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2 ASPECTOS TEÓRICOS DAS AGLOMERAÇÕES DE EMPRESAS

2.6 A ABORDAGEM DAS PEQUENAS EMPRESAS E DISTRITOS INDUSTRIAIS

Um grupo de pesquisadores do Institute of Development Studies na Universidade de Sussex (IDS- UK), liderados por Hubert Schmitz, analisando experiências de aglomerações produtivas em países em desenvolvimento, introduziu a noção de eficiência coletiva que descreve os ganhos competitivos associados à interação entre empresas em nível local, além de outras vantagens derivadas da aglomeração.

Schmitz (1997, p. 14), embora reconheça a importância das economias externas locais, enfatiza que essas economias externas não são suficientes para explicar o crescimento e a competitividade de empresas em sistemas produtivos locais. Por isso, propõe o conceito de

eficiência coletiva de modo a captar os efeitos tanto das economias externas locais quanto os da ação conjunta na determinação das vantagens competitivas de empresas em sistemas produtivos locais.

O conceito de eficiência coletiva parte, então, do reconhecimento da importância de economias externas locais puras (marshallianas), consideradas, entretanto, insuficientes para explicar o crescimento e a competitividade das empresas em aglomerações. Um segundo e talvez mais importante fator seja a ação deliberada no sentido da cooperação tanto entre as empresas como entre as próprias empresas e diferentes agentes.

Em suma, a eficiência coletiva seria composta por dois grupos de fatores determinantes. O primeiro deles são as economias externas passivas marshallianas, (disponibilidade de mão-de- obra especializada no interior da aglomeração, que diminui os custos de treinamento e procura, a existência de fornecedores de insumos especializados, que reduz os custos de transporte, e spillover tecnológicos, que facilitam a obtenção de informações técnicas e de mercado). O segundo grupo de fatores seriam aqueles construídos deliberadamente pelos agentes que compõem a aglomeração e que estimulam a cooperação.

Conforme se pode observar no Quadro 1, as ações conjuntas entre as empresas podem ocorrer de diversas formas. As ligações para trás, dizem respeito às transações das firmas com seus fornecedores de matérias-primas, equipamentos e serviços especializados, em etapas específicas do processo produtivo.

Ligações para Trás Fornecimento de Matérias-primas, Componentes e Serviços Fornecedores de Equipamentos

Firmas Especializadas Etapas do Processo Produtivo

Ligações

Horizontais Outras Firmas Produtoras Produtores Principais Associações Empresariais

Ligações para Frente

Agentes de Distribuição e

Comercialização Compradores Diretos Consórcios de Vendas

Quadro 1 - Formas de ações conjuntas em aglomerações industriais Fonte: Britto (2001, p.10).

As ligações horizontais vinculam as empresas com outras firmas localizadas no mesmo estágio das cadeias produtivas, sejam aquelas decorrentes de ações diretas entre os agentes, sejam as resultantes de associações empresariais.

Por fim, as ligações para frente envolvem articulações com os agentes responsáveis pela distribuição e comercialização dos produtos, compradores diretos (firmas atacadistas e varejistas) e com o consórcio de vendas formado pelos próprios produtores. Os aglomerados responderão aos desafios competitivos atuais através da articulação desses três elementos (ligações, para trás, para frente e horizontais). Quanto mais essas ligações estiverem articuladas e intensificadas, maiores serão suas possibilidades concorrenciais.

Economias externas locais marshallianas relacionadas a tamanho de mercado, concentração de mão de obra especializada, spillovers tecnológicos e outros fatores que favorecem a especialização local são importantes para explicar as aglomerações produtivas, mas oferecem uma explicação incompleta. São realmente os pré-requisitos para a ocorrência das aglomerações, porém não são capazes de explicar por si só as causas do sucesso de regiões específicas como a da Itália e outras. Por que economias externas locais é uma explicação incompleta?

O argumento é que no enfoque tradicional as economias externas locais ocorrem apenas na produção. Elas, entretanto, ocorrem também na distribuição e em outros serviços especializados comuns em aglomerações produtivas locais. Além disso, esse enfoque trata as economias externas como imperfeições de mercado, ao passo que a perspectiva da ação conjunta dos agentes enfatiza as propriedades capacitantes (enabling features) das economias externas tecnológicas (SUZIGAN, 2001a, p. 4).

Além disso, a ação conjunta é deliberada, ao passo que as economias externas puras são incidentais. Fabricantes especializados de produtos diferenciados, cooperando entre si e com fornecedores e outros agentes também especializados, beneficiam-se dos efeitos de retornos crescentes de escala similares àqueles derivados de economias externas puras (marshallianas). A ação conjunta geralmente se concentra na produção e são também comuns aos consórcios de P&D, compras, marketing e outros (SCHMITZ, 1997, p. 23).

A eficiência coletiva é geralmente associada a um processo dinâmico que permite a redução dos custos de transação e o aumento das possibilidades de diferenciação de produto ao longo do tempo, em virtude do intercâmbio de informações e do fortalecimento de laços cooperativos entre os agentes. Com a eficiência coletiva, a aglomeração produtiva pode, ainda, se beneficiar do aumento da capacidade de negociação coletiva na compra de insumos e componentes, o que reduz custos de produção e, ao mesmo tempo, facilita a exigência de maior qualidade por parte dos fornecedores. Ela facilita também a troca de informações técnicas, o surgimento de centros de prestação de serviços, o treinamento de mão-de-obra, campanhas de marketing de produto, e distribuição conjunta.

As possibilidades de geração de ganhos competitivos para os membros desses arranjos decorrem, ainda, da difusão de inovações tecnológicas e organizacionais ao nível local. Esses arranjos estimulam por sua vez a circulação de informações e o desenvolvimento de uma capacitação comercial e mercadológica que viabiliza a antecipação das tendências de comportamento do mercado e a rápida introdução de novos produtos em função destas tendências.

As economias externas marshallianas, que afetam a eficiência de uma aglomeração produtiva, podem surgir involuntariamente, mas resultam de relações de proximidade de longo prazo, construídas em função de arranjos institucionais feitos ao longo do tempo, ou seja, na história do aglomerado, fato que inclusive propicia o surgimento dos demais fatores decorrentes de um processo deliberado intencionalmente.

Tantos as externalidades (fatores não intencionais) quanto à cooperação (fatores intencionais), não necessariamente surgem em toda e qualquer aglomeração, pois são específicos a cada localidade e de difícil replicabilidade, dado que o conhecimento gerado é de natureza essencialmente tácita, não transmissível codificadamente em manuais.

Existem, portanto, circunstâncias especiais nas quais a proximidade pode, ou não, impulsionar tanto o crescimento, quanto a competitividade de empresas e regiões. Essas circunstâncias afetam diferentemente as aglomerações de empresas, produzindo, desse modo, trajetórias de crescimento diferenciado e, consequentemente, graus de desenvolvimentos bastante distintos.

Finalmente, o enfoque da eficiência coletiva enfatiza o papel das organizações de ajuda mútua nas aglomerações. O papel do setor público por meio de políticas específicas é também importante, e deve ser compatível com as ações privadas de ajuda mútua.

2.7 CONVERGÊNCIAS ENTRE AS DIFERENTES ABORDAGENS SOBRE