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Trabalho Em Equipa Em Cuidados Paliativos

4. COMUNICAÇÃO EM CUIDADOS PALIATIVOS

4.2. Trabalho Em Equipa Em Cuidados Paliativos

O ser humano encontra ao longo da sua vida inúmeros problemas cada vez mais complexos, cuja solução requer um somatório de ideias, não podendo ser atingida por um só individuo. As instituições não precisam apenas do trabalho individual de cada colaborador, mas precisam acima de tudo do trabalho em equipa, para que sejam atingidos os objetivos organizacionais. O trabalho em equipa torna-se indispensável. O trabalho em equipa é definido como sendo “o trabalho realizado por diversos profissionais de categorias diferentes, para cumprir um objectivo comum, não podendo cada trabalhador por si só realizar o trabalho confiado ao grupo” (Martins, 1996, p.66). O trabalho em equipa não surge automaticamente, nem é uma consequência natural do trabalho entre diversos profissionais. Os principais grupos profissionais presentes nas equipas de saúde (enfermeiros, médicos, assistentes sociais, assistentes operacionais, entre outros) podem ter papéis, funções e competências totalmente diferentes, mas apenas uma equipa que trabalhe de forma interdisciplinar consegue atingir cuidados de excelência e holísticos à pessoa (idem). Segundo Lucas (2010: 10), “para que o trabalho em equipa seja bem sucedido, é fundamental que exista uma adequada comunicação interdisciplinar”. O tema central do sucesso do trabalho em equipa é a comunicação. Uma equipa constitui-se quando os seus elementos colocam as suas competências e capacidades de interesse comum, através de expressão livre e partilha de opiniões, para objetivamente realizar uma determinada tarefa (Bernardo, [et al.], 2010).

Para um bom desempenho da equipa é necessário desenvolver competências, nomeadamente: cooperação, partilha de informação, expressão de expetativas positivas, disposição para aprender com os outros, encorajamento dos outros elementos, construção de espírito de equipa e gestão de conflitos, entre outras. (Guedeville, 2007) O verdadeiro trabalho em equipa requer “respeito pelos outros, compreensão pelo papel desempenhado e a valorização do que cada um é capaz de contribuir para o crescimento

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da equipa” (Martins, 1996, p.66). Assim, a dinâmica da equipa depende da sua dimensão, composição, estrutura e interações entre os membros desta, considerando o estatuto individual, expectativa recíproca de comportamentos e hábitos sociais (Bernardo, [et al.], 2010).

O trabalho em equipa surge, então, como solução para redesenhar os serviços e promover a qualidade dos serviços. Assim, existe um planeamento do serviço, estabelecimento de prioridades, redução da duplicação de trabalho, etc. (Pinho, 2006) Os profissionais que constituem a equipa devem, a par de desenvolver as competências acima enumeradas, saber trabalhar de forma interdisciplinar e não multidisciplinar. Para mudar este paradigma é fundamental uma comunicação eficiente. Vasconcelos (2002), cit. por Guedeville (2007, p.47), relata que “nas práticas multidisciplinares profissionais de diferentes áreas trabalham isoladamente, geralmente sem cooperação e troca de informações entre si; nas práticas interdisciplinares há uma interação participativa, promovendo mudanças estruturais, gerando reciprocidade, enriquecimento mútuo, com uma tendência à horizontalização das relações de poder entre os campos implicados”. É de salientar que cada grupo profissional obedece a uma hierarquia e tem um processo de comunicação próprio. Isto, por vezes, dificulta o relacionamento dos elementos da equipa. (Martins, 1996)

A literatura diz que trabalhar em equipa não é fácil. Para além de os objetivos terem que ser cumpridos, existem aspetos que devem ser harmonizados. Martins (1996) designa-os de fatores facilitadores do trabalho em equipa, sendo eles: respeito e confiança mútuos; objetivos explícitos e distribuição do trabalho; cooperação; boa comunicação e formação. Segundo Bernardo, [et al.], (2010, p.763) “uma equipa multidisciplinar deve funcionar com base numa liderança aceite, com objetivos definidos e previamente traçados.”

Para que o trabalho em equipa (interdisciplinar) tenha bons resultados existem princípios básicos que devem ser assumidos. (idem) São eles:

o Atribuição de responsabilidades e papéis: diferentes profissionais com conhecimentos, linguagens e experiências diferentes, detêm um objetivo comum, claramente definido e compreendido por todos;

o Ambiente informal e relaxado: cada um dos membros dá a sua opinião sem medo de ser criticado e as críticas surgem de modo construtivo; os desacordos não são vistos como inconvenientes, mas como oportunidade de crescimento;

o Liderança: uma figura de líder que deve criar um ambiente propício para o bom funcionamento da equipa;

46 o Dinâmica de grupo

o Linguagem comum

o Reconhecimento das contribuições e êxitos individuais e do grupo: os membros da equipa ao sentirem-se valorizados pessoalmente canalizam a sua motivação para o grupo.

o Iniciativa e capacidade de tomada de decisões

o Motivação: sinal de satisfação com o funcionamento da equipa

Seguindo estes princípios básicos, podemos enumerar as características de uma equipa eficaz. A equipa terá um propósito partilhado, com iniciativa e capacidade de tomada de decisão, onde todos se sentem responsáveis pelas decisões tomadas (empowerment). Existe um ambiente informal e relaxado (relações e comunicação), com um estilo de liderança participativo, com facilidade de adaptação à mudança (flexibilidade). O rendimento é de alta qualidade, cumprindo objetivos marcados (ótimo rendimento), reconhecendo o valor individual de cada membro (reconhecimento), com satisfação de cada elemento (motivação). (idem)

Para que se possa afirmar a importância do trabalho em equipa é pertinente referir as suas vantagens, que segundo Bernardo, [et al.], (2010), são: o apoio mútuo, ultrapassando as resistências individuais; o reconhecimento; a garantia de unidade, continuidade e diferenciação de cuidados; partilha de experiências e apoio na tomada de decisões difíceis e a possibilidade de participar na formação e no aprimorar de competências.

A dificuldade de operacionalizar tudo isto tem, com certeza, efeitos nefastos sobre a equipa, manifestando-se nos próprios elementos, na produtividade do serviço e nos cuidados prestados. Há autores que afirmam que as próprias deficiências no sistema de saúde advêm da falta de coordenação e comunicação entre os membros das equipas de saúde.

As vantagens do trabalho em equipa sobrepõem-se às dificuldades que vão surgindo, como a dificuldade na tomada de decisão, conflitos de funções, competitividade, formalidade, ambiente tenso, conflito de interesses individuais e grupais, entre outras, que podem ser solucionadas com a comunicação. (idem)

Assim, importa perceber a importância e a influência da comunicação no trabalho da equipa de saúde.

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