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1.1 A produção e a circulação do Jornal ALZ

1.1.1 A Associação de Professores Evangélicos Alemães

1.1.1.1 Os estatutos: as diversas reedições

Nesse contexto, portanto, organiza-se a Associação de Professores Alemães Evangélicos no Rio Grande do Sul - DELV, cujos objetivos consistiam, conforme seus estatutos, em “fomento às escolas teuto-brasileiras e elevação do nível espiritual e material dos professores”.108 Este objetivo seria alcançado mediante as seguintes ações previstas

em seus estatutos109: indicação de professores adequados às comunidades alemãs-

brasileiras e sociedades escolares organizadas; elaboração de material didático adequado; organização e manutenção de uma biblioteca; publicação de um jornal especializado; realização de conferências; manutenção de um Fundo de Pensão e Pecúlio; providência de vagas para seus associados.110 Para associar-se, além de ser maior de idade, o professor

devia ser atuante em escola alemã-brasileira e de comunidade religiosa de língua alemã111,

o que representava uma limitação confessional e étnica. Isto era previsto em seus estatutos. Verificamos que, na prática, a diretoria da Associação valia-se dessas delimitações, baseada nos Estatutos, para julgar casos de afastamento de associados, como aconteceu com o pastor Gans, afastado da Associação por ter assumido uma escola pública.112

Os estatutos prevêem a associação de professores e professoras atuantes em escolas alemãs-brasileiras, que possuam confissão religiosa alemã. Lembramos que, quando da criação do jornal, aventou-se a possibilidade de reunir todos os professores alemães, tanto católicos como protestantes. Também é possível que a expressão “confissão religiosa alemã” busque reunir luteranos, calvinistas e unidos. A adesão dava-se mediante o

108 Cf. Satzungen des Deutschen Evangel. Lehrervereins von Rio Grande do Sul. In: ALZ, v.6, n.6, p.1-4, dez. 1906, p.1.

109 Idem.

110 Zuweisung geeigneter Lehrkräfte an Lehrer und Lehrerinnen suchende deutsch-brasilianische Gemeinden und

Schulvereine mit geordneten Schulverhältnissen; Beschaffung geeigneter Lehrmittel; Unterhaltung einer Bibliothek; Herausgabe einer Fachzeitschrift; Abhalten von Konferenzen; Unterhaltung einer Pensions- und Sterbekasse für Lehrer und Lehrerinnen an deutsch-brasilianischen Schulen; Besorgung geeigneter Lehrstellen für seine Mitglieder. Cf. Satzungen des Deutschen Evangel. Lehrervereins von Rio Grande do Sul. In: ALZ, v.6,

n.6, p.1-4, dez. 1906, p.1 111 Ibid., p.1-2.

pagamento de um valor de entrada [Eintrittsgeld] e de uma anuidade.113 Na reformulação

dos estatutos, publicados no ALZ em setembro de 1924, a diretoria discute a necessidade de pagamento dessa entrada, no caso de vínculo como “amigo” da Associação, como comerciantes alemães, fabricantes. Sua opinião, expressa por K. Händler, é de que eles já ajudam a Associação e não precisariam pagar esse “Eintrittsgeld”. Em 1935, a Associação conta com 333 membros efetivos, 66 membros “amigos” e 5 sócios de honra.114

Uma segunda edição dos estatutos foi publicada em 1915115, porém trata-se de uma

versão aprovada em Assembléia Geral de janeiro de 1910. Há algumas alterações, se comparada à edição de 1906. As ações previstas para atingir seus objetivos passam de sete itens para oito, e este oitavo refere-se à fundação e ao reforço de sociedades escolares e à regulação da relação entre professores e comunidades escolares. A aprovação de um associado novo, que conforme o estatuto de 1906 devia ser realizada por uma comissão, em 1915, passou a ser tarefa designada às reuniões distritais.

A próxima alteração dar-se-á em 1924. Nesta versão, enfatiza-se, além de seus objetivos, sua filiação às seguintes entidades: Vereinigung Deutscher Auslandlehrer [Associação de Professores Alemães no Exterior], com sede em Berlim, e ao Verband

Deutscher Vereine zu Porto Alegre [Federação das Associações/Sociedades Alemãs de

Porto Alegre]. Aumentaram também as obrigações dos membros: deviam ligar-se ao

Ruhegehalts- und Hinterbliebenen-Fürsorge-Kasse für deutsche Lehrer und Lehrerinnen in Brasilien – RHK [Caixa de Aposentadoria e Pecúlio para Professores e Professoras Alemãs

no Brasil] e contribuir com a Sterbekasse [Caixa de Pecúlio].

113 Nos estatutos de 1915, o valor fixado era de 5 milreis por adesão e 6 milreis de anuidade; em 1924, manteve- se o valor da adesão, mas aumentou a anuidade para 10 milreis. Em 1932, este valor sobe para 18 milreis para membros efetivos, e 12 milreis para amigos da Associação.

114 Os tipos de vínculo são estabelecidos nos estatutos de 1926. In: ALZ, v. 23, n.11, nov. 1926. p.11.

Em 1932, é publicada uma nova versão dos estatutos, e chamamos atenção para duas alterações. O capítulo 1, relativo ao nome, sede e objetivo da Associação, é acrescido da informação de que a Associação vinculou-se ao Landesverband Deutsch-Brasilianischer

Lehrer – LDL [Liga Nacional de Professores Alemães-Brasileiros], fundado em 1925,116 com

sede em São Paulo, além das entidades anteriores referidas nos Estatutos de 1924 (à

Vereinigung deutscher Auslandslehrer [Associação de Professores Alemães no Exterior], de

Berlim, e ao Verband Deutscher Vereine [Federação de Associações Alemãs], de Porto Alegre).117 No capítulo 2, foi alterada a condição para tornar-se associado: “Poderá tornar-se

membro da Associação todo evangélico que trabalha pela preservação da etnia [Volkstum]”118, substituindo a redação anterior: “Poderão tornar-se membros da Associação

os professores e professoras atuantes em escolas alemãs-brasileiras. Professores de comunidades religiosas não-alemãs não poderão ser membros da Associação”119.

A última alteração dos estatutos da Associação de Professores – DELV, anunciada pela diretoria no ALZ – com a alegação de evitar dúvidas com relação ao sentido e ao objetivo da entidade –, refere-se ao nome da entidade e ao item que trata dos pré-requisitos necessários a quem pretendesse ingressar na Associação. O nome foi alterado para “Deutschbrasilianischer Evangelischer Lehrerverein von Rio Grande do Sul – Sociedade dos Professores Evangélicos Teutobrasileiros do Rio Grande do Sul”. Poderia tornar-se sócio “toda pessoa do credo evangélico, de nacionalidade brasileira ou estrangeira, que se interessar pela conservação da cultura tradicional dos antepassados germânicos dentro da mais perfeita compreensão e defesa da consciência nacional brasileira”120.

Analisando essas alterações, verificamos que as mesmas demonstram como a Associação acompanhava as discussões em torno da nacionalização e da preservação da

116 Cf. ALZ, v.22, n.11, nov. 1925.

117 Cf. ALZ, Santa Cruz, v.29, n.1-2, fev. 1932, p.6-8.

118 Satzungen des D. E. Lehrervereins von RS. In: ALZ, Santa Cruz, v.21, n.9, set. 1924. 119 Cf. ALZ, Santa Cruz, v.29, n.1-2, fev. 1932, p.6-8.

germanidade, como veremos nos capítulos 2 e 3. Em 1937 e 1938, os estatutos são alterados, seguindo exigência feita pelas mudanças no cenário político nacional, com a política de Vargas no Estado Novo e suas restrições à política imigratória e educacional. Referimo-nos especialmente aos decretos regulamentando as atividades de entidades estrangeiras existentes no país e aos decretos que regulam o funcionamento das escolas em que se lecionava em língua estrangeira. A única ação anterior, no sentido de tornar a Associação de Professores mais visível à sociedade brasileira, é a tradução dos estatutos para o português, em 1934, e o seu respectivo registro como pessoa jurídica: “[...] a Associação foi inscrita no ‘Registro de pessoas jurídicas’, com o que finalmente está eliminado vício que vinha de longa data”121. Houve exigência nesse sentido em função da

nacionalização.

Afastando-nos do âmbito dos estatutos, encontramos diversos artigos nos quase quarenta anos de circulação do ALZ em que transparece o descontentamento da diretoria da Associação com a relação do professor e da “comunidade escolar” com a Associação e o ALZ. Até 1930, os editores mantêm o dizer “Arregimentem membros para a Associação de Professores Alemães Evangélicos”122 e “Divulguem o jornal!”123. Isto significa que o número

de associados não contemplava todos os professores evangélicos alemães e que também o jornal ALZ não conseguia atingir todos ou apenas uma maioria. Na década de 1930, a preocupação continua estampada em artigos dos dirigentes da Associação. Fritz Krebs escreve em 1935124 sobre os objetivos da Associação, enfatizando a relação das

comunidades escolares com a Associação. Segundo o autor, não é compreensível por que as comunidades não se importam se o professor é filiado à Associação ou não, ainda mais porque ela apóia as escolas. O pior, continua Krebs, era quando as comunidades

120 Satzungsänderungen. In: ALZ, v.35, n.7-9, jul./set. 1938, p.3.

121 [...] der Verein in das “Registro de pessoas jurídicas” eingetragen, womit ein lange empfundener

Schönheitsfehler endlich beseitigt wurde. K. [KRAMER]. Bericht des Vorsitzers. In: ALZ, v.31, n.11, nov. 1934,

p.3.

122 Werbt Mitglieder für den D. E. Lehrerverein! 123 Werbt für die Zeitung!

colocavam-se contra a Associação de Professores – DELV. Apesar de chamar-se

Lehrerverein [Associação de Professores], pretendia, em primeiro lugar, o fomento às

escolas evangélicas alemãs e, apenas em segundo lugar, a melhoria das condições dos professores, o que foi reforçado na Assembléia Geral de 9 e 10 de setembro de 1934, enfatiza o autor.125 Seu texto reflete, ainda, o pouco interesse dos professores pelas causas

da Associação. Alguns, afirma Krebs, apenas pagam sua anuidade.