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Verificamos que o ALZ também é um espaço em que se divulgam as diversas entidades, na maioria alemãs, que pretendiam o fomento à germanidade no exterior. A atuação de associações alemãs de fomento à germanidade no exterior passou a fazer parte

da política externa da Alemanha, quando se concretizou a unificação alemã, em 1871. Na disputa por mercado no exterior, em função da política pangermanista/imperialista, organizam-se, na Alemanha unificada, especialmente a partir de 1880, entidades ou associações interessadas pelos alemães que viviam no exterior.449 Dentre elas, citamos,

valendo-nos do estudo de Magalhães: a Alldeutscher Verband [Liga Pangermânica], a

Deutsche Kolonial Gesellschaft [Sociedade Colonial Alemã], Evangelischer Hauptverein für Ansiedler und Auswanderer [Sociedade Evangélica Central para Colonos e Emigrantes], a Hanseatische Kolonisationsgesellschaft [Sociedade Hanseática de Colonização].

No campo religioso, podemos citar a Evangelische Gesellschaft [Sociedade Evangélica de Barmen], o Evangelischer Oberkirchenrat [Conselho Diretor da Igreja Evangélica da Prússia] e o Gustav-Adolf-Verein [Obra Gustavo Adolfo]450, que apoiavam

entidades culturais no exterior (também no Brasil) com aporte financeiro. No entanto, é importante observar que muitas dessas associações antecedem a criação do Reino Alemão. Em maio de 1900, lei eclesiástica [Kirchengesetz] permitiu a filiação de comunidades evangélicas estrangeiras à Preußische Landeskirche [Igreja Territorial da Prússia], possibilitando um maior auxílio diretamente às escolas e igrejas. O auxílio dava-se em forma de doações para a construção de igrejas e escolas, pagamento de pastores itinerantes, envio de pastores ordenados e professores formados na Alemanha, subsídios aos salários dos pastores, manutenção de escolas ligadas ao Sínodo (Evangelisches Stift, Hamburgo Velho; Colégio Independência de São Leopoldo; Colégio Sinodal, em Santa Cruz do Sul).451

A Sociedade Evangélica para os Alemães Protestantes na América foi uma das principais

449 Cf. BREPOHL de MAGALHÃES, Marionilde Dias. Alemanha mãe-pátria distante. 1993. Tese (Doutorado em História), UNICAMP, Campinas. Ver também MORAES, Luís Eduardo de Souza. Konflikt und Anerkennung;

die Ortsgruppen der NSDAP in Blumenau und Rio de Janeiro. 2002. Inaugural-Dissertation (Doktor der

Philosophie) – Zentrum für Antisemitismusforschung, Fachbereich Geschichte, Technische Universität zu Berlin, [2002].

450 Lembramos aqui e concordamos com observação do Prof. Dr. Ricardo Rieth em seu parecer como avaliador da presente tese, o qual lembra que o Gustav Adolf Verein foi criado na década de 1830. Ainda segundo ele, esta Associação já tinha desenvolvido em fins do século XIX uma identidade tal, que o nacionalismo e posteriormente o nacional-socialismo serão objeto de profundas divergências em seu interior, cuja complexidade não permite uma generalização.

sociedades que apoiavam a população alemã evangélica no exterior. Entre 1863 e 1911, a Sociedade Evangélica para os Alemães Protestantes na América – sociedade resultante da fusão, em 1881, de duas entidades: a Sociedade Evangélica para os Alemães Protestantes

na América do Norte, criada em 1837, inicialmente com o nome Sociedade Cristã para os Alemães Evangélicos na América do Norte (até 1841), e do Comitê para os Alemães Protestantes no Sul do Brasil (fundado em 1865) – enviou 47 professores/as evangélicos/as

para atuarem na América do Sul (destes, 23 foram enviados ao RS; os 24 restantes, para outros Estados brasileiros – SC, PR, SP, RJ, ES, MG, para o Chile e a Venezuela).452

Já no final do século XIX, o apoio à preservação da língua e cultura alemãs [Erhaltung deutscher Sprache und Kultur], se dará muito mais mediante interesses políticos e comerciais, por meio da entidade alemã Allgemeiner Schulverein zur Erhaltung des

Deutschtums im Ausland (VDA), criada em 1881. Dentre seus objetivos constava o apoio a

escolas alemãs no além-mar453, por fim a manutenção da germanidade no exterior. O apoio

concretizava-se por meio do envio de livros para formar bibliotecas, de dinheiro para as escolas, de professores formados na Alemanha, da divulgação e promoção de congressos. Em 1908, esta entidade passa a ser designada de Verein für das Deutschtum im Ausland –

451 PAIVA, 1984, p.55; SCHRÖDER, Ferdinand. Brasilien und Wittenberg; Ursprung und Gestaltung

deutschen evangelischen Kirchentums in Brasilien. Berlin, Leipzig: Verlag Walter de Gruyter, 1936. p.217ss.

452 Cf. DREHER, Martin N. Igreja e Germanidade. 2.ed. São Leopoldo: Sinodal; Porto Alegre: EST- Escola Superior de Teologia, 2003, p.76-82 e DEDEKIND. Verzeichnis der Pfarrer, Lehrer und Lehrerinnen…, 1911, p.33-69. 453 PAIVA, 1984, p.54.

VDA (Sociedade para a Germanidade no Exterior).454 Na vigência do nacional-socialismo,

seu nome será alterado para Volksbund für das Deutschtum im Ausland.455

Verificamos que parte dessas entidades, cujo objetivo central é o fomento à germanidade no exterior, têm espaço no ALZ. Partimos do pressuposto de que o objetivo dos redatores e da diretoria da Associação era o de manter atualizados os leitores/professores a respeito dessas entidades de controle e apoio ao Deutschtum no exterior. Nosso objetivo é apresentar, portanto, relação das entidades referenciadas pelo ALZ, sem a pretensão de estudar e/ou esgotar sua trajetória histórica.

Já em 1906, verificamos no ALZ uma prática ou um movimento no sentido de vincular os professores, ligados à Associação de Professores Evangélicos, ao Weltbund

Deutscher Auslandslehrer [Federação Mundial de Professores Alemães no Exterior], que

pretendia envolver professores atuantes em escolas alemãs no exterior (idéia que partia dos professores alemães da Romênia e da Bélgica). Sua finalidade central consistia em trocar experiências, defender os interesses dos professores, formar um fundo para amparar professores idosos e incapacitados ao trabalho. Poderia ser membro dessa associação qualquer professor alemão que comprovasse uma formação em seminário ou academia. No Rio Grande do Sul, havia professores alemães. Decidiu-se, conforme relatório de uma

454 Objetivos: "die Erhaltung des Einheitsgefühls in der ganzen Nation, gegründet auf die Gemeinschaft der dt.

Muttersprache und dt. Bildung, Schutz der Muttersprache und Bildung, wo immer sie gefährdet erscheint" (Fr.

Teutsch apud Der Grosse Brockhaus, 1957, p.99. Seu trabalho resumia-se na organização de escolas alemãs, em regiões onde não podiam ser mantidas por recursos públicos: na Boêmia, na Morávia, na Silésia, na Caríntia, na Transilvânia. Id. p.99. Segundo Magalhães, em 1910, o VDA promove um congresso sobre política colonial, do qual participam 106 entidades alemãs. A Liga Pangermânica e a Sociedade de Ensino no Exterior financiam a construção de escolas, igrejas e publicam periódicos em que divulgam as teorias da "grande Alemanha" [Grossdeutschland], endogamia, superioridade racial e desenvolvimento econômico (MAGALHÃES, 1993, p.45). Ver também WEIDENFELLER, Gerhard. VDA, Verein für das Deutschtum im Ausland. Allgemeiner

Deutscher Schulverein (1881-1918); Ein Beitrag zur Geschichte des deutschen Nationalismus und

Imperialismus im Kaiserreich. Frankfurt/M.: Herbert Lang Bern, 1976. 455 Der Grosse Brockhaus, 1957, p.99.

assembléia456, que os professores interessados poderiam associar-se a esse Weltbund sem

que isso prejudicasse sua filiação à Associação de Professores Evangélicos local.

No período posterior à Primeira Guerra, intensifica-se o interesse da Alemanha pelos seus emigrados. Encontramos, nas publicações do ALZ da década de 1920, diversos relatórios de reuniões do VDA – Verein für das Deutschtum im Auslande457 e de acordos que estabelecem com outras entidades com objetivos similares, verificando-se as relações e redes criadas entre essas entidades. Buscando relatórios de eventos dessas associações no ALZ, encontramos uma notícia sobre uma segunda entidade, o Bund der

Auslanddeutschen [Liga dos Alemães no Exterior], decorrência, assim o texto, do fato de

“somente após a guerra reconhecer-se plenamente a importância da germanidade no exterior como fator cultural e econômico específico [...]”458. Conforme o artigo, não-assinado,

após a Primeira Guerra, o VDA e as outras instituições teriam retomado, apesar das dificuldades, como a inflação, seu vínculo com o Auslanddeutschtum/germanidade no exterior. Ambas as entidades propõem um trabalho conjunto e, para tanto, marcam uma “Tagung des Auslandsdeutschtums” em Berlim.459 Um relatório desta reunião é apresentado

no ALZ de 1925460. Nele prevalece a intenção de trabalhar em conjunto com o VDA. A

reunião ocorreu em Berlim, em 1925, e no relatório citam-se palestras sobre Grenzdeutsch

und Großdeutsch, em que é debatida a Grande Alemanha, a educação dos jovens para a

consciência do Volk [Erziehung der Jugend zum Volksbewußtsein]. Estavam presentes 200 participantes, entre os quais representantes/delegados das 20 ligas de países [Landesverbände].461 Não são mencionadas quais seriam as Federações Nacionais, mas o

número indica-nos que havia uma quantidade considerável de países em que imigrantes

456 Bericht über die 6. General-Versammlung des D. Ev. Lehrervereins von Rio Grande do Sul am 17. April zu Hamburgerberg. ALZ, v.5, n.12, p.1-2, jun. 1906, p.1.

457 Fundado em 1881.

458 Erst seit dem Weltkrieg ist in Deutschland die Bedeutung des Auslandsdeutschtums als ein besonderer Kultur-

und Wirtschaftsfaktor voll anerkannt worden. [...] Bund der Auslanddeutschen in Berlin. In: ALZ, v.22, n.3, mar.

1925, p.6.

459 Bund der Auslanddeutschen in Berlin. In: ALZ, v.22, n.3, mar. 1925, p.6-7. 460 ALZ, v. 22, n.4, abr. 1925, p.8.

alemães e descendentes seriam alvo do VDA para divulgar a cultura alemã no mundo. Acrescentem-se a eles aqueles territórios outrora integrantes do Império Austro-Húngaro, para os quais haviam sido transplantados alemães.

Na década de 1930, o governo nacional-socialista, que assumiu o poder em 1933, buscava a unidade dos alemães em todo o mundo.462 Entidades como o VDA serão

utilizadas pelo governo nazista para atingir esse objetivo.463 Entre 1933 e 1945, as

associações de professores existentes na Alemanha são reunidas sob uma associação principal, o National-Sozialistischer Lehrerbund [Federação de Professores Nacional- Socialistas].464 Notícias sobre esta entidade são veiculadas especialmente pelo

Landesverband Deutschbrasilianischer Lehrer (LDL)465, sediado em São Paulo. No ALZ,

encontramos as notícias sobre os encontros anuais de duas entidades alemãs que apóiam os professores alemães no exterior: Vereinsverband Deutscher Auslandlehrer e Gau

Ausland des National-Sozialistischen Lehrerbundes – NSLB. No ALZ de agosto de 1934, é

apresentado o programa do primeiro evento que reuniu professores alemães ativos e inativos no exterior, ligados ao National-Sozialistischer Lehrerbund. Neste evento participaram 100 professores (destes, 47 eram profesores ativos, 20 eram ex-professores atuantes no exterior). Segundo a fonte, as escolas alemãs do além-mar estavam representadas por 14 ex-professores atuantes no exterior. Esses eventos serviam como espaço para reunir professores alemães atuantes no exterior para muni-los de informações sobre a Alemanha no III Reich, como podemos deduzir das limitadas informações que encontramos no ALZ. Outro recurso utilizado nos anos de 1930 para veicular as idéias do

462 Cabe aqui lembrar que, na década de 1920, essa unidade já era um objetivo presente inclusive em artigos do ALZ (assunto desenvolvido no capítulo 2).

463 Veja tabela em anexo, sobre entidades alemãs voltadas para alemães no exterior, especialmente as de caráter confessional. Essas informações foram extraídas de outra publicação destinada aos professores atuantes em escolas ditas “alemãs” e “teuto-brasileiras”: o Lehrerkalender, da Ed. Rotermund.

464 Conforme o verbete Lehrerverbände, Lehrervereine. Der Grosse Brockhaus; Siebenter Band; F. A. Brockhaus Wiesbaden, 1955, p.149, essa associação teria reunido todas as outras, mas no ALZ de jun. de 1935, verifica-se que há ao menos duas ainda neste ano de 1935.

465 Essa entidade foi fundada em 1925, tendo sua sede na cidade de São Paulo. Seus associados eram as Associações Teuto-Brasileiras de Professores e professores que não podiam vincular-se a alguma associação

nacional-socialismo é a distribuição e projeção de filmes [Kulturfilmdienst]: tinha-se o objetivo de informar os "alemães-brasileiros" sobre a vida na Alemanha, mediante esses filmes.466

Tratava-se, ainda, de um caminho de mão dupla: as informações sobre as entidades alemãs de fomento à germanidade circulavam no ALZ, mas também as informações sobre a prática ou idéias vigentes no Brasil a respeito dessa questão circulavam na Alemanha, em eventos e publicações. Em relato sobre a Potsdamer Tagung des Gaues Ausland des NSLB, de 9 a 12 de agosto de 1934, Soechting afirma ter palestrado sobre o Deutschtum no Brasil: "Falei sobre a germanidade no Brasil, mostrando, através de slides, as belezas da terra brasileira e o poderoso trabalho cultural realizado justamente pelos alemães no povoamento e na colonização do país" 467.

Outra entidade alemã que passa a ter espaço no ALZ, especialmente na década de 1920, é o Deutsches Ausland-Institut. Em abril de 1924, é publicado um relatório referente às atividades daquele instituto no ano de 1923. Verifica-se o quanto esse instituto está informado sobre as entidades alemãs no exterior [deutsche Vereine im Ausland] e o quanto cresce seu vínculo com elas: informa-se nesse relatório que, em um ano, de 3.300 passam a fazer parte da Instituts-Karthothek 18.000 associações alemãs no exterior. Salienta-se a importância do instituto para o momento de crise econômica pela qual passa a Alemanha, pois “mais do que nunca a idéia carece do amor e da participação dos mais amplos círculos

de professores. Cf. Schul- und Kirchenorganisationen in Brasilien. In: Lehrer-Kalender, Merk- und Taschenbuch für Lehrer an deutschen Schulen in Brasilien. São Leopoldo: Verlag Rotermund, 5. Jahrgang, 1929, p.8.

466 PAIVA, p.146.

467 ALZ, v.32, n.6, jun. 1935, p.12 [Ich sprach über das Deutschtum in Brasilien und zeigte im Lichtbilde die

Schönheiten der brasilianischen Landschaft und die gewaltige Kulturarbeit, die dort gerade die Deutschen bei der Besiedlung und Erschließung des Landes geleistet haben].

do povo”468. Quem ajudá-la, indicando novos amigos, leitores de sua revista

Auslanddeutsche, e apoiadores, “este serve à nossa etnia, ajuda na reascensão alemã”469.

Havia muitos professores alemães fora de seu país; estes se congregavam em associações, dentre elas o Verein deutscher Auslandlehrer: n. 9, 1921: Der Wiederaufbau

des Vereins deutscher Auslandlehrer [artigo sobre a vinculação de professores alemães que

atuam no exterior: que optem entre Deutscher Lehrerverein e Heimatvereine]. Como a Associação de Professores – DELV também congrega professores alemães, cede espaço a entidades alemãs com as mesmas características, cujas notícias poderiam interessar aos professores alemães atuantes no Brasil. Neste caso, retirou a notícia da A. D. Lehrerzeitung.

Concluímos que a divulgação de relatórios dessas entidades e das relações da Associação de Professores com algumas delas é uma estratégia utilizada pelos redatores e articulistas do ALZ para legitimarem seu discurso de apoio e de fomento da germanidade [Deutschtum].

468 [...] mehr als je bedarf der Gedanke der Liebe und der Teilnahme weiteste Volkskreise. Das Deutsche

Ausland-Institut im Jahre 1923. In: ALZ, v. 19, n. 4, abril 1922, p.8.

469 der nützt unserem Volkstum, der hilft zum deutschen Wiederaufstieg. Das Deutsche Ausland-Institut im Jahre

3 REPRESENTAÇÕES DE ESCOLA, NACIONAL-SOCIALISMO, NACIONALIZAÇÃO E O CHOQUE COM O SÍNODO RIOGRANDENSE

Em quase quarenta anos de circulação do ALZ, seus redatores e articulistas constroem e enfatizam imagens e representações em torno do que deveria ser a escola “alemã-brasileira”. Buscam garantir que, por meio desta escola, a população de imigrantes alemães e descendentes no Rio Grande do Sul seja mantida com uma identidade “alemã” na sua essência, a germanidade/Deutschtum/Volkstum. Por outro lado, enfatizam a necessidade de esta escola oferecer uma formação para o exercício da cidadania brasileira, entendida como pertença ao estado brasileiro470. É o que abordamos na primeira parte deste capítulo.

Na década de 1930, em meio ao crescente nacionalismo brasileiro e, enquanto na Alemanha o nacional-socialismo assumia o poder, os articulistas do ALZ passam a apresentar ao seu leitor o seu entendimento sobre os novos rumos da história alemã e o que isso representaria para a escola que fomentavam. No Brasil, porém, a Revolução de 1930 também gera mudanças significativas na política educacional. Essas mudanças, aplicadas à escola defendida e representada pelo ALZ, têm conseqüências para os posicionamentos e para as posturas dos editores do Jornal.

Entendemos que os articulistas valem-se, na década de 1930, de duas estratégias, movidos pelas circunstâncias do período histórico: continuam gerenciando a identidade e mostrando a necessidade de esta população manter-se “alemã” e “evangélica”. Para tanto, porém, valem-se da idéia da Volksgemeinschaft, em voga no III Reich Alemão, a qual entende que a população alemã no mundo faz parte da abstração “povo alemão”, estando portanto acima da nacionalidade brasileira. A pressão do nacionalismo brasileiro leva os

470 Esta complementação é necessária, “entendida como pertença ao Estado brasileiro”, pois temos consciência de que, hodiernamente, “cidadania” tem significado bem mais complexo e amplo.

articulistas a realizarem um movimento de defesa e de negociação da identidade de suas escolas, buscando mantê-las como disseminadoras do projeto germanista. Isso ocorre mesmo em meio a mudanças cruciais na política educacional brasileira, propiciada por uma política severa de nacionalização das escolas.

A argumentação utilizada pelos articulistas baseia-se em idéias gestadas e importadas da Alemanha. Valem-se da estratégia de manter seus leitores informados sobre o que se discutia na Alemanha e apresentam as posturas do nacional-socialismo em relação à escola. Partimos do pressuposto de que as representações veiculadas estão baseadas no objetivo central dos germanistas, que é o de manter a “identidade alemã” da população descendente de alemães no Brasil Meridional. É por isso que buscamos apresentar a representação de escola construída no ALZ.

Conforme a historiografia sobre a imigração alemã registra, a escola, juntamente com a igreja, formava um dos pilares de sustentação do movimento em torno da germanidade, fomentada também por meio da imprensa.471 Especificamente no que se

refere à escola e igreja evangélico-luterana, Meyer verificou a

[...] importância atribuída à igreja e à escola na gestão da vida destes imigrantes; a leitura dos jornais da época permite dizer que estas instituições estiveram profundamente enredadas na produção, manutenção e transformação dessa cultura e das identidades que ela colocou em circulação. De maneira especial e variada, essa discussão posicionou a escola comunitária rural e seus professores como agentes legítimos de

preservação da cultura e da fé.472

No sentido de aprofundar essa questão e para mostrar como a relação igreja e escola também era permeada por conflitos, abordamos, ao final deste capítulo, como o ALZ

471 Destacamos KREUTZ, 1991 e 1994; GRÜTZMANN, 1999; MEYER, 2000; e RAMBO, Arthur B. A história da imprensa teuto-brasileira. In: CUNHA, Jorge Luiz da; GÄRTNER, Angelika. (Org.). Imigração alemã no Rio

Grande do Sul: história, linguagem, educação. Santa Maria, 2003. p.59-79.

apresenta a relação da igreja, representada pelo Sínodo Riograndense, com a escola, aqui representada pela diretoria e membros da Associação de Professores Evangélicos.

3.1 REPRESENTAÇÕES DE ESCOLA E SUA FUNÇÃO NA “PRESERVAÇÃO” DA