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1.1 A produção e a circulação do Jornal ALZ

1.1.3 Locais de produção, redatores e periodicidade

1.1.3.1 Os redatores

Em artigos do ALZ de 1917 e de 1925199, encontramos informações sobre os

redatores responsáveis pelos primeiros números. Teriam sido os seguintes:

- F. Köhling, de Porto Alegre, entre julho de 1902 e maio de 1903;

- K. Händler, de Porto Alegre, de junho de 1903 a janeiro de 1905;

- F. Köhling, de Porto Alegre, entre fevereiro e maio de 1905;

- Th. Grimm, também de Porto Alegre, entre junho de 1905 e junho de 1909;

- Vários, de julho a dezembro de 1909;

- P. Antonius, de Conventos, entre janeiro de 1910 e junho de 1911;

- P. Pechmann, de Hamburgerberg, entre julho de 1911 e dezembro de 1911;

- H. Kietzmann, de Campo Bom, entre janeiro de 1912 e dezembro de 1913.

Dados relativos aos redatores após 1914 podemos obter e acompanhar nos próprios exemplares do ALZ:

- F. Strothmann, de Santa Cruz, entre janeiro de 1914 e maio de 1925;

- Ludwig Kruse, de Porto Alegre (no início, de Passo Selbach, São Sebastião do Caí; depois, de São Leopoldo; apenas após 1926, de Porto Alegre), entre junho de 1925 e maio de 1927;

- Albert Leckebusch, de Porto Alegre, entre junho de 1927 e janeiro/fevereiro de 1928200;

199 EIN GEDENKTAG. In: ALZ, v.16, n.7, p.4, jul. 1917; DIE ALLGEMEINE LEHRERZEITUNG FÜR RS. In: ALZ, v.22, n.6, p.3-4, jun. 1925.

200 Há referência de que Leckebusch permaneceu na redação até jan/fev. de 1928 em ARNDT; OLSON, op. cit., 1973, p.144.

- Georg Riedesel, de Porto Alegre, entre março de 1928 e dezembro de 1929;

- Wilhelm Schulz, de Porto Alegre, entre janeiro de 1930 e fevereiro de 1931;

- Georg Riedesel retoma a redação de março a outubro de 1931;

- H. Hansen, em novembro e dezembro de 1931;

- R. Stengel, de Porto Alegre, entre janeiro de 1932 e novembro de 1937;

- Ewald Schulze, de São Leopoldo, em dezembro de 1937;

- Helmut Kempf, de São Leopoldo, em 1938.

Com relação à procedência desses redatores, encontramos referências sobre a maior parte deles. A seguir, apresentamos detalhadamente cada redator, exceto alguns sobre os quais não possuímos referências, especialmetne sobre aqueles que atuaram entre 1902 e 1914.

O professor Grimm nasceu na Basiléia, Suíça, em 9 de setembro de 1852. Obteve sua formação em instituição para formação de professores em Berna no ano de 1872, tendo atuado em escolas de seu país até 1878, quando foi convidado pelo prof. Bieri para lecionar na sua escola em São Leopoldo. Quando esta foi fechada, passou a lecionar na escola comunitária local. Transferiu-se em 1896 para Petrópolis, no Rio de Janeiro, onde permaneceu até 1902, retornando ao Rio Grande do Sul, atuando então na Hilfsvereinschule até 1921.201

O pastor Joh. Friedrich Pechmann nasceu em 26 de julho de 1851, em Mönchen- Gladbach, e veio ao Brasil em 1882, enviado pela Evangelische Gesellschaft für die

protestantischen Deutschen in Amerika, de Barmen. Teve sua formação na Casa de Missão

201 HÄNDLER. J. Th. Grimm. In: ALZ, Santa Cruz, v.19, n.1, p.1-2, jan. 1922. p.1. O autor apresenta Grimm como alguém que permaneceu fiel aos alemães de São Leopoldo, ao contrário de Bieri, que fechou sua escola para trabalhar para o Estado, onde teria um emprego mais certo e melhor remunerado.

da Sociedade Missionária de Barmen. Atuou como pastor em Santa Maria da Boca do Monte, entre 1882 e 1891; como professor em São Leopoldo entre 1892 e 1894; e novamente como pastor em Hamburgo Velho após 1894.202 Participou da organização e

fundação da Associação de Professores Evangélicos, em 1901, após ter conduzido, como presidente, o Sínodo Riograndense entre 1897 e 1900. Faleceu em abril de 1925.203

O prof. Friedrich Strothmann foi o redator que permaneceu como responsável pela redação pelo maior período, compreendendo os anos de 1914 a 1925. Ele era alemão e havia cursado o Seminário de Professores em Osnabrück (Westfália). Tendo prestado o segundo exame de professor bem como de dirigente de escola, foi enviado ao Brasil pelo Comitê de Berlim, assumindo a direção do Seminário de Formação de Professores Evangélicos a partir de outubro de 1913, afastando-se do cargo em fevereiro de 1925.204

Ludwig Kruse assumiu a redação entre junho de 1925 e maio de 1927, quando, segundo Telles205, assumiu outra carreira, “mais lucrativa”, deixando a escola

Hilfsvereinschule e a redação do ALZ. Assumiu então Albert Leckebusch, que havia sido

eleito secretário da Associação em janeiro de 1927. Ele também fazia parte do corpo docente da Hilfsvereinschule desde 1927, transferido da Vereinschule de Rio Grande. Não há referência sobre sua procedência anterior. Leckebusch permaneceu como redator do ALZ até janeiro/fevereiro de 1928206.

Assumiu, então, o prof. Riedesel, entre março de 1928 e dezembro de 1929. Ele era natural da Westfália e chegou ao Brasil em 1926, após seu primeiro exame público de

202 DEDEKIND. Verzeichnis der Pfarrer, Lehrer und Lehrerinnen…, 1911, p.44-45. 203 HÄNDLER, K. Friedrich Pechmann. In: ALZ, Santa Cruz, v.22, n.4, p.7, abr. 1925.

204 Cf. HOPPEN, Arnildo. Formação de professores evangélicos no Rio Grande do Sul (1909-1939). São Leopoldo: Sinodal, s.d., p.27-28 e 36.

205 Cf. TELLES, Leandro. Do Deutscher Hilfsverein ao Colégio Farroupilha (1858/1974). Porto Alegre: Oficinas Gráficas da Livraria do Globo, 1974. (Obra editada pela Associação Beneficente e Educacional de 1858; Mantenedora do Colégio e da Escola Técnica de Comércio Farroupilha para comemorar o Sesquicentenário da Imigração Alemã). p.107.

qualificação para professor na Alemanha [Staatsexamen]. Retornou à Alemanha em 1930, para submeter-se ao segundo exame de qualificação para professor.207 Quando retornou ao

Brasil, novamente assumiu a redação do ALZ, porém permaneceu apenas até outubro de 1931, quando sofreu um acidente no Rio Guaíba e faleceu por afogamento.208

Wilhelm Schulz era alemão, assumiu uma vaga de professor na Hilfsvereinschule209

em 1929. Provindo de Braunschweig210, era, segundo Kramer, sua primeira experiência fora

da Alemanha, se não fossem considerados seus anos de participação e detenção de guerra na França.211

O prof. R. Stengel, que exerceu a função de redator do ALZ entre 1932 e novembro de 1937, consta também da lista de professores da Hilfsvereinschule. Segundo Telles, Stengel “nasceu em 1879, em Liebstadt (Prússia Oriental). Estudara Teologia, Filosofia e História. Esteve lecionando no Canadá e 23 anos na Germaniaschule em Buenos Aires”212.

Na Hilfsvereinschule, lecionava Geografia, Alemão e História.

Sobre os últimos dois redatores (Schulze e Kempf) e sobre Hansen, que apenas exerceu a função durante os dois últimos meses de 1931, praticamente não obtivemos informações. Schulze era professor no Seminário de Formação de Professores Evangélicos, em São Leopoldo. Kempf compôs a última diretoria da Associação, como vice-presidente, acumulando a função de redator.

206 Não dispomos dos dois primeiros números de 1928, porém em ARNDT e OLSON, p.144, há referência de que Leckebusch permaneceu na redação até jan/fev. de 1928.

207 KRAMER. Neues Leben. In: ALZ, Porto Alegre, v.28, n.3-4, p.1-2, mar./abr. 1931.

208 Cf. Georg Riedesel †. In: ALZ, v.28, n.10, p.1, out. 1931. E H. [Hansen]. An unsere Leser. In: ALZ, Porto Alegre, v.28, n.11,p.1, nov. 1931.

209 Cf. TELLES, op.cit., p.112.

210 Idem, p.112. O prof. Wilhelm Schulz nasceu em 1898, em Osterode, na Prússia Oriental, e chegou ao Brasil em 1929.

211 Bericht über die Hauptversammlung am 3.1.1931; Bericht des Vorsitzenden. In: ALZ, v.28, n.1-2, jan./fev. 1931, p.2.

Se verificarmos as instituições ou escolas a que pertenciam os redatores, veremos que a maioria desses estava ligada a duas instituições educacionais: ao Deutscher

Evangelischer Lehrerseminar [Seminário Evangélico Alemão para Formação de

Professores], em Santa Cruz213 (F. Strothmann) e em São Leopoldo (Schulze e Kempf) ou à

Schule des Deutschen Hilfsvereins [Escola da Sociedade Beneficente Alemã]214, de Porto

Alegre (Köhling, Händler, Grimm, Kruse, Leckebusch, Riedesel, Schulz, Stengel). Esta escola era aconfessional e corresponde ao atual Colégio Farroupilha de Porto Alegre. Telles informa-nos, no entanto, que sua existência esteve ligada à Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, "pois muitos pastores foram seus diretores e a maioria dos membros do Hilfsverein sempre foi constituída por evangélicos"215. Dentre os alunos também

predominavam os de confissão evangélico-luterana, pois, conforme Telles, em 1929, a escola contava com 366 alunos, dos quais "327 eram evangélicos (91%), 28 católicos (8%) e 3 de outras religiões (1%)"216.

A análise da atuação dos redatores do ALZ demonstra, portanto, que se tratava de um projeto editorial centralizado nas mãos de professores que predominantemente atuavam em meio urbano: em Santa Cruz do Sul, entre 1914 e 1925, enquanto Strothmann, diretor do

Lehrerseminar sediado nesta cidade, era também o redator do ALZ; em Porto Alegre, entre

1926 e 1937, enquanto os redatores eram professores da Hilfsvereinschule; em São Leopoldo, nos dois anos finais da edição do ALZ (1937 e 1938), quando a presidência da diretoria da Associação passa a ser exercida por Schreiber, professor do Lehrerseminar. A centralização da redação em meio urbano significa que o saber estava “localizado” na cidade e que os ditos detentores do saber escreviam e/ou ditavam as normas para os professores rurais “menos escolarizados ou sabidos”. Aqueles haviam obtido sua formação

213 Este Seminário estava sediado em Santa Cruz do Sul até 1926, quando foi transferido para São Leopoldo. Cf. HOPPEN, op. cit., s.d. p.36ss.

214 TELLES, 1974, p.113. 215 Idem, ibid., p.91. 216 Idem, ibid., p.91.

na Alemanha, portanto, mais um elemento para que se considerassem detentores do saber. Esses aspectos refletiam-se nas páginas do ALZ, como veremos nos próximos capítulos.

Salientamos, ainda, que o Lehrerseminar estava mais ligado ao Sínodo Riograndense, enquanto a Hilfsvereinschule teve sua origem fora do âmbito do Sínodo, na Comunidade Evangélica de Porto Alegre, que havia sofrido “interdito”, em 1872, pelo primeiro Sínodo, fundado em 1868 por Borchard, como nos informa Helga Piccolo. Segundo a historiadora, a “Comunidade Evangélica de Porto Alegre, somente em 1911 se filiaria ao Sínodo fundado em 1886”217. A escola foi fundada em 1876, com o propósito de ser uma

“escola elementar e superior aconfessional. [...] ela seria liberal no sentido filosófico- religioso”218. Esta escola, portanto, não pertencia ao Sínodo Riograndense e sofria influência

direta de liberais, com idéias baseadas no racionalismo e no evolucionismo, bem como da maçonaria, a que pertenciam muitos dos membros que a fundaram e a mantiveram.

A diretoria da Associação de Professores também era composta majoritariamente por professores alemães atuantes nessas duas instituições, o que será motivo de preocupação para a própria diretoria a partir do início da década de 1930. É o que verificamos em artigo de 1931, cujo autor é H. Kramer, presidente da Associação de Professores e diretor da Escola da Sociedade Beneficente Alemã. Kramer enfatiza a necessidade de se colocar as tarefas referentes à diretoria da Associação mais nas mãos de professores nascidos no Brasil, não nas de alemães natos ou alemães do Reino [Reichsdeutsche], além disso, não se deveria privilegiar apenas professores de uma escola, a própria escola que dirigia: a Hilfsvereinsschule.219 Esta afirmação provavelmente teve sua

217 PICCOLO, Helga Iracema Landgraf. A questão religiosa e os protestantes no Rio Grande do Sul. In:

Simpósio de História da Igreja, São Leopoldo, maio de 1986. São Leopoldo: Ed. Sinodal, Rotermund, 1986.

p.1-100. p.96 e nota 18.

218 TELLES, op. cit., 1974, p.42. O autor aborda detalhadamente as condições em que se forma o Hilfsverein e como este passa a organizar uma escola, a partir da “Deutsche Schule”, da Comunidade Evangélica de Porto Alegre.

219 Bericht über die Hauptversammlung am 3.1.1931; Bericht des Vorsitzenden. In: ALZ, v.28, n.1-2, jan./fev. 1931. p.2.

origem na alteração do cenário político nacional e estadual, em que a gradativa nacionalização das instituições relacionadas à educação será reforçada na década de 1930.

1.1.3.2 Periodicidade

A periodicidade do ALZ é mensal. Em alguns casos, há a publicação de 2 números em um exemplar, especialmente os referentes a janeiro e fevereiro, como é o caso de 1925, 1926, 1929 a 1933.220 Entre 1917 e 1919, houve interrupção da circulação deste periódico

em função das circunstâncias relacionadas ao posicionamento do Brasil na Primeira Guerra Mundial e à circulação de periódicos em língua estrangeira. O jornal voltou a ser impresso mensalmente em 1920, até 1938, último ano de sua publicação, quando a periodicidade foi irregular: apenas três exemplares referentes aos números 1 a 9 de janeiro a setembro. A interrupção aconteceu quando o governo Vargas investia contra os estrangeiros no Brasil, “pois, naquele momento, eles significavam uma ameaça à consolidação de seu projeto político autoritário e nacionalista”221. Neste sentido, diversos decretos-lei e decretos foram

criados, a partir de 1937, no contexto da política de nacionalização durante o Estado Novo, em que se restringia a atuação de estrangeiros no Brasil, bem como se pretendia a nacionalização de entidades por eles organizadas, desde associações até, e especialmente, escolas em “núcleos de população de origem estrangeira”, conforme o Decreto-Lei n. 868, de 18 de nov. de 1938. Este criava a Comissão Nacional de Ensino Primário, em que era definida a nacionalização do ensino primário nos núcleos de população de origem estrangeira. Este e outros decretos-lei inibiram as práticas culturais de grupos estrangeiros,222 atingindo também as publicações em língua estrangeira. É o caso da

Portaria n. 2.277, de 18 de julho de 1939, determinando a tradução dos textos de publicações em língua estrangeira. Tudo indica que o último número do ALZ, porém, foi o de julho/setembro de 1938, quando não estava em vigor ainda decreto-lei ou portaria que

220 Informações detalhadas sobre a periodicidade do ALZ podem ser acompanhadas na tabela I, em anexo. 221 PERAZZO, Priscila Ferreira. O perigo alemão e a repressão policial no Estado Novo. São Paulo: Arquivo do Estado, 1999, p.47. (Coleção Teses e Monografias, n.1)

regulamentasse as publicações em língua estrangeira no país.223 Chama atenção o fato de

que outros dois periódicos relacionados com a questão educacional, publicados em língua alemã, circularam apenas até 1938 ou 1939: o Lehrer-Kalender [Almanaque do Professor] (1923; 1925-1926; 1928-1938)224 e a Lehrerzeitung; Vereinsblatt des deutschen katholischen

Lehrervereins in Rio Grande do Sul225 [Jornal do Professor; Folha da Associação de Professores Alemães Católicos no Rio Grande do Sul] (1900-1917; 1920-1939). Entendemos, portanto, que outra questão tenha motivado o término da publicação do ALZ, e esta está relacionada à interrupção das atividades da Associação, conforme nos informou Willy Fuchs. O n. 7/9 é, porém, o último a que tivemos acesso até o momento. Não há certeza de que efetivamente tenha sido o último a circular, mas, em entrevista concedida pelo prof. aposentado Willy Fuchs226, que era o secretário da Associação entre 1936 e 1938,

este nos garantiu que se tratava do último número e que, segundo ele, naquele ano de 1938 foram suspensas inclusive as atividades da Associação. Sua opinião é de que faltou liderança entre os evangélico-luteranos para assumir o confronto com a Secretaria de Educação e Saúde Pública e a política de nacionalização das escolas deflagrada mediante decretos naquele ano de 1938. Na esteira dessa explicação, supomos uma possível resistência por parte das lideranças da Associação em se adequar às exigências do governo brasileiro, ou melhor dizendo, para não precisar entrar em conflito direto, interrompem suas atividades. Possivelmente o Decreto-lei n. 383, de 18 de abril de 1938, referente às restrições a estrangeiros em atividades políticas e “outras providências”, tenha sido o estopim para que a Associação desistisse de sua resistência. Este decreto-lei prevê, em seu

222 PERAZZO, op. cit., 1999, p.47.

223 Note-se que a maior parte dos periódicos em língua alemã no Rio Grande do Sul, dentre eles o jornal

Deutsches Volksblatt, o jornal Neue Deutsche Zeitung, e os almanaques Kalender für die Deutschen in Brasilien

[Almanaque para os Alemães no Brasil] (1881-1918; 1920-1941); Kalender für die deutschen evangelischen

Gemeinden in Brasilien [Almanaque para as Comunidades Evangélicas Alemãs no Brasil] (1922-1941); Der Familienfreund. Katholischer Hauskalender und Wegweiser [O Amigo da Família. Almanaque e Guia Católico]

(1912-1918; 1920-1942), dentre outros, ainda foi editada até 1941. Cf. GRÜTZMANN, Imgart. In: DREHER, 2004, p.48-90.

224 Editado e distribuído gratuitamente pela Ed. Rotermund & Co, de São Leopoldo, aos professores atuantes em escolas alemãs no Brasil.

225 Até 1907 seu título era Mitteilungen des Katholischen Lehrer- und Erziehungsvereins in Rio Grande do Sul [Notícias da Associação de Ensino e de Professores Católicos no Rio Grande do Sul]. Cf. KREUTZ, 1994, p.64- 66.

Art. 3, a associação de estrangeiros a entidades com “fins culturais, beneficentes ou de assistência”, bem como “reunirem-se para comemorar suas datas nacionais ou acontecimentos de significação patriótica”. A essas entidades, no entanto, ficava vedado o recebimento de auxílio e contribuições do exterior, bem como suas reuniões deviam ser informadas às autoridades policiais, as quais forneceriam a devida licença. O Art. 4 estende as proibições anteriores às “escolas e outros estabelecimentos educativos mantidos por estrangeiros ou brasileiros, e por sociedades de qualquer natureza, fim, nacionalidade e domicilio”. E o Art. 6 do mesmo decreto-lei determina que essas entidades não poderiam funcionar “sem licença especial e registro concedido pelo Ministério da Justiça e Negócios Interiores, na fórma do Decreto-lei n.° 59, de 11 de dezembro de 1937, e do regulamento aprovado pelo Decreto n.° 2.229, de 30 de dezembro de 1937, cujas disposições lhes são aplicáveis”.227 Conforme verificamos no editorial escrito por Franzmeyer, publicado no ALZ

de jan./abr. 1938, a Associação de Professores suspendeu suas atividades em função das medidas noticiadas em jornais diários, provavelmente em função dos decretos-lei de 1937, acima citados. Franzmeyer afirma que a diretoria da Associação buscou provar que se tratava de entidade sem finalidades políticas e estava aguardando uma decisão das instâncias responsáveis, para que pudesse retomar suas atividades sob a condição de não promover atividades nem propaganda antinacionais. Não obtivemos, porém, no ALZ, informação sobre o futuro da Associação nem sobre a interrupção da publicação. É possível, ainda, que a Associação não tenha obtido autorização e registro para continuar suas atividades, o que prevê também a suspensão da publicação do ALZ, que estava sob sua responsabilidade. Também é possível que dado ao fato de até então as lideranças terem sido estrangeiras e de as lideranças rurais não terem tido acesso a postos de mando, haver falta absoluta de quem pudesse assumir a continuidade da Associação. Seu presidente, Schreiber, nascido no Brasil teve que dar continuidade à atividade do Lehrerseminar

227 BOBBIO, Pedro Vicente (org). LEX; coletanea de legislação. São Paulo, ano II, p.119-121, 1938, p.120. (Legislação federal e marginalia).

[Seminário de Formação de Professores], transformado em Escola Técnica de Comércio, e não teve como dar continuidade à publicação.

1.2 COMUNIDADE LEDORA

A comunidade ledora do ALZ compreende, em primeiro lugar, os membros da Associação de Professores, que a recebiam gratuitamente, como direito de associado, pois já pagavam uma anuidade, conforme nos informa um editorial de 1931228. O número de

associados e/ou assinantes caracterizava-se por uma dinâmica significativa, pois, em 1931, por ex., Schulz afirma que 100 novos assinantes – num universo de 446 exemplares do ALZ editados – haviam sido incorporados, porém quase o mesmo número teria se desligado ou falecido.229 O número de associados e assinantes definia a quantidade de exemplares a

serem impressos. Verificamos, ao longo de alguns anos, a seguinte evolução:

1915 115 exemplares,

aproximadamente230

1923 300 exemplares231

1931 446 exemplares232

1936 438 exemplares 233

Quanto ao número de exemplares e abrangência, obtivemos as seguintes informações, referentes aos anos de 1923 e 1931. Em 1923, Händler, então presidente da

228 AN DIE LESER! In: ALZ, v.28, n.1-2, jan./fev. 1931. p.1.

229 SCHULZ. Lehrerzeitung. In: ALZ, Porto Alegre, v.28, n.1-2, p.4, jan./fev. 1931. 230 Corresponde ao número de associados naquele período.

231 HÄNDLER, Karl. Unsere Lehrerzeitung. In: ALZ, v.20, n.6, p.13-14, jun. 1923. 232 SCHULZ, Lehrerzeitung. In: ALZ, Porto Alegre, v.28, n.1-2, p.4, jan./fev. 1931.

233 De acordo com [Franzmeyer]. Verhandlungsbericht über die Hauptversammlung des Deutschen Evangelischen Lehrervereins am 9. September 1936 im Saale des Deutschen Hilfsvereins zu Santa Maria da Bocca do Monte; Bericht des Vorsitzenden. In: ALZ, Porto Alegre, v.33, n.11, p.1-5, nov. 1936, p.1: teriam sido

Associação, comemora os 300 exemplares alcançados em cada edição e sugere a indicação de um homem de confiança [Vertrauensmann], em determinadas cidades brasileiras, para atingirem os 400 ou 500 exemplares, como o caso de Joinville e Rio de Janeiro, em que já possuía contatos. Durante 20 anos, conforme Händler, o ALZ não havia saído do Rio Grande do Sul, nem os estados do norte do país conheciam o jornal. Faltaria, segundo ele, Blumenau, Curitiba e São Paulo. Alega que, com a ampliação da rede de assinantes para Rio e São Paulo, o ALZ poderia tornar-se o que sempre pretendeu ser: “um fiel conselheiro para o magistério, uma fonte do saber e da arte da didática”234. No que se

refere ao período anterior a 1920, há informação de que em 1915, a Associação contava com 115 membros, significando que este era aproximadamente o número de exemplares.

No que diz respeito às assinaturas e aos assinantes no ano de 1931, afirma Schulz, redator do jornal, em relatório sobre a Assembléia Geral de janeiro de 1931235, que eram

impressos 446 exemplares, dos quais 177 eram destinados a sócios efetivos [Vollmitglieder], 72 a amigos [Freundesmitglieder], 100 a outros assinantes236; o restante estaria destinado

aos membros da diretoria e a órgãos oficiais para propaganda. Nos exemplares do ALZ, no segundo semestre de 1931, encontramos uma listagem referente ao número de exemplares enviados aos correios das respectivas cidades dos assinantes. Esta listagem abrange, porém, apenas os correios do Rio Grande do Sul, somando 304 exemplares distribuídos, e os dados estão compilados na tabela III, em anexo. Não obtivemos informações sobre quem seriam os outros 142 assinantes. Neste ano de 1931, há uma informação relativa ao interesse da Associação de Professores de São Paulo em receber o ALZ, o que é comemorado pelos editores, assim como a possibilidade de receber contribuições em forma de artigos. Trata-se, aliás, de uma das queixas mais presentes nos editoriais: a falta de

438 sócios, dos quais 342 membros plenos [Vollmitglieder], 5 sócios honorários [Ehrenmitglieder], 67 amigos [Freundesmitglieder], 24 assinantes do jornal [Zeitungsbezieher].

234 […] ein treuer Ratgeber für den Lehrerberuf, eine Quelle des Wissens und der didaktischen Kunst […]. HÄNDLER, Karl. Unsere Lehrerzeitung. In: ALZ, v. 20, n. 6, p.13-14, jun. 1923.

235 Bericht über die Hauptversammlung am 3.1.1931; Bericht des Vorsitzenden. In: ALZ, v.28, n.1-2, jan./fev. 1931, p.2.

colaboração dos professores neste sentido, especialmente dos Kolonielehrer.237 Essa

informação, porém, demonstra que a abrangência da comunidade ledora, além das fronteiras do Rio Grande do Sul, ainda estava em marcha lenta, se considerarmos que essa