• Nenhum resultado encontrado

2.3. OS ESPAÇOS PORTUÁRIOS FRENTE À CONCORRÊNCIA INTERNACIONAL

2.3.5. Desenvolvimento do Trabalho Portuário

A crescente cooperação entre os mercados e a evolução tecnológica, estabelecida no século XX, provocou a redefinição dos modelos de gestão administrativa, inclusive nos portos, que transformaram suas operações e, como os demais segmentos, alteraram as relações de trabalho. A flexibilidade, a descentralização e a necessidade de ajustamento para melhor aproveitamento das oportunidades, passam a conduzir as negociações trabalhistas em grande parte do globo (PASTORE, 1994a).

A necessidade de realinhar os posicionamentos estratégicos globais em face do maior aguçamento da competitividade global provocou a diminuição da especialização dos papéis introduzidos pelo pensamento tayloriano-fordista, as relações organizacionais traçaram o caminho da desverticalização e da flexibilização (OLIVEIRA JÚNIOR, 1995).

No setor portuário, as mudanças ocorreram com diferentes graus de intensidade, devido às diferenças existentes entre os países. Porém, todas ocorreram em razão da necessidade de desenvolvimento produtivo (ALVES, 2009).

As inovações tecnológicas introduzidas nos portos serviram para ajustar os métodos de manipulação de carga a granel, unitizada e conteinerizada (WORD BANK, 2007 tradução nossa) 23 maximizando o tempo de operação e minimizando a utilização da mão de obra.

As reformas do trabalho portuário que são estabelecidas em função do mercado ocorreram em decorrência de três fatores fundamentais (COMISSÃO ECONÔMICA..., 1997):

i) Aquisição de equipamentos facilitadores da manipulação das cargas;

ii) Influência das políticas macroeconômicas e de integração econômica e

iii) A descentralização administrativa portuária por meio da participação de empresas privadas.

De acordo com o relato de David e Stewart (2010, p.19), antes dos contêineres:

A estiva era extenuante. As cargas para o exterior chegavam ao porto em caminhões ou vagões, em pequenas embalagens ou em pallets24. Em seguida, eram descarregadas em um armazém localizado no píer, onde eram contadas. A mercadoria a ser embarcada era retirada do armazém para o cais, onde era mais uma vez contada. O plano de carregamento era traçado (...). Em seguida, os estivadores juntavam as mercadorias em fardos grandes “apanhados” em gruas. Eles faziam isso manualmente, carregavam e descarregavam, arrastavam e rolavam a mercadoria até um ponto onde a grua pudesse pegá-las; posteriormente, colocavam as cintas embaixo do fardo, antes do carregamento. Depois, a mercadoria era içada até o navio onde outro grupo de estivadores desembalava os fardos, contava as mercadorias mais uma vez e as colocava no porão, garantindo que cada parte da carga estivesse firmemente escorada contra a outra e não se deslocasse durante a viagem.

Os sistemas e normas de trabalho para a realização das tarefas, em todos os setores, direcionam-se para a satisfação do cliente. A busca pela qualidade e produtividade contribui para sobrevivência organizacional no acirrado mundo competitivo dos negócios (MOTTA, 1997).

23

Citação com tradução nossa.

24

Pallets é uma plataforma de carga consistente basicamente em duas bases separadas por vigas ou uma base única sustentada por pés, cuja altura é reduzida ao mínimo compatível com o manuseio de empilhadeiras e caminhões de pallets. (HANDABAKA, 1994, p.46).

Desta maneira, as novas máquinas e métodos de produção flexível, com a inserção de computadores e sistemas de informação computadorizados em todos os níveis e áreas transformam as exigências com relação à capacidade dos trabalhadores, que se desloca do físico para o intelectual (BLANCHARD, 2007).

De acordo com Pastore (1994a, p.13):

Graças à informatização e à robótica, as empresas de todos os setores abandonam a produção em série e partem para a produção individualizada, na qual o trabalhador executa uma variedade de tarefas e monitora diferente equipamentos. As exigências dos clientes requerem novas habilidades aos trabalhadores

Nesse contexto evolutivo, a atividade portuária dinamiza-se. Os serviços desenvolvidos pelos estivadores tornam-se menos extenuantes, pois eles ficam a bordo do navio para posicionar as travas de fixação dos contêineres ou operar gruas de pórtico (DAVID; STEWART, 2010).

A qualificação da mão de obra passa a ser entendida como diferencial qualitativo e impacta na remuneração dos trabalhadores que passaram a ter seus salários atrelados ao nível de conhecimento e produtividade. Os trabalhadores com baixo nível de instrução viram seus salários relativos cair continuamente, enquanto trabalhadores com alto nível de instrução tiveram aumento contínuo de salário relativo (BLANCHARD, 2007).

Os salários atrelam-se a fórmulas de remuneração vinculadas à competência e à produtividade constatada, associando-se ao desempenho individual, por áreas ou unidades de negócios, conforme os resultados das empresas, inclusive aquelas que operam nos portos (OLIVEIRA JÚNIOR, 1995).

As operações portuárias passam a reavaliar, sistematicamente, seus quantitativos e qualitativos em relação aos equipamentos e aos trabalhadores, e em relação a necessidade e a especialidade de carga a ser movimentada (COMISSÃO ECONÔMICA..., 1997).

De acordo com Ilo (1984, apud PASTORE, 1994a, p.14):

Para contornar a competição, recessão e novas necessidades de contratação, a tendência geral dos mercados de trabalho das Nações mais avançadas tem sido a flexibilização. Nos países em que a

contratação coletiva está arraigada, observa-se um forte movimento no sentido de simplificar e descentralizar a contratação do trabalho.

As necessidades trazidas pelas transformações competitivas mundiais fazem com que as empresas de todos os setores respondam a um mercado dinâmico e volátil. A dinâmica nas transações insere o conceito da multifuncionalidade, permitindo às empresas ajustarem seus quantitativos de equipe de trabalho, conforme a quantidade de navios a operar, objetivando a desoneração das operações para alcançar a competitividade (OLIVEIRA JÚNIOR, 1995).

O aparelhamento das atividades portuárias alterou o entendimento de produtividade em relação ao quantitativo de trabalhadores. Por exemplo, em 1950, um navio de carga seca a granel necessitava de 20 trabalhadores por porão para ser descarregado. Em 1980, este número cai para três homens por navio. Outro exemplo se refere a um navio de carga geral de 10.000 toneladas de capacidade de carga, que levava cinco dias e cinco noites para carregar, necessitando de 125 (cento e vinte e cinco homens) por turno. Na década de 1990, um navio contêiner de 40.000 toneladas necessita de apenas dois dias para ser carregado, utilizando-se de apenas 15 trabalhadores por turno (COMISSÃO ECONÔMICA..., 1997).

As bases sindicais rejeitam as mudanças acompanhadas de redução de pessoal e de práticas trabalhistas restritivas em defesa do emprego e dos direitos adquiridos, e nem sempre acompanham a flexibilidade das relações de trabalho, trazidas pela inserção tecnológica e pelos novos modelos de gestão que foram incorporados pelas organizações (DAVID; STEWART, 2010).

Mudanças significativas no aspecto trabalhista portuário só são possíveis com um conjunto de políticas públicas a fim de estabelecer uma melhor regulamentação nacional a respeito do setor portuário e do entendimento dos sindicatos de que as mudanças portuárias atendem às novas demandas do mercado competitivo (COMISSÃO ECONÔMICA..., 1997; WORLD BANK, 2007 - tradução nossa).

A resposta às mudanças no campo do trabalho portuário é feita de maneira diferente pelos diversos países. Cada qual introduz mudanças técnicas e legislativas objetivando o equilíbrio de forças (COMISSÃO ECONÔMICA..., 1997).

A superação das restrições de trabalho e o estabelecimento da descentralização das operações e gestão portuária induzem mudanças no comportamento sindical, que se articula para realizar negociações voltadas à defesa dos interesses competitivos, envolvendo-se mais nas questões evolutivas do emprego (PASTORE, 1994a).

A busca pela atividade comercial portuária depende da reforma trabalhista que possibilita o surgimento de um ambiente concorrencial, tanto intraportos, como interportos. Para esta base concorrencial, as regras devem ser claras, e o fornecimento da mão de obra deve ser estabelecido com base em competências e habilidades, como existente em outros setores empresariais (SEMINÁRIO INTERNACIONAL..., 1999).

Em relação aos impactos da redução de postos de trabalho, sua minimização deve contar com o estabelecimento de negociações entre os interessados e de leis portuárias que permitam a dinamização dos trabalhos e prevejam ações de segurança ao trabalhador e ao capital. Como, por exemplo, a regulamentação de um fundo portuário, destinado a amparar os trabalhadores em demissões ou em requalificação (WORL BANK, 2007 – tradução nossa).

A ineficiência trabalhista não encontra mais amparo em leis monopolistas de trabalho, as negociações devem ser diretas e livres, sem o arranjo tarifário que impede a competitividade e interfere na livre concorrência, mascarando a falta de desempenho. A equidade social, deve, neste novo aspecto, incentivar e motivar o trabalhador a participar das decisões do dia-a- dia, quebrando dogmas, permitindo a contribuição efetiva de quem conhece o

trabalho a ser desempenhado (PASTORE, 1994a; COMISSÃO

ECONÔMICA..., 1997; SEMINÁRIO INTERNACIONAL 1999). “Neste ambiente globalizado, os avanços decorrentes da tecnologia não são variáveis isoladas, mas produto da reformulação social e produtiva” (OLIVEIRA JÚNIOR, 1995, p.15). Isso demanda a desregulamentação das funções; a retirada de entraves burocráticos que impedem o funcionamento eficiente dos portos; da integração crescente da intermodalidade; da distribuição eletrônica de cargas e dos direitos portuários que passam a dispor de autonomia para alcançar objetivos comerciais eficazes, seguros e competitivos (COMISSÃO ECONÔMICA..., 1997).

2.4 O BRASIL E O COMÉRCIO INTERNACIONAL NO PROCESSO DE