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4.2 APROFUNDANDO NOS PILARES

4.2.4 Aprender a ser (Competências Pessoais)

O pilar Aprender a Ser é apontado como a síntese dos demais pilares (Aprender a Conhecer, Aprender a Fazer e Aprender a Conviver) e por ser inerente a todas as aprendizagens permeia as ações educativas voltadas para a formação integral das pessoas.

Segundo Delors (2001), a Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI desde sua primeira reunião sempre reafirmou um princípio fundamental: a educação deve contribuir para o desenvolvimento total da pessoa. Isso inclui espírito e corpo, inteligência, sentido estético, sensibilidade, responsabilidade pessoal, dentre outros.

Nesse sentido, graças à educação que recebemos na juventude, fomos preparados para elaborar pensamentos críticos e autônomos, para formular nossos próprios juízos de valor, decidindo por nós mesmos a forma de agir nas diferentes ocasiões da vida.

O grande desafio será fornecer às crianças e aos jovens forças e referências intelectuais que lhes possibilitem compreender o mundo em que vivem e intervir nele como indivíduos justos e responsáveis. A educação nesse contexto tem como papel essencial transmitir a liberdade de pensamento, discernimento, sentimentos e imaginação que precisamos para desenvolver nossos talentos e mantermo-nos, o quanto possível, donos de nossos próprios destinos. Deste modo, convém oferecer às crianças e aos jovens o máximo de descobertas e experimentações possíveis nos mais diversos âmbitos (estética, artística, desportiva, científica, cultural e social).

Assim, Delors (2001) e sua Comissão aderem plenamente ao relatório do Aprender a Ser (UNESCO, 1972):

O desenvolvimento tem por objeto a realização completa do homem, em toda a sua riqueza e na complexidade das suas expressões e dos seus

compromissos: indivíduo, membro de uma família e de uma coletividade, cidadão e produtor, inventor de técnicas e criador de sonhos (FAURE et al., 1972 apud DELORS, 2001, p. 96).

Este desenvolvimento do ser humano, que se desenrola desde o nascimento até a morte, é um processo dialético que começa pelo conhecimento de si mesmo para se abrir, em seguida, à relação com o outro. Neste sentido, a educação é antes de mais nada uma viagem interior, cujas etapas correspondem às da maturação contínua da personalidade. Na hipótese de uma experiência profissional de sucesso, a educação como meio para uma tal realização é, ao mesmo tempo, um processo individualizado e uma construção social interativa. (DELORS, 2001, p. 96).

Como pilar que integra as três aprendizagens precedentes, o Aprender a Ser traz consigo o despertar das potencialidades do ser humano nas dimensões cognitiva, social e pessoal de maneira completa. Para tal, fazem-se necessárias oportunidades educativas que nos coloquem em contato direto com nossa própria individualidade, como marco inicial de um processo de desenvolvimento voltado para a totalidade do ser, e que se estende por toda a vida.

Para Hassenpflug (2004), Aprender a Ser é ir de encontro consigo mesmo, de modo a transformar as potencialidades em realidades, construindo um projeto de vida que reflita nosso projeto de ser em potencial, o qual cada um de nós traz ao nascer.

No decorrer do processo do Aprender a Ser, é possível perceber um dos mais importantes aspectos inerentes à ação educativa: a construção de um universo de valores que servirá como base futura para a capacidade de tomar decisões e fazer escolhas, tanto diante de si mesmo, quanto da sociedade. Com isso, o indivíduo precisa cultivar uma atitude de autodesenvolvimento e dominar as competências relacionadas aos demais pilares, conhecer, fazer e conviver, construindo e reconstruindo sua própria identidade para viabilizar a construção de seus projetos de vida.

Hassenpflug (2004) ainda complementa que o pilar Aprender a Ser se refere à plenitude do ser humano. Deste modo, o desenvolvimento precisa estar comprometido com a realização completa do homem, considerando-o nas suas relações e nos seus papéis sociais, seja como pessoa, cidadão, membro de uma família, de uma comunidade, ou ainda como produtor de sua realidade e de novas ideias.

O Aprender a Ser e suas competências pessoais são aquelas capazes de gerar no indivíduo a capacidade de criar uma personalidade única e uma trajetória singular, simultaneamente conectadas aos desafios de seu tempo. Estas competências são dispostas em dois grupos, Identidade e Projeto de Vida, conforme veremos abaixo:

QUADRO Nº 5

COMPETÊNCIAS DO PILAR APRENDER A SER IDENTIDADE E ENCONTRO CONSIGO MESMO

Autoconhecimento Elaboração de pensamentos autônomos e críticos, a partir da tomada

de consciência de quem você é.

Auto-Estima É a capacidade de gostar de si mesmo, de aceitar-se e de valorizar-se

exatamente como é.

Autoconfiança

Consiste na compreensão e aceitação de si mesmo, ressaltando seus potenciais e suas capacidades. Quem possui autoconfiança acredita em si mesmo, não tem medo de agir, de errar, de ousar e vai em busca do que deseja e de onde quer chegar.

Autoconceito É a ideia e a imagem que se tem de si mesmo. Para isso é preciso

conhecer-se (elaborar uma identidade), ter auto-estima (gostar-se) e ter consciência de suas capacidades e conquistas.

Visão confiante de Futuro

Ter uma visão destemida do amanhã e, por isso, poder sair do imediatismo e perceber o futuro como algo desejoso para projetar novas realidades e assumir determinados riscos.

Quadro construído a partir de Hassenpflug (2004, p. 138 e 139).

QUADRO Nº 6

OUTRAS COMPETÊNCIAS ACERCA DO PILAR APRENDER A SER PROJETO DE VIDA

Querer-Ser Consiste na motivação de cada pessoa, disposto na força de um

sonho, de um futuro desejado.

Autoproposição: O Projeto de Vida

É ter um sonho, definir etapas para alcançá-lo e saber conduzir o processo para concretizá-lo; quando se tem um objetivo e se estabelece a forma, o tempo e as etapas para atingi-lo, transforma-se o desejo, o querer-ser num projeto de vida.

Sentido da Vida É o rumo traçado entre o presente e o futuro desejado.

Autodeterminação

É ser capaz de escolher o caminho que se quer seguir e não deixar que os outros o façam por nós. É necessária para tomar decisões apoiadas em crenças e valores que dão sentido ao que somos e ao que buscamos.

Resiliência

Capacidade de resistir à adversidade, de não se deixar destruir nos períodos difíceis, e ir além, de modo a crescer nos momentos em que as dificuldades são muitas e grandes.

Auto-realização

A realização acontece a cada passo novo que damos na direção do nosso projeto de vida. Isso acontece quando se sabe que está no caminho certo e que nele avança continuamente.

Plenitude São aqueles momentos em que de fato alcançamos os nossos desejos

mais intensamente sonhados.

Quadro construído a partir de Hassenpflug (2004, p. 140 – 142).

No que se refere ao trato metodológico do pilar Aprender a Ser no PEE, Hassenpflug (2004) cita que as práticas esportivas apresentam um diferencial importante se comparado às demais atividades que desenvolvemos no cotidiano porque exige uma ação integrada entre corpo, mente e emoção. No contexto esportivo, necessita-se da resposta imediata e articulada de todo o nosso ser, com suas capacidades e competências. Esta resposta através do movimento exige prontidão, rapidez de raciocínio e de decisão, e devido a isso ficamos totalmente expostos ao erro.

A prática esportiva por meio do jogo nos possibilita a oportunidade de trabalharmos com o erro como uma possibilidade extremamente natural inerente a qualquer atividade humana. Quem possui o medo de errar não entra no jogo ou no esporte por inteiro, e desta forma não se beneficia de todas as oportunidades de crescimento que ele oferece. Nesse contexto, aprendemos o que é vitória ou derrota, alegria e tristeza, representando aprendizados para toda a vida.

Entretanto, é também inerente ao âmbito esportivo e ao jogo a tensão, e traz consigo a manifestação da agressividade humana, que muitas vezes encontra-se reprimida. Esta é uma oportunidade ímpar de se tomar consciência de nossas reações emocionais e organizá-las de modo a aliviar as tensões do corpo.

Deste modo, o Aprender a Ser encontra no esporte um importante aliado no caminho do desenvolvimento de competências pessoais permanentes para crianças e jovens construírem suas identidades e seus projetos de vida. Principalmente no que se trata do reconhecimento dos próprios talentos, qualidades e sentimentos e saber utilizá-los para atingir seus objetivos. Habilidades como autoconfiança e autodeterminação são necessárias para levar o indivíduo a persistir em suas metas e superar possíveis obstáculos, além disso, valores como saúde, solidariedade, ética e respeito à vida.

A prática do esporte permite então avaliar ao mesmo tempo o nosso desempenho, aperfeiçoá-lo no decorrer da atividade e desenvolver novas competências (HASSENPFLUG, 2004).

Além disso, a experiência do Programa Educação pelo Esporte trouxe outras competências a partir de sua vivência, apontadas como fundamentais:

• Autocuidado: Cuidar do corpo, da mente, da sexualidade, da saúde e do bem-estar físico e psicológico.

• Autodomínio: Lidar com os próprios sentimentos, reconhecê-los e identificar suas raízes e expressá-los dentro dos limites de respeito à convivência.

• Autodisciplina: É ter noção clara e objetiva da liberdade que pode ter dentro de limites éticos pré-estabelecidos.

• Valorização da Vida;

• Capacidade de Fazer Escolhas.