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4. DOS OBJETIVOS ÀS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS

4.1. Atividade nº 1 – Participação na Prestação de Cuidados à Pessoa e Família

4.1.3. Ética em Cuidados Paliativos

Cuidar da pessoa que enfrenta a terminalidade da vida, envolve constantemente questões éticas significativas que se colocam ao profissional de saúde, nomeadamente, aos enfermeiros pela proximidade que estabelecem.

Objetivos:

 Consolidar conhecimentos na área da ética em Cuidados Paliativos;

 Desenvolver competências a nível do juízo crítico perante os dilemas éticos e questões legais que surgem pela prática profissional em Cuidados Paliativos;

Análise Crítico-Reflexiva:

Presenciamos algumas vezes, que a equipa se questionava de "como" estamos cuidando e quais as consequências das nossas intervenções nos doentes.

A ética nas relações também é elementar, na medida em que no permite descobrir quem realmente somos.

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Muitas vezes o percurso de doença é acompanhado de sofrimento, que pode traduzir-se em diminuição e até mesmo perda da qualidade de vida. Face a isto, os Cuidados Paliativos surgem como uma resposta de acompanhamento médico e ético às necessidades que o doente apresenta. (Neto, 2013)

Serrão (11/CNECV/1995) afirma “As decisões médicas tomadas no âmbito da medicina de acompanhamento têm um suporte científico, mas têm, principalmente, uma muito significativa estrutura ética (…). A prestação de cuidados de saúde no período final da vida reveste-se, em consequência, de um exemplar carácter ético. Assim, os princípios da beneficência, da não-maleficência, da justiça e da autonomia devem ser tidos em conta.

Foram diversas as situações em que a tomada de decisão foi concertada com o doente e com a família relativo às medidas a adotar face às alterações vindas da progressão da doença.

A vontade expressa do doente foi sempre considerada e, a informação foi sempre dada de forma clara, objetiva para que o doente escolha de forma informada. “A integridade individual e o respeito pela escolha do doente devem prevalecer face às tentativas desenfreadas do médico manter o paciente vivo e/ou sem dor.” (Neto, 2013, p. 254) Não importa acrescentar dias à vida, mas vida aos dias que ainda tem para viver.

O princípio da autonomia aglutina o respeito pela pessoa e pela sua dignidade. Cada pessoa, em consciência e com informação adequada, tem a liberdade de decidir as medidas terapêuticas a que quer ou não estar sujeito, sem coação por parte da equipa assistencial ou família. A pessoa tem necessariamente que estar capaz, sendo portadora de faculdades psíquicas inatas. Quando esta não se encontra capaz, as decisões devem ser tomadas junto da família, consoante a vontade expressa do doente, nomeadamente se existirem diretivas antecipadas de vontade.

O princípio da beneficência prevê que os cuidados não prejudiquem a pessoa de que são alvo, maximizando os benefícios e minimizando os danos. Conjugado com o princípio da não-maleficência que resumidamente significa não prejudicar a pessoa. Aqui, suspendem-se medidas supérfluas, lutando contra a obstinação terapêutica, implementando a filosofia da ortotanásia. A prática da ortotanásia respeita a sobrevida da pessoa, sendo eliminados os métodos que mantêm artificialmente a vida, permitindo o seu curso natural. (Paiva, Júnior, Damásio, 2014)

Por último, o princípio da justiça que é transversal em todos os aspetos da vida em sociedade. Todas as pessoas têm direito a cuidados de saúde, nomeadamente aos cuidados paliativos.

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A prática profissional leva a que os profissionais de saúde enfrentem diversos problemas ou dilemas éticos. Isto acontece não por falta de preparação, mas porque no plano ético se levantam algumas questões sobre a opção a escolher. (Deodato, 2006)

Importa agora definir problema ético e distingui-lo de dilema ético. Problema ético é “uma situação que tem solução dentro do respeito pelos princípios éticos, uma vez identificados quais os princípios concretos que ali se encontram em causa.” (idem, p.25) Por sua vez, um dilema ético surge quando “perante uma determinada situação, as soluções que se vislumbram não são boas, por colocarem em causa princípios éticos ou deveres profissionais. Temos duas alternativas de decisão, mas nenhuma é boa, ainda assim, temos de escolher.” (ibidem)

Ao longo do estágio, deparamo-nos com situações que suscitavam problemas éticos e que no conduzia ao levantamento de questões relativa à tomada de decisão. Contudo a comunicação e a interação que existia com a EIHSCP foi relevante para desenvolver habilidades perante estas situações complexas. Deodato (2006, p.26) enfatiza que “muitas situações só se nos afiguram dilemáticas, porque não conhecemos inteiramente os contornos das mesmas. E aqui entra o papel da comunicação na equipa, como forma de garantir pleno conhecimento da totalidade e da complexidade da situação, por parte de quem tem de decidir.” Realça ainda que: “faz parte do nosso processo de tomada de decisão a procura de informação que nos ajude a compreender os factos, por oposição À simples análise dos dados disponíveis naquele momento.” (idem)

“Os profissionais de cuidados paliativos enfrentam dilemas éticos e morais desafiantes, incluindo questões em torno da hidratação e nutrição, sedação, suicídio fisicamente assistido e/ou eutanásia” (Gamondi, Larkin e Payne, 2013) Focando-nos no nosso percurso ao longo do ENP, constatamos que as questões mais frequentes surgem em torno da alimentação/hidratação em fim de vida, face às quais a equipa fazia a sua avaliação ponderando riscos e benefícios, numa abordagem individualizada para decidir medidas terapêuticas como, por exemplo, hidratação por hipodermóclise.

“A respeito das questões éticas, o desafio é considerar a dignidade humana perante a proximidade da morte para além da dimensão físico-biológica e da perspectiva médico- hospitalar, implicando uma nova visão diante da realidade social, em que a singularidade de cada indivíduo, seus aspectos biopsicossociais e sua autonomia sejam valorizados.” (Paiva, Júnior e Damásio, 2014, p. 557)

As atividades desenvolvidas permitiram consolidar e mobilizar conhecimentos inerentes à componente ética da prestação de cuidados paliativos. Foi possível junto da equipa

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adquirir competências nesta área e desenvolvê-las, promovendo uma prática com respeito pela pessoa.