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3. POLÍTICAS PÚBLICAS E O BRASIL NA MODERNIZAÇÃO DO SISTEMA PORTUÁRIO

3.4. POLITICAS PUBLICAS APLICADAS AO SISTEMA PORTUÁRIO NO BRASIL

3.5.3. Órgão Gestor de Mão de Obra (OGMO)

O trabalho portuário avulso (TPA) é considerado um dos elementos cruciais para o aumento da produtividade e competitividade dos portos . Até a instituição do marco regulador, apresentava extrema ineficiência e alto custo operacional, e seu controle, sob a guarda e direção dos sindicatos dos trabalhadores e com proteção legal ao trabalhador, estabeleceu uma distorção de extrema complexidade na relação capital-trabalho. O poder sindical dos trabalhadores em determinar quantitativos de equipes por turnos, contratações, demissões era imposto aos operadores, sem considerar as necessidades reais de operação do sistema portuário (GOLDBERG, 2009).

Os operadores portuários, sem condições ou meios de interagir com os sindicatos, viam-se obrigados a aceitar a mão de obra e as condições de trabalho estabelecidas, e repassavam os custos operacionais, afetando a economia de escala, encarecendo a complexa estrutura de preços do comércio internacional (SEMINÁRIO INTERNACIONAL..., 1999).

Cabe observar que o Banco Mundial também enfatiza que o trabalho está entre os principais problemas portuários, que se referem às falhas crônicas nos serviços e à falta de qualidade na prestação dos serviços oferecidos, porém, o mesmo ressalta que uma Lei dos Portos não é uma reforma trabalhista (WORLD BANK 2007 – tradução nossa).

Para estabelecer o equilíbrio de forças nas relações de trabalho portuário, e proporcionar economia de escala aos operadores portuários, a Lei 8.630/93 trouxe, em seu artigo 18, a criação do Órgão Gestor de Mão

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A Lei 8.630/93 concede à administração portuária uma série de atribuições que não são delegáveis à iniciativa privada, em razão de serem eminentemente de responsabilidade pública, a exemplo de: “fazer cumprir as leis e regulamentos do serviço e organizar e regulamentar a guarda portuária” (LACERDA, 2005, p.307).

de Obra (Ogmo). Pelo marco regulatório, os operadores portuários (OP) deveriam constituir um Ogmo em cada porto organizado (PO), com a principal função de administrar o fornecimento da mão de obra do trabalho portuário (TP) e do trabalho portuário avulso (TPA) (FRANCO, 2010; MARCHETI; PASTORI, 2006).

A incumbência do Ogmo não se restringiu apenas à administração da mão de obra, mas também envolveu (BRASIL, 1993):

 A manutenção exclusiva do cadastro do trabalhador portuário (TP) e o registro do trabalhador portuário avulso (TPA);

 Promover treinamento e a habilitação profissional do trabalhador, inscrevendo-o no cadastro;

 Selecionar e registrar o trabalhador portuário avulso;

 Estabelecer o número de vagas, a forma e a periodicidade para acesso ao registro do TPA;

 Expedir os documentos de identificação do TP e arrecadar e repassar, aos respectivos beneficiários, os valores devidos pelos OP, relativos à remuneração do TPA e aos correspondentes encargos fiscais, sociais e previdenciários.

Os parágrafos 1º ao 3º do artigo 18º, da Lei 8.630/93 estabelecem que o Ogmo não é responsável por prejuízos que o TPA possa causar ao tomador de seus serviços; mas estabeleceu que o Ogmo tem responsabilidade solidária quanto à remuneração do TPA, ou seja, caso o OP falhe em remunerar o TPA, cabe ao OGMO fazê-lo, podendo assim, exigir garantia prévia dos respectivos pagamentos para o OP (FRANCO, 2010). De acordo com Borges (2006 apud SOUZA JR, 2008, p.50), “o Ogmo quebrou a rigidez dos contratos trabalhistas e abriu caminho para a negociação de tarifas mais baratas, de forma independente, em cada porto”. Já, de acordo com Goebel (2002, p. 308), o Ogmo:

Substituiu o sindicato dos trabalhadores no fornecimento da mão- de-obra aos operadores portuários e no fornecimento e escalação de trabalhadores avulsos para as operações no porto (...) sendo conveniente que os Ogmos tenham uma estrutura enxuta e uma administração profissional, sem qualquer vínculo com quem opera no porto.

A gestão tornou-se centralizada no Ogmo, que assumiu características de um órgão de finalidade pública, sem fins lucrativos, substituindo os sindicatos dos trabalhadores no fornecimento da mão de obra avulsa necessária às operações portuárias.

A alteração da organização do trabalho portuário imprimiu a mudança de mentalidade sobre a relação bipartidária que envolvia a Companhia Docas e sindicatos dos trabalhadores existentes até então (PAIXÃO; FLEURY, 2008).

Desta forma, tira-se dos sindicatos dos trabalhadores avulsos o poder de gerir a mão de obra, atribuindo-lhes, somente, suas prerrogativas constitucionais como representantes de categorias profissionais (ALESSI, 2000).

O Ogmo tem uma estrutura organizacional composta por uma diretoria executiva com integrantes indicados pelo Bloco dos Operadores Portuário ao CAP. Pode ainda ter um Trabalhador Portuário Avulso (TPA) indicado ao cargo de diretor. Além da diretoria executiva, existe um conselho de supervisão, formado por um representante dos operadores, um representante dos trabalhadores e um representante dos usuários do porto, que tem a incumbência de fiscalizar a gestão dos diretores, ressaltando, com isso, sua característica partilhada de gestão (GOEBEL, 2002; PAIXÃO; FLEURY, 2008).

Akabane (2008) destaca que além da gestão, do fornecimento, escalação e da regulação do uso do trabalhador portuário, o Ogmo assumiu a responsabilidade pela qualificação do trabalho portuário, inclusive, no que se refere à transição de especialista de função para multifuncional. As responsabilidades do OGMO podem ser vistas de forma resumida na figura 08.

Figura 08 – Responsabilidades do OGMO. Fonte: Adaptado de Goldberg (2009, p.76).

Os principais problemas enfrentados pelos Ogmo´s, em seus períodos iniciais foram decorrentes da negação da existência de conflitos; acomodação de interesses por parte dos operadores, e resistência dos sindicados em relação a implantar o determinado pela Lei (SEMINÁRIO INTERNACIONAL..., 1999). Para exemplificar a dificuldade em implantar a transferência da responsabilidade pela escala dos trabalhadores, Fragoso e Aires (2009, p. 82) expõem a manchete estampada na Intersindical Portuária em 1997:

“Dia de cão na segunda, 2 de abril, lembra a época da Ditadura Militar”, com o seguinte texto: “Tropas da Polícia Militar do Governo do Estado de São Paulo promoveram na segunda-feira, dia 2 de abril, a mais violenta onda de repressão dos últimos dez anos em Santos, ferindo 50 estivadores e prendendo outros 35, no oitavo dia da greve em defesa do direito de trabalho. Foram usadas bombas de „efeito moral‟, de alto teor explosivo e embalagens plásticas, bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha, durante ataque aos manifestantes. A paralisação que foi iniciada devido à decisão de se transferir para os empresários, através do Órgão Gestor de Mão-de-obra, a escalação dos trabalhadores para as operações no porto, agora assumiu o caráter de defesa do trabalho organizado e sindicalizado, já que a escalação era feita pelo sindicato há 67 anos.”

Esta resistência também foi explicitada no Seminário Internacional sobre O Futuro dos Portos no Brasil (1999, p. 131): “os pontos negativos referem-se à questão dos conflitos, que continuam existindo de maneira ainda inaceitável,

INCENTIVOS À ANTECIPAÇÃO DE APOSENTADORIA CONTROLE DA OFERTA DE MÃO DE OBRA AVULSA PROGRAMAS DE RELAÇÃO NO MERCADO TREINAMENTO PARA MULTIFUNCIONA- LIDADE INTERMEDIAÇÃO ENTRE OPERADORES E SINDICATOS OGMO

como o conflito de Paranaguá, com a invasão e depredação da sede do Ogmo; são inaceitáveis para o ano de 1999”.

Por certo, houve diversos empecilhos para a implantação dos OGMOS, muito em decorrência das resistências das entidades sindicais, em especial, da estiva, presas a velhas práticas de trabalho em oposição às modernas práticas de organização do trabalho (OLIVEIRA , 2001). Em 2001, a maior parte dos portos públicos tinham Ogmos implantados e desempenhando algumas das funções para as quais foi criado, como: recebimento, atendimento das requisições e escalação de mão de obra dos TPA; elaboração da folha e pagamento dos TPA, bem como o fornecimento de documento de identificação aos TPA (GRUPO EXECUTIVO..., 2001).

Apesar dos problemas pontuais em relação à escalação e contratação de trabalhadores, não se pode negar que o Ogmo, ao inserir novos atores no processo das relações de trabalho, garantindo a presença do capital, abalando o monopólio dos sindicatos dos trabalhadores avulsos que eram garantidos pelo Estado e armadores, destaca-se como uma grande revolução feita pela Lei 8.630/93 (GOMES; JUNQUEIRA, 2008).