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ORGANIZAÇÃO E POLÍTICAS EM CUIDADOS PALIATIVOS

Em Portugal, a 6 de junho de 2006, surge o Decreto-Lei nº101/2006 que prevê a implementação de unidades e equipas de cuidados, financeiramente sustentáveis, dirigidos às pessoas em situação de dependência, com base numa tipologia de respostas adequadas, assentes em parcerias públicas, sociais e privadas, visando contribuir para a melhoria do acesso do cidadão com perda de funcionalidade ou em situação de risco de a perder, através da prestação de cuidados técnicos e humanamente adequados. Estas unidades e equipas assentam numa rede de cuidados continuados integrados em interligação com as redes nacionais de saúde e de segurança social. Surge assim a Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados.

A Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados é constituída por unidades e equipas de cuidados continuados de saúde, e ou apoio social, e de cuidados e ações paliativas, com origem nos serviços comunitários de proximidade, abrangendo os hospitais, os centros de saúde, os serviços distritais e locais da segurança social, a rede solidária e as autarquias locais. Encontra-se organizada em dois níveis territoriais: Regional e Local.

Por cuidados continuados integrados, segundo o Decreto-Lei nº101/2006, entende-se o “conjunto de intervenções sequenciais de saúde e ou de apoio social, decorrente de avaliação conjunta, centrado na recuperação global entendida como o processo terapêutico e de apoio social, activo e contínuo, que visa promover a autonomia melhorando a funcionalidade da pessoa em situação de dependência, através da sua reabilitação, readaptação e reinserção familiar e social.” (p.3857) Assentam assim, nos paradigmas da recuperação global e manutenção. São entendidos como um processo ativo e contínuo, que se prolonga para além do necessário; para tratamento da fase aguda da doença ou intervenção preventiva, compreendendo a reabilitação, a readaptação e reintegração social, a provisão e manutenção do conforto e qualidade de vida, mesmo em situações irrecuperáveis.

As equipas de coordenação regional articulam com a coordenação aos níveis nacional e local e asseguram o planeamento, a gestão, o controlo e a avaliação da Rede, sendo que uma das suas competências passa pela promoção de formação específica e permanente aos diversos profissionais envolvidos na prestação de cuidados continuados integrados. Já a nível local, compete às equipas coordenadoras a identificação de necessidades e consequentemente a apresentação de propostas à coordenação regional para a promoção de ações no sentido de que estas sejam colmatadas.

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Do ponto de vista organizacional, segundo Bernardo et. al (2016), os cuidados paliativos devem estar enquadrados e respeitar alguns princípios:

 Devem estar integrados no Sistema Nacional de Saúde (SNS);

 Devem ser desenvolvidos diferentes níveis de prestação de cuidados: básicos, especializados e complexos;

 Em todos os recursos de saúde devem ser prestados cuidados paliativos básicos;

 Devem existir serviços especializados em todos os níveis do SNS;

 Os profissionais devem possuir capacidades específicas;

 Devem ser desenvolvidos sistema de registos informáticos, adaptados à multidimensionalidade do fenómeno;

 Os cuidados paliativos têm de ser flexíveis, dinâmicos, de acessibilidade fácil e com clara responsabilização;

 Desde o domicílio ao hospital, esta organização de cuidados requer um pensamento holístico e um sistema flexível;

 As características demográficas da população devem ser tidas em conta para o planeamento;

 Os princípios de acessibilidade deverão ser aplicáveis;

 A organização deve ser sensível a questões culturais e organizacionais de saúde de cada região.

Bernardo et al (2016) apresenta quatro níveis de diferenciação, de forma a ser mais clarificadora e abrangente:

 Ações Paliativas – são cuidados prestados em qualquer serviço não especializado nestes cuidados, que seguem os princípios e a filosofia dos cuidados paliativos, no sentido de aliviar o sofrimento devido à situação clínica da pessoa doente;

 Cuidados paliativos gerais – são os cuidados prestados por profissionais com competências e conhecimentos em cuidados paliativos, mas que não fazem desta área o principal foco da sua atividade profissional;

 Cuidados paliativos especializados – cuidados prestados em serviços ou equipas, cuja atividade fundamental é a prestação de cuidados paliativos; requerem um nível significativos de diferenciação dos profissionais e estão normalmente vocacionados para doentes complexos;

 Centros de excelência – disponibilizam cuidados paliativos num largo espetro de tipologias e facilitam o desenvolvimento da investigação.

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Os serviços de cuidados paliativos desenvolveram-se por todo o mundo, procurando dar resposta às necessidades das pessoas doentes. E uma vez que pretendem colmatar inclusive os seus desejos e preferências, relativamente ao local onde gostariam que os cuidados lhes sejam prestados e onde preferem morrer, são necessárias diferentes tipologias de recursos especializados.

Organizados sob a forma de uma rede de cuidados paliativos, estas tipologias podem ser unidades de cuidados paliativos, equipa hospitalar de suporte em cuidados paliativos, equipa comunitária de suporte em cuidados paliativos e centros de dia. Segundo ainda os mesmos autores:

 Unidade de Cuidados Paliativos – presta cuidados a doentes internados; é um serviço destinado a tratar e cuidar do doente paliativo, podendo situar-se num hospital de agudos, não-agudos ou completamente autónoma de uma estrutura hospitalar. Estima-se a necessidade desta tipologia em 80-100 camas por milhão de habitantes. Cada unidade deverá ter preferencialmente 8-12 camas.

 Equipa Hospitalar de Suporte em Cuidados Paliativos – disponibiliza aconselhamento em cuidados paliativos e dá apoio a toda a estrutura hospitalar. Disponibiliza formação formal e informal e interliga-se com outros serviços dentro e fora do hospital. Estima-se a necessidade de uma equipa por cada hospital, no mínimo uma por cada hospital com 250 camas.

 Equipa Comunitária de Suporte em Cuidados Paliativos – presta cuidados a doentes que deles necessitam, no domicílio. Disponibilizam aconselhamento a clínicos gerais, médicos de medicina geral e familiar e enfermeiros que prestam cuidados no domicílio. Estima-se a necessidade de uma equipa por 100mil habitantes, com acessibilidade 24h/dia.

 Centros de Dia – espaços nos hospitais, nas unidades de cuidados paliativos ou na comunidade, concebidos para promover atividades terapêuticas e recreativas a doentes paliativos. Permitem supervisão clínica e alívio da sobrecarga dos familiares e cuidadores. Estima-se a necessidade de um centro de dia por cada 150mil habitantes.

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