• Nenhum resultado encontrado

Comunicação pública da ciência : um estudo a partir da experiência dos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2017

Share "Comunicação pública da ciência : um estudo a partir da experiência dos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia"

Copied!
146
0
0

Texto

(1)

COMUNICAÇÃO PÚBLICA DA CIÊNCIA: UM ESTUDO A PARTIR

DA EXPERIÊNCIA DOS INSTITUTOS NACIONAIS DE CIÊNCIA E

TECNOLOGIA

Brasília - DF

2012

(2)

COMUNICAÇÃO PÚBLICA DA CIÊNCIA: UM ESTUDO A PARTIR DA EXPERIÊNCIA DOS INSTITUTOS NACIONAIS DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Comunicação da Universidade Católica de Brasília, como requisito parcial para obtenção do Título de Mestre em Comunicação.

Orientador: Prof. Dr. João José Azevedo Curvello

(3)

7,

Ficha elaborada pela Biblioteca Pós-Graduação da UCB

B574c Bezerra, Vânia Gurgel.

Comunicação pública da ciência: um estudo a partir da experiência dos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia. / Vânia Gurgel Bezerra – 2012. 146f. : il.; 30 cm

Dissertação (mestrado) – Universidade Católica de Brasília, 2012.

Orientação: João José Azevedo Curvello

1. Comunicação. 2. Ciência e tecnologia. 3. Jornalismo científico. I. Curvello, João José Azevedo, orient. II. Título.

(4)
(5)
(6)

AGRADECIMENTO

Ao Ser Superior, agradeço por tudo; pela iluminação nesta caminhada, força na escolha da direção a tomar e pela oportunidade de alcançar uma aspiração antiga.

Às pessoas a quem dedico o mais profundo amor, meus filhos Gabriel, Janaína e Alana e à nora Melissa, agradeço especialmente pela amizade constante, pelo apoio, dedicação e carinho nos momentos mais difíceis deste projeto e de toda a vida. Por despertarem o meu melhor ser, por incentivarem a busca dos meus sonhos e vibrarem com as vitórias e pela felicidade que me proporcionam todos os dias. Não só isso, mas também na assessoria para lidar com softwares, formatação de imagens e pesquisa de textos.

Agradeço às minhas amigas e amigos, aqueles do coração, por compreenderem a ausência em tantas ocasiões especiais, por escutarem meus desabafos, conselhos e pelos raros e valiosos momentos de descontração que me proporcionaram nesses últimos tempos. Agradeço por sempre apoiarem os meus projetos e acreditarem que seria capaz de realizá-los.

Ao Prof. Dr. João José Azevedo Curvello, meu orientador, pela confiança em mim depositada, por todo o apoio na condução deste trabalho, pela oportunidade de me proporcionar um grande aprendizado e, sobretudo, por administrar com muito profissionalismo e diplomacia meus estresses e desesperos. Foram várias ocasiões! Aos professores Luiz Carlos Assis Iasbeck e Luiza Mônica Assis da Silva, integrantes da Banca de Qualificação, pela criteriosa avaliação do meu projeto. As sugestões e questionamentos foram muito pertinentes e desafiadores. Aos demais professores do curso, agradecimentos especiais por me aproximarem da teoria e apresentarem uma montanha de autores das mais variadas correntes, que semearam minha trajetória de estudo.

(7)

frequente de opiniões e reflexões.

Aos meus colegas de mestrado, principalmente da turma 2010, pelas trocas de experiências, espírito solidário e suporte emocional.

Por fim, mas não menos importante, aos meus amigos e profissionais Denise Pacheco, Elaine Martins Araújo e Tadeu Felipe, respectivamente pela revisão de texto e apoio ao design gráfico.

(8)

“Conhecer é negociar, trabalhar, discutir, debater-se com o desconhecido que se reconstitui incessantemente, porque toda solução produz nova questão.”

(9)

GURGEL, Vânia: Comunicação pública da ciência: um estudo a partir da experiência dos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia. 2012. Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Comunicação. Universidade Católica de Brasília, Brasília, 2012.

Esta dissertação tem o objetivo de conhecer como se processa a comunicação pública da ciência na relação do sistema ciência, por meio dos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia e a sociedade. Aprofundamos a discussão sobre divulgação científica compreendida como comunicação pública da ciência, forma de difusão democrática voltada para o público leigo, alicerçada na responsabilidade social e interesse público. As relações entre mídia e ciência são apresentadas com base na abordagem sistêmica, mapeando os agentes sociais, examinando o acoplamento estrutural entre mídia e ciência, os processos sobrecomunicativos, a interdependência entre esses fluxos e a comunicação como um acontecimento improvável, tendo por base a Teoria dos Sistemas, desenvolvida por Niklas Luhmann. Os cientistas são caracterizados como fontes de informações e agentes que atuam na esfera pública da sociedade no processo comunicacional com o cidadão. Além disso, o estudo enumera as ações caracterizadas pelos pesquisadores como divulgação científica para o cidadão, o entendimento deste grupo sobre o seu papel de agentes públicos, quem exerce a mediação com a imprensa, a percepção da qualidade do que é publicado na mídia sobre ciência e tecnologia no país e esboça as dificuldades encontradas para informar o resultado das pesquisas para a sociedade.

(10)

GURGEL, Vânia: Comunicação pública da ciência: um estudo a partir da experiência dos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia. 2012. Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Comunicação. Universidade Católica de Brasília, Brasília, 2012.

This dissertation aims to know how the public communication of science is processed in the relation of the system of science between the National Institutes of Science and Technology and the society. We went deeper on the question about Scientific dissemination understood as public communication of science, form of democratic diffusion directed toward the lay public, based on social responsibility and public interest. The relations between media and science are presented on the basis of a systemic approuch, mapping the social agents, examining the structural coupling between media and science, the overcommunication processes, the interdependence between these flows and the communication as an unlikely event, based on the Theory of the Systems, developed by Niklas Luhmann. The scientists are characterized as sources of information and agents who act in the public sphere of the society in the communication process with the citizen. Moreover, the study enumerates the actions characterized by the researchers as scientific dissemination for the citizen, the conscience of this group about its own role as public agents, who provides the mediation with the press, the perception of quality of what is published in the media about science and technology in the country, and outlines the difficulties found to inform the result of the research for the society.

(11)

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Pólo Metodológico

Figura 2 - Sistema Nacional de Ciência e Tecnologia

Figura 3 - Distribuição espacial e investimentos nos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia

Figura 4 - Espiral da cultura científica de Vogt

Figura 5 - Mapeamento dos principais agentes dos sistemas ciência e mídia Figura 6 - Comunicação e Educação: formação e capacitação de intrapares e extrapares

Figura 7 - Comunicação científica – eventos científicos Figura 8 - Comunicação científica – publicações e periódicos

Figura 9 - Comunicação e educação - publicações e instrumentos de divulgação científica

Figura 10 - Comunicação midiática dos INCTs Figura 11 - Comunicação Organizacional dos INCTs

Gráfico 1 - Localização geográfica dos participantes da pesquisa Gráfico 2 - Interlocutores dos INCTs com a mídia

Gráfico 3 - Perfil da relação ciência e mídia

(12)

Tabela 2 - Quantidade de documentos em base de dados

Tabela 3 - Brasil: Produção científica, segundo meio de divulgação no diretório dos grupos de pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), 2000-2010

(13)

ABC - Academia Brasileira de Ciências

Abradic - Associação Brasileira de Divulgação Científica ABJC - Associação Brasileira de Jornalismo Científico

Capes - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico CP - Comunicação Pública

ECA - Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo Faperj - Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio de Janeiro

Fapesp - Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo IVC – Índice de Verificação de Circulação

INCT - Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia INCTs - Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia MAPA - Ministério da Agricultura

MC - Ministério da Cultura

MCTI - Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação MD - Ministério da Defesa

MDIC - Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio MEC - Ministério da Educação

MME - Ministério das Minas e Energia MS - Ministério da Saúde

NJRDC - Núcleo José Reis de Divulgação Científica ONU - Organização das Nações Unidas

PACTI - Plano de Ação em Ciência, Tecnologia e Inovação SBPC - Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência TICs – Tecnologias da Informação e Comunicação

(14)

1 INTRODUÇÃO...15

1.1JUSTIFICATIVA DA PESQUISA...18

1.2 REVISÃO DE LITERATURA...21

1.3 PROBLEMA...26

1.4 HIPÓTESES...30

1.5 OBJETIVO GERAL...31

1.5.1 Objetivos específicos...31

1.6 METODOLOGIA...31

1.6.1 Delimitações...31

1.6.1.1 Universo do estudo...31

1.6.2 Sujeito...32

1.6.3 Procedimentos metodológicos...32

2 COMUNICAÇÃO DA CIÊNCIA E TECNOLOGIA ...37

2.1 CONCEITOS E DEFINIÇÕES...38

2.2 CICLOS INICIAIS...42

2.2.1 Comunicação da ciência no Brasil: breve histórico....43

2.3 PIONEIRO: JOSÉ REIS...47

2.4 SISTEMA NACIONAL DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA...49

2.4.1 CNPq: um dos atores do SNDT.......51

2.4.2 Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia e a difusão da ciência...53

3 COMUNICAÇÃO PÚBLICA E DIVULGAÇÂO CIENTÍFICA......55

3.1 COMUNICAÇÃO PÚBLICA...56

3.2 ESFERA DA COMUNICAÇÃO PÚBLICA ...59

3.2.1 De interesse público...61

3.3 COMUNICAÇÃO PÚBLICA DA CIÊNCIA...63

4 AS RELAÇÕES INTERSISTÊMICAS ENTRE CIÊNCIA E MÍDIA...71

4.1 COMUNICAÇÃO E SISTEMA ...72

4.2 SISTEMAS SOCIAIS...74

4.2.1 Sobre acoplamento estrutural e irritações...75

4.2.2 Processos sobrecomunicativos...76

(15)

4.6 NOTICIABILIDADE, VALORES-NOTÍCIAS E SELEÇÃO...88

5 ANÁLISE DOS RESULTADOS...92

5.1 ANÁLISE DOCUMENTAL... 93

5.2 APLICAÇÃO DO QUESTIONÁRIO...94

5.3 A ÍNTEGRA DO ENTENDIMENTO SOBRE EDUCAÇÃO E DIVULGAÇÃO DA CIÊNCIA...94

5.4 PERFIL DA COMUNICAÇÃO DOS INCTS NA MÍDIA...104

5.4.1 Desempenho midiático dos INCTs...107

5.5 COMO OS PESQUISADORES SE RELACIONAM COM A MÍDIA...109

6 CONCLUSÕES...118

7 REFERÊNCIAS...128

(16)

1 INTRODUÇÃO

Esta dissertação se estabelece na interseção da comunicação pública em sua dimensão organizacional e a divulgação científica para público leigo. Entendida como ações utilizadas e desenvolvidas pela organização para se relacionar e interagir com seus públicos, a comunicação organizacional pode realizar de maneira permanente a construção da cultura e formas de se projetar exteriormente (RESTREPO, 1995 apud SCROFERNEKER, 2006, p.49).

A comunicação da ciência para o cidadão viabilizada por cientistas brasileiros é o objeto do trabalho, que tem a intenção de estudar a comunicação pública a partir da forma como os Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCT), programa de ação estratégica no Sistema Nacional de Ciência e Tecnologia do país, coordenado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), têm buscado cumprir a meta de “estabelecer programas que contribuam [...] com a difusão da ciência para o cidadão comum”, conforme consta no Documento de Orientação aprovado pelo Comitê de Coordenação (2008)1.

Os pesquisadores dos INCTs são fontes de informações e também se situam como agentes que atuam na esfera pública da sociedade no processo comunicacional com o cidadão, tendo em vista que se constituem em entidades públicas e recebem investimentos governamentais para desenvolver pesquisas científicas e tecnológicas.

Os Institutos Nacionais foram criados em 2008 e se agregam em 122 grupos de pesquisa, compostos por pesquisadores de alto padrão de excelência no país e exterior, grande produtividade e formação de recursos humanos. Estão distribuídos por diversos estados brasileiros em universidades, institutos e centros de pesquisas públicos e privados. Os institutos desenvolvem pesquisas em diversas áreas, como saúde, biotecnologia, agronomia, nanotecnologia, energia, meio ambiente etc.

(17)

desta mídia. Como resultado, constatamos que a pesquisa realizada no exterior ocupa maior espaço editorial do que a produção nacional.

A comunicação da ciência para o público leigo foi foco da minha atividade profissional por 14 anos enquanto estive à frente de assessorias de imprensa de órgãos públicos vinculados à ciência, principalmente do CNPq, a cujo quadro pertenço. A convivência rotineira como mediadora na relação com os pesquisadores e jornalistas levou-me a ter a percepção de alguns obstáculos nesta relação. Isto exigiu de mim um esforço redobrado de distanciamento da área para melhor observar os fatos, inclusive optando por desempenhar atribuições de analista técnica na instituição, além de servir de motivação para buscar dados que delineassem o comportamento dos cientistas brasileiros em relação à difusão do conhecimento para o cidadão.

Vivemos numa sociedade que se destaca a qualificação de ser “da informação”, “da comunicação” ou, ainda, “do conhecimento”. O pensador francês Edgar Morin refuta estes slogans, pois, para ele, concomitantemente, “estamos vivendo em sociedades da informação, comunicação e conhecimento”, cada uma conservando a sua materialidade (MORIN, 2003).

Este autor critica o discurso, por ele denominado "eufórico", daqueles que declaram que “tudo comunica”. Para ele, a comunicação ocorre em situações concretas, contemplando ruídos, considerando culturas e indivíduos diferentes. E diz mais: que a complexidade da comunicação é a compreensão e que “não se esgota na presunção de eficácia do emissor” (MORIN, 2003).

A comunicação também foi eleita por Niklas Luhmann, sociólogo alemão, autor das obras Introdução à Teoria dos Sistemas2 e A realidade dos meios de comunicação, como objeto de estudos quando a indica como "autorreguladora dos sistemas"3. Partindo da tese de que um sistema observa constantemente a si e aos outros, o autor define a comunicação como um sistema cibernético que normaliza as relações dos sistemas e o meio ambiente, e também como um acontecimento

1 Documento de Orientação aprovado pelo Comitê de Coordenação (2008)Disponível em:

http://www.cnpq.br/editais/ct/2008/docs/015_anexo.pdf

2 Sistema pode ser entendido como “uma inter-relação de elementos que constituem uma entidade ou

unidade global” (MORIN, 2003, Ciência com Consciência).

3 Autorreguladora: a comunicação proporciona, de acordo com Luhmann (2005), que cada sistema

(18)

improvável. Ele considera a "comunicação como um processo autopoiético, que atua continuamente sobre a estrutura dos sistemas" (LUHMANN, 2010).

É no cenário de crescente fluxo de informação e da centralidade da comunicação que observamos a comunicação pública da ciência, sob o pressuposto de que se trata de processo de comunicação de interesse público, por levar ao cidadão leigo assuntos, temas, descobertas e políticas de ciência e tecnologia por intermédio da imprensa e de outros canais e veículos próprios e de terceiros.

Tecnicamente, esse transcurso é denominado nos meios acadêmicos como “divulgação científica”, embora tenhamos encontrado definições diversificadas para o conceito. Mesmo diante da compreensão da sua importância no processo de formação política e educacional do cidadão, dos crescentes investimentos governamentais para as pesquisas em ciência e tecnologia registrados no país nos últimos anos e do aumento de publicações e citações de artigos científicos brasileiros, o esforço de se comunicar com o público leigo ainda é pouco explorado, como atesta o levantamento prévio realizado para subsidiar o nosso estudo.

Diante dessa complexa relação, dividimos nosso trabalho em cinco capítulos. No primeiro, discorremos sobre a Divulgação da Ciência e Tecnologia no Brasil, na qual se dirige um olhar sobre os fatos históricos, na tentativa de demonstrar que a disseminação e a popularização do conhecimento científico partiram da intenção de pensadores e cientistas, bem como os marcos dessa atividade no Brasil. O capítulo apresenta também a estrutura atual do Sistema Nacional de Ciência e Tecnologia, identificando seus atores, e destaca a atuação dos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCT).

O segundo capítulo apresenta uma reflexão sobre o conceito teórico de comunicação e esferas públicas, com a intenção de aprofundar o entendimento de que a atividade de divulgação científica também está inserida no contexto de accountability, como prestação de contas ao cidadão financiador e fiador da ação pública.

De acordo com Pierre Zémor, um dos precursores do termo, a comunicação pública tem a finalidade de:

(19)

Caracterizam-se, na terceira parte, as relações entre mídia e ciência com base na abordagem sistêmica, mapeando os atores sociais, examinando o "acoplamento estrutural"4 entre mídia e ciência, os "processos sobrecomunicativos"5 e a interdependência entre esses fluxos, tendo por base a Teoria dos Sistemas Sociais, desenvolvida por Luhmann (2010).

Luhmann preconiza, entre outros importantes conceitos, que os sistemas sociais interagem por meio da comunicação, em um processo seletivo que se desenvolve em três níveis: “[...] produção de um conteúdo informativo, difusão e aceitação desse conteúdo” (ESTEVES, 1993, p. 8).

No quarto capítulo, relatamos a pesquisa sobre como se comportam os INCTs, em termos de divulgação da ciência para o público leigo e analisamos os resultados da consulta aos pesquisadores destes institutos sobre como se relacionam com a mídia. Por fim, na última parte, trazemos nossas reflexões e conclusões referentes ao estudo proposto.

1.1JUSTIFICATIVA DA PESQUISA

Notamos que a pesquisa nacional vem ocupando espaço reduzido na mídia em relação à produção científica do exterior, mesmo tendo a ciência, tecnologia e inovação assumido posições-chave no desempenho econômico e político no nosso país. Tudo indica que a divulgação científica ainda é pouco valorizada por grande parte dos pesquisadores e, consequentemente, torna-se pouco utilizada na comunicação para o público leigo.

Diante disso, decidimos fazer um acompanhamento prévio, a título de checagem e como subsídio à pesquisa central desta dissertação, junto a portais noticiosos na internet por 30 dias, de 1o a 30 de julho de 2011, para verificar como a

mídia ocupava suas páginas na web com assuntos de ciência e tecnologia, procurando identificar a origem das informações. Este período foi selecionando por coincidir com a realização da Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que ocorre anualmente desde 1948.

4 Acoplamento estrutural - conexão que regula as relações entre sistema e meio, que funciona como

elemento abastecedor do sistema de uma permanente irritação (LUHMANN, 2010).

5 Processos sobrecomunicativos - resultado do acoplamento estrutural que ocorre quando uma

(20)

Esta reunião é considerada o maior evento de difusão dos avanços da ciência nas diversas áreas do conhecimento, com debates de políticas públicas em ciência e tecnologia no país.

Os portais observados foram o Zero Hora (RS - Sul), Folha de São Paulo

(SP - Sudeste), Correio Braziliense (DF- Centro-Oeste), A Tarde (BA - Nordeste) e

Diário do Pará (Belém - Norte), tendo em vista estarem vinculados ao jornal impresso com maior tiragem por região geográfica de acordo com o Índice de Verificação de Circulação (IVC-2010).

Obtivemos, como um dos resultados (Tabela 1), que a ciência internacional continuou ocupando significativo espaço nos portais acompanhados em relação à divulgação da produção científica nacional, mesmo com a repercussão do evento da SBPC, que recebe cobertura da mídia em todas as suas versões e com a presença de um público estimado de 10 mil pessoas, revezarando-se em atividades simultâneas, como mesas redondas, sessões especiais, minicursos, sessões de pôsteres para apresentação de trabalhos científicos, exposições e mostras científicas.

Tabela 1 - Ciência e Tecnologia nos portais de notícias na internet

Agendamento -

agentes/Veículo On lineFolha

Correio Braziliense

Zero Hora Diário do

Pará

A Tarde

Total de notícias

publicadas 244 130 126 69 18

Notícias internacionais

190 67 41 34 5

Notícias nacionais 54 63 85 35 13

Reportagem redação 116 50 86 35 4

Matéria agência

notícias nacional 5 36 18 28 12

Matéria agência de

notícias internacional 120 44 13 2 2

Releases 3 0 9 4 0

(21)

entre as matérias, algumas eram de ciência nacional. Já a redação deste veículo produziu 116 matérias, levando-nos a inferir que os jornalistas estão fazendo mais reportagens sobre a ciência produzida internacionalmente do que a nacional.

No Correio Braziliense (DF), as notícias internacionais também lideraram, com 67 matérias publicadas; as nacionais alcançaram 63. Podemos perceber que o material distribuído pelas agências de notícias internacionais ocupou bastante espaço na Folha e no Correio.

A ciência nacional ocupa maior espaço no Zero Hora (RS), preponderantemente com a publicação de releases do programa Bem Estar da Rede Globo. Já no Diário do Pará (PA) e no jornal A Tarde (BA), observamos número muito baixo de publicação de matérias de ciências de uma maneira geral.

Compreendemos que o levantamento realizado foi apenas uma checagem exploratória e superficial para embasar a nossa percepção, pois o tempo de observação foi bastante reduzido para demonstrar uma tendência ou prática da mídia. Entretanto, consideramos os dados importantes para justificar o desenvolvimento do nosso estudo, pois os meios de comunicação para a massa têm papel fundamental no processo de comunicação pública da ciência, especialmente as atividades do jornalismo científico, na função de mediador social na busca de diminuir a distância entre os produtores de conhecimento e divulgadores da ciência para o público leigo.

Muitos apelos têm surgido para que os cientistas assumam o papel de comunicadores públicos da ciência, estimulados por políticas governamentais e/ou pelas instituições às quais se encontram vinculados. É relevante estudar este aspecto, tendo em vista parecer não estar muito claro para a comunidade científica que o processo comunicativo que se instaura entre governo e sociedade para informar o cidadão sobre os resultados dos investimentos públicos engloba a ciência, financiada com recursos provenientes de fontes governamentais. É um dever do Estado tornar transparentes as informações sobre a aplicação dos recursos em pesquisa e quais são os resultados de cada investimento.

(22)

Por isso, identificar os procedimentos da ciência no processo de comunicação pode estimular a adoção de estratégias e o planejamento de atividades que resultem em efetiva divulgação da ciência e tecnologia, com benefícios para o cidadão em termos de melhoria da informação, do conhecimento e estímulo à formação de consciência crítica.

A ocupação desse espaço poderá ajudar a construir o entendimento do que é e como se desenvolve o saber, desmitificar a atividade científica, proporcionar a aproximação do grande público, estimular que um maior número de jovens para que sigam a carreira científica e até se constituir em canal de demandas da sociedade sobre áreas e de estratégias para o desenvolvimento socioeconômico do país.

1.2 REVISÃO DE LITERATURA

Neste bloco, explicamos como desenvolvemos a revisão de literatura, que será transcorrida e aprofundada nos capítulos correspondente. Nesta etapa apresentamos os principais autores e correntes tratados no trabalho e o levantamento do estado da arte na pesquisa de documentos mediante levantamento de artigos científicos nas bases de dados disponíveis no Portal de Periódicos da Capes entre outros.

Procuramos voltar o olhar aos fatos históricos no capítulo 2, recordando que a disseminação do conhecimento esteve e permanece na pauta de diversos pensadores e cientistas, seja por questões vinculadas ao poder, internamente ou extramuros da academia, seja em situações políticas ou econômicas. Nessa retrospectiva, convém assinalar os marcos dessa atividade no Brasil, com base na literatura de Massarani(1996), Freitas (2006) e Mendes (2006).

No Brasil, os governos federal e estadual investem em torno de 54% em ciência e tecnologia6 do total dos dispêndios nacionais em C&T, portanto entendemos que as funções sociais da divulgação científica e suas interações com a sociedade podem assumir caráter de política pública.

A comunicação pública é um conceito novo, portanto ainda em processo de construção, mas ao se abordar a interação entre ciência e mídia abre-se espaço para discutir esta forma de divulgação democrática voltada para o público leigo, alicerçada na responsabilidade social, interesse público e na melhoria do diálogo

(23)

com a sociedade. A comunicação pública vem sendo discutida nos últimos 30 anos, inclusive por especialistas brasileiros. As dimensões teóricas da comunicação e esfera pública são abordadas no capítulo 3, sob a ótica de Zémor (1995), Brandão (2006), Matos (2007), Monteiro (2007), Duarte (2007), Curvello (2008), Castelfranchi (2010), entre outros autores. O conceito de esfera pública será aprofundado por meio de Breese (2010), que atualiza o pensamento do sociólogo alemão Jürgen Habermas.

Ainda no capítulo 3, a reflexão da importância de expandir o conhecimento para a sociedade e a produção e socialização do saber foi realizada por intermédio das obras do divulgador e jornalista científico espanhol Calvo Hernando (1992; 2002), e os pesquisadores brasileiros Bueno (2001; 2010), Caribé (2011), De Oliveira (2007) e Oliveira (2001; 2004).

Bueno (2010) debate a difusão do conhecimento para a sociedade, definindo conceitos e marcando os elementos que diferenciam os processos de comunicação científica e divulgação científica, quanto às intenções, nível do discurso, linguagem, públicos e canais de veiculação. Caribé (2011) também contribui para o breve histórico da divulgação científica na Europa, Estados Unidos e Brasil, mas, sobretudo, levanta a discussão sobre a diversidade de termos empregados no processo de divulgação da ciência para o público leigo e contribui com informações sobre as políticas e estratégias do governo federal para a popularização da ciência.

A partir do momento que o governo olha a ciência e tecnologia como um sistema, onde acontecem as relações e inter-relações entre os agentes da ciência, envolvendo órgãos de fomento, universidades, instituições e centros de pesquisas públicos e privados de pesquisas, nosso estudo busca tratar como sistemas o mundo da ciência, a mídia e a sociedade, que também são agentes. Desta forma, procuramos ir além do tradicional e formal tratamento institucional, pois acreditamos na possibilidade de entender este processo de comunicação ao incorporar os estudos dos sistemas, principalmente a partir de Luhmann, ao evidenciar operações como o acoplamento estrutural e o processo sobrecomunicativo na difusão do conhecimento para o cidadão.

(24)

improvável, pois ocorre por meio das seleções da informação, do ato de comunicar e do ato de entender ou não a informação.

Luhmann (2010) compreende a comunicação como um processo autopoiético, que vai indefinidamente se estruturando. No capítulo 4, os conceitos de sistemas, improbabilidade da comunicação, acoplamento estrutural e processos sobrecomunicativos são abordados a partir de Luhmann e Neves (2005).

Para entendimento das relações mídia-ciência, ainda neste capítulo, utilizamos os procedimentos relacionados ao método newsmaking, exemplificando a produção midiática, com suas rotinas jornalísticas e valores-notícia. Para isso, a leitura centrou-se em Wolf (1985), Traquina (1999; 2005) e Silva (2005). Tais condutas definem o acontecimento que deverá ganhar noticiabilidade, tarefa rotineira e em grande parte em tempo real de selecionar o que vai ser publicado ou divulgado dentre a avalanche de fatos que chegam às redações jornalísticas pelos mais diversos meios, internet, agências de notícias nacionais e internacionais e pela interação com o público.

(25)

Tabela 2 - Quantidade de documentos em base de dados Termos/Bases de dados Gloogle

Acadêmico (na web

Biblioteca Digital Brasileira de Teses e

Dissertações

Portal de Períódicos da

Capes *

Comunicação Pública 7 17.300 1 1

Comunicação Pública da

Ciência 16.300 0 0

Comunicação da Ciência 19.300 1 0

Divulgação científica 15.400 16 18

Science public

communication 51.300 0 8

Science communication 229.000 5 39

Jornalismo científico 7.780 3 4

Jornalismo científico e

comunicação da ciência 22 0 0

Jornalismo científico e

comunicação científica 56

Jornalismo científico e comunicação pública

29 0 0

Divulgação científica e

comunicação pública 46 0 0

Fonte: Consulta realizada no Portal de Periódicos da Capes em 5 de novembro de 2011 e nas demais bases em 15 de outubro de 2011.

* Portal de Periódicos da Capes - documentos disponíveis nas bases Scielo.org, Japan Science and Technology Information Aggregator Electronic (J-STAGE) e Directory of Open Access Journals (DOAJ).

Com base na busca, destacamos a seguir alguns documentos descobertos quando inserimos os termos "Jornalismo científico e comunicação da ciência", "Jornalismo científico e comunicação científica" e "Jornalismo científico e comunicação pública". Consideramos importante esboçar, embora superficialmente, algumas abordagens do conteúdo de cada um deles e onde podem ser localizados objetivando futuros estudos.

No artigo Modelos de comunicação pública: agenda para um debate teórico-prático8, Costa, Sousa e Mazocco (2010) levantam a discussão, com base em literatura, sobre a comunicação pública da ciência sob o ponto de vista das

7 No documento F. Oliveira, Comunicação pública e cultura científica. Parcerias Estratégicas, 2010,

traz data indevidamente identificada no Google Acadêmico, sendo a correta 2001. Disponível em: http://seer.cgee.org.br/index.php/parcerias_estrategicas/article/viewFile/202/196

(26)

tendências unidirecional e dialógica e seus respectivos modelos: déficit cognitivo, contextual, expertise leiga e participação pública. Os autores defendem uma agenda articulada mais democrática entre cientistas e jornalistas.

Ao debate levantado por Bueno (2010), acrescenta-se o artigo de Targino (2010), em Divulgação científica e discurso9. A autora aborda também a discussão sobre os conceitos da divulgação científica e do jornalismo científico e procura demonstrar a importância destes instrumentos essenciais para a aproximação entre produção científica e sociedade. Apresenta a divulgação científica como resultado da fusão dos discursos científico e jornalístico, contudo ressalta que ambos observam "normas linguísticas, disciplina e motivações pessoais" e que, para a comunidade científica, divulgar legitima a sua produção junto à sociedade. Já a ação de divulgação científica na mídia é jornalismo, pois "[...] prioriza descobertas, fatos e eventos relativos ao momento presente, como também pelo princípio de universalidade, porquanto incorpora qualquer área ou subárea do saber" (TARGINO, 2010, p. 24).

Caldas (2010), em Divulgação científica e relações de poder10, contribui com suas reflexões sobre as relações de poder no processo de divulgação científica entre jornalistas e pesquisadores, abordando as diferenças de cultura, as características entre os discursos e funções. Destaca a responsabilidade social desses agentes e defende a democratização do conhecimento "[...] por meio de parceria entre jornalistas e cientistas".

Importante ressaltar que o discurso da importância de democratizar o conhecimento, a inclusão social do cidadão, responsabilidade e interesse público, alfabetização científica, são temas abordados, em maior ou menor profundidade, em todos os artigos desvendados nas bases de dados.

Em Cientistas, jornalistas e profissionais de comunicação: agentes na comunicação de ciência e tecnologia11, as pesquisadoras Sandra

Pinto, do Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores do Porto (INESC), e Anabela Carvalho, da Universidade do Minho, de Portugal, apresentam estudo que teve o objetivo de identificar o grau de motivação dos cientistas daquele instituto em comunicar ciência para o público leigo, sobre a percepção deles do resultado

9 Disponível em http://seer.uscs.edu.br/index.php/revista_comunicacao_inovacao/article/view/678/524

10 Disponível em http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/informacao/article/view/5583/6763

(27)

publicado na mídia e o entendimento da função do profissional de comunicação como mediador.

As autoras verificaram que os cientistas portugueses pesquisados comunicam publicamente "[...] com a motivação de descomplexificar a ciência no sentido de a tornar mais inteligível para diferentes públicos" (PINTO, CARVALHO, 2011, p. 65). O estudo indicou que os cientistas se consideravam satisfeitos com o resultado do trabalho realizado pelos jornalistas e ressaltaram como importante o papel de mediadores das assessorias de imprensa das universidades e instituições de pesquisa.

1.3 PROBLEMA

De acordo com o Relatório da Unesco sobre Ciência 2010 - O atual status da ciência em torno do mundo, o Brasil ficou classificado em 13o lugar no ranking de produção científica. O documento demonstra que houve avanço no desenvolvimento da ciência nacional no período de 2000 a 2008, em razão de maiores investimentos, embora indique ser necessário alcançar três vezes mais o índice registrado.

Os investimentos financeiros governamentais em ciência e tecnologia continuam crescentes e quase quadruplicaram de R$ 5.795 bilhões, em 2000, para R$ 22.417 bilhões em 2010, em números absolutos. Já os gastos de empresas privadas e estatais com o setor foram de R$ 5.455,6 em 2000 para R$ 20.407,7 bilhões em 201012.

Segundo dados do Diretório dos Grupos de Pesquisa no Brasil13, que contém informações sobre os grupos em atividade, em 1993, o Brasil tinha 4.402 grupos de pesquisa e em 2010, 27.503. O país somava 21.541 pesquisadores, em 1993, e 128.892 cientistas, em 2010.

O documento da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) aponta que o número de artigos científicos finalizados e publicados em 2008 por estudantes de mestrado e doutorado brasileiros alcançou a marca de 26.482.

Dados levantados pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (hoje MCTI, Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação) também atestam o crescimento da

(28)

produção científica de pesquisadores brasileiros. Em 2010, os cientistas publicaram 66.693 artigos em revistas de circulação internacional e 72.915, de circulação nacional, conforme estão expostos na Tabela 3.

Tabela 3

Brasil: Produção científica, segundo meio de divulgação no Diretório dos Grupos de Pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), 2000-2010

!

" #

Fonte(s): Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - Diretório dos Grupos de Pesquisa no Brasil.

Elaboração: Coordenação-Geral de Indicadores - ASCAV/SEXEC - Ministério da Ciência e Tecnologia.

Nota(s): 1) publicados em português, em revistas técnico-científicas e periódicos especializados (inclui aqueles sem informação sobre o idioma);

2) publicados em outro idioma que não o português, em revistas técnico-científicas e periódicos especializados;

3) Texto em jornais ou revistas (magazines) e demais tipos de produção bibliográfica (partitura musical, tradução, etc.).

Atualizada: 31/08/2011

Se o investimento financeiro, os grupos de pesquisa e a produção científica estão se expandido, poderíamos esperar que a informação de ciência e tecnologia para o público leigo alcançasse igualmente melhor expressividade nos meios de comunicação. Ao contrário, é pouco percebida pela sociedade, embora o interesse pelo assunto esteja em crescimento.

O MCTI realizou uma pesquisa nacional, em 2010, em colaboração com a Unesco, publicada sob o título Percepção Pública da Ciência e Tecnologia no Brasil14.

A pesquisa teve o objetivo de levantar o interesse, o grau de informação, atitudes, visões e conhecimento que os brasileiros (homens e mulheres, com idade igual ou superior a 16 anos) têm da ciência e tecnologia.

13 Disponível em: http://dgp.cnpq.br/censos/series_historicas/grupos/index_grupos.htm 14 A pesquisa completa está disponível em:

(29)

Em comparação com a pesquisa anterior, realizada com o mesmo objetivo em 2006, na mais recente registrou-se o aumento do interesse da população por assuntos de ciência e tecnologia. Na primeira pesquisa, 41% se declararam muito interessados em ciência e tecnologia, 35% pouco interessados e 23% sem interesse. Em 2010, 65% afirmaram ter muito interesse, 20% pouco interesse e 15% continuam sem interesse.

Ao medir as razões de insatisfação da população quanto à maneira pela qual os jornais e emissoras de televisões noticiam as descobertas científicas, 74% dos que leem jornais e 77% dos que assistem televisão informaram que o número de matérias era pequeno; quase 60% e 56%, respectivamente, observaram que em geral é difícil de entender as matérias; e 66% e 63 % afirmaram que a cobertura é tendenciosa.

Já para aqueles que apontaram serem pouco ou nada interessados em ciência e tecnologia, 36,7% dizem que não entendem, 19,5% nunca chegaram a pensar porque não têm interesse, 17,8% afirmaram não ter tempo para ver e 10,4% não gostam.

O governo federal parece acenar com a possibilidade de implementar ações que melhorem o quadro apresentado. As sinalizações se revertem em ações como a realização deste tipo de levantamento que busca acompanhar o interesse do público em ciência e tecnologia, como as notícias são percebidas pela população e ao incluir no Plano de Ação em Ciência, Tecnologia e Inovação (PACTI 2007-2010) a popularização da ciência como meta estratégica para o desenvolvimento social.

Em 2008, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), uma das maiores agências de fomento do setor vinculada ao MCTI, lançou o Programa Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs), como já citado, que tem como uma de suas missões a divulgação de conhecimento para a sociedade por meio de programas de difusão de conhecimento, buscando fortalecer a educação científica da população.

(30)

Tabela 4 - INCT - Ciências Agrárias e Agronegócio INCTs Jornais/revistas

2009 Jornais/revistas 2010 periódicos/09 Artigos em periódicos/10 Artigos em INCT para Fixação

Biológica de Nitrogênio em Gramíneas

0 0 90% 75%

INCT para o Controle das Intoxicações por Plantas

2,2% 4,2% 63,4% 75,5%

INCT em Engenharia da Irrigação

5,9% 0,8% 55,9% 34,7%

INCT de

Semioquímicos na Agricultura

0 7,5% 45,1% 70%

INCT de Controle Biorracional de Insetos Pragas

6% 0 73,1% 74,6%

INCT de Entomologia Molecular

5,2% 3,2% 67,3% 66,7%

Fonte: Elaboração própria a partir de informações disponíveis no Portal Brasileiro de Ciência e Tecnologia, 2010.

Esta tabela foi elaborada com base nos dados, até novembro de 2010, disponíveis no Portal Brasileiro de Ciência e Tecnologia15, que apresenta um mapa da produção científica a partir de informações coletadas nos Currículos Lattes dos pesquisadores que integram as equipes dos atuais INCTs. No Portal, é considerada a produção dos pesquisadores relacionada à publicação de artigos em anais, em capítulos de livros, artigos em periódicos, artigos aceitos, porém ainda não publicados, e presença em jornais e revistas.

A publicação de artigos científicos é um dos itens mais importantes considerados pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), vinculada ao Ministério da Educação, no momento de avaliar a pós-graduação acadêmica no Brasil. Os resultados desta avaliação, de acordo com a Capes, servem de base para a formulação de políticas para a área de pós-graduação e das ações de fomento à ciência, tecnologia e inovação (bolsas de estudo, auxílios e apoios).

Setenta por cento da pontuação da avaliação da pós-graduação ficam para os eixos corpo discente, teses e dissertações e produção intelectual, nos quais se

(31)

insere a publicação de artigos em revistas especializadas. Um percentual menor fica destinado à inserção social dos programas, espaço onde são avaliadas as iniciativas de socialização e compartilhamento do conhecimento.

Para fins de comparação, utilizamos apenas o percentual de publicação de artigos em periódicos e em jornais e revistas e selecionamos a produção científica do grupo pertencente à área de Ciência Agrária e Agronegócio.

Em 2009 e 2010, respectivamente, 90% e 75% da produção científica do primeiro INCT (ver Tabela 4) foram direcionadas à publicação de artigos em periódicos e não houve divulgação na mídia. A produção científica na mídia nos demais INCT, de acordo com o Portal, não alcançou mais do que 7,5%. É possível também que este índice tão reduzido represente a falta de inclusão de dados sobre a divulgação científica na mídia nos Currículos Lattes. A publicação na mídia e outras iniciativas de difusão não são pontuadas e consideradas quando da concessão de bolsas e auxílios à pesquisa científica nas agências de fomento do país.

Acreditamos que, se está aumentando o número de publicação de artigos em periódicos científicos, é possível que a ciência brasileira esteja alcançando resultados promissores e passíveis de compartilhamento com a sociedade.

Neste contexto, o nosso problema de pesquisa pode ser assim formulado: como os pesquisadores brasileiros, particularmente dos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia, estabelecem ações que proporcionem a divulgação da ciência para o público leigo?

1.4 HIPÓTESES

Apontam-se três hipóteses ao problema detectado pela pesquisa:

a) O pesquisador brasileiro não dispõe de infraestrutura profissional para tratamento informativo e para mediação no relacionamento com a mídia, o que contribui para que o fluxo de informação ainda não seja expressivo;

b) Há falta de entendimento entre pesquisadores do que seja divulgação da ciência para o cidadão, o que pode contribuir para gerar obstáculos no relacionamento com a mídia e o público;

(32)

que contribui para que os atores não estejam estimulados a desenvolver ações para o cidadão.

1.5 OBJETIVO GERAL

Conhecer como se processa a comunicação pública da ciência na relação entre os Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia e a sociedade.

1.5.1 Objetivos específicos

a) Caracterizar conceitual e operacionalmente a atividade do pesquisador em divulgar ciência como esforço de comunicação pública.

b) Identificar práticas de divulgação científica realizadas pelos INCTs e quais mídias são acionadas para que estes institutos cumpram a meta de difusão da ciência para o cidadão.

c) Evidenciar quais dificuldades enfrentam os pesquisadores em seu dever de informar os resultados das pesquisas à sociedade.

1.6 METODOLOGIA

1.6.1 Delimitações

1.6.1.1 Universo do estudo

A dissertação busca conhecer a divulgação da ciência para o cidadão brasileiro, entendida como processo de comunicação pública, e caracterizada como um estudo de caso baseado na atuação dos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs), relacionada à difusão do conhecimento por meio da mídia em 2010.

1.6.2 Sujeito

O estudo está centrado nos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia, programa de ação estratégica do Sistema Nacional de Ciência e Tecnologia do país criado no final de 2008 e coordenado pelo CNPq.

(33)

Orientação aprovado pelo Comitê de Coordenação dos INCTs16, o estabelecimento de “[...] programas que contribuam para a melhoria do ensino de ciências e com a difusão da ciência para o cidadão comum".

Os INCTs são compostos por 122 grupos de pesquisa, tendo 53 que aderiram ao programa do final de 2008 ao início de 2009. Considerando que se encontram no segundo ano de atividade e pressupondo estarem com as metas de pesquisas e equipes melhor consolidadas do que os demais que se juntaram em momentos diferentes, optamos por estudar o comportamento apenas destes 53 institutos.

1.6.3 Procedimentos metodológicos

Os estudos de caso são realizados quando surge a necessidade de compreender fenômenos sociais inseridos em algum contexto da vida real e quando o problema de pesquisa coloca questionamentos de “como” e “por que”, segundo Yin (2001). Este autor afirma que este tipo de estudo se baseia em várias fontes de evidências, cujos dados convergem em formato de triângulo.

Para Martins e Theóphilo (2009), o estudo de caso é uma investigação empírica onde pesquisadores analisam “profunda e intensamente” uma unidade social, não têm controle sobre eventos e variáveis e buscam compreender e interpretar um caso concreto. Estes autores afirmam, com base na literatura, que há quatro tipos de triangulação: de fontes de dados, denominada triangulação de dados, a mais utilizada pelos investigadores; de pesquisadores, em que avaliadores distintos colocam suas posições sobre os achados do estudo; de teorias, de acordo com leituras de diferentes teorias; de diferentes abordagens metodológicas, utilizadas para conduzir um único objeto de estudo na mesma pesquisa (MARTINS; THEÓPHILO, 2009, p. 68).

Conforme mencionado, nosso trabalho se baseia em estudo de caso dos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia, especificamente nas abordagens análise de conteúdo documental e bibliográfica e pesquisa quantitativa, com a utilização do processo de triangulação. O Pólo Metodológico de desenvolvimento do nosso estudo está assim apresentado:

(34)

Figura 1 - Pólo Metodológico

A Análise de Conteúdo, proposta por Laurence Bardin, professora francesa de psicologia na Universidade de Paris V, é um método conhecido nas investigações psicossociológicas e de comunicações de massas.

A Análise de Conteúdo surgiu no início do século XX e se desenvolveu nas primeiras quatro décadas nos Estados Unidos. H. Lasswell, conhecido entre os pesquisadores da comunicação a partir da obra Propaganda Technique in the World War (1927), foi o primeiro que utilizou a análise de conteúdo nos seus estudos de imprensa e propaganda já a partir de 1915. Sobre isso, afirma a própria autora que atualmente a Análise de Conteúdo é:

Um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter por procedimentos sistemáticos e objectivos de descrição do conteúdo de mensagens indicadores (quantitativos ou não) que permitam e inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens (BARDIN, 2009, p. 44).

(35)

ambas funcionalidades se complementam, Bardin (2009) define o método desta forma:

A análise de conteúdo (seria melhor falar de análises de conteúdo) é um método muito empírico, dependente do tipo de ‘fala’ a que se dedica e do tipo de interpretação que se pretende como objetivo. Não existe o pronto-a-vestir em análise de conteúdo, mas somente algumas regras de base, por vezes, dificilmente transponíveis. A técnica de análise de conteúdo adequada ao domínio e ao objetivo pretendidos tem que ser reinventada a cada momento, exceto para usos simples e generalizados, como é o caso do escrutínio próximo da decodificação e de respostas a perguntas abertas de questionários cujo conteúdo é avaliado rapidamente por temas. (BARDIN, 2009, p. 32)

No nosso estudo, utilizamos a análise de conteúdo desde o momento da pré-análise, quando ainda buscávamos elementos que pudessem justificar nossas hipóteses ao problema, formulação de objetivos e na escolha dos documentos que seriam explorados. Nesta fase, elaboramos o corpus da pesquisa, que Bardin (2009) entende como o conjunto dos documentos submetidos à análise, implicando “escolhas, seleções e regras”. O corpus da pesquisa gravita em torno de:

a) histórico das atividades de divulgação científica por meio de consultas a documentos, relatórios e obras sobre o assunto;

b) descrição dos conceitos envolvidos com a difusão da ciência para a sociedade, de comunicação e esfera pública e de inter-relação sistêmica entre os atores sociais;

c) descrição de iniciativas governamentais no que se referem às ações que visem à popularização e educação científica e tecnológica;

d) levantamento das atividades de divulgação científica relacionadas aos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs);

e) consulta aos pesquisadores sobre seu relacionamento com a imprensa.

Após a definição do corpus, partimos para a Pesquisa bibliográfica,

selecionando o material que compôs o leque de obras consultadas no nosso estudo, como teses, dissertações e artigos científicos.

(36)

No segundo momento da Pesquisa Documental, verificou-se o comportamento do grupo selecionado dos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia, sujeito do estudo conforme mencionado no item 1.6.2, em suas ações de divulgação da ciência ao público leigo, a partir das informações constantes nos relatórios de Acompanhamento e Avaliação. Optamos por analisar apenas os segundos relatórios17 referentes às atividades desenvolvidas até 2010, quanto às informações mencionadas pelos pesquisadores-coordenadores refletindo a atuação de seu instituto, contidas no campo Resultados obtidos/metas em Educação e Divulgação da Ciência, tendo em vista não terem ainda recebido uma interpretação científica.

Com os dados levantados nos relatórios, realizamos o que em Análise do Conteúdo é denominado por Bardin (2009) como “codificação”, quando as informações brutas são transformadas de forma organizada e "[...] agregadas em unidades, as quais permitem uma descrição das características pertinentes do conteúdo".

Na organização dos dados, aplicamos o processo de categorização, que classificou as manifestações dos pesquisadores-coordenadores sobre ações de educação e divulgação da ciência por diferenciação e por reagrupamento, onde também agregamos o conteúdo, descartando as repetições e fazendo reagrupamentos das atividades sinônimas. Os títulos e o conteúdo das categorias foram formados com base nos termos comunicação de massa, segmentada, organizacional e Interpessoal. O resultado se apresenta no Capítulo 5 deste estudo.

Após exploração dos relatórios de Acompanhamento e Avaliação dos INCTs, elaboramos e aplicamos uma Pesquisa Quantitativa, na forma de questionário, aos 53 pesquisadores-coordenadores destes institutos. O questionário conteve oito perguntas fechadas e foi aplicado entre 17 de outubro a 3 de novembro de 2011, por meio da ferramenta fornecida pela empresa SurveyMonkey18. Elaboramos o questionário no software disponibilizado pela empresa e enviamos um e-mail com o convite aos pesquisadores para cooperar com a pesquisa.

As perguntas do questionário versaram sobre como os pesquisadores entendiam o seu papel como agente público na divulgação científica para o cidadão,

17 Embora prevista a análise dos 53 relatórios, não exploramos dois deles, em razão de não terem

enviado o documento dentro do período previsto para nossa análise.

(37)

quem realiza a mediação com a mídia, como percebem a qualidade do que é publicado na mídia sobre ciência e tecnologia e se têm alguma dificuldade para informar o resultado das suas pesquisas para a sociedade.

As informações estão agregadas em quadros de resultados com tratamento estatístico e, diante delas, arriscamos levantar inferências sobre os dados encontrados. Pareceu-nos importante esclarecer que inferência não se caracteriza como um palpite em relação aos resultados. Sobre este assunto, Bardin (2009, p. 40) revela que: “A intenção da análise de conteúdo é a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção (ou, eventualmente, de recepção), inferência esta que recorre a indicadores (quantitativos ou não)”.

(38)

2 COMUNICAÇÃO DA CIÊNCIA E TECNOLOGIA

“Galileu havia decidido passar por cima das universidades e se dirigir no vernáculo a um público leigo inteligente em geral. Isso sem dúvida envolvia sacrificar o valor internacional do latim, mas Galileu não fazia muita questão de se tornar um membro exclusivo da república iluminada e dispersa dos teóricos. […]. Ele se sentia à vontade a rua, na praça.”

Santillana 19

Um passeio pela história da humanidade revela que a disseminação do conhecimento em diversos momentos esteve na pauta de muitos pensadores e cientistas, seja por questões vinculadas ao poder, dentro ou extramuros da academia, seja devido a situações econômicas.

O físico Galileu Galilei, que viveu entre 1564 e 1642, desenvolveu uma das primeiras experiências em educação para ciência ao redigir duas publicações

Diálogo sobre os dois principais sistemas do mundo (1624) e Duas novas ciências (1636) – em forma de diálogo entre professor e aluno. Embora o objetivo tenha sido popularizar a ciência, para entender o conteúdo das obras, o público leitor precisava ter algum conhecimento especializado no assunto.

No século XVII, os produtos resultados de trabalho científico foram vinculados à existência de Deus, época de grande influência da Igreja sobre a sociedade (MASSARANI, 1998).

Já no século seguinte, a ciência passou a ser vista como ferramenta para o desenvolvimento social e considerou-se importante difundir o conhecimento voltado para a afirmação da razão, que marcou a época do Iluminismo. Neste período, de acordo com Caribé (2011), a aristocracia e classe média tinham interesse nas

19 Citação retirada do livro Os Últimos Intelectuais, de Russell Jacoby (The Last Intellectuals), São

(39)

descobertas da ciência e, portanto, a divulgação também era realizada nos palácios, na corte, nos cafés e nos bares.

Após o período da Revolução Industrial, mais ao final da segunda metade do século XIX, quando a ciência começa a se aliar à produção e assume caráter político de progresso e evolução da sociedade, as atividades de divulgação científica se intensificaram em todo o mundo, com entusiasmo sobre os seus benefícios.

Nos idos do século XX, como relatam Massarani e Moreira (2002), o físico Albert Einstein (1879-1955) foi instado a elaborar sua teoria da relatividade em linguagem popular. Neste século, ficou mais explícito o impacto da ciência e da tecnologia no cotidiano das pessoas, principalmente com a descoberta do antibiótico penicilina e com o poderio militar demonstrado na Segunda Guerra.

A partir do encerramento da guerra, com a expansão da ciência mais focada na física para os demais campos do conhecimento e sua influência na economia, a sociedade começou a visualizar de modo mais nítido os produtos resultantes dos investimentos em ciência e tecnologia, percebendo tanto os benefícios, quanto os resultados negativos que acarretaram perdas para o cidadão e o meio ambiente. Nessa época, começa a se estruturar a comunidade científica, institucionalizada em universidades e instituições científicas.

A ciência incorpora-se, então, à sociedade e assume papel estratégico não somente na formação cultural, mas também política e econômica. Para Albagli (1996), a ciência deixa de ser uma "instituição social heterodoxa" para assumir funções como força produtiva e mercadoria.

A expansão da ciência e tecnologia caminha paralelamente a iniciativas de divulgação científica.

2.1 CONCEITOS E DEFINIÇÕES

“A ciência é bonita e profundamente estética; portanto devemos exibi-la à sociedade.”

José Reis

(40)

comunicação pública da ciência, cultura científica, difusão científica, disseminação científica, divulgação científica, educação científica, jornalismo científico, popularização da ciência, percepção pública da ciência, vulgarização da ciência, entre outras (CARIBÉ, 2011, p. 159).

Os países da América Latina utilizam o termo popularização da ciência, também empregado pelo Brasil, embora a expressão divulgação científica seja mais amplamente disseminada por aqui para definir a atividade de comunicação da ciência para o público leigo. Os franceses adotaram vulgarização da ciência e as nações de idioma inglês, divulgação científica.

O médico José Reis, pioneiro da divulgação da ciência no Brasil, define o conceito como “[...] a veiculação em termos simples da ciência como processo, dos princípios nela estabelecidos, das metodologias que emprega” (CANAL CIÊNCIA, 1982).

Para Calvo Hernando (1992), a divulgação científica é toda ação que procura explicar e difundir a ciência. Sobre isso, o autor enfatiza ao afirmar que:

[...] compreende toda atividade de explicação e difusão dos conhecimentos, da cultura e do pensamento científico e técnico, com duas condições, duas reservas: a primeira, que a explicação e a divulgação se façam fora do marco do ensino oficial ou equivalente, a segunda, que estas explicações extra-escolares não tenham como objetivo formar especialistas ou aperfeiçoá-los em seu próprio campo, pois o que se pretende, pelo contrário, é complementar a cultura dos especialistas fora de sua especialidade. (CALVO HERNANDO, 1992, p. 72).

Bueno (1984; 2010) também conceitua os termos utilizados para comunicar ciência ao público, diferindo em relação ao perfil, ao nível do discurso, os canais e ambientes de veiculação e a intenção. A divulgação científica seria a "[...] utilização de recursos, técnicas, processos e produtos (veículos ou canais) para a veiculação de informações científicas, tecnológicas ou associadas ao público leigo" (BUENO, 2009 apud BUENO, 2010, p. 2), entendida como tradução da linguagem identificada para um público extenso e diversificado.

Já a difusão científica, o autor a descreve como "[...] todo e qualquer processo usado para a comunicação da informação científica e tecnológica", que tanto pode se destinar ao público leigo ou a especialistas, e comunicação científica

(41)

Quanto aos meios e instrumentos de divulgação, destaca-se, para efeito deste estudo, o processo utilizado pelos veículos de comunicação para levar os assuntos de ciência e tecnologia ao grande público. O termo associado é o

jornalismo científico.

Convém abrir um espaço para caracterizar o que é público leigo e comunidade científica. Público leigo, de acordo com Caribé (2011), pode ser caracterizado como todos aqueles que não são especialistas na área científica que esteja sendo abordada, ou seja, são aqueles indivíduos que não integram a comunidade científica responsável pela geração daquele conhecimento específico (CARIBÉ, 2011, p. 20).

A comunidade científica, de acordo com Schwartzman (2001, apud CARIBÉ, 2011), é formada por um grupo de indivíduos que compartilham valores e atitudes científicas e que se relacionam por meio das instituições às quais pertencem. Já Caribé (2011, p. 69) afirma que a comunidade científica não é um grupo que se poderia caracterizar pela neutralidade, pois "[...] se estrutura por interesses determinados pelas organizações às quais se alia e pelas estruturas econômicas necessárias ao seu funcionamento."

Para alguns autores, os termos divulgação científica e jornalismo científico são considerados sinônimos, porém não há consenso. Bueno (1995) afirma que os objetivos são idênticos, porém apresentam “[...] características particulares do código utilizado e do profissional que manipula”, incluindo o jornalismo científico como uma forma de divulgação científica realizada pelos meios de comunicação. E sobre isso, este autor enfatiza:

Na prática, a divulgação científica não está restrita aos meios de comunicação de massa. Evidentemente, a expressão inclui não só os jornais, revistas, rádio, TV [televisão] ou mesmo o jornalismo on-line, mas também os livros didáticos, as palestras de ciências [...] abertas ao público leigo, o uso de histórias em quadrinhos ou de folhetos para veiculação de informações científicas (encontráveis com facilidade na área de saúde/Medicina), determinadas campanhas publicitárias ou de educação, espetáculos de teatro com a temática de ciência e tecnologia (relatando a vida de cientistas ilustres) e mesmo a literatura de cordel, amplamente difundida no Nordeste brasileiro (BUENO, 2009, apud BUENO, 2010, p. 4).

A partir desses pressupostos, Pinheiro (2009) procura esclarecer os conceitos ao explicar que o jornalismo científico seria exercido por um jornalista, “mas a

(42)

aqui citados. Corrobora com Bueno (2010) quando afirma que a difusão da ciência apresenta diferenciações em relação à linguagem, ao público e canais.

Após realizar pesquisas em documentos públicos, Caribé (2011) afirma que no governo federal brasileiro os termos mais utilizados são "divulgação científica, difusão e popularização da ciência", contudo defende que o conceito comunicação científica para o público leigo é o mais abrangente para definir a difusão de informação para a sociedade, tendo em vista que "[...] incorpora todos os tipos de estratégia e formas de comunicação, permite a identificação da origem do conteúdo, parte do conhecimento gerado pela comunidade científica" (CARIBÉ, 2011, p. 2011).

Para esta autora, a vulgarização, popularização, divulgação e comunicação pública da ciência são termos sinônimos. Apresentam, como característica, o processo centrado no emissor com a intenção de "levar um conjunto de informação a um determinado grupo social" para ser conhecido. Já a comunicação para cientistas, divide-se em comunicação intrapares, destinada a especialistas da mesma área do receptor, e extrapares, àqueles que não são da área específica do emissor, mas que têm capacidade de decodificar a informação. Os termos educação científica, percepção pública da ciência, compreensão pública da ciência e alfabetização pública são centrados no receptor, interdependentes, e um é pré-requisito do outro. A autora explica a relação entre os termos como:

[...] a educação científica é pré-requisito para a percepção pública da ciência, que se constitui um pré-requisito para a compreensão pública da ciência, e a partir do momento em que o indivíduo compreende pode desenvolver um conjunto de habilidades e então pode ser considerado alfabetizado. De acordo com as características descritas, quanto aos três tipos de alfabetização pode-se considerar o indivíduo apto ao exercício da cidadania, a partir do momento em que domine a alfabetização prática, ou seja, domine o conhecimento científico aplicando-o na sua vida cotidiana, a alfabetização cultural em que o indivíduo aprecie a ciência como atividade cultural e alfabetização cívica que capacita o cidadão para torná-lo consciente dos problemas, resultados e perspectivas instrumentalizando-o para o exercício da cidadania. (CARIBÉ, 2011, p. 186).

Vogt (2003) caracteriza a divulgação científica como o processo de produção, de difusão ou de ensino e aprendizagem da ciência, uma das etapas da espiral da cultura deste segmento, que engloba a participação do cidadão.

Imagem

Tabela 1 - Ciência e Tecnologia nos portais de notícias na internet  Agendamento -
Tabela 2 - Quantidade de documentos em base de dados  Termos/Bases de dados        Gloogle
Tabela 4 - INCT - Ciências Agrárias e Agronegócio                 INCTs  Jornais/revistas  2009  Jornais/revistas 2010  Artigos em  periódicos/09  Artigos em  periódicos/10  INCT para Fixação
Figura 1 - Pólo Metodológico
+7

Referências

Documentos relacionados

Para preparar a pimenta branca, as espigas são colhidas quando os frutos apresentam a coloração amarelada ou vermelha. As espigas são colocadas em sacos de plástico trançado sem

A aplicação de parafina em raízes de mandioca tem sido eficiente para prolongar o seu período de conservação.. Este efeito é atribuído à diminuição da permeabilidade ao

Desta maneira, foi possível perceber que existe uma diferença significativa (P< 0,05) entre o comportamento da cola A relativamente à cola A com 5% e com 10% m/m de

The  surface  immunglobulin  that  serves  as  the  BCR  has  two  functions  in  B‐cell  activation.  First,  like  the  antigen  receptor  on  T  cells, 

Corte – interpretando de forma harmônica as disposições do Decreto n.º 3.298/99, em conjunto com as disposições legais e constitucionais pertinentes, bem como com o disposto

Anthropogenic climate change has obviously altered the nature and social landscape. Nature provides resources for human needs and in the same situation human should

Realizar a manipulação, o armazenamento e o processamento dessa massa enorme de dados utilizando os bancos de dados relacionais se mostrou ineficiente, pois o

As amostras foram encaminhadas ao Laboratório da Associação Paranaense de Criadores de Bovinos da Raça Holandesa para Contagem Bacteriana Total (CBT), Contagem de