• Nenhum resultado encontrado

3. METODOLOGIA

3.3. Apresentação das ações sócio-educativas a partir das obras pesquisadas

3.3.6. Ações sócio-educativas e elementos técnico-operativos

Os elementos técnico-operativos são entendidos como os procedimentos que estão mais próximos da operacionalização das ações profissionais, tratam-se das abordagens, dos instrumentos40 e das técnicas utilizados pelos Assistentes Sociais para viabilizar suas ações.

Assim, poucas das obras pesquisadas permitem identificar esses elementos, mas naquelas que foi possível realizar tal identificação trazem como principais abordagens no desenvolvimento de ações sócio-educativas: as abordagens individual e grupal/familiar no âmbito da atenção direta e as abordagens grupal e coletiva no âmbito coletivo, sendo que essas abordagens podem ser apreendidas a partir dos instrumentos que as viabilizam, conforme pode ser observado nas citações

[...] o espaço grupal (a reunião) e/ou epaço individual (a entrevista são utilizados [...] os quais tornam possíveis a troca de experiências, a vivencia de relações democráticas e horizontais, a definição de interesses coletivos que articulem os interesses individuais... (VASCONCELOS, 2002, p. 495 –

livro).

Educação e informação em saúde [...] consistem em orientações e abordagens individuais ou coletivas/grupais ao usuário, família e à comunidade para esclarecer, informar e buscar soluções acerca de problemáticas que envolvem a colaboração destes na resolução de problemas de saúde individual e coletiva (COSTA, 2000, p. 45 – periódico).

O trabalho dos assistentes sociais comparece nos movimentos sociais [...] atuando num processo de mobilização de trabalhadores e/ou de comunidades [...] Aqui tem lugar uma série de atividades miúdas (reuniões, assembléias, cursos, treinamentos, visitas etc.) (GARCIA, 1999, p. 189 – coletânea de

textos).

O assistente social dentro do Hospital realiza atendimento individualizado através de entrevistas (BERTANI, 1993, p. 41 – periódico).

[...] desenvolvimento de programas de informação e orientação em direitos para a população, através de abordagens individuais e/ou coletivas a grupos, família e comunidade (CHUARI, 2001, p. 141 – periódico).

As ações educativas/preventivas [...] são desenvolvidas com mais ênfase nos grupos que operacionalizam os programas de atenção primária [...] (BENATTI, 2004, p. 74 – dissertação).

As visitas domiciliares foram utilizadas, instrumentalmente, como forma de aproximação e conhecimento não só da realidade em que vive o usuário, mas

40 Entende-se que o instrumento “expressa o eixo operacional das profissões e abrange não só o campo

das técnicas como também dos conhecimentos e habilidades [...] se constrói a cada momento, a partir das finalidades da ação que vai desenvolver e dos determinantes políticos, sociais e institucionais a eles referidos (MARTINELLI; KOUMROUYAN, 1994, pp. 137-138).

também dele próprio na interação com sua família [...] é um importante instrumento de análise e compreensão da realidade conjuntural/estrutural em que vivem os usuários, podem também oferecer subsídios importantíssimos para a intervenção de novas abordagens (REZENDE, 1996, p. 136 –

dissertação).

Observa-se ainda que a abordagem individual é viabilizada a partir de instrumentos como a entrevista (atendimento individualizado) e a visita domiciliar. Já a abordagem grupal é viabilizada principalmente através das reuniões (grupos), sendo que a visita domiciliar também pode ser acionada como instrumento para viabilizar essa abordagem. No referente à abordagem coletiva, identifica-se a assembléia como o instrumento que a viabiliza. Verifica-se ainda que o encaminhamento é um instrumento que perpassa todas as abordagens.

A sala de espera aparece como uma outra forma de reunir os usuários e tem sido destacada pelos autores que abordam a intervenção profissional/ações sócio-educativas na área da saúde, como as citações demonstram

A sala de espera também é um lócus para a orientação, informação e desenvolvimento de práticas sócio-educativas, no sentido em que esclarece para a população os direitos e os atendimentos oferecidos em cada Unidade de Saúde (BENATTI, 2004, p. 116 – dissertação).

[...] nas unidades básicas as reuniões de sala de espera tomam mais

sentido articuladas a outras atividades sistemáticas, que possibilitem a sistematização e a continuidade do processo de prevenção e educação em saúde [...] nos hospitais e maternidades as salas de espera representam um recurso necessário a ser utilizado a partir das características da demanda. Salas de espera [...] como espaços democráticos e de democratização de conhecimentos e informações, sempre em articulação com espaços sistemáticos das enfermarias, pensados tendo em vista informar, orientar, referenciar

(VASCONCELOS, 2002, p. 485 / grifos da autora – livro).

As técnicas referenciadas pelos autores na operacionalização das ações sócio- educativas consistem na “coordenação de grupos”, “técnicas de comunicação”, “técnicas de dinâmicas de grupos”, “psicoterapia de grupos” conforme as citações demonstram

A mobilização pressupões a integração, que possibilite o uso adequado de instrumentos e recursos capazes de ativar as forças motrizes [...] o uso de técnicas de comunicação e de dinâmica de grupos [...] (SILVA, 1994, pp. 103 – dissertação).

O assistente social algumas vezes utiliza técnicas de coordenação de grupos de pacientes, quando a discussão do tema com pessoas com as mesmas dificuldades pode vir a beneficiar cada um (BERTANI, 1993 p. 42 –

[...] Ao eleger a psicoterapia de grupo no atendimento às demandas da população assistida nos ambulatórios públicos dos serviços de psiquiatria [...] (VASCONCELOS, 2002, p. 495).

Outros recursos são destacados pelos autores para a operacionalização das ações sócio-educativas, a saber:

[...] o folheto educativo com a função de multiplicador de informações e conhecimentos, desempenha um papel de grande importância por estender a ação educativa a outros membros da família daquele paciente que está em tratamento na Unidade [de Saúde] [...] (BENATTI, 2004, p. 105 / grifos nossos – dissertação).

A utilização de encenações, teatros, músicas, trovas, versos e desenhos, pode funcionar como bom recurso para a mobilização popular. Pode-se ainda recorrer a processos sistemáticos de formação (cursos, encontros) para pessoas que demonstrem melhores condições de participação em reflexões mais sistemáticas (SILVA, 1994, p. 105 / grifos nossos –

dissertação).

Os assistentes sociais organizam, coordenam e fazem palestras; distribuem material de divulgação – cartazes, folhetos e folders informativos; realizam apresentação de slides e vídeos relativos as forma de prevenção e controle de doenças, bem como coordenam eventos e discussões [...] (COSTA, 2000, p. 54 – periódico).

A linguagem é apontada como instrumento por alguns autores e aparece associada a diferentes recursos no momento da operacionalização das ações sócio-educativas, conforme pode ser contatado nas seguintes afirmações

No desenvolvimento da ação profissional é necessário utilizar diferentes linguagens além da discursiva como teatro, vídeo e trabalhos de valorização da cultura popular, para que o diálogo com estes segmentos se estabeleça e o processo organizativo seja estimulado (DE MARCO, 2000, p. 159 –

coletânea de textos).

O instrumento utilizado é basicamente a linguagem e o conhecimento (COSTA, 2000, p. 53 – periódico).

Na escola, tínhamos um instrumento básico, a linguagem, e com o suporte técnico, teórico e político articulando o particular com o geral, tendo a totalidade como central – nosso plano e seus respectivos projetos. E foi com esse recurso que no decorrer de nossa prática pudemos perceber que estávamos interferindo, direta e indiretamente, na maneira de ser, de ver, de analisar, de agir e de planejar da comunidade escolar (CAMARDELO, 1994, p. 152 – periódico).

Observa-se ainda que os autores também enfatizam a necessidade se desenvolver uma postura investigativa que oportunize o contínuo conhecimento/investigação tanto

referentes às macro-análises sobre a realidade quanto às particularidades que envolvem os espaços sócio-ocupacionais e os sujeitos destinatários das ações profissionais. Aliados a postura investigativa estão o planejamento e a documentação, conforme pode ser apreendido nas afirmações que seguem

O conhecimento acerca da realidade estrutural e conjuntural, as formas de alienação, as refrações da questão social no cotidiano da população usuária, a expressão dos sujeitos em suas lutas contra-hegemônicas, o conhecimento de recursos sociais, dos direitos sociais, das redes ou espaços de articulação e organização da população usuária, o conhecimento de dados sobre a existência, consciência e vida social, do significado atribuído pelos sujeitos ao seu viver histórico, os seus valores, sua cultura, dão consistência às mediações que poderão ser construídas historicamente na relação com os sujeitos (PRATES, 2004, p. 17 – coletânea de textos).

Organização estratégica do Serviço Social e planejamento do trabalho profissional, com base em estudos e pesquisas que dêem visibilidade às necessidades e interesses dos segmentos que utilizam os serviços de saúde, captados e transformados em demandas que forneçam a direção e/ou sejam referência para o planejamento e operacionalização dos serviços de saúde prestados pela unidade, com base nos documentos/programas, legais/oficiais/insitucionais, objetivando a sustentação das propostas, ao mesmo tempo que iluminam o seu redirecionamento, alicerçados no estabelecimento de objetivos, cronogramas, metas, estratégias e táticas de ação [...] levantamento de recursos disponíveis e possíveis de serem acessados e/ou conquistados e das informações necessárias a esse processo [...] identificação dos diferentes riscos que permeiam o cotidiano da população [...] (VASCONCELOS, 2002, p. 451-452; 455 – livro).

A leitura da realidade e o planejamento são mediações que não se encerram durante a execução, ao contrário, encontram-se permanentemente presentes. A intenção, pano de fundo de nossa atuação profissional, permanece, mas as estratégias muitas vezes necessitam ser modificadas[...] nossa atuação é a realidade concreta [...] precisamos estar armados do nosso background teórico e de nossos objetivos concretos, e assentados sobre nosso projeto profissional [...] o conhecimento teórico só tem sentido na medida que nos servir como guia e não como receita pré-elaborada; na medida em que nos instrumentalize para a ação dinâmica da realidade e não nos sirva como camisa de força (CAMARDELO, 1994, p. 159 – periódico).

O assistente social deve ter claro a importância dos elementos técnicos operativos que compõem sua intervenção. [...] investigação e planejamento [...] são elementos constitutivos do processo de trabalho. [...] o assistente social deve ter claro qual seu objetivo e como chegar ao mesmo de maneira adequada [...] o trabalho com grupos e comunidades deve ser executado através de atividades planejadas e avaliadas sistematicamente [...] a pesquisa também é um instrumento fundamental [...] em todos os espaços profissionais se faz necessário a presença da investigação, buscando dados que subsidiem seu trabalho (COUTO, 1999, pp. 210-211- coletânea de

texto).

Compreende-se que as possibilidades de superação das tradicionais práticas de triagem e encaminhamentos realizadas através do Plantão Social implicam: 1. compreender a realidade desta prática e sua contradições do

ponto de vista de um espaço político para a população; 2. destacar a prática investigativa como resgate e registro vivo do cotidiano de vida da população atendida, sendo o conhecimento desta realidade um elemento potencializador dos interesses coletivos quando construídos de forma compartilhada com a população, permitindo a mobilização e aglutinação de interesses comuns, base para a novas conquistas de direitos sociais; 3. avaliar as demandas e necessidades que não estão sendo supridas, com base na informação sistematizada e compartilhada com a população, visando rever os programas e serviços que se destinam a estas situações, possibilitando ainda a qualificação da infra-estrutura e dos serviços [...] a atividade investigativa é uma atividade necessária e básica do fazer profissional [...] (SARMENTO, 2000, pp. 106-107 – coletânea de texto).

O conhecimento e a interpretação da realidade deve fazer parte do trabalho do assistente social de modo sistemático. É indispensável o uso da pesquisa e do tratamento técnico de dados e informações para subsidiar propostas viáveis, justificadas e fundamentadas, ao tempo em que se dá visibilidade às questões. O contraponto e a denúncia devem ser feitos de forma competente e fundamentada (GOMES, 2000, p. 170 – coletânea de texto).

Apreende-se ainda que o planejamento consiste tanto em projetar ações a serem realizadas, antevendo seus resultados e conseqüências, quanto em um processo de constante avaliação e reformulação dessas ações, tendo em vista a dinâmica da realidade que recoloca constantemente demandas novas, o que remete a novas priorizações.

Nas obras, pode ser observada ainda uma crítica à falta de documentação por parte dos Assistentes Sociais, consistindo na pouca/ausência de sistematização tanto de dados sobre: a realidade, as particularidades das políticas sociais, dos serviços, das instituições e das redes de apoio, quanto sobre as próprias ações profissionais. Tal constatação tem como exemplo representativo a seguinte afirmação

O registro do trabalho dos assistentes sociais segue a mesma lógica do trabalho. A documentação subordina-se às necessidades do momento. Assim, o Serviço Social na SMS, como um todo, não obedece a um padrão de registro de dados, o que dificulta não só o estudo e a avaliação prática dos assistentes sociais, individual e coletivamente nas unidades, como impede o estudo e a avaliação do Serviço Social na Secretaria a partir do registro do trabalho realizado. A documentação dos atendimentos é utilizada, basicamente, para garantir a continuidade das ações por outro profissional, ou para registrar os dados necessários às direções de unidade e SMS para controle e concessão dos recursos materiais viabilizados pelos Programas e Projetos, dando-se prioridade aos dados quantitativos isoladamente [...] mesmo que os Programas contem com documentação específica da própria Secretaria, esta documentação é utilizada de forma diferente em cada unidade de saúde, tanto pelos assistentes sociais como pelos demais profissionais [...] os assistentes sociais, em sua maioria, se não portam condições de articular os dados da realidade a que têm acesso no cotidiano de sua prática, também não os valorizam, o que resulta na sua não

sistematização, dificultando ainda mais a projeção, priorização e avaliação de suas ações. Organizam-se de tal forma que ficam impedidos

profissional [...] (VASCONCELOS, 2002, p. 230; 419 / grifos da autora –

livro).

Outra ênfase dada pelos autores consiste na capacitação constante dos Assistentes Sociais, de modo geral observa-se que essa exigência ora fica sub-entendida em afirmações genéricas sobre a apreensão dos referenciais teórico-metodológico, ético-político e técnico- operativo, ora restringe-se às particularidades dos espaços sócio-ocupacionais – conforme pode ser verificado nas seguintes citações

Os profissionais são desafiados a se colocarem em processo permanente de qualificação profissional [...] a atuação profissional em espaços de gestão participativos é iniciante, exige dos técnicos constante reflexão quanto ao caráter de sua ação profissional, verificando se sua prática está a serviço do projeto de emancipação [...] (DE MARCO, 2000, p. 158 – coletânea de

textos).

Urge um novo pensar e fazer do profissional assistente social, cujas bases sejam a competencia teórico-metodológica, o compromisso com a realização dos princípios ético-políticos estabelecidos pelo Código de Ética Profissional dos Assistentes e a capacitação técnico-operacional. Sem um novo pensar, não se viabiliza um novo fazer. E ambos são imprescindíveis para a consolidação da prática pretendida pelo projeto profissional expresso pelos Estatutos que regulam a profissão (SILVA, 2000, pp. 123-124 – coletânea de

textos).

Este trabalho [na assistência jurídica] requer desses profissionais, além de sua formação específica, aperfeiçoamento constante, sensibilidade e compromisso ético com o objetivo da realização de uma ordem jurídica que atenda aos anseios e necessidades dessa população (CHUARI, 2001, p. 141 – periódico).

[...] tendo em vista o bem-estar físico, mental e social da população, se faz necessário incorporar os instrumentais do Serviço Social para além desse âmbito técnico/opetativo, tais como estudos, pesquisas, aprofundamentos teórico-metodológicos, avaliações etc. (BENATTI, 2004, p. 101 -

dissertação).

Em contrapartida, alguns autores – além de pressuporem a capacitação teórico- metodológica e ético-política – sinalizam que a capacitação deve repercutir também sobre a realidade de trabalho, procurando extrair alternativas de trabalho a partir da tensão que envolve as contradições ali presentes, como ilustração encontra-se a seguinte afirmação

Enquanto os assistentes sociais não se capacitarem para, no cotidiano, dar visibilidade as determinações da prática social na saúde não criarão condições necessárias para possibilitar a condução de suas ações na direção dos interesses e necessidades dos usuários de seus serviços. Uma capacidade que depende de uma leitura da realidade que permite, também, extrair alternativas de trabalho [...] organização estratégica do Serviço Social e planejamento do trabalho profissional, com base em estudos e pesquisas que dêem visibilidade às necessidades e interesses dos segmentos

que utilizam os serviços de saúde [...] objetivando a sustentação das propostas ao mesmo tempo que iluminam o seu redirecionamento alicerçados no estabelecimento de objetivos, cronogramas, metas, estratégias e táticas de ação (VASCONCELOS, 2002, p. 437; 451 / grifos da autora – livro).

Após a apresentação da análise explicativa das soluções, no próximo capítulo serão expostas as análises que compõem a síntese integradora da pesquisa.

4. SERVIÇO SOCIAL E AÇÕES SÓCIO-EDUCATIVAS: REFLEXÕES A PARTIR