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“Estagiários, Pesquisadores ou Educadores de Professores Não São Bem- Vindos”. (TELLES, 2002).

Certamente que iniciar o subtítulo de uma dissertação tendo a frase acima como epígrafe é algo bastante desafiador e irônico ao mesmo tempo, diante da nossa posição enquanto pesquisadores, porém, é o que muito se tem visto ultimamente entre escolas e universidades.

Esse fato se dá a partir do momento em que a escola sente que a universidade bate à sua porta somente para a realização dos estágios de alunos da graduação e para o desenvolvimento de alguma pesquisa que envolva o âmbito escolar (TELLES, 2002). Ou seja, a finalidade é somente a coleta dos dados, ficando a escola, muitas vezes, sem nenhum retorno, mínimo que seja, para que possa repensar seus problemas e melhorar aquilo que apresenta de favorável.

Esse tipo de problema faz com que o abismo entre a escola e a universidade se torne ainda mais nítido e as suas relações ainda mais distanciadas, desfavorecendo, nesse sentido, a construção e a troca de conhecimentos entre ambas.

Para esse tipo de pesquisa, em que não há uma preocupação com a escola, somente com os dados para o desenvolvimento da pesquisa, Telles (2002) nos alerta que:

A bamba ponte ‘escolas e universidade’ deve ser implodida, as portas das escolas e das salas de aula devem, sim, estar trancadas a sete chaves e, se possível, por detrás de barricadas. O parco conhecimento produzido por tais investigações pouco tem a contribuir para o desenvolvimento do conhecimento e prática do professor e da escola e esses últimos devem, então, continuar a viver suas ‘histórias secretas’. (TELLES, 2002, p. 94)

Nitidamente, então, podemos observar um conflito sendo estabelecido, ao invés, de contribuições mútuas de modo que ambas as partes sejam beneficiadas.

Nesse sentido, fazer pesquisa sobre/na a escola, atualmente, torna-se um desafio tanto para o pesquisador, como para quem é participante da

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pesquisa, pois alguns equívocos já estão instaurados. Dessa forma, a questão da ética torna-se de fundamental importância para que a pesquisa se torne emancipadora e contribua efetivamente para a produção do conhecimento.

Primeiramente, entendamos o significado atribuído à palavra ética pelo dicionário:

1 parte da filosofia responsável pela investigação dos princípios que

motivam, distorcem, disciplinam ou orientam o comportamento humano, refletindo esp. a respeito da essência das normas, valores, prescrições e exortações presentes em qualquer realidade social.

2 Derivação: por extensão de sentido.

conjunto de regras e preceitos de ordem valorativa e moral de um indivíduo, de um grupo social ou de uma sociedade. (HOUAISS, 2009)

Sendo assim, envolve a necessidade de uma conduta suscetivelmente qualificada e aceita, a fim de não ferir os princípios dos envolvidos em pesquisas.

Como estamos trabalhando com sujeitos que se constituem por meio da língua(gem) devemos nos atentar, como nos diz Rajagopalan (2003), para o fato de que a língua(gem) se constitui como um importante palco de intervenções políticas, de modo que nela lutas são constantemente travadas. Portanto, ao trabalhar com este foco, precisamos ter consciência de que a preferência por determinado objeto de estudos já acarreta uma decisão política que envolve escolha, e como toda escolha, apresenta um viés político.

Diante disso, precisamos desenvolver nossa consciência crítica, ou seja, tomar consciência de que “trabalhar com a linguagem é necessariamente agir politicamente, com toda a responsabilidade ética que isso acarreta”. (RAJAGOPALAN, 2003, p.125).

Quando o assunto é pesquisa qualitativa, como neste caso, a atenção precisa ser ainda maior, pois é de natureza interpretativa e a questão da subjetividade é bastante forte, exigindo, assim, uma interpretação apurada e responsável dos dados obtidos, com o intuito de que os significados possam ser compreendidos adequadamente e equívocos possam ser evitados.

Além disso, “pessoas não são objetos e, portanto, não devem ser tratadas como tal; não devem ser expostas indevidamente. Devem sentir-se seguras quanto a garantias de preservação da dignidade humana” (CELANI,

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2005, p. 107). Isso envolve, inclusive, o retorno da pesquisa aos participantes, retorno “em alguma forma acessível a eles, dependendo dos diferentes contextos e situações” (CELANI, 2005, p. 112), a fim de que possa haver uma relação de parceria entre pesquisador e participantes, e o conhecimento entre a escola e a universidade realmente se efetive.

Pensando, então, na importância de manter a integridade dos participantes e na questão da ética na pesquisa, este trabalho substituirá o nome original das integrantes da pesquisa durante as entrevistas por abreviações, por exemplo: Professora ou Participante 1 = P1, a fim de que não haja nenhum tipo de exposição destas.

Destacamos também que as professoras foram informadas a respeito das questões referentes à ética quando tiveram contato com o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE – ANEXO A). Outro ponto a ser destacado diz respeito às entrevistas respondidas das participantes, as quais seguem nos Anexos E e G. Optamos por digitá-las, pois as participantes solicitaram que se houvesse erros ortográficos estes fossem corrigidos.

Com relação ao nome dos alunos presentes nas produções escritas, estes terão seus nomes suprimidos e substituídos também por abreviações, por exemplo, Aluno 1 = A1.

Vale ressaltar, nesse sentido, que nossa intenção não é gerar constrangimentos aos participantes, mas, a partir dos dados obtidos, realizar uma discussão séria que busque refletir efetivamente sobre os aspectos que têm afetado diretamente o sistema educacional.

Importante deixar claro, também, que este projeto de pesquisa passou pelo Comitê de Ética em Pesquisa (ANEXO B) recebendo parecer favorável para a sua execução.

Como a intenção é de que a pesquisa não tenha um fim em si mesma, como destacado, salientamos sobre a relevância de se dar um retorno aos participantes da pesquisa. Dessa forma, a partir das considerações elencadas ao fim dessa fase do trabalho elucidamos que haverá o retorno da pesquisadora ao ambiente pesquisado de modo que as possíveis contribuições e reflexões possam ser apresentadas e discutidas com os envolvidos que estiverem dispostos.

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O objetivo com este retorno é fortalecer o vínculo entre a escola, a universidade e os pesquisadores, para que assim caminhos mais emancipatórios possam ser trilhados no trabalho em conjunto, com o propósito de que a práxis seja não só repensada, mas também reconstruída. Correa (2014, p. 20) sugere, portanto, uma mudança na práxis docente, com a finalidade de que o conhecimento teórico e o prático se encadeiem, adequando, então, “essa práxis às diferentes situações sociolinguísticas complexas em que ocorrem os usos linguísticos e os processos de ensino e aprendizagem de língua”.