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“A ciência é bonita e profundamente estética; portanto devemos exibi-la à sociedade.”

José Reis Há uma diversidade de conceitos e de termos para identificar a comunicação da ciência para o público. Caribé (2011) aponta, entre eles, a alfabetização, alfabetização científica, compreensão pública da ciência, comunicação científica,

comunicação pública da ciência, cultura científica, difusão científica, disseminação científica, divulgação científica, educação científica, jornalismo científico, popularização da ciência, percepção pública da ciência, vulgarização da ciência, entre outras (CARIBÉ, 2011, p. 159).

Os países da América Latina utilizam o termo popularização da ciência, também empregado pelo Brasil, embora a expressão divulgação científica seja mais amplamente disseminada por aqui para definir a atividade de comunicação da ciência para o público leigo. Os franceses adotaram vulgarização da ciência e as nações de idioma inglês, divulgação científica.

O médico José Reis, pioneiro da divulgação da ciência no Brasil, define o conceito como “[...] a veiculação em termos simples da ciência como processo, dos princípios nela estabelecidos, das metodologias que emprega” (CANAL CIÊNCIA, 1982).

Para Calvo Hernando (1992), a divulgação científica é toda ação que procura explicar e difundir a ciência. Sobre isso, o autor enfatiza ao afirmar que:

[...] compreende toda atividade de explicação e difusão dos conhecimentos, da cultura e do pensamento científico e técnico, com duas condições, duas reservas: a primeira, que a explicação e a divulgação se façam fora do marco do ensino oficial ou equivalente, a segunda, que estas explicações extra-escolares não tenham como objetivo formar especialistas ou aperfeiçoá-los em seu próprio campo, pois o que se pretende, pelo contrário, é complementar a cultura dos especialistas fora de sua especialidade. (CALVO HERNANDO, 1992, p. 72).

Bueno (1984; 2010) também conceitua os termos utilizados para comunicar ciência ao público, diferindo em relação ao perfil, ao nível do discurso, os canais e ambientes de veiculação e a intenção. A divulgação científica seria a "[...] utilização de recursos, técnicas, processos e produtos (veículos ou canais) para a veiculação de informações científicas, tecnológicas ou associadas ao público leigo" (BUENO, 2009 apud BUENO, 2010, p. 2), entendida como tradução da linguagem identificada para um público extenso e diversificado.

Já a difusão científica, o autor a descreve como "[...] todo e qualquer processo usado para a comunicação da informação científica e tecnológica", que tanto pode se destinar ao público leigo ou a especialistas, e comunicação científica "[...] diz respeito à transferência de informações científicas, tecnológicas ou associadas a inovações e que se destinam aos especialistas em determinadas áreas do conhecimento" (BUENO, 2010, p.2).

Quanto aos meios e instrumentos de divulgação, destaca-se, para efeito deste estudo, o processo utilizado pelos veículos de comunicação para levar os assuntos de ciência e tecnologia ao grande público. O termo associado é o

jornalismo científico.

Convém abrir um espaço para caracterizar o que é público leigo e comunidade científica. Público leigo, de acordo com Caribé (2011), pode ser caracterizado como todos aqueles que não são especialistas na área científica que esteja sendo abordada, ou seja, são aqueles indivíduos que não integram a comunidade científica responsável pela geração daquele conhecimento específico (CARIBÉ, 2011, p. 20).

A comunidade científica, de acordo com Schwartzman (2001, apud CARIBÉ, 2011), é formada por um grupo de indivíduos que compartilham valores e atitudes científicas e que se relacionam por meio das instituições às quais pertencem. Já Caribé (2011, p. 69) afirma que a comunidade científica não é um grupo que se poderia caracterizar pela neutralidade, pois "[...] se estrutura por interesses determinados pelas organizações às quais se alia e pelas estruturas econômicas necessárias ao seu funcionamento."

Para alguns autores, os termos divulgação científica e jornalismo

científico são considerados sinônimos, porém não há consenso. Bueno (1995)

afirma que os objetivos são idênticos, porém apresentam “[...] características particulares do código utilizado e do profissional que manipula”, incluindo o jornalismo científico como uma forma de divulgação científica realizada pelos meios de comunicação. E sobre isso, este autor enfatiza:

Na prática, a divulgação científica não está restrita aos meios de comunicação de massa. Evidentemente, a expressão inclui não só os jornais, revistas, rádio, TV [televisão] ou mesmo o jornalismo on-line, mas também os livros didáticos, as palestras de ciências [...] abertas ao público leigo, o uso de histórias em quadrinhos ou de folhetos para veiculação de informações científicas (encontráveis com facilidade na área de saúde/Medicina), determinadas campanhas publicitárias ou de educação, espetáculos de teatro com a temática de ciência e tecnologia (relatando a vida de cientistas ilustres) e mesmo a literatura de cordel, amplamente difundida no Nordeste brasileiro (BUENO, 2009, apud BUENO, 2010, p. 4). A partir desses pressupostos, Pinheiro (2009) procura esclarecer os conceitos ao explicar que o jornalismo científico seria exercido por um jornalista, “mas a

divulgação científica pode ser atividade praticada por diferentes profissionais”.

Caribé (2011) infere que é genérico o conceito de comunicação científica e que as atividades englobam conjuntamente todos os termos indicados pelos autores

aqui citados. Corrobora com Bueno (2010) quando afirma que a difusão da ciência apresenta diferenciações em relação à linguagem, ao público e canais.

Após realizar pesquisas em documentos públicos, Caribé (2011) afirma que no governo federal brasileiro os termos mais utilizados são "divulgação científica, difusão e popularização da ciência", contudo defende que o conceito comunicação científica para o público leigo é o mais abrangente para definir a difusão de informação para a sociedade, tendo em vista que "[...] incorpora todos os tipos de estratégia e formas de comunicação, permite a identificação da origem do conteúdo, parte do conhecimento gerado pela comunidade científica" (CARIBÉ, 2011, p. 2011).

Para esta autora, a vulgarização, popularização, divulgação e comunicação pública da ciência são termos sinônimos. Apresentam, como característica, o processo centrado no emissor com a intenção de "levar um conjunto de informação a um determinado grupo social" para ser conhecido. Já a comunicação para cientistas, divide-se em comunicação intrapares, destinada a especialistas da mesma área do receptor, e extrapares, àqueles que não são da área específica do emissor, mas que têm capacidade de decodificar a informação. Os termos educação científica, percepção pública da ciência, compreensão pública da ciência e alfabetização pública são centrados no receptor, interdependentes, e um é pré- requisito do outro. A autora explica a relação entre os termos como:

[...] a educação científica é pré-requisito para a percepção pública da ciência, que se constitui um pré-requisito para a compreensão pública da ciência, e a partir do momento em que o indivíduo compreende pode desenvolver um conjunto de habilidades e então pode ser considerado alfabetizado. De acordo com as características descritas, quanto aos três tipos de alfabetização pode-se considerar o indivíduo apto ao exercício da cidadania, a partir do momento em que domine a alfabetização prática, ou seja, domine o conhecimento científico aplicando-o na sua vida cotidiana, a alfabetização cultural em que o indivíduo aprecie a ciência como atividade cultural e alfabetização cívica que capacita o cidadão para torná-lo consciente dos problemas, resultados e perspectivas instrumentalizando-o para o exercício da cidadania. (CARIBÉ, 2011, p. 186).

Vogt (2003) caracteriza a divulgação científica como o processo de produção, de difusão ou de ensino e aprendizagem da ciência, uma das etapas da espiral da cultura deste segmento, que engloba a participação do cidadão.

Para fins deste estudo, embora compactuemos com alguns dos autores mencionados, adotamos o termo divulgação científica caracterizada como comunicação pública da ciência, processo de levar o conhecimento para o cidadão,

tendo em vista ser o mais utilizado no governo federal, nas instituições científicas e universidades, conforme será aprofundado no capítulo 3.