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Os pesquisadores-coordenadores dos INCTs foram convidados pelo CNPq a preencher diversos campos dispostos no Relatório de Acompanhamento e Avaliação. Pela diversidade de conteúdo e atividades, iniciamos a exploração do

45 http://www.cnpq.br/programas/inct/_apresentacao/institutos.html 46 Disponível em https://pt.surveymonkey.net/

material procurando compor o acervo com as mensagens/informações, para classificar e categorizar os termos mais utilizados com base nas frequências de ocorrências.

Para melhor dimensionamento do trabalho, apresentamos a seguir cinco exemplos escolhidos aleatoriamente, demonstrando como foi preenchido o campo da nossa consulta pelos pesquisadores. Embora os relatórios sejam documentos oficiais, excluímos possíveis informações que apontassem à identificação.

O campo Resultados obtidos/metas - educação e divulgação da ciência

informados nos relatórios foi assim registrado:

a) INCT 1

EDUCAÇÃO E DIVULGAÇÃO DA CIÊNCIA:

1. Participação e organização do 12º Simpósio internacional sobre xxxx.

2. Participação e organização do 2º Workshop INCT – xxx, Búzios, RJ, de xx a xx de xxx o de 2010. 3. Organização e participação no 1º Workshop Internacional em xxxx, realizado em xxx de x a x de xxx de 2010. Este Workshop teve a participação de 7 palestrantes estrangeiros e 7 nacionais.

b) INCT 2

EDUCAÇÃO E DIVULGAÇÃO DA CIÊNCIA:

1. Elaboração, impressão e distribuição do xxx para todos os pesquisadores do INCT xxx e para cientistas em geral, tomadores de decisão e organismos internacionais. O relatório foi elaborado em duas versões, em língua portuguesa e na língua inglesa

2. Os resultados produzidos pelo xxx são frequentemente divulgados na mídia por meio de diversos veículos, acessíveis ao público: vídeos, sítios da internet (portal do INCT xxx) e uma revista online, xxx.

3. Atualizações sobre os resultados mais recentes são divulgados no website do INCTxxxx.

c) INCT 3

EDUCAÇÃO E DIVULGAÇÃO DA CIÊNCIA 1. Atividades Gerais através do Canal de TV 2. Semana da xxxx

3. Vídeos Educativos para ampla distribuição

4. Difusão de ciência no ensino fundamental e médio 5. Colunas semanais nos jornais da cidade

6. Escolas Avançadas em xxxx

d) INCT 4

1. Disciplina comum às PGs [...]. 2. Livro “xxx" 47

3. Livro “xxx" 48

e) INCT 5

EDUCAÇÃO E DIVULGAÇÃO DA CIÊNCIA:

Há um conjunto de atividades envolvendo pesquisadores do Instituto que podem ser parcialmente classificadas na rubrica “transferência de conhecimento”. Mas também podem ser classificáveis como “divulgação” – ou educação por outros meios que não a sala de aula. É o caso de palestras feitas em associações. Ou as numerosas intervenções em atividades de mídia (entrevistas e consultas para revistas, jornais, rádios, televisões e blogs). O Instituto também está reformulando seu website para abrir seções mais amplas e dinâmicas de difusão (acolhendo textos de divulgação, apresentações virtuais, videoclipes). Também está fazendo gestões para depositar mais regularmente esses materiais nas áreas de openware e cameraweb das universidades.

A produção de textos – acabados ou semi-acabados – tem encontrado difusão também no website do Instituto. Estamos ampliando e reformulando essa difusão (papers, artigos, Cadernos), para dar publicidade a trabalhos ainda em elaboração (working papers, resenhas, balanços bibliográficos). Nestes próximos meses o website será reformado e ampliado com esse desenho, de modo a refletir mais de perto o trabalho dos diferentes grupos de pesquisa do Instituto.

Como podemos observar a partir deste material, cada relatório tem um estilo, alguns mais concisos e diretos e outros mais detalhados. Em razão das características diferenciadas, optamos por selecionar o que os 51 INCTs indicaram nos campos e depois passamos a reunir palavras sinônimas, o que gerou uma lista de mensagens (disponível no Apêndice C). Em seguida à fase de tratamento de dados com aproximação de ações semelhantes, descartamos repetições e classificamos as mensagens dos pesquisadores. Este procedimento é denominado por Bardin (2009) como análise categorial, onde desmembramos o discurso dos pesquisadores dos INCTs em categorias.

Embora compreendamos a divulgação científica como comunicação pública da ciência, que se situa no espaço público, tendo como público o cidadão, de acordo com o que vimos no capítulo 3, deste estudo, no processo de classificação desta pesquisa quantitativa procuramos agregar as atividades e indicar os títulos das

47 Público-alvo: comunidades extrativistas. 48 Publicação técnica.

categorias com base nas matrizes comunicacionais apontadas por Fadul (2003), quando analisou a produção acadêmica de um programa de pós-graduação em comunicação.

Esta autora criou a classificação das matrizes por grandes áreas do conhecimento, denominando-as por comunicação interpessoal, comunicação midiática, comunicação organizacional, a comunicação nos pequenos grupos e a retórica e a argumentação. A partir das grandes áreas, por meio do estudo da autora, foram gerados 14 macrodescritores ou grandes assuntos e descritores dos processos comunicacionais, estabelecidos com base no Thesaurus da Unesco e em enciclopédias, dicionários, manuais, livros e artigos citados na bibliografia final, […] com o objetivo de se ter uma visão das diferentes classificações e definições das áreas e subáreas” (FADUL, 2003, p. 99)

Da lista dos 14 macrodescritores49 e descritores, destacamos os quatro que foram utilizados para categorizar as ações de divulgação científica dos INCTs: comunicação e educação, comunicação científica, comunicação midiática e comunicação organizacional.

Na maior parte das situações, o público-alvo das atividades estava indicado pelos pesquisadores, mas nos casos em contrário foi possível inferir dada a natureza da ação. Por exemplo, ao mencionar como Educação e Divulgação da Ciência a “apresentação de trabalho em congressos”, entendemos se enquadrar na área "comunicação científica", tendo como público os pares, a comunidade científica pertencente à área do pesquisador. Os cursos de verão ou inverno, consideramos melhor agregar em comunicação e educação, como podemos constatar na Figura 6.

49 Comunicação midiática, comunicação científica, comunicação organizacional, comunicação e

educação, comunicação mercadológica, comunicação internacional, história da comunicação e da mídia, publicidade, comunicação e política, midiologia, comunicação e religião, mídia comunitária, comunicação, comunicação e mídia popular, mídia e etnia e comunicação e mídia: ecologia e sustentabilidade (FADUL, 2003, p. 102).

Figura 6 - Comunicação e Educação: formação e capacitação de intrapares e extrapares

Já na categoria Comunicação científica - eventos científicos (Figura 7), os pesquisadores dos INCTs citaram a realização de seminários, congressos, simpósios e workshops, palestras e cursos especializados, tendo os integrantes das suas equipes participado da organização ou apresentação de trabalhos/resultados

de pesquisas em eventos nacionais ou internacionais. Esta comunicação está direcionada ao público intrapares e extrapares, compreendida por Bueno como:

[...] a circulação de informações científicas, tecnológicas e de inovação entre especialistas de um campo ou de campos conexos. A comunicação extrapares diz respeito ao mesmo processo, mas tem como público-alvo especialistas que não se situam, por formação ou atuação específica, na área que é objeto da disseminação. São exemplos de comunicação intrapares a que se materializa por periódicos especializados ou por eventos científicos em áreas bem delimitadas, de tal modo que aqueles que não as freqüentam encontram dificuldades para acessá-los. (BUENO, 2010, p. 9)

Figura 7 - Comunicação científica – eventos científicos

Em Comunicação científica – publicações e periódicos (Figura 8), são mencionadas ações de difusão do conhecimento por meio de edições de livros, glossários, elaboração de capítulos de livro, publicação de artigos científicos em periódicos impressos e digitais no país e no exterior. Em relação a este último ponto, todos os INCTs mencionaram publicação de artigos em periódicos especializados. Estas publicações científicas e livros também têm por público os pares, portanto a comunidade científica.

É importante lembrar que procuramos conservar, da maneira possível, as mensagens/informações dos pesquisadores-coordenadores indicadas nos relatórios e descartamos os sinônimos, conforme mencionado no início deste capítulo.

Na Figura 8, incluímos também, a criação de galeria de imagens para pesquisadores, como sendo acessória à comunicação científica. Há também indicação de pedido de patentes no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) como Educação e Divulgação da Ciência, mas não classificamos em quaisquer das categorias, por entendermos que não se enquadra nessa área.

Notamos que as ações vinculadas à Comunicação e Educação (Figura 6) e Comunicação Científica (figuras 7 e 8) fazem parte do processo de produção e desenvolvimento da ciência, e os INCTs utilizaram canais informais50 de difusão da informação (cursos, webconferências, debates, simpósios, treinamentos, conversas e encontros entre pesquisadores da instituição e interinstitucionais, reuniões com integrantes governamentais etc.) e formais (publicação de artigos em revistas especializadas, livros, glossários, capítulos de livros, relatórios e material científico em sites especializados).

A nosso ver, estas atividades constituem finalidades para a educação superior, definidas no Capítulo IV, art. 43, da Lei no. 9.394, de 20 de dezembro de 199651, sobre as Diretrizes e Bases da Educação Nacional, principalmente os parágrafos

50 O conjunto de atividades formais e informais "constitui o sistema de comunicação científica de uma

determinada área da ciência A comunicação informal utiliza os chamados canais informais e inclui normalmente comunicações de caráter mais pessoal ou que se referem à pesquisa ainda não concluída, como comunicação de pesquisa em andamento, certos trabalhos de congressos e outras com características semelhantes. [...] A comunicação formal se utiliza de canais formais, como são geralmente chamadas as publicações com divulgação mais ampla, como periódicos e livros". (MUELLER, 2000, p. 22).

51 Capítulo IV - Da educação superior:

I - estimular a criação cultural e o desenvolvimento do espírito científico e do pensamento reflexivo; II - formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua; III - incentivar o trabalho de pesquisa e investigação científica, visando o desenvolvimento da ciência e da tecnologia e da criação e difusão da cultura, e, desse modo, desenvolver o entendimento do homem e do meio em que vive; IV - promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicações ou de outras formas de comunicação; V - suscitar o desejo permanente de aperfeiçoamento cultural e profissional e possibilitar a correspondente concretização, integrando os conhecimentos que vão sendo adquiridos numa estrutura intelectual sistematizadora do conhecimento de cada geração; VI - estimular o conhecimento dos problemas do mundo presente, em particular os nacionais e regionais, prestar serviços especializados à comunidade e estabelecer com esta uma relação de reciprocidade; VII - promover a extensão, aberta à participação da população, visando à difusão das conquistas e benefícios resultantes da criação cultural e da pesquisa científica e tecnológica geradas na instituição.

III e IV, que tratam do incentivo à pesquisa e investigação científica e da criação e difusão da cultura e promoção da divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos e comunicação do saber por meio do ensino, de publicações ou de outras formas de comunicação. Nessas determinações, incluem-se empreendimentos pertinentes à graduação e pós-graduação, como também a formação de recursos humanos para pesquisa (iniciação científica, mestrado, doutorado, pós-doutorado e até o sabático52).

Entretanto, convém destacar que o compromisso dos institutos nacionais é "[…] estabelecer programas que contribuam para a melhoria do ensino de ciências e com a difusão da ciência para o cidadão comum" (grifo da autora).

Estas ações estão caracterizadas como comunicação pública da ciência, de interesse e do direito do cidadão, em que agentes públicos devem criar condições necessárias como capacitação e formação para que o indivíduo possa entender e lidar com as questões do mundo, pois para questionar, opinar e decidir é preciso antes conhecer (CARIBÉ, 2011; BUENO, 2010; OLIVEIRA, 2001; CALVO HERNANDO, 2003; CASTELFRANCHI, 2010).

De acordo com a Unesco, a educação em ciências tem o objetivo de:

"[...] desenvolver e expandir a alfabetização científica em todas as culturas e todos os setores da sociedade, bem como capacidade de raciocínio e habilidades e uma apreciação de valores éticos, de modo a melhorar a participação pública na tomada de decisões relacionadas com a aplicação de novos conhecimentos. (PORTAL DA UNESCO).53

Para Bueno (2010), a alfabetização científica deve ser um instrumento para promover a aproximação e o diálogo e estimular as pessoas aos "[…] debates amplos sobre a relação entre ciência e sociedade, ciência e mercado, ciência e democracia" (BUENO, 2010, p. 8).

Para atingir o público leigo (Figura 9), no qual se incluem tanto o cidadão como os professores de ensino fundamental e médio público e privado, os INCTs elaboraram textos didáticos para livros, capítulos de livros, cartilhas e material didáticos em sites. Empenharam-se em ministrar curso sobre o tema do INCT;

Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/l9394.htm

52 De acordo com o Dicionário Houaiss, "sabático é relativo a um período em que alguma atividade

regular é interrompida". Embora não haja uma definição específica, na academia utiliza-se esse período para realização de cursos e treinamento no país e no exterior (nota da autora).

forneceram orientações técnicas, pedagógicas e profissionalizantes presenciais e a distância para alunos e professores de escolas de ensino fundamental e médio; houve ainda a aplicação experimental de modelo de ensino; alguns institutos citaram o desenvolvimento de kits experimentais para distribuição em escolas públicas; organizaram e/ou realizaram feiras, exposições e oficinas de ciência; há ocorrências de atuação em programas universitários de divulgação científica em escolas (exemplo: ônibus itinerantes, cientistas vão à escola etc.); promoção de visitas de estudantes de ensino médio aos laboratórios universitários; desenvolvem no INCT programas de estímulo à vocação científica e busca de talentos; no site institucional publicam os resultados das pesquisas e disponibilizam comentários sobre os artigos científicos, produzem e apresentam peças teatrais sobre um tema vinculado à ciência; ministram palestras em livrarias, associações, sindicatos e empresas sobre ciência e assuntos relacionados ao tema da pesquisa; entre outras atividades.

53 Disponível em:

http://eventos.unesco.org.br/diadaciencia/index.php?option=com_content&view=article&id=36&Itemid =29

Figura 9 - Comunicação e educação - publicações e instrumentos de divulgação científica

Segundo Dornan (1990, apud De Oliveira, 2007), o conhecimento científico necessita do artigo de divulgação científica para circular na sociedade. No entanto, De Oliveira (2007) esclarece que o artigo científico e o de divulgação científica são dois produtos diferentes e que este último não é uma simplificação ou uma tradução do primeiro. Sobre esta questão, a autora complementa que "[...] cada um deles constitui uma forma de circulação do saber, articulando de forma específica

representações dos atores sociais envolvidos no processo de produção e divulgação do conhecimento” (CARIBÉ, 2007, p. 20).

A divulgação científica depende de que o cidadão domine a leitura, seja capaz de interpretar e entenda conceitos básicos de ciência adquiridos na educação infantil, em nível fundamental e médio, pois são requisitos para "[...] compreender e discutir aspectos relativos à aplicabilidade da ciência" (CARIBÉ, 2011, p.267). Quando o nível de conhecimento em ciência é avaliado, o “[...] Brasil tem se saído mal nos exames realizados internacionalmente", conforme afirma a autora.

Neste ponto, lembramos Luhmann (1993), quando sustenta que somente em conjunto os elementos compreensão, capacidade de recepção e resultados esperados podem criar comunicação, que ocorre quando é compreendida a diferença de expressão e informação, distinguindo-se da percepção, do contrário são encontradas as condições de improbabilidade da comunicação.

A divulgação científica alcança público restrito se estiver circunscrita a palestras, exposições, cursos, publicações e materiais didáticos destinados a alunos e professores de ensino fundamental e médio, mas também pode alcançar milhares de leitores e milhões de telespectadores se as informações forem difundidas pelos meios de comunicação para massas.

Para José Reis (1982)54, em países como o Brasil, a divulgação pela imprensa é muito importante, pois as "[...] dificuldades e as precariedades das escolas fazem com que estudantes e professores obtenham informações sobre os progressos da ciência através de artigos de jornais".