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Ao delinear alguns marcos da divulgação científica no Brasil, é possível inferir que Estado, instituições públicas e pesquisadores, mesmo que de forma isolada e sem organização, fomentaram ou executaram ações para levar a ciência à sociedade.

A comunicação pública vem ganhando a atenção de estudiosos na área acadêmica. As relações entre os atores ocorrem no espaço público, acompanhadas pelo cidadão e se mesclam entre os campos de interação real e virtual, em razão das mudanças decorrentes do avanço nas tecnologias da informação e comunicação.

Há pouco mais de 30 anos vêm sendo construídas as premissas do conceito de comunicação pública, que têm no francês Pierre Zémor um dos principais pensadores no mundo. Este autor defende que o fenômeno ocorre no espaço de comunicação natural da sociedade, representando "[...] a troca e a partilha de

informações de utilidade pública" e num ambiente em que as instituições públicas possuem a responsabilidade de manter o "liame social"26. Para este autor, a

comunicação pública tem a finalidade de:

a) informar (levar ao conhecimento, prestar conta e valorizar); b) de ouvir as demandas, as expectativas, as interrogações e o debate público; c) de contribuir para assegurar a relação social (sentimento de pertencer ao coletivo, tomada de consciência do cidadão enquanto ator); d) e de acompanhar as mudanças, tanto as comportamentais quanto as da organização social. (ZÉMOR, 1995, p. 1).

Como resultado disso, a comunicação poderia contribuir para aumentar o conhecimento do cidadão, o fortalecimento das ações públicas e proporcionar o debate, pois as "funções da Comunicação Pública, em uma democracia, são informativas, didáticas, respeitosas quanto ao debate contraditório e atenciosas no que se refere ao sentido do coletivo" (ZÉMOR, 1995).

O autor aponta cinco categorias da Comunicação Pública, que se complementam no debate na sociedade para tomada de decisão ou a definição política:

1) responder à obrigação que têm as instituições públicas de levar informação a seus públicos; 2) estabelecer a relação e o diálogo de forma a desempenhar o papel que cabe aos poderes públicos, bem como para permitir que o serviço público atenda às necessidades do cidadão de maneira mais precisa; 3) apresentar e promover cada um dos serviços oferecidos pela administração pública; 4) tornar conhecidas as instituições elas mesmas, tanto por uma comunicação interna quanto externa; 5) desenvolver campanhas de informação e ações de comunicação de interesse geral. (ZÉMOR, 1995, p. 5).

Desde o início do século XX, o conceito de comunicação pública esteve vinculado à prática realizada pelo Estado, tendo em vista as concessões e regulamentações de rádio e televisão serem autorizadas pelo poder público.

No Brasil, o conceito de comunicação pública também vem ocupando espaço nas discussões e publicações de especialistas da área. Brandão (2006) declara que a expressão pode ser considerada “em construção” e engloba cinco áreas do conhecimento e de atividade profissional:

a) Comunicação Pública identificada com Comunicação Organizacional - processo estratégico e planejado, visando criar relacionamentos com os diversos públicos, construir identidade e imagem de instituições públicas ou privadas.

b) Comunicação Pública identificada com Comunicação do Estado e/ou Governamental - ocorre em órgãos governamentais, organizações não governamentais, associações profissionais e de interesses diversos, associações,

conselhos, agências reguladoras e empresas privadas, entre outras, que trabalham com informação para a cidadania.

c) Comunicação Pública identificada com Comunicação Política - uso de instrumentos e técnicas da comunicação para a divulgação de ideias, crenças e posicionamentos políticos, tanto dos governos quanto dos partidos políticos.

d) Comunicação Pública identificada como estratégias de comunicação da sociedade civil organizada - comunicação a partir da consciência de que as responsabilidades públicas são compartilhadas entre governos e sociedade.

e) Comunicação Pública identificada como Comunicação Científica - criação de canais de integração da ciência com a vida cotidiana das pessoas, com o objetivo de despertar o interesse do cidadão pelos assuntos da ciência.

BRANDÃO (2006) afirma que a comunicação pública é um processo de participação que ocorre na esfera pública envolvendo o Estado, o governo e a sociedade, com o objetivo de criar “espaço privilegiado de negociação entre os interesses das diversas instâncias de poder constitutivas da vida pública no país”.

Para Curvello (2008), a comunicação pública precisa assumir o desafio de extrapolar o terreno político e se revestir da "perspectiva cívica" nas suas relações. Este fato é relevante tendo em vista a importância crescente vinculada ao conceito de cidadania, numa esfera em que o Estado e grupos estruturados se complementam na representação do cidadão e na participação nas decisões. De acordo com o autor, as dimensões da comunicação pública nas sociedades democráticas são assim categorizadas: "[...] comunicação de relacionamento (voltada para o cidadão usuário do serviço público), comunicação de imagem (voltada ao cidadão defensor do patrimônio de Estado) e comunicação política (para o cidadão eleitor)" (CURVELLO, 2008, p.2).

Diante de um conceito em formação e de uma área nova do conhecimento, há autores que preferem declarar o que não seja comunicação pública talvez por considerar mais fácil. Entre eles, Duarte (2007) afirma não ser “[...] comunicação sobre interesses particulares, privados, de mercado, pessoais, corporativos, institucionais, comerciais, promocionais ou de ‘um público”, pois quem pratica comunicação pública (o autor utiliza o termo abreviado: CP), está imbuído de espírito

público e interesse coletivo diante de esforço no sentido de melhorar a vida dos cidadãos.

Para Duarte (2007), os tipos de informação no âmbito da Comunicação Pública são:

a) institucionais: referentes ao papel, responsabilidades e funcionamento das organizações – o aparato relativo à estrutura, políticas, serviços, responsabilidades e funções dos agentes públicos, poderes, esferas governamentais, entes federativos, entidades, além dos direitos e deveres do cidadão. O que esperar, onde buscar e reclamar.

b) de gestão: relativos ao processo decisório e de ação dos agentes que atuam em temas de interesse público. Incluem discursos, metas, intenções, motivações, prioridades e objetivos dos agentes para esclarecer, orientar e municiar o debate público. O cidadão e os diferentes atores precisam saber o que está acontecendo em temas relacionados a acordos, ações políticas, prioridades, debates, execução de ações.

c) de utilidade pública: sobre temas relacionados ao dia-a-dia das pessoas, geralmente serviços e orientações. Imposto de renda, campanhas de vacinação, sinalização, causas sociais, informações sobre serviços à disposição e seu uso são exemplos típicos.

d) de prestação de contas: dizem respeito à explicação e esclarecimento sobre decisões políticas e uso de recursos públicos. Viabiliza o conhecimento, avaliação e fiscalização da ação de um governo;

e) de interesse privado: as que dizem respeito exclusivamente ao cidadão, empresa ou instituição. Um exemplo: dados de imposto de renda, cadastros bancários;

f) mercadológicos: referem-se a produtos e serviços que participam de concorrência no mercado; e

g) dados públicos: informações de controle do Estado e que dizem respeito ao conjunto da sociedade e a seu funcionamento. Exemplos: normas legais, estatísticas, decisões judiciais, documentos históricos, legislação e normas. (DUARTE, 2007, p. 62).

Já a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom) define a comunicação pública como a ação que se realiza pela:

[...] articulação de diferentes ferramentas capazes de criar, integrar, interagir e fomentar conteúdos de comunicação destinados a garantir o exercício da cidadania, o acesso aos serviços e informações de interesse público, a transparência das políticas públicas e a prestação de contas do Poder executivo Federal. (SECOM, 2011, p. 2).

A comunicação pública apresenta-se no espaço de socialização entre todos os segmentos da sociedade como produtores ativos do processo que se realiza na esfera pública.