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Ações sócio-educativas: a finalidade e as categorias “Direitos” e “Cidadania”

3. METODOLOGIA

3.3. Apresentação das ações sócio-educativas a partir das obras pesquisadas

3.3.2. Ações sócio-educativas: a finalidade e as categorias “Direitos” e “Cidadania”

Considerar o atual projeto ético-político do Serviço Social remete apreender as ações profissionais em consonância com a perspectiva de transformação social, com a defesa intransigente dos Direitos e da democracia (CFESS, 1997). Nessa perspectiva, a transformação tem por finalidade: construir um processo emancipatório que oportunize aos indivíduos se perceberem enquanto sujeitos em sociedade, capazes de questionamentos sobre a ordem social estabelecida e de reivindicar Direitos de modo a alcançar patamares cada vez maiores que permitam a satisfação de suas necessidades, sejam elas materiais ou culturais, buscando efetivar e ampliar sua cidadania. Tal finalidade se apresenta para a profissão como um horizonte paradigmático a ser perseguido, ou seja, as ações profissionais têm um compromisso ético com esse horizonte e aos profissionais cabe estabelecer as mediações, no momento da operacionalização, que as aproximem dessa finalidade.

Nas obras pesquisadas há uma explicitação dessa finalidade e a ela aparece associada às ações sócio-educativas como ações privilegiadas no desenvolvimento de processos de intervenção que se aproximem minimamente dos valores assumidos pela profissão

A socialização das informações referentes aos direitos sociais como uma ação que fortalece o usuário no acesso e no processo de mudança da realidade, no horizonte da ampliação dos direitos e efetivação da cidadania [...] (SILVA, 2000, p. 124 – coletânea de textos).

Supõe compromisso político consciente com o projeto societário das classes subalternas e competência teórica, metodológica e política para a identificação e apropriação das reais possibilidades postas pelo movimento social e para o redimensionamento da prática profissional no horizonte da luta pela emancipação dessas classes (CARDOSO; MACIEL, 2000, p. 144 – coletânea de textos).

[...] para contribuir para a transformação, nossa prática deve ter um caráter nitidamente político-educativo, dirigida a resgatar, sistematizar e fortalecer o potencial inovador contido na vivência cotidiana da população [...] criar uma nova hegemonia significa gestá-la, contando com a participação dos sujeitos histórico-políticos que agirão nas relações cotidianas de todas as esferas sociais (CAMARDELO, 1994, pp. 152-155 - periódico).

Entende-se que a conquista da cidadania plena como um direito de todos os cidadãos pode ser colocada como finalidade do Serviço Social. Quando se fala em conquista, supõe-se a necessidade de considerar o homem como sujeito desse processo. Quando se coloca a cidadania plena, direciona-se para a obtenção dos direitos que possibilitem a emancipação pessoal e social do homem, isto é, a sua realização integral. Inclui-se não só a conquista das condições necessárias para a reprodução material da vida (físico-biológica, mas também para a reprodução espiritual (sócio-afetiva) (SILVA, 1994, p. 94 - dissertação).

Pelo exposto, pode-se verificar uma vinculação das ações profissionais a determinado projeto de sociedade e dessa vinculação apreende-se o projeto profissional do Serviço Social cujos preceitos orientam as ações na definição de objetivos para o alcance da sua finalidade. É possível apreender também indicativos sobre a concepção de Direitos e Cidadania referenciada ao Serviço Social. Nesse sentido, outras citações são acrescentadas

Nas últimas décadas, a profissão consolidou, em seu processo de formação e exercício profissional, uma postura que tem procurado interferir na reprodução da força de trabalho, tanto na dimensão material, como sociopolítica e ideocultural, buscando reconstruir as relações sociais mediante as ações que desenvolve. Esta reconstrução implica retraduzir os valores ético-políticos, os modos de pensar e agir da população com a qual trabalha, contribuindo para a defesa intransigente dos direitos humanos, da justiça, da liberdade, da equidade e da democracia [...] a contribuição do Serviço Social, para a efetiva consolidação das políticas sociais, implica não apenas o acesso da população a bens e serviços, mas a construção de mecanismos de democratização para a definição de quais bens e serviços são necessários para serem implementados, compreendendo a dinâmica societária e estabelecendo novos mecanismos de sociabilidade e política, ou seja, como tais questões podem se materializar em novos procedimentos de ação (SARMENTO, 2000, p. 99; 108 – coletânea de textos).

Na luta pela universalização e ampliação dos direitos, enquanto caminho para outra ordenação social, busca-se assegurar processos públicos de tomadas de decisão e exercício do poder coletivo, que tomem o lugar da liderança pessoal, da competição, da concorrência, do anonimato [...] desse modo, um trabalho profissional, articulado aos interesses e necessidades dos segmentos que vivem do trabalho, necessita estar mediado pelos princípios

da igualdade, justiça, liberdade e solidariedade (VASCONCELOS, 2000, p. 127; 136 – coletânea de textos).

A atuação, em espaços como o do orçamento participativo, exige dos profissionais identidade com a construção de uma sociedade mais justa e solidária – solidariedade aqui entendida como processo coletivo de construção de justiça social a partir da instituição de um Estado comprometido com os interesses populares [...] deve contribuir para a modificação das relações sociais e políticas da cidade, resgatando a soberania popular como seu fundamento [...] a participação social, ao pautar demandas e exercer controle social sobre o Estado propiciaria a construção de políticas includentes (DE MARCO, 2000, p. 157; 160 – coletânea de

textos).

Não se pode repensar a questão da assistência jurídica sem antes colocá-la no âmbito das políticas públicas, relacionada à efetividade dos direitos dos sujeitos, no complexo quadro da realidade brasileira. [...] Não basta proclamar, de forma genérica e abstrata, a assistência jurídica como direito garantido através de preceito constitucional, mas buscar, na prática profissional, alternativas de ação que viabilizem estes direitos às classes subalternas (CHUARI, 2001, p. 143 – periódico).

Verifica-se a concepção de Direitos pressupõe que a sua concretização depende de políticas públicas voltadas para a ampliação da Cidadania em uma perspectiva centrada nas necessidades do usuário. Observa-se ainda uma ênfase no direito à informação e nos espaços coletivos como garantidores do acesso efetivo aos Direitos, bem como da obtenção de novos Direitos e da participação enquanto caminho para a construção da Cidadania.

Apesar de orientadas por uma mesma finalidade que engendra a defesa, a ampliação e a materialização dos Direitos e da Cidadania, verifica-se que as ações sócio- educativas engendram objetivos diferentes, conforme é apresentado no item que segue.