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CAPÍTULO II – ACORDOS COMERCIAIS: UMA PROPOSTA DE MODELO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO

2.3. MODELO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO COMERCIAL: UMA PROPOSTA

2.3.1. O Índice de Sensibilidade Setorial

O Índice de Sensibilidade Setorial (ISS) traz uma série de informações que ajudam a revelar o volume de comércio que deve ser criado, setor a setor, e a fragilidade e oportunidades identificadas.

O ISS calcula, a partir de etapas, valores capazes de orientar os negociadores do país em suas decisões sobre concessões e exigências.

Na primeira etapa identifica-se todas os códigos da Nomenclatura Comum do Mercosul - NCMs negociadas pelo Brasil com o país ou bloco econômico com o qual se negocia uma abertura comercial. De posse dessas informações, realiza-se a contagem das importações e exportações realizadas em cada uma das NCMs identificadas. Também é nessa primeira etapa que são identificadas as empresas brasileiras que compram do país ou bloco em negociação e qual o volume de suas compras.

Na segunda etapa, as compras e vendas feitas pelo Brasil são agrupadas por setor produtivo, utilizando um ‘tradutor` NCM e os códigos CNAE a 3 dígitos. Cabe chamar

73 Com a posse do Governo Bolsonaro o MTE deixou de ser um Ministério, sendo incorporado ao

Mistério da Economia. Neste Ministério as atribuições relacionados as questões do trabalho estão vinculadas a Secretaria Especial de Previdência e Trabalho. Para maiores detalhes ver: decreto nº 9.679, de 2 de janeiro de 2019. Neste trabalho, como as informações foram coletadas na época da existência do MTE, optou-se em manter a sigla nas citações subsequentes.

a atenção mais uma vez que os setores utilizados são os disponíveis por essa classificação, totalizando mais de 150 setores, e não os setores agregados de uma matriz insumo- produto.

Também, nesta segunda etapa, são agrupadas as importações realizadas pelas diferentes empresas que atuam no território nacional, mas desta vez a consolidação é feita pelo CNAE do Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas -CNPJ importador.

Surgem, assim, três informações, no que se refere ao fluxo comercial:

a. estimativa das exportações por CNAE do setor produtivo;

b. estimativa das importações por CNAE do setor produtivo;

e c. estimativa das importações por CNAE do importador.

A terceira etapa depende da extração de informações a partir das informações da Pesquisa Industrial Anual do IBGE, das tarifas aplicadas, provenientes do MDIC, United

Nations Conference on Trade and Development - Unctad e da Organização Mundial do

Comércio - OMC, e de informações de elasticidade preço-importação, provenientes do Banco Mundial, para estimar a criação de comércio.

No caso do IBGE, os dados obtidos são referentes à média do Custo de Operações Industriais - COI e do Faturamento, todos por CNAE a 3 dígitos.

Combinando os dados de fluxo comercial e as informações de custo e faturamento das empresas, foram construídas três variáveis, a saber: i) participação das

importações sobre o custo; ii) participação das exportações no faturamento; e iii) participação das importações no faturamento.

A variável Participação das Importações sobre o Custo é umas das mais importantes propostas no modelo. A sua construção é a partir das informações de

importações de insumos, matérias primas e componentes74 realizadas pelas diversas

empresas dos setores produtivos brasileiro e agregadas pelo código CNAE a 3 dígitos informadas por cada uma na RAIS/MTE. Após a agregação dos valores importados por setor, é feita a divisão pelo Custo de Operações Industriais - COI proveniente da PIA/IBGE. A hipótese é que quanto maior essa relação, maior a chance da empresa se beneficiar com uma possível abertura comercial que tenha como resultado a redução das tarifas de importação dos insumos, matérias-primas e componentes importados pela empresa provenientes do país ou bloco econômico na qual poderá ser feito o acordo comercial.

A variável Participação das Exportações no Faturamento tem a função de captar o potencial ganho de ampliação das vendas externas decorrente de um possível acordo comercial. São coletadas informações de exportação por produto e, logo em seguida, por meio de um tradutor NCM x CNAE a 3 dígitos, as estatísticas são agrupadas por setor. Após o agrupamento, as informações por setor são divididas pelo faturamento correspondente obtido na PIA/IBGE. A hipótese nesta variável é que quanto maior a relação exportações sobre o faturamento, maior a chance de as empresas do setor serem beneficiadas por um possível acordo comercial com um país ou bloco econômico.

É importante destacar uma diferença da variável exportação sobre o faturamento em relação a variável da importação sobre o custo. Enquanto na primeira variável a agregação é feita de acordo com o tradutor entre NCM (produto) x CNAE, na segunda variável a agregação é feita de acordo com a CNAE empresa, fornecida pelos dados da RAIS. O fato de não se usar a metodologia da agregação CNAE empresa na variável exportação sobre o faturamento se explica já que os produtos são fabricados e exportados quase na sua totalidade por empresas localizados no país, fazendo com que não haja necessidade de realizar o mesmo procedimento.

Por sua vez, a variável Participação das Importações no Faturamento tem o objetivo de estimar o impacto no aumento da concorrência, decorrente do aumento das importações de produtos associados a cada setor analisado. Este indicador é construído também considerando o tradutor NCM (produto) x CNAE. Portanto, supõe-se que em

74 Classification by Broad Economic Categories – BEC, de acordo a divisão de estatísticas das Nações

setores onde a relação importações sobre faturamento seja elevada, há uma maior chance de que ocorra um aumento da concorrência, prejudicando a curto-prazo, os produtos nacionais equivalentes, com a desgravação das tarifas de importação.

O aumento da concorrência pode incentivar as empresas nacionais a investir mais e produzir produtos de maior qualidade e a um custo menor. Também, pode haver um aumento do bem-estar do consumidor decorrente de preços menores praticados em consequência da redução das tarifas de importação. Porém cabe considerar que, se a redução das tarifas for realizada de forma abrupta, pode haver desequilíbrios microeconômicos que pode ter consequências irreversíveis, em termos de perda de mercado, para as empresas de setores produtivos mais fragilizados ou até mesmo em setores estratégicos, que são vitais para a promoção de um crescimento econômico sustentável como, por exemplo, o setor de bens capital. Por isso, é importante achar um equilíbrio entre a abertura comercial necessária para o aumento da competitividade e o desenvolvimento econômico dos setores produtivos.

Portanto, no caso da variável Participação das Importações no Faturamento, pensando na fragilidade setorial a curto-prazo e suas possíveis consequências, será adotada a hipótese de quanto maior relação setorial importação sobre o faturamento, mais frágil será o setor, dado uma redução das tarifas de importação provenientes de um possível acordo comercial.

Após a explicação dessas três variáveis, é preciso mencionar uma característica em comum a todas, que é o fato de utilizarem informações da Pesquisa Industrial Anual. Assim, a princípio, seria apenas possível obter informações dessas variáveis para os setores da indústria extrativa e da indústria de transformação. Porém, para contornar esse problema, e para não perder dados importantes de outros setores da economia brasileira, optou-se em utilizar a média dos indicadores relacionados ao custo de operações industriais, quanto também ao faturamento, para os setores produtivos que não tem essa informação, como exemplo os agrícolas, mantendo pelo menos a neutralidade em relação aos demais setores.

Há ainda mais duas variáveis para serem explicadas, que é a Criação de

utilizam as informações do fluxo de comércio, provenientes da Secex/MDIC, das elasticidades preço-importação oriundas do Banco Mundial, e das tarifas de importação de importação vigentes nos países e/ou blocos econômicos participantes das negociações de um determinado acordo comercial.

No caso das elasticidades-preço das importações, foram obtidas as informações a 6 dígitos a nível de produto do Sistema Harmonizado (SH) de classificação. Cabe considerar que os 6 dígitos iniciais do SH são equivalentes aos 6 dígitos da classificação NCM utilizada pelo Brasil. O Banco Mundial disponibilizada as diversas elasticidades-preço das importações por produto para praticamente todos os países que participam do comércio mundial.

A criação de comércio, com a posse das elasticidades-preço das importações disponíveis, pode ser separada tanto para as exportações, considerando o mercado alvo, quanto para as importações, o que permite uma melhor compreensão das potencialidades de um possível acordo comercial nos setores analisados.

Cabe considerar, que no modelo proposto, optou-se em trabalhar com NCM a 8 dígitos, já que permite um maior detalhamento, por subitens, de acordo a estrutura de classificação. Desta forma, foi necessário replicar as elasticidades-preço das importações a 6 dígitos (itens) para os respectivos códigos a 8 dígitos (subitens).

Por sua vez, utilizou-se das informações sobre tarifas de importação aplicada vigentes tanto no Brasil quanto na Europa, de acordo a Organização Mundial de Comércio - OMC75.

Para estimar a criação de comércio, é necessário inicialmente que estas tarifas sejam ad-valorem. Porém, há situações onde as tarifas são definidas por quotas ou mecanismo que não seja ad-valorem. Nessas situações, se optou em utilizar a metodologia

75 Para maiores detalhes ver: https://www.wto.org/english/tratop_E/tariffs_e/tariffs_e.htm ,

desenvolvida pela United Nations Conference on Trade and Development – Unctad para se estimar tarifas ad-valorem equivalentes76.

Desse modo, diante das considerações apresentadas, a criação de comércio estimada, tanto em termos de novas exportações do Brasil, quanto das novas importações que o país pode realizar quando o acordo comercial estiver em vigor, segue a seguinte fórmula:

𝐶𝐶𝑖 = 𝑀𝑖. 𝜀𝑀𝑖.

∆𝑡𝑖

(1 + 𝑡𝑖) onde,

CCi é a criação de comércio do produto i; Mi é a importação do produto i;

Mi é a elasticidade preço da importação do produto i; ti é a tarifa ad valorem ou equivalente sobre o produto i;

ti é a variação da tarifa ad valorem ou equivalente sobre o

produto i.

É com este conjunto de informações, de todas as fases mencionadas acima, que são confeccionadas as variáveis que fornecem os números que sustentam a análise sobre os impactos da abertura comercial, no que concerne o Índice de Sensibilidade Setorial -

ISS, que podem ser resumidas na figura 2.1 abaixo. As etapas 1 e 2 representam a fase de

preparação da base de dados, que envolve coleta, identificação de empresas exportadoras e importadoras, identificação dos produtos comercializados e agrupamentos das informações por setores por meio do tradutor NCM x CNAE ou por meio CNAE definida pela própria empresa.

76 Ver o seguinte link:

https://wits.worldbank.org/wits/wits/witshelp/content/data_retrieval/p/intro/c2.ad_valorem_eq uivalents.htm , acessado em agosto de 2018.

Ver também Stawowy, W. (2001): Calculation of ad valorem Equivalents Of Non-Ad Valorem Tariffs

- Methodology Notes, disponível em: http://wits.worldbank.org/wits/docs/avemeth.doc , acessado em agosto de 2018.

Figura 2.2 – Fases para construção do ISS

Fonte: elaboração própria, a partir dos trabalhos da equipe da Coordenação de Inteligência e Avaliação da ABDI.

Após a explicação de todas as variáveis, é preciso agora detalhar como é realizada a composição do ISS, que representa a última fase, a de número 4, e que tem como objetivo criar um indicador, que varia entre 0 e 1, sendo que os valores mais baixos indicam uma maior fragilidade à abertura comercial com determinado país ou bloco econômico.

Como destacado anteriormente, nesta primeira etapa do modelo, temos um total de 5 (cinco) variáveis. Três dessas variáveis são percentuais de participação em relação ao custo ou faturamento. Duas variáveis, criação de comércio de exportação e importação, são valores em dólares. Assim, dessa forma, é necessário adotar uma metodologia para que essas variáveis sejam comparáveis e estejam na mesma escala.

Participação das importações no faturamento

A metodologia a ser dotada segue a padronização realizada no cálculo do Índice de Desenvolvimento Humano – IDH do Programa das Nações Unidas – PNUD da Organização das Nações Unidas – ONU. Basicamente é criado um índice, entre 0 e 1, para cada variável proposta no modelo, da seguinte forma:

𝑋𝑖,𝑝 =

𝑋𝑖 − 𝑀𝐼𝑁(𝑋𝑖) 𝑀𝐴𝑋(𝑋𝑖) − 𝑀𝐼𝑁(𝑋𝐼)

onde,

𝑿𝒊,𝒑 é o indicador i da variável p;

𝑴𝑰𝑵(𝑿𝒊)é o valor mínimo da série observada;

𝑴𝑨𝑿(𝑿𝒊)é o valor máximo da série observada.

Para as variáveis relacionadas a redução do custo das importações e a participação das exportações, quanto maior o valor observado, maior a chance de o setor se beneficiado por uma possível abertura comercial.

Por sua vez, para a variável Participação das Importações no Faturamento, além de realizar o mesmo procedimento descrito anteriormente, é necessário também fazer uma inversão do indicador, já que quanto maior o valor observado (maior participação das importações), maior a chance de o setor se prejudicado, pelo menos a curto-prazo, com uma possível abertura comercial. Assim, é adotado o seguinte procedimento:

𝑋𝑖,𝑝2= 1 − 𝑋𝑖,𝑝

Já, para a variável relacionada a criação de exportação o indicador criado segue a metodologia descrita inicialmente. De outra maneira, a variável criação de importação segue o complemento da metodologia sobre a inversão do indicador.

Após a construção do indicador, é necessário agora agrega-los em um índice final, que é o Índice de Sensibilidade Setorial. A forma de agregação é feita atribuindo peso igual para todas as variáveis, 20% para cada. Porém, pode-se adotar pesos diferentes, a depender da importância e sensibilidade de cada variável na negociação de determinado acordo comercial. A figura 3.2 abaixo traz um resumo da forma de cálculo do

ISS, detalhando o conjunto das 5 variáveis propostas assim como a consolidação destas

em único Índice de Sensibilidade Setorial.

Figura 2.3 – Índice de Sensibilidade Setorial

Fonte: elaboração própria, a partir dos trabalhos da equipe da Coordenação de Inteligência e Avaliação da ABDI.

A seguir será apresentado a segunda etapa, que está relacionada com a definição de um ordenamento por produto, de acordo a NCM.