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5. PROCESSO DE LICENCIAMENTO DO ACQUÁRIO CEARÁ

5.2 Aspectos e Contestações sobre o Processo de Licenciamento

5.2.2 Ação Civil Pública do Ministério Público Federal

O Ministério Público Federal- MPF foi um dos maiores opositores do processo de licenciamento do Acquário Ceará e, em fevereiro de 2013, executou uma Ação Civil Pública- ACP em desfavor do IBAMA, da SEMACE, do Estado do Ceará, do Município de Fortaleza e também da União Federal expondo diversos aspectos que, segundo o mesmo, eram irregulares no processo do licenciamento do empreendimento.

Por meio de Inquérito Civil Público- ICP, o MPF requisitou uma série de documentos e informações técnicas referentes ao licenciamento ambiental do Acquário Ceará e observou o que seria uma série de irregularidades durante o trâmite do processo. Em primeiro lugar, sabe-se que o processo de licenciamento de um empreendimento deve ser feito exclusivamente em um único nível de competência, segundo a resolução CONAMA nº 237/97, porém ao requisitar a concessão de licença o Secretário Estadual de Turismo do Ceará protocolou requerimentos junto à SEMACE e Secretaria Municipal de Meio Ambiente- SEMAN (atual SEMA), iniciando assim em dois órgãos, municipal e estadual, o processo de licenciamento do empreendimento (MPF-ACP no3697/13, pg. 6).

É descrita na ACP que logo após o recebimento de pedido de Licença Prévia na SEMACE, em fevereiro de 2009, a mesma emitiu um ofício ao Secretário de Turismo afirmando que não lhe caberia realizar o licenciamento do Acquário, pois reconhecia o município de Fortaleza como qualificado para o exercício da atividade e, portanto, o pedido deveria ser enviado à SEMAN, e que seria de sua competência realizar o processo de licenciamento (MPF-ACP no3697/13, pg.8). Foi ainda afirmado no ofício que a SEMACE, a título de

colaboração, enviou à SEMAN um termo de referência para auxiliar na confecção do EIA/RIMA pelo empreendedor. O processo de licenciamento foi arquivado no âmbito da SEMACE em junho de 2009, porém é afirmado na ACP que não há nenhuma comprovação de envio do processo a SEMAN como foi afirmado.

Ocorre que, de junho de 2009 até o fim de agosto de 2011, nenhuma movimentação foi feita referente ao processo de licenciamento do Acquário na SEMACE, porém, em 31 de agosto de 2011 a SETUR, formula novo pedido de Licença Prévia à SEMACE, dentro do mesmo procedimento realizado anteriormente e que em teoria teria sido arquivado na SEMACE e encaminhado a SEMAN. Em dezembro de 2011 a licença prévia é emitida e, menos de 3 meses depois, em março de 2012, a licença de instalação também é concedida (MPF- ACP no3697/13, pg.9).

É afirmado pelo MPF que nenhuma justificativa foi dada pela SEMACE para a reabertura do processo, não houve fundamentação de ato administrativo de anulação para que fosse sequer possível o reinício do processo no órgão sendo portanto uma reabertura de tramitação nula e ainda segundo o MPF, todos os atos praticados após essa reabertura também são considerados nulos, incluindo a emissão das licenças prévia e de instalação (MPF- ACP no3697/13,

pg.12).

Um outro aspecto do processo de licenciamento do Acquário Ceará criticado na ACP foi a análise técnica de seu conteúdo. Para a emissão de Licença Prévia, a SEMACE emitiu um parecer técnico que aprovava a viabilidade ambiental do projeto, por meio da avaliação do EIA/RIMA, que foi assinado por 10 técnicos da SEMACE (MPF-ACP nº 3697/13, pg. 13). É explicado na ACP que, usualmente, o procedimento adotado para a emissão de pareceres

constitui-se da análise específica de cada técnico, dependendo de sua área de atuação, e então a reunião desses pareces para emissão do parecer final. Acontece que, no caso do Acquário Ceará, 6 dos 10 profissionais que participaram desse processo são terceirizados, contratados para desempenhar funções administrativas, contrariando normas vigentes pois, segundo o que consta na ACP “o licenciamento ambiental é uma atividade própria do poder público” (MPF-ACP nº 3697/13 pg. 14), sendo, portanto, requerida a participação apenas de servidores concursados do órgão.

Um terceiro aspecto fortemente questionado pelo MPF a respeito do processo de licenciamento ambiental do Acquário foi a competência do órgão ambiental para exercer o processo. Considerando que o processo de licenciamento do Acquário iniciou-se em 2009, com reabertura de processo em 2011, a norma que regerá o processo é a resolução CONAMA nº237, tendo em vista que a Lei Complementar no 140/11 foi criada após esse período. Segundo

a resolução é definida a competência do IBAMA como:

Art. 4° - Compete ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA, órgão executor do SISNAMA, o licenciamento ambiental, a que se refere o artigo 10 da Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, de empreendimentos e atividades com significativo impacto ambiental de âmbito nacional ou regional.

I - localizadas ou desenvolvidas conjuntamente no Brasil e em país limítrofe; no mar territorial; na plataforma continental; na zona econômica exclusiva; em terras indígenas ou em unidades de conservação do domínio da União.

II - localizadas ou desenvolvidas em dois ou mais Estados;

III - cujos impactos ambientais diretos ultrapassem os limites territoriais do País ou de um ou mais Estados;

IV - destinados a pesquisar, lavrar, produzir, beneficiar, transportar, armazenar e dispor material radioativo, em qualquer estágio, ou que utilizem energia nuclear em qualquer de suas formas e aplicações, mediante parecer da Comissão Nacional de Energia Nuclear - CNEN; V- bases ou empreendimentos militares, quando couber, observada a legislação específica

É afirmado na ACP que a resolução sofreu interpretação equivocada pois partiu do pressuposto que apenas caberia ao IBAMA licenciar as atividades dos incisos transcritos se os impactos fossem simultaneamente significativos e de âmbito nacional ou regional. A partir dessa premissa, um empreendimento localizado, por exemplo, no mar territorial, com é o caso do Acquário Ceará, só seria licenciado pelo IBAMA se os seus impactos fossem considerados, pelo próprio IBAMA, significativos e de âmbito nacional ou regional, porém esse tipo

de interpretação abre precedente para que situações semelhantes sejam tratadas de forma diferente pelo órgão. Segundo exposto na ACP, a resolução CONAMA nº237/97 fixou a competência para o IBAMA em todos os casos descritos nos incisos, já os considerando como “significativo impacto ambiental de âmbito nacional ou regional” explicitando assim a sua convicção de que o empreendimento deveria ter sido licenciado pelo IBAMA e não pela SEMACE (MPF-ACP nº 3697/13 pg. 18-23).

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