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Como estratégia de intervenção na busca da consolidação dos objetivos e metas traçadas, a formação de um “tripé” estratégico por meio da participação da família, comunidade e escola constitui-se muitas vezes em um importante mecanismo na abordagem metodológica das ONGs e Projetos Sociais.

Segundo Rodrigues e Vasconcelos (2006), na busca de assegurar o desenvolvimento integral e a socialização de crianças e adolescentes, diversos projetos sociais enfatizam seus objetivos e características com importantes articulações com o público atendido. As relações

com a família, a comunidade e com o poder público destacam-se nas ações educativas dos programas advindos do Terceiro Setor.

Conforme aponta Unicef (2003 apud RODRIGUES; VASCONCELOS, 2006), a estratégia constitui-se em valorizar a riqueza pedagógica das ações complementares à escola realizadas por organizações da sociedade civil. Tais estratégias caracterizam-se como a “parte visível do iceberg” (ação dos projetos), capaz de fazer diferença no cotidiano dos indivíduos atendidos. Tornar visível a “outra parte do iceberg” por meio da evidência das ações do projeto com a família, a escola e a comunidade, como importantes espaços de educação, é uma questão a ser refletida.

Nesse sentido, esses espaços devem/deveriam estar envolvidos em comunhão com as escolas no processo de educação das crianças e adolescentes. Deste modo, as atividades “não- formais” e/ou “extracurriculares” empregam-se não em paralelo, mas sim em sintonia com a escola, funcionando como uma espécie de “esforço conjunto” da sociedade civil com o poder público.

Para Rodrigues e Vasconcelos (2006), Projetos Sociais de intervenção sócio-educativa possuem enquanto maior interesse a questão da socialização, da participação comunitária, da cooperação, prosperidade, benefício e respeito mútuo, incentivo ao desenvolvimento da autonomia e, sobretudo, a melhoria da qualidade de vida.

É intencional também o ato de construir relações afetivas significativas e saudáveis, despertando o sentimento de pertencimento a um grupo social. Estes, segundo as autoras, são instrumentos fundamentais na promoção da equidade e igualdade social, favorecendo aos participantes múltiplas oportunidades de atividades, certificando-lhes direitos sociais garantidos constitucionalmente.

Em uma intervenção que objetive tal dimensão, a família assume um papel muito importante, como parceira e partícipe das ações do projeto, da comunidade e da escola, visto que a situação de bem-estar das crianças e jovens é diretamente proporcional à manutenção de um vínculo familiar estável. Por meio de sustentações afetivas, é a família que propicia o desenvolvimento do bem-estar de seus componentes. Desempenha uma intervenção decisiva no processo educativo, formal e não-formal, e é neste espaço que os valores humanitários e éticos são apreendidos, e onde se estreitam os laços de solidariedade. Além disso, em seu interior se constroem as características absorvidas pelas gerações e são perceptíveis os valores culturais (KALOUSTIAN, 2002 apud RODRIGUES; VASCONCELOS, 2006).

Neste primeiro local de convívio se apresentam às crianças e jovens valores, costumes, regras, exemplos que aos poucos são internalizados e muitas vezes permanecem até a vida

adulta. Assim, a forma que as relações familiares se concretizam interfere diretamente na formação da identidade pessoal e social do indivíduo.

No que se refere à atuação das ONGs e Projetos Sociais do Terceiro Setor, Rodrigues e Vasconcelos (2006) apontam que nenhum destes tipos de programa poderá obter êxito se a família (enquanto peça chave de sustentação do tripé de atividades complementares) não se fizer presente de forma ativa. Não será possível intervir satisfatoriamente no desenvolvimento da formação da criança e/ou jovem atendido pelo projeto, sem ao menos conhecer a realidade social do contexto familiar do participante.

Para isso, conscientizar a família neste processo torna-se extremamente pertinente para que esta se reconheça como importante na construção de identidade de seus filhos.

Em comunidades de baixa renda, as famílias em estado de pobreza muitas vezes atribuem o insucesso de seus filhos como algo natural inerente à camada social e, ao conseguir êxito, atrelam mais à questão da sorte do que propriamente ao mérito. Nesta concepção, acredita-se que a variação entre sucesso e fracasso escolar depende mais das crianças e jovens do que da própria família. Nesse sentido, algumas famílias enxergam a atuação de projetos sócio-educativos muito mais como uma garantia de proteção aos filhos do que uma proposta educativa.

No âmbito dos projetos sócio-educativos, mobilizar a família para que se sinta sujeito no processo de formação de seus filhos representa um desafio para os profissionais envolvidos nesse contexto.

Outra questão importante neste contexto é a utilização da própria comunidade, de modo a construir uma rede de serviços tanto para as famílias quanto para as crianças e adolescentes atendidos. Dentre as questões pertinentes que envolvem a comunidade na atuação dos projetos sócio-educativos podemos destacar os cuidados, a socialização e a participação ativa em sociedade, atrelando à programação educativa.

Os programas de apoio sócio-educativo visam a orientação e o apoio à criança e ao adolescente em seu próprio ambiente de vida, atendendo aqueles que por alguma razão endógena ou exógena, foram ameaçados ou violados em seus direitos de proteção integral. Portanto, o atendimento sócio-educativo vem ganhando importância política, social e jurídica no âmbito de atenção à criança e ao adolescente tendo em vista a proteção integral (RODRIGUES; VASCONCELOS, 2006, p. 239).

Ainda na visão das autoras, os projetos sociais possibilitam aos participantes e familiares um atendimento muitas vezes atingindo sua totalidade, acabam se configurando

com uma maneira de contribuir para o fortalecimento das relações pessoais e sociais, além de oportunizar o acesso (que hoje é quase inexistente) ao lazer, arte, cultura, esporte, etc.

Assim, contraria-se ao que vem acontecendo no espaço escolar formal, no qual diariamente se vivencia a evasão dos alunos, haja vista que muitas vezes não compreendem e não sabem lidar com as inúmeras dificuldades que as crianças e adolescentes apresentam no âmbito familiar, comunitário, dentre outros.

3 AÇÕES DO TERCEIRO SETOR NO ÂMBITO DO ESPORTE E LAZER.

O tópico que aqui se inicia pretende apresentar o panorama atual de discussão do fenômeno esporte. Esse debate na nossa compreensão faz-se necessário para esclarecer as diferentes dimensões sociais que a prática esportiva apresenta, além de chamar-nos a atenção para uma possibilidade que vem ganhando força e consistência no âmbito acadêmico e esportivo: O “Esporte Social”. Além disso, a prática esportiva caracteriza-se como a principal atividade de nosso campo de pesquisa: O Projeto Santo Amaro.

Sabemos que, dentre os diversos fenômenos sociais, poucos possuem uma atenção tão evidente para com a sociedade como a que tem o esporte. Quaisquer que sejam os meios de divulgação e comunicação, dificilmente ficamos passivos com o que acontece no interior do mundo esportivo em nosso cotidiano.

Basta olharmos à nossa volta que podemos perceber claramente o espaço adquirido pela prática esportiva na atualidade. A atenção dada pela mídia; a quantidade significativa de jornais e revistas com cadernos ou seções dedicadas ao esporte; canais de televisão aberta e fechada com programas diários ou semanais que discutem ou apresentam jogos, resultados ou importantes acontecimentos da cena esportiva; canais especializados na temática; atividade que movimenta grandes quantidades de dinheiro nas indústrias do lazer, turismo, roupas, entretenimentos, equipamentos esportivos, alta tecnologia, pesquisas científicas (sob os mais diversos âmbitos e finalidades), tornando-se até uma espécie de “estilo de vida” para algumas pessoas, devido à aceitação de sua prática e intervenção de estilos saudáveis ou ainda do ponto de vista mercadológico.

Eventos esportivos como a Copa do Mundo ou Jogos Olímpicos cativam a atenção de milhares de pessoas, propagando concepções e valores tais como o drama, a glória, fibra, superação, adrenalina, além de evidenciar o limite humano tanto fisiológico quanto emotivo, que dimensiona ao esporte um fenômeno sociocultural com grandes proporções.

Tal fenômeno não se constitui em um objeto de admiração apenas de seus fiéis seguidores, mas também para crianças, adolescentes, adultos e idosos, os quais muitas vezes buscam simular os eventos que apreciam.

Além do aspecto “mídia”, percebemos o aumento considerável do número de praticantes em todo o mundo das mais diferentes modalidades, evidenciando que pela sua crescente relevância social, transformou-se em um dos mais importantes fenômenos de nossa época.

Entretanto, percebemos que apesar deste grande interesse, a prática esportiva ainda não recebe o fruto da legitimação social que outros direitos usufruem no âmbito das políticas públicas. Apesar de preconizado como direito em nossa Constituição, vivemos em um cenário escasso de acesso aos direitos sociais, ficando o esporte à margem ou ainda em segundo plano.

A seguir, discutiremos o que é o esporte, quais direcionamentos e interferências sua prática acarreta na sociedade, quais são suas diferentes formas de manifestação, e como se articulam em projetos e ações sociais do Terceiro Setor nesta área.