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PARTE II – O ESTUDO

4.9. A ética

Em investigações com metodologia qualitativa, as questões éticas são cuidadosamente discutidas e analisadas devido geralmente à proximidade entre pesquisador e sujeitos pesquisados. Apoiamo-nos particularmente, no cuidado às possíveis consequências para a comunidade escolar foco do estudo, pela presença e interação constante do pesquisador com o grupo. Embora de forma consentida, pode haver estranhamento e/ou envolvimento com os participantes, que de alguma forma pode alterar o tempo e a forma de “estada” do pesquisador podendo produzir tensões e rupturas entre os participantes. Temos que estar atentos a princípios éticos que nos permitem uma boa condução do processo investigativo. O pesquisador não deve

esquecer que a relação que se estabelece entre o observador e o observado é uma relação social e política (ZALUAR, 1986).

Bogdan e Biklen (1994, p.77/78) nos esclarecem que:

Pretendemos explicitar alguns princípios gerais que orientam a investigação da maioria dos investigadores qualitativos. os princípios éticos seguintes podem ser irrelevantes para algumas formas de investigação aplicada, particularmente naquilo que designamos por investigação-acção.

1. As identidades dos sujeitos devem ser protegidas, para que a informação que o investigador recolhe não possa causar-lhes qualquer tipo de transtorno ou prejuízo. O anonimato deve contemplar não só o material escrito, mas também com relatos verbais da informação recolhida durante as observações. O investigador não deve revelar a terceiros, informações sobre os seus sujeitos e deve ter particular cuidado para que a informação que partilha no local da investigação não venha ser utilizada de forma política ou pessoal. 2. Os sujeitos devem ser tratados respeitosamente e de modo a obter a sua cooperação na investigação. Ainda que alguns autores defendam o uso da investigação dissimulada, verifica-se consenso relativo a que na maioria das circunstâncias os sujeitos devem ser informados sobre os objectivos da investigação e o seu consentimento obtido. Os investigadores não devem mentir aos sujeitos ao registar conversas ou imagens com gravadores escondidos.

3. Ao negociar a autorização para efectuar um estudo, o investigador deve ser claro e explícito com todos os intervenientes relativamente aos termos do acordo e deve respeitá-lo até à conclusão do estudo. Se aceitar fazer algo como moeda de troca pela autorização, deve manter a sua palavra. Se concordar em não publicar os seus resultados, deve igualmente manter a palavra dada. Dado que os investigadores levam a sério as promessas que fazem, deve-se ser realista nas negociações.

4. Seja autêntico quando escrever os resultados. Ainda que as conclusões a que chega possam, por razões ideológicas, não lhe agradar, e se possam verificar pressões por parte de terceiros para apresentar alguns resultados que os dados não contemplam, a característica mais importante de um investigador deve ser a sua devoção e fidelidade aos dados que obtém. Confeccionar ou distorcer dado constitui o pecado mortal de um cientista. Apesar de termos apresentado quatro princípios éticos, tal como se passa com todas as regras, existem excepções e problemas que levam a que, nalguns casos, estas possam parecer inadequadas ou de difícil implementação, ou mesmo impossíveis de pôr em prática. Por vezes, quando se efectua investigação, é difícil ou impossível proteger a identidade dos sujeitos. Além do mais, os sujeitos envolvidos podem afirmar que lhes é indiferente à divulgação das suas identidades. Nestas circunstâncias, a regra do anonimato pode ser ignorada. Algumas situações apresentam problemas delicados, porque colocam o investigador numa posição em que as suas obrigações como investigador podem colidir com as suas obrigações como cidadão. Pode acontecer-lhe, por exemplo, deparar-se com corrupção ou uso indevido de fundos públicos, ao estudar determinada escola.

Nosso estudo se pautou por princípios éticos com uma constante preocupação e um cuidado quanto ao anonimato, a privacidade e a integridade dos sujeitos participantes. A questão da confidencialidade foi também ponderada em todo o tempo de produção do estudo e tendo sido objeto de diálogo e consentimento informado com os mesmos na fase que antecedeu a coleta dos dados.

Para muitos investigadores qualitativos as questões éticas não se restringem ao modo de comportamento durante o trabalho de campo. A ética é mais entendida em termos de uma obrigação duradoira para com as pessoas com as quais se contactou no decurso de toda uma vida como investigador qualitativo (BOGDAN, BIKLEN, 1994, p.78)

Para Iphofen (2015, p.13), conforme relatório da European Commission, DG Research and Innovation, uma revisão ética em todo o percurso metodológico de uma pesquisa etnográfica é importante porque,

Above all ethical review must recognize that ethical decision making is not a static, one-off exercise. Only the field researcher truly confronts the unanticipated aspects of ethical research as it occurs in a dynamic, spontaneous manner. Ethnography in particular is all about building relationships in the field with people and so it is hard to anticipate what ethical issues might arise at the commencement of a study – they can crop up continually and surprisingly throughout the project.

Optamos por uma abordagem etnográfica, portanto tivemos o compromisso de esclarecer para todos da comunidade escolar, qual nossa real intenção, o que verdadeiramente nós queríamos estando no local objeto do estudo, o porquê do estudo, a quem se destinaria o estudo e qual o interesse em conhecê-los mais de perto. Ficamos com uma incerteza no início sobre como eles reagiriam com as informações repassadas por nós, mas com o tempo e a convivência, a aceitação foi natural e progressiva.

Sobre ética em etnografia, inspirados em Genzuk (2003, p.8) temos a considerar que,

Since ethnographic research takes place among real human beings, there are a number of special ethical concerns to be aware of before beginning. In a nutshell, researchers must make their research goals clear to the members of the community where they undertake their research and gain the informed consent of their consultants to the research beforehand. It is also important to learn whether the group would prefer to be named in the written report of the research or given a pseudonym and to offer the results of the research if

informants would like to read it. Most of all, researchers must be sure that the research does not harm or exploit those among whom the research is done.

Por todo o período que permanecemos no contexto do estudo, nos foi permitido construir uma relação amistosa com o grupo de participantes. Para tanto realizamos as incursões em campo o mais natural possível com o intuito de não interferir, alterar ou comprometer o cotidiano e as ações do grupo. Obedecemos ao fiel cumprimento do que foi acordado coletivamente quando da explicação sobre os objetivos da pesquisa e através de uma postura de tranquilidade e empatia e de constante negociação, tivemos a confiança dos sujeitos quanto à partilha de sentimentos, pontos de vista, pensamentos, pois tratamos a todos de forma séria e respeitosa considerando sempre a confidencialidade sobre as informações tratadas.

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