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2. Interculturalidade e comunicação intercultural no ensino de línguas

2.2. A abordagem comunicativa intercultural e a aquisição/aprendizagem do

2.2.1. A abordagem comunicativa intercultural

Nas últimas décadas, diferentes métodos e abordagens de ensino de línguas foram abandonados ou aplicados com o objetivo de facilitar a aprendizagem, como por exemplo, a metodologia tradicional, a metodologia direta, a metodologia áudio-oral ou audiolingual, a metodologia audiovisual e a metodologia comunicativa etc. Para que o aluno adquira as competências necessárias na aquisição/aprendizagem de uma LE, é preciso orientar os alunos a conhecer os traços, regras e códigos culturais do outro e da língua-alvo. Usam-se abordagens adequadas na sala da aula para que se ofereça uma estrutura referencial básica no campo do ensino da LE.

Sendo usados atualmente diferentes métodos e abordagens nas salas de aula de LE, cabe-nos fazer uma pergunta: que método e que abordagem são mais adequados para aplicar no ensino-aprendizagem de LE?

A abordagem comunicativa propõe o ensino e a aprendizagem de línguas estrangeiras de modo comunicativo intercultural, sendo esta a metodologia mais importante e predominante, desde meados do século XX aos dias de hoje, na área do ensino de línguas. Na abordagem comunicativa de ensino-aprendizagem de línguas estrangeiras, a gramática perde o papel central e outros fatores passam a exercer o mesmo papel, por exemplo, as intenções comunicativas interculturais, a sensibilização para a comunicação intercultural, a habilidade de conversão entre comunidades diferentes, etc., resumindo-se todos estes fatores como a competência comunicativa intercultural. A ênfase na competência comunicativa intercultural tem vindo a constituir como princípio a ideia de que os conteúdos gerais das disciplinas de LE devem passar de uma abordagem comunicativa para uma abordagem comunicativa intercultural.

Risager (1998) apresenta quatro abordagens diferentes para o ensino de LE: 1) A abordagem da cultura-estrangeira, que vem perdendo espaço desde os anos 1980;

2) A abordagem intercultural, que substituiu a abordagem da cultura estrangeira e é a dominante hoje em dia;

3) A abordagem multicultural, que fez o seu aparecimento desde a década de 1980, mas que se encontra numa posição marginal;

4) A abordagem transcultural, que está apenas a começar a aparecer como resultado da internacionalização.

aceitá-las, mas – e o que é mais difícil – fazer com que elas sejam a origem de uma dinâmica de criações novas, de inovação, de enriquecimentos recíprocos e não de fechamentos e de obstáculos ao enriquecimento pela troca» (Banks, 1994, p. 68). De acordo com Vieira (1999), «intercultural» envolve noções de reciprocidade e troca de aprendizagens, na comunicação e nas relações humanas – há uma preocupação na comunicação entre os indivíduos portadores de diferentes culturas. «O termo “intercultural”, tal como o próprio nome indica, expressa a função de inter-relação entre modos de sentir e de compreender a realidade» (Ferreira, 2003, p.110). Por isso, usamos neste trabalho o termo «intercultural» como abordagem formal, relativamente nova, no campo das Ciências Sociais e Ciências da Educação, tendo o significado de lidar com os outros, sobretudo com aqueles que têm uma identidade cultural diferente.

Junta-se, no nosso trabalho, a comunicação intercultural com dois métodos de ensino de línguas: abordagem comunicativa e abordagem intercultural, usando-se o termo «abordagem comunicativa intercultural». A abordagem comunicativa vai centralizar o ensino de LE na comunicação intercultural, ensinando comunicativamente o português como LE na China. A partir dos princípios da abordagem comunicativa intercultural, os alunos precisam de adquirir conhecimentos gramaticais, lexicais e do uso social, construindo os seus próprios conhecimentos, para produzir uma comunicação mais eficaz. Na área do ensino-aprendizagem de uma LE, esta abordagem é vista como um integrante do processo das interações sociais e culturais. A interação de culturas diversas, crenças e valores que cada falante traz ao processo de comunicação deve ser reconhecida em todo o ato comunicativo intercultural. Pretende-se assim no nosso trabalho promover o diálogo de culturas na sala de aula de acordo com a abordagem comunicativa intercultural, para professores e alunos estarem sempre abertos para aceitar e respeitar as diferenças linguísticas e/ou culturais.

Analisa-se, no nosso trabalho, a intervenção pedagógica no processo do ensino do português como LE na China, com base nos parâmetros da abordagem

comunicativa intercultural na aquisição/aprendizagem de LE, apresentando-se cinco competências específicas (falar, ouvir, escrever, ler e traduzir). Deve-se orientar diferentes dimensões das atividades de ensinar, tais como o plannificação de cursos, a utilização de materiais didáticos e os diferentes procedimentos desenvolvidos. A abordagem comunicativa intercultural enfatiza que as competências comunicativas em LE deverão propiciar ao aluno condições de comunicar adequadamente através da língua-alvo. O domínio da oralidade é fundamental para se estabelecer a comunicação entre pessoas que falam a mesma língua, mas que vêm de diferentes culturas sociais.

Ao incorporar a língua como dimensão complexa do ser humano, a abordagem comunicativa intercultural tenta transformar as barreiras culturais em pontes interculturais, estudar os padrões da cultura no processo de comunicação de determinados grupos para atingir a competência comunicativa em línguas estrangeiras. O ensino-aprendizagem de uma LE deve partir da perspetiva da comunicação intercultural. Usa-se a abordagem comunicativa intercultural no processo de aprendizagem de uma LE, pois a progressividade do conhecimento linguístico colabora com a interação intercultural do modo didático, evitando situações inconvenientes e de engano. Pode dizer-se que a abordagem comunicativa intercultural representa uma evolução em relação ao processo do ensino-aprendizagem de LE.

As características fundamentais da abordagem comunicativa intercultural relacionam-se diretamente com os sujeitos do processo de aprendizagem e devem estar presente nos diferentes níveis das atividades do ensino. Para Oliveira (2004, pp.164-165), as caraterísticas da abordagem comunicativa intercultural são: «1) a língua como cultura; 2) o foco no sentido; 3) materiais como fonte; 4) a integração de competências; 5) o diálogo de culturas; 6) a agência humana; e 7) a avaliação crítica, processual e retroativa». Considerando-se a língua como um fenómeno cultural, a língua é, também, um instrumento social de comunicação. A aquisição/aprendizagem de uma LE não é somente um processo de aprendizagem do seu sistema de formas

mas também a aquisição de conhecimentos através da interação intercultural. Por isso, a abordagem comunicativa intercultural traz-nos como primeira ideia ensinar ou aprender uma LE como uma cultura diferente. Põe-se o foco de ensinar e aprender no sentido e no uso comunicativo da LE. O que de mais importante existe, neste caso, é fazer as intervenções pedagógicas na sala de aula relativas a informações culturais. Considera-se «materiais como fonte» a ideia de que a seleção e a produção de materiais didáticos se centram não só em interesses dos alunos, ou em necessidades da organização das aulas, mas especialmente em interação e desenvolvimento de habilidades comunicativas dos alunos e em apoio/orientação para a realização de comunicação intercultural. «A integração de competências» está relacionada com a competência comunicativa, que se refere a uma série de competências, tais como a competência gramatical ou formal, a competência sociolinguística, a competência discursiva, a competência estratégica e a competência intercultural. Consideram-se atividades de ensinar e aprender línguas como um «diálogo de culturas» e faz-se o ensino-aprendizagem na sala de aula funcionar como um espaço de interação cultural, na qual estão relacionados diferentes comunidades culturais que englobam a existência humana, a natureza e todos os seus conflitos. A abordagem comunicativa intercultural, sendo promotora de um diálogo intercultural no processo do ensino, permite estabelecer um diálogo entre culturas como meio para se alcançar uma compreensão entre as duas comunidades e de se estar aberto para aceitar o outro e a experiência cultural que o outro traz no processo de comunicação. «Agência», em sentido filosófico, é a capacidade de um agente intervir no mundo. Considera-se, então, o ensino-aprendizagem de LE como agente de interculturalidade que promove o diálogo entre diversas culturas. A abordagem comunicativa intercultural como um agente da dominação cultural na prática do ensino oferece um meio de adaptar os processos comunicativos de uma agência humana, baseado na centralidade da interação cultural no ensino-aprendizagem de LE. Nas práticas do ensino-aprendizagem, a avaliação assume uma análise crítica e reflexiva das atividades dos professores e dos alunos, incluindo a avaliação do rendimento dos alunos, avaliação formativa, autoavaliação do aluno sobre o processo de

desenvolvimento da aprendizagem, avaliação do desempenho do docente, avaliação das competências e atitudes dos alunos, avaliação dos materiais didáticos utilizados, avaliação do planeamento do currículo e avaliação da abordagem de ensino. Portanto, a avaliação como parte integrante do processo de ensino-aprendizagem preocupa-se com a qualidade do ensino e o resultado da aprendizagem tem como foco promover todo o processo da prática pedagógica.

É através da criação de um diálogo entre culturas, no qual a troca e análise de caraterísticas culturais, o respeito pelas diferenças, pretende construir um espaço que é formado pela interseção das experiências de professores e alunos e pelas interpretações da comunidade própria e do outro na sala de aula, que se descobrirá um lugar de convivência com a diferença para que haja um acesso às diferentes línguas e culturas. A abordagem comunicativa intercultural reune os alunos no centro das atividades do ensino, torna-os autónomos a construir ideias próprias, dando-lhes participação direta no processo de ensino-aprendizagem e proporcionando-lhes uma oportunidade de comunicar na língua aprendida. Desta forma, os alunos poderão entendê-la e utilizá-la da forma mais correta.

Neste sentido, a abordagem comunicativa intercultural é entendida como uma força potencial que contribui para as atividades de professores e de alunos no processo de ensino-aprendizagem de uma LE, que orienta o planeamento de cursos, a seleção de materiais didáticos e o padrão da avaliação da aprendizagem.