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2. Interculturalidade e comunicação intercultural no ensino de línguas

2.2. A abordagem comunicativa intercultural e a aquisição/aprendizagem do

2.2.3. O papel da LM no processo da aquisição/aprendizagem de LE

Há muitas teorias metodológicas no campo do ensino-apredizagem de línguas (Richards, 1978, 1982; Ellis, 1985; Beebe, 1988) que se preocupam em mostrar as áreas de interferência da LM na aquisição/aprendizagem de LE.

Como muitos investigadores têm questionado, se o processo da aquisição de uma segunda língua ou de uma LE é um processo semelhante ao de LM, esta visão levanta a necessidade de discutir o papel da LM no processo da aquisição/aprendizagem de uma LE. A LM tem uma significativa influência na aquisição da LE, «particularmente para os adultos, e isto pode ser visto na pronúncia do aprendiz» (Dulay, Burt & Krashen, 1982, p.111). Além disso, a interferência da LM causa realmente erros na aquisição da LE. A maioria dos erros ocorre por causa das estratégias que se assemelham ao sistema linguístico durante o processo de aprendizagem da LM.

As línguas são semelhantes em formas de expressão social e cultural, e diferentes em vacabulário, gramática e fonemas da língua. As semelhanças entre línguas levam a uma necessidade de considerar a relação entre LM e LE no processo de ensino-aprendizagem, partindo de uma posição em relação ao enfoque conferido pela abordagem de ensino de LE. As diferenças nos elementos linguísticos e as distâncias na origem cultural fazem com que um aprendiz de chinês como LM tenha mais dificuldade em aprender o português do que um aprendiz de espanhol como LM, por exemplo. Pode-se dizer que a LM transporta e revela modos de pensamento real do aprendiz de LE. Portanto, o papel da LM é um fator que não pode e não deve ser ignorado. As regras de gramática e os hábitos de comunicação escrita e falada interferem na aquisição e na aprendizagem da LE, pois no início da aprendizagem o aprendiz produz a língua-alvo de uma maneira apoiada na estrutura da LM. Em relação à metodologia tradicional – gramática-tradução –, aprender uma LE é dominar as suas regras gramaticais e saber falar, escrever e traduzir textos na língua-alvo. O procedimento de ensino deste método tem uma característica evidente de que as aulas

são ministradas na LM, sendo um método mais usado pelos preofessores, por causa da facilidade da aplicação do método. O professor faz normalmente uma aula expositiva de gramática na língua materna dos alunos ou faz tradução entre língua materna e língua-alvo; a LM desempenha um papel indispensável.

Completamente oposto à ideia do método tradicional, o método direto afirma que a LM do aluno deve ser anulada na sala de aula, bem como a tradução. Todas as instruções de aula são conduzidas exclusivamente na língua-alvo. O surgimento do método direto era uma tentativa de renovação do ensino de línguas que procurava reagir contra o método tradicional. Este método desenvolvia um processo do ensino da gramática de forma indutiva, da pouca frequência do uso ou não uso da LM na sala de aula, evitando a tradução. A LM só se usava quando a língua-alvo não fosse capaz de fornecer os conceitos necessários para mostrar o significado das palavras. Nas décadas de 50 e 60 do século XX, baseando-se no behaviorismo, a aquisição/aprendizagem de línguas estrangeiras passa a ser vista como um estabelecimento de hábitos para a aquisição/aprendizagem de formas (Chomsky, 1959). O estruturalismo (Beebe,1988; Richards, 1978) acreditava que os erros do uso de língua-alvo eram resultado da interferência da LM e que as dificuldades de aquisição/aprendizagem estavam relacionadas com as diferenças entre a LM e a língua-alvo; a LM é vista como irrelevante, mas produz algumas vezes impatos negativos, no processo de aquisição/aprendizagem de LE.

Observando-se que muitas regras da LM do aluno não encontram um correspondente na língua-alvo ou não são iguais às regras gramaticais da língua-alvo, mesmo assim a maioria dos erros não são devidos apenas à influência da LM mas também a uma repercussão das estratégias de ensino-aprendizagem. Logo, boa parte dos conhecimentos que aprendemos em LM podem e devem ser aproveitados em língua-alvo na aquisição/aprendizagem de uma LE.

sensibilização à diversidade linguística e cultural. Mas a maioria dos alunos não tem a suficiência para utilizar a língua-alvo de modo natural; especialmente não é capaz de perceber tudo explicado na língua-alvo. Por isso, os professores que falam a mesma LM preferem usar a LM como elemento facilitador no ensino da referida LE. Na China, a LM assume um papel muito importante nas aulas de línguas estrangeiras, pois com ela os alunos poderão receber os conhecimentos básicos de uma língua estrangeira, por isso, o papel do professor que fala chinês como língua materna é muito importante na integração do aluno, ajudando-o a compreender, no início, os saberes necessários ao uso da língua estrangeira que está a estudar. Neste sentido, encontra-se no processo de ensino de LE um grande problema, que é o uso da LM do aluno na aula de LE. Mesmo em pequena quantidade, significa uma “abertura de comportas”, porque os alunos estão na dependência da LM, deixando o professor sem controlo. É esta a razão por que se insere a questão da LM no processo de aquisição/aprendizagem de LE, uma vez que a frequência de uso da LM é preponderante para facilitar a transferência entre a LM e a língua-alvo.

A LM pode ter consequências positivas e negativas: pode servir funções sociais e cognitivas9 (Carless, 2008, p.331). Costuma-se dizer que os alunos que trabalham em grupo não precisam de falar na LE o tempo todo (positiva). O uso da LM relaciona-se com a identidade do aluno. O uso excessivo da LM pode comprometer a interação (prática) no estudo da LE (negativa). Para que os alunos possam atuar da melhor forma possível na língua-alvo, o uso da LM não deve ocupar o maior tempo na sala de aula, mas nas aulas do nível mais baixo, a LM é um importante determinante no processo da aquisição/aprendizagem de línguas estrangeiras. Uma boa utilização da LM pode exercer um papel positivo nas atividades do ensino, tornando a aquisição/aprendizagem menos complexa.

9 Tradução nossa. Em inglês: Mother tongue has potentially both positive and negative consequences: