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2. Interculturalidade e comunicação intercultural no ensino de línguas

2.3. Competência comunicativa intercultural

O conceito de «competência comunicativa intercultural» pode-se dividir em duas palavras-chave: competência “comunicativa” e competência “intercultural”. No campo do ensino da LE, o conceito de competência comunicativa tem começado a ser associado ao de competência intercultural, pois a competência comunicativa abarca uma competência intercultural, indo ao encontro do que Byram (1999) chama «competência comunicativa intercultural». Desde os anos 1960, muitos autores têm estudado o significado do ensino de cultura e de LE nas aulas de línguas estrangeiras, tais como Chomsky (1971), Hammetly (1982), Lafayette (1975, 1978), Damen (1987), Buttjes (1990), Seelye (1997). Tomamos como base principal as leituras de Krashen (1983, 1988, 1993, 1997, 1998), Byram (1986, 1989, 1994, 1999), Hymes (1972), Mendes (2004, 2008, 2010), Chen (1992, 2010), para o ensino da LE em contexto de cultura e para a educação em competência comunicativa intercultural.

A competência comunicativa intercultural pode ser desenvolvida em qualquer abordagem de ensino de línguas, especialmente no ensino comunicativo de LE, porque é possível promover-se a comunicação intercultural a partir de qualquer prática pedagógica do ensino de LE. Para Moirand (1982), a competência comunicativa pressupõe a combinação de vários componentes: linguístico, discursivo, referencial e sócio-cultural. A competência intercultural envolve a capacidade de comunicar em todos os tipos de encontros interpessoais e interculturais. O conceito de competência intercultural, no âmbito da aprendizagem de uma LE, é um conceito exemplificativo da necessidade de tornar mais eficaz o convívio e a interação entre pessoas de línguas e culturas diferentes.

Figura 2. A relação entre competência comunicativa e competência intercultural

Uma referência ao esquema apresentado permite a seguinte descrição: A: Competência comunicativa: ler, escrever, ouvir, falar.

B: Competência cultural: cultura do dia a dia, cultura popular, crenças, perceções, artefatos, comportamento, história, geografia, literatura, música, arte, idade, sexo, classes sociais, etc.

C: Competência intercultural: capacidade geral inter-curricular, incluindo, por exemplo, adaptabilidade, tolerância, aceitar pontos de vista diferentes, flexibilidade, consciência cultural, percebendo os conceitos de etnocentrismo, os estereótipos e os construtivismos sociais.

L1: LM L2: Língua-alvo C1: Cultura nativa C2: Cultura-alvo

X: Competência comunicativa intercultural

A figura mostra que a competência comunicativa intercultural não é equivalente a competência comunicativa, nem é equivalente a competência cultural/intercultural. A competência comunicativa envolve certa competência cultural, que visa a observação das relações simbólicas entre língua e cultura (Krashen, 2003). A competência intercultural é a capacidade de entender que a diversidade cultural envolve não somente a existência da diferença mas também a compreensão da diferença e a consciência de que a outra cultura é um valor da comunidade do ser humano. A competência comunicativa intercultural reconhece a presença da competência comunicativa da cultura nativa e o desenvolvimento da competência comunicativa da cultura-alvo, a partir da perspetiva de comparação entre ambas, sendo representada pelo conhecimento de todos os elementos culturais e comunicativos.

Krashen (1993) sugere uma reflexão sobre língua e cultura em termos de cultura nativa e de cultura-alvo. O objetivo do ensino de línguas estrangeiras não é somente desenvolver a competência de língua dos alunos, nem apenas a competência comunicativa intercultural dos alunos. Nesse sentido, os principais objetivos do ensino de LE são o desenvolvimento da consciência de diferenças interculturais, a capacidade de comunicar eficaz e adequadamente em quaisquer situações ou contextos do uso da língua e de estabelecer e manter relações com pessoas de outras culturas.

É a competência comunicativa intercultural no ensino de línguas estrangeiras que dá acesso a «construir a sua identidade cultural e linguística através da integração nessa construção da experiência diversificada do outro e a desenvolver a sua capacidade para aprender, através dessa mesma experiência diversificada de relacionamento com várias línguas e culturas» (Bizarro & Braga, 2004, p.190). Hymes propôs primeiro o conceito de «competência comunicativa» em 1972,

conhecimento. Hymes (1972) acreditava que a realidade linguística de qualquer falante-ouvinte envolve relacionamentos socioculturais e estados emocionais e psicológicos diversos. O autor usa o termo «competência comunicativa» para se referir não apenas ao conhecimento mas também à capacidade de se usar esse conhecimento. Hymes (1972) mudou a visão sobre o ensino-aprendizagem de línguas e do uso da língua num contexto mais amplo da cultura e da pragmática. Segundo Baumgratz-Gangl (1990), a integração de valores e significados da cultura estrangeira na «cultura nativa» pode trazer uma mudança de perspetiva ou o reconhecimento de dissonância cognitiva e ajudar as pessoas a receber outras culturas e línguas estrangeiras.

O ensino de LE, com o objetivo de desenvolver a competência comunicativa intercultural, está focado no uso da língua no contexto social e suas variações socio-culturais, trazendo à luz as relações entre línguas, culturas, pensamentos e valores, etc. Esta competência é de natureza fundamentalmente comunicativa intercultural, mas também a reprodução de pontos de vista do mundo, pois são as pessoas que participam no processo da comunicação intercultural em LE. Assim, introduz-se esse conceito de competência comunicativa intercultural, nas aulas de LE, que destaca o encontro entre culturas como parte essencial da vida do ser humano e do ensino-aprendizagem de uma LE.

Byram (1997) propõe o modelo de competência comunicativa intercultural que inclui conhecimentos (savoir), atitudes (savoir être) e habilidades (savoir faire, savoir

comprendre e savoir s'engajer) para que o ensino de LE fique mais condizente à

realidade das atividades de ensino na sala de aula.

Figura 3. Modelo de competência comunicativa intercultural (Byram, 1997, citado por Brancoa, 2011, p.43)

No ensino-aprendizagem de LE, o «savoir» refere-se aos conhecimentos da antropologia cultural, sendo os conceitos e processos de interação social entre culturas e entre línguas; o «saber ser» é considerado como atitudes e está relacionado com o desenvolvimento da percepção de outras culturas e de integração com indivíduos de outras culturas; neste sentido, o «saber» e o «saber ser» são as duas primeiras condições para o sucesso da comunicação entre indivíduos de diferentes culturas. O «saber compreender» está relacionado com os estudos culturais e envolve a

competência de compreensão e comparação de contextos culturais; o «saber fazer» pode ser praticado na sala de aula ou dentro de um contexto estrangeiro, em que o aluno tem de aprender a comunicar com uma nova sociedade; entende-se o «saber

s´engajer» como o saber de desenvolvimento da consciência crítica cultural que

propõe as habilidades necessárias tais como: reconhecer a origem dos conflitos entre diferentes culturas, saber comunicar com membros de outras comunidades culturais, aceitar as diferenças. Nesse sentido, para o uso comunicativo de LE mais eficaz, o falante deve desenvolver uma série de habilidades gerais em interação com a competência comunicativa intercultural.

No campo do ensino de línguas estrangeiras, os estudos da competência comunicativa intercultural pretendem abrir um meio que se utiliza de uma língua comum para expressar os seus pensamentos e ideias. O processo de aprender e usar uma LE é realmente processar a diversidade de mensagens linguísticas, através da compreensão dos diversos códigos e linguagens, contextualizar as mensagens nos diversos processos comunicacionais presentes na sociedade. Os valores culturais são refletidos e transmitidos pela língua. A aprendizagem de uma língua necessita sempre da aprendizagem da sua cultura, porque os padrões culturais podem ser determinantes para o uso ajustado da língua. Propõe-se o ensino de cultura, na área do ensino de línguas estrangeiras, como um processo interpessoal e intercultural.

O aluno não enfrenta só a tarefa de aprender os conhecimentos sobre léxicos, gramática e pronúncia, mas também uma tarefa de usar os conhecimentos para realizar a comunicação com falantes do contexto da cultura-alvo, entendendo as características culturais de uma outra comunidade. Portanto, torna-se evidente a necessidade do desenvolvimento da competência comunicativa intercultural na pedagogia de uma LE. Mas nas nossas práticas de ensino de LE na China, o aspeto cultural parece estar separado da língua no ensino-aprendizagem de LE, sendo tornado apenas um instrumento universal de comunicação, independente da sua origem. No entanto, percebe-se cada vez mais que quanto mais se conhece da

cultura-alvo mais os alunos têm tendência para diminuir situações de conflito e para melhorar a interação com os falantes da língua-alvo. Portanto, vale muito a pena esclarecer no nosso trabalho a importância de desenvolver a competência da comunicação intercultural no processo de ensino-aprendizagem de LE.

Entende-se a competência comunicativa intercultural como a capacidade para estabelecer uma comunidade de significados e sentidos através das caraterísticas culturais, o que envolve processos verbais, cognitivos e afectivos. Desenvolver competência comunicativa intercultural para dominar uma LE é fator preponderante no processo de ensino-aprendizagem. Adotar a comunicação intercultural como uma abordagem trouxe perspetivas concretas de se desenvolver práticas pedagógicas que permitam um diálogo entre diferentes culturas e que respeitem as diferenças.