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3 EFEITOS DAS DECISÕES JUDICIAIS NO ÂMBITO DO CONTROLE DE

3.6 AS AÇÕES DO CONTROLE CONCENTRADO E OS EFEITOS DE SUAS DECISÕES

3.6.3 Ação Declaratória de Constitucionalidade

Com previsão expressa no artigo 102, inciso I, alínea ‘a’, da Constituição Federal232,

regulamentada nos artigos 13 a 20 da Lei nº 9.868/1999, a ADC surgiu no Brasil a partir da Emenda Constitucional nº 03, de 17 de março de 1993.

A doutrina aponta como antecedente histórico no direito comparado a “evolução experimentada pelo sistema alemão desde Weimar (1919) até a sua consolidação no sistema

consagrado pela Lei Fundamental de Bonn (1949).”233 Em sua obra, Mendes faz um breve

relato sobre a decisão precursora da atual declaração de constitucionalidade:

Em 10 de junho de 1953 o Bundesverfassungsgericht decidiu, pela primeira vez, uma típica ação declaratória de constitucionalidade. Cuidava-se de ação proposta pelo Governo do Estado da Baixa Saxonia que postulava fosse declarada a constitucionalidade do Regulamento de 8 de julho de 1952, editado por esse governo, sobre a organização judiciária estadual. Referido texto normativo provocou grande controvérsia, tendo o Parlamento estadual recomendado fosse o assunto objeto de analise pela Comissão de Constituição e Justiça. Também a 13ª Câmara do Tribunal Estadual considerou inconstitucional o ato normativo questionado.234

A ação declaratória de constitucionalidade emergiu no sistema jurídico, inserida ao contexto da reforma constitucional-tributária, em meio às sucessivas tentativas de estabilizar a economia, que há anos padecia diante de planos econômicos fracassados, corrupção e a queda

da renda da população.235

Abordada por vários estudiosos do tema, Charles Andrade Froehlich e Elia Denise Hammes, ao discorrerem sobre a alteração produzida pela Emenda Constitucional nº 3/93, pontuam:

Assim, a ação declaratória de constitucionalidade visa a que o STF declare a constitucionalidade de lei ou ato normativo federal, no caso de existência de controvérsia judicial relevante, no Poder Judiciário brasileiro, sobre a constitucionalidade ou inconstitucionalidade da espécie normativa em questão. Sabemos que existe a presunção de constitucionalidade de toda a norma, mas em face de decisões divergentes sobre esse aspecto, no Judiciário pátrio, temos a

232

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.

233

MENDES, Gilmar Ferreira, 2012. p. 433.

234

Idem. Ibidem. p 438.

235

possibilidade de ajuizamento de ação declaratória de constitucionalidade para que o STF profira decisão definitiva com efeito erga omnes e vinculante, resolvendo a dúvida.236

Manoel Gonçalves Ferreira Filho visualiza na declaração de constitucionalidade a possibilidade de o Supremo Tribunal Federal anunciar uma decisão definitiva de mérito com “eficácia contra todos e efeito vinculante para os demais órgãos do Poder Judiciário”, e continua:

Em razão dela, todos os tribunais e juízos terão obrigatoriamente de considerar constitucional a norma assim declarada nesta ação de constitucionalidade, independentemente do juízo pessoal de cada magistrado. E isto em qualquer demanda, mesmo, evidentemente, entre pessoas que não intervieram na ação declaratória.237

Contextualizada em meio a decisões divergentes em sede de controle abstrato e concreto de constitucionalidade, a pretensão da ação declaratória é certificar a conformidade do ato normativo com a Constituição, “com o efeito prático de paralisar toda e qualquer

discussão a respeito do tema tratado na ADC”.238

Utilizada unicamente para verificar a constitucionalidade de ato normativo federal, André Ramos Tavares aponta uma peculiaridade singular advinda do pronunciamento do Supremo Tribunal Federal:

Costuma-se indicar que a ADC é a ADI com sinal invertido, ou seja, o pedido é o inverso daquele cabível na tradicional ação de controle abstrato. Deve-se pedir em ADC a declaração de constitucionalidade da lei ou ato normativo federal (não é cabível par lei estadual ou municipal). O resultado, porém, pode ser a declaração de inconstitucionalidade, no caso de julgamento final pela improcedência do pedido formulado.239

Na exposição sustentada por Marinoni, Mitidiero e Sarlet, a controvérsia judicial relevante se materializa na divergência apresentada entre os tribunais, a testemunhar o desencontro entre os Poderes Judiciário e Legislativo, e explica:

Em outras palavras, a razão de ser da declaração de constitucionalidade não está na insegurança propiciada pela incoerência das decisões, mas na falta de previsibilidade acerca da validade da norma. É a desconfiança na validade da norma, gerada por

236

FROEHLICH, Charles Andrade. HAMMES, Elia Denise. Manual do controle concentrado de constitucionalidade. Curitiba: Juruá, 2009. p. 254.

237

FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Curso de Direito Constitucional. 40 ed., São Paulo: Saraiva, 2015, p. 70.

238

SILVA NETO, Manoel Jorge e. Curso de Direito Constitucional. 8 ed., São Paulo: Saraiva, 2013, p. 251.

239

decisões judiciais, que justifica a declaração de que a norma é válida e, portanto, aplicável.240

O Supremo Tribunal Federal atestou a imprescindibilidade da existência de controvérsia judicial em torno da legitimidade constitucional de determinada lei ou ato normativo a ensejar a propositura de ação declaratória de constitucionalidade, sob o risco de tornar a ação de controle abstrato mero instrumento de consulta “sobre a validade constitucional de determinada lei ou ato normativo federal, descaracterizando, por completo, a própria natureza jurisdicional que qualifica a atividade desenvolvida pelo Supremo Tribunal Federal”.241

Vista como limitadora e desnecessária por Miranda, o professor lusitano, em seu pronunciamento, destacou a ausência de eficácia da decisão de não inconstitucionalidade na

generalidade dos países.242 Em relação à realidade brasileira, pronunciou:

Voltado para a certeza do Direito e a economia processual, o instituto brasileiro apresenta-se bastante vulnerável: desde logo, porque, para tanto, bastaria atribuir força obrigatória geral à não declaração de inconstitucionalidade; depois, porque diminui o campo de fiscalização difusa; e, sobretudo, porque o seu sentido útil acaba por se traduzir num acréscimo de legitimidade, numa espécie de sanção judiciaria a medidas legislativas provenientes dos órgãos (salvo o Procurador Geral da República) a quem se reserva a iniciativa. Não admira que seja controvertido.243

Com rito previsto na Lei nº 9.868/99, o rol de legitimados para propor a ação declaratória de constitucionalidade está na Constituição Federal, sendo os mesmos com capacidade postulatória para a ação direta de inconstitucionalidade, por força da Emenda Constitucional nº 45, de 30 de dezembro de 2004.

Demonstrada a controvérsia judicial relevante, a petição inicial deverá indicar o dispositivo de lei ou ato normativo questionado e apresentar o pedido com suas especificações, nos termos do artigo 14 da Lei nº 9.868/99.

Cumpre destacar a possibilidade de ser concedida medida cautelar com efeito erga omnes, vinculando os demais órgãos do Poder Judiciário e da Administração Pública direta e indireta nas três esferas, federal, estadual e municipal, como restou destacado na ADC nº 8, citada anteriormente.

240

SARLET, Ingo Wolfgang; MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012, p. 1001.

241

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Medida cautelar na ação declaratória de constitucionalidade n. 8. Relator: MELLO, Celso de. Publicado no DJ em 04.04.2003, p-00038. Disponível em: < http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=372907>. Acesso em: 15 jun. 2015.

242

MIRANDA, Jorge. Op. cit. 2013. p. 82.

243

Por fim, a decisão de procedência será de declaratória de constitucionalidade, e a improcedência estará declarando a inconstitucionalidade da lei ou ato normativo analisado.