas próprias necessidades.192 Assim sendo, a criação da cultura é resultado do trabalho, que é o elemento que distingue o ser humano dos outros animais, porque diz respeito à sua intervenção consciente e intencional na natureza. O trabalho é que faz o homem ser e este não pode ser apartado da sociedade, uma vez que é através das relações sociais que o ser humano estabelece com os outros é que ele trabalha e cria a cultura.

Ser humano, cultura e trabalho não se constituem em simples abstrações, mas no processo de transformação concreta da realidade e na produção da vida material em determinadas condições. A sociedade é organizada a partir da produção da vida material dos seres humanos e das relações sociais dela decorrentes e a cultura é a base de sustentação da sociedade e, portanto, precisa ser preservada e socializada, uma vez que não faz parte do legado natural. As instituições sociais e, dentre essas, a escola, têm como finalidade última a socialização da cultura.

3.3 - Educação Escolar

- A gente fica pensando: o que é que a escola ensina meu Deus? Sabe? Tem vez que eu penso que pros pobres a escola ensina o mundo como ele não é.

(Fala do lavrador mineiro “Ciço”, segundo Carlos Rodrigues Brandão.)

A educação como processo de socialização de cultura se encontra em todas as instituições. Em nossa sociedade, esta tarefa, específica é delegada à escola. A escola é o espaço de socialização sistemática, do saber historicamente acumulado pela sociedade, que tem por finalidade formar os indivíduos, possibilitando-lhes a capacidade de participar como agentes construtores e transformadores da própria cultura.

A estrutura da organização do trabalho configura em cada sociedade o papel que a educação escolar ocupa. A sociedade capitalista, organizada através da contradição básica entre capital e trabalho, divide seus membros em duas classes antagônicas: a burguesa e a trabalhadora. A escola contemporânea, como uma instituição da sociedade capitalista, tem atuado, predominantemente, como um espaço de socialização da cultura e dos valores da classe dominante.

Althusser (1970) preconiza que sejam levados em conta três pontos principais nessa análise: a economia, determinante fundamental da estrutura social e da mudança; a história da sociedade, história das lutas de classes que a constitui; e a cultura da sociedade de classes, que é caracterizada pela ideologia.193

As idéias que circulam em uma sociedade são condicionadas pelos modos de produção e, como a classe que dispõe dos meios de produção e divulgação de conhecimento é a classe dominante, podemos inferir que são as idéias desta classe é que são internalizadas pelas demais, sob a forma de ideologia.194

Ao longo da história, diferentes aparelhos ideológicos têm predominado. Antes do capitalismo, a Igreja se encontrava na posição hegemônica. Quando a burguesia conquistou hegemonia, o aparelho educacional ganhou posição de dominância, pois a Revolução Industrial, iniciada no século XVIII, demandava a formação técnica especializada e a transmissão dos conhecimentos das novas ciências, a fim de

193 ALTHUSSER, L. Ideologia e aparelhos ideológicos do Estado. São Paulo, Liv. Martins Fontes, 1970. 194 A ideologia atravessa as práticas sociais, as quais são sempre orientadas por “rituais”, definidos pelas instituições onde se realizam: escola, igreja, polícia, imprensa etc., que constituem o que Althusser denomina de aparelhos ideológicos de Estado. Esses “aparelhos” têm a função de disseminar uma determinada ideologia, que é a da classe que detém o poder, assegurando a sua hegemonia.

desenvolver as tecnologias fabris. O operário das fábricas, mais do que o camponês, precisava pelo menos saber ler, escrever e contar.

Althusser postula, ainda, que só é possível compreender a Educação a partir dos seus condicionantes sociais. Sua concepção de sociedade é baseada na identificação de processos de desigualdade e na presença de classes antagônicas. A escola não é autônoma em relação à sociedade, mas, condicionada por fatores sociais, na perspectiva da manutenção da sociedade de classes estratificada. Assim, o papel transformador da educação é levar à identificação das funções divergentes da escola, em relação às classes sociais e às diferenças que caracterizam uma sociedade desigual.

O elemento de sustentação das idéias da sociedade capitalista é a ideologia liberal, que é o conjunto de idéias e valores gestado nas lutas de classe da burguesia contra a aristocracia, que se solidificou no processo de desenvolvimento das sociedades capitalistas, justificando suas características. A função dessa ideologia é dissimular a realidade, apresentando como “naturais” os elementos que são determinados pelas relações econômicas de produção e pelos interesses da classe dominante. Para Althusser (1970), a escola é o principal aparelho ideológico da sociedade e, em seu entendimento, como a estrutura determina a superestrutura, não é possível qualquer mudança social a partir da educação.

De outro lado, Antonio Gramsci (1978) dá um novo rumo ao conceito de ideologia e, com isso, fornece valiosas contribuições para a construção de uma educação voltada para a transformação social. Um dos conceitos fundamentais adotados esse autor é o de hegemonia, que, segundo ele, se dá por consenso e/ou coerção.195

Na sociedade dividida em classes temos uma constante luta pela hegemonia política, na qual a ideologia assume o caráter de convencimento, que é o primeiro recurso utilizado para a dominação. Do ponto de vista dos oprimidos, o embate ideológico contra a hegemonia burguesa se dá em todos os espaços em que esta se reproduz. Temos, então, uma disputa pelo poder na escola, tendo a política como o centro da ação pedagógica. A educação é, portanto, um espaço social de disputa hegemônica. É uma prática social construída a partir das relações sociais que vão sendo estabelecidas, e, como tal, uma “contra-ideologia”.

Com efeito, é importante situar a posição do educador na sociedade, uma vez que este pode contribuir para manter a opressão ou para promover as disposições emancipatórias. Se o educador é um trabalhador em educação, parece coerente que seja aliado às lutas dos trabalhadores enquanto classe, visto que as suas conquistas sociais mais imediatas, também dependem de vitórias maiores e mais abrangentes no campo social. Parece coerente que a posição do educador seja em favor dos oprimidos, marcada pela identidade de classe, como intelectual transformador.

Gramsci (1978), afirma, ainda, que o trabalho intelectual é similar a um cimento, a partir do qual as pessoas se unem em grupos e constroem alternativas de mudança. Assumir a condição de intelectual orgânico da classe dos trabalhadores, significa lutar contra o contexto hegemônico que se apresenta, visualizando perspectivas de superação coletiva. Segundo o autor, o entendimento da realidade é o primeiro passo do intelectual orgânico no desafio da construção de uma nova perspectiva social.

A superação da dominação exige trazer à tona o que a ideologia esconde e ampliar os espaços em que as contradições sociais sejam bem compreendidas, e nos mesmos locais em que a ideologia se dissemina. A contra-ideologia é possível porque nada atua de forma mecânica, de modo a impedir qualquer reação, caso contrário, não poderíamos jamais falar em liberdade humana.

A escola não é uma “ilha” à margem da realidade e nem uma simples reprodutora da realidade social. Se ela não é a alavanca transformadora da realidade, como pensavam os liberais escolanovistas, tampouco se encontra totalmente manipulada pelo poder, como denunciaram os crítico-reprodutivistas. A partir de suas limitações, é possível descobrir as possibilidades de uma real transformação qualitativa, de modo que a escola possa por si própria, construir e desenvolver um discurso contra-ideológico.

A escola, como instância mediadora, ao estabelecer o vínculo entre as novas gerações e a cultura acumulada, não transmite apenas os conhecimentos intelectuais por meio de uma prática neutra, mas, também, valores morais, normas de conduta e maneiras de pensar. Se, por um lado a escola atual tende a reproduzir os valores da classe dominante encontrados na sociedade, de outro, o investimento na formação ético – política dos seus professores pode promover o desenvolvimento de um trabalho intelectual transformador, não apenas comprometido com a mudança do comportamento

do aluno, mas com a transformação do mundo que aí está, em outro melhor, que ainda não existe de fato, mas precisa ser construído. O professor, comprometido com os acontecimentos do seu tempo, pode ser capaz de realizar juízos de valor a respeito dos comportamentos coletivos e individuais, atento aos valores políticos e morais.

O posicionamento participativo do professor intelectual transformador, decorrente do investimento nessa formação, assume o compromisso na luta contra a divisão desigual do trabalho e da renda entre homens e mulheres, a alienação da consciência, a submissão política de um gênero ou identidade sexual sobre outro, as exclusões estigmatizadoras e as diversas formas de dominação e preconceito. Desse modo, no interior da sua práxis educativa o professor pode ser capaz de conscientizar os seus alunos, levando-os a questionar a validade dos valores estabelecidos, investigando o que subjaz a estes e a ampliar a compreensão de mundo, com vias a identificar e desvelar os processos ideológicos que permeiam as suas formas de pensar, agir e valorar, e, assim, denunciar os conflitos, ao invés de camuflá-los.

A ação escolar resultante, por ser transformadora, pode possibilitar a ressignificação dos valores vigentes, criando novas e melhores formas de relacionamento no interior do processo cultural. Repensar os rumos da escola, sem hipérboles otimistas ou pessimistas e reforçar a importância do valor do seu papel, sobretudo, como local privilegiado para a discussão crítica do saber acumulado e da realidade em que se acha mergulhada, constitui-se em um dos caminhos para romper com as formas alienantes, contrárias à humanização.

Um dos grandes desafios da escola contemporânea está na formação para o trabalho, uma vez que vivemos em uma sociedade dividida em classes que, por conseguinte, produz uma escola dualista, já que para a elite é oferecida uma escola de boa qualidade intelectual, enquanto para a classe trabalhadora resta uma educação elementar, geralmente de má qualidade, com rudimentos de alguma técnica profissionalizante e descuidada da necessária teorização.

De acordo com Baudelot & Establet (1971), uma vez que se vive em uma sociedade dividida em classes, não é possível haver uma escola “única”, mas, sim, duas escolas, diferentes quanto aos percursos e fins da educação. Ademais, não são apenas

duas escolas diferentes, mas, opostas, heterogêneas e antagônicas, correspondentes à divisão da sociedade: burguesia – escola acadêmica e proletariado – profissionalizante.

Enquanto nos países desenvolvidos, o ideal da Pedagogia Moderna proposto por Comênius (século XVII) de “ensinar tudo a todos”, fundado no princípio de educação de qualidade para homens e mulheres, já no século XIX atingia os seus objetivos, no Brasil do século XXI, sequer conseguimos superar as dificuldades de acesso universal à escola e temos, ainda, de alcançar o desafio colocado pelas conferências internacionais da década de 1990, da educação como direito humano elementar. O que dizer, então, de superarmos a dualidade decorrente das distintas formas de ensino que tem perpetuado a divisão social.

A “Escola Unitária”, prevista por de Gramsci (1991) em sua obra Concepção