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2 ASPECTOS TEÓRICOS DAS AGLOMERAÇÕES DE EMPRESAS

2.8 ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS, CLUSTERS E DISTRITOS INDUSTRIAIS:

2.8.3 Distrito industrial

Assim como o conceito de cluster, a definição de distrito industrial (DI) não está livre de controvérsias. Existem algumas correntes teóricas e históricas que utilizam o conceito distrito industrial. Uma delas que utiliza o conceito de Distrito Industrial Italianos, afirma que eles são caracterizados por um grande número de empresas envolvidas em vários estágios da produção de um produto homogêneo, com forte participação de empresas de pequeno porte.

Muitos desses distritos foram encontrados no Norte e no Nordeste da Itália, chamada Terceira Itália, com especializações em diferentes produtos. Essa experiência inspirou pesquisas em distritos industriais em diversas regiões de países desenvolvidos, primeiramente na Europa e depois também no Japão e Estados Unidos (PYKE, BECATTINI, SENGENBERGER, 1990).

Além disso, ainda para esses autores, alguns dos emblemas dos DIs Italianos são a adaptabilidade e a capacidade de inovação articulados à capacidade de satisfazer rapidamente a demanda, com base numa força de trabalho e redes de produção flexíveis. No lugar de estruturas verticais tem-se um tecido de relações horizontais, no qual se processa a aprendizagem coletiva e o desenvolvimento de novos conhecimentos e combina-se concorrência e cooperação. A interdependência orgânica entre as empresas origina uma coletividade de pequenas empresas que se credencia à obtenção de economias de escala, somente permitida a grandes empresas.

Para Garcez (2002, p. 357), os distritos industriais surgem quando uma aglomeração produtiva desenvolve mais que a especialização e divisão do trabalho entre firmas. Existe também a emergência de formas implícitas e explícitas de cooperação entre agentes econômicos locais no interior dos distritos, que levam ao incremento da produção local e, às vezes, da capacidade de inovação, e a manifestação de fortes associações setoriais que ensejam o desenvolvimento da eficiência coletiva. A autora chama atenção que há, contudo, vários graus ou intensidades de desenvolvimento dessas características.

Markusen (1995, p. 18) sugere a seguinte tipologia para os distritos industriais:

1. Distritos Industriais Marshalliano referem-se a regiões com uma estrutura econômica onde preponderam pequenas empresas locais, nas quais as economias de escala são poucos significativas, o que limita o tamanho do negócio. Assim, o encadeamento ou cooperação com firmas de fora do distrito é praticamente inexistente.

2. Distritos Industriais Italianos caracterizam-se pelo “elevado nível de intercâmbio de pessoal entre os atores envolvidos, a cooperação entre os competidores visando à estabilização dos mercados e a definição de estratégias coletivas”. Neste sentido, percebe-se um intensivo grau de cooperação entre firmas, consumidores intermediários e fornecedores e uma parcela significativa de trabalhadores envolvida com tarefas de inovação.

3. Distritos Industriais Centro-Radiais são aqueles nos quais toda estrutura da região gira em torno de uma ou mais empresas ou unidades industriais denominadas firmas- chave. Elas congregam em torno de si fornecedores e outras atividades correlatas e é alto o grau de cooperação entre as firmas-chave e os fornecedores locais. Esse tipo de distrito gera uma especialização regional, com baixa taxa de renovação no rol de empresas-chave. Nesse tipo de distrito, a região é muito dependente do dinamismo das firmas mais importantes para a manutenção de capacidade de reinvestimento.

4. Distritos Industriais Plataformas Satélites resultam da congregação de filiais de multinacionais ou grandes corporações, instaladas em regiões com baixos salários e baixa carga tributária. Há nesse tipo de distrito reduzida vinculação local entre as firmas e as decisões mais importantes de investimentos são tomadas fora do DI. Isto gera uma restrição ao desenvolvimento, de modo mais articulado, da economia regional.

5. Distritos Industriais Ancorados pelo Estado são aqueles cujo dinamismo é dependente de uma instituição pública (universidade, centros de pesquisa, base militar). Toda estrutura dos negócios locais é dominada pela presença dessa instituição.

Observam-se convergências nas conceituações dos distritos industriais quanto à estreita relação entre as diferentes esferas social, política e econômica, com o funcionamento de uma dessas esferas moldada pelo funcionamento e organização de outras. Sendo assim, o sucesso dos distritos industriais repousa não exatamente apenas no econômico, mas largamente no social e no institucional.

Sintetizando, os distritos industriais são aglomerações de empresas, geograficamente concentradas e setorialmente especializadas. Eles mantêm um conjunto de relacionamentos horizontais e verticais baseados em intercâmbio de bens e informações e realçam a influência do entorno sócio-cultural comum. Os agentes sabem o que os unem e criam um código de comportamento, às vezes explícito, mas geralmente implícito.

Apresentados os conceitos de arranjos produtivos locais, distritos industriais e clusters, uma questão deve ser colocada. Será que eles são conceitos distintos ou formas alternativas de nomear um mesmo fenômeno?

Pode-se dizer que esses conceitos envolvem, em maior ou menor grau, concentração de pequenas e médias empresas em um território geograficamente delimitado. Um outro traço comum é que eles assumem que uma aglomeração produtiva envolve um conjunto específico de atividades econômicas correlacionadas e apoiadas sobre uma extensa teia de relacionamentos.

Uma observação cuidadosa dessas definições mostra, ainda, que as mesmas designam diferentes formas de cooperação entre firmas e outras instituições, atendem a uma mesma necessidade: corrigir, por meio da ação coletiva, as diferentes falhas que prevalecem nos mercados em que elas atuam.

Existe, pois, alguns elementos comuns entre os diferentes conceitos de aglomerações de empresas, dificultando, assim, a diferenciação inequívoca dos mesmos. Muitos autores referem-se aos APL, de maneira indistinta, como cluster ou até mesmo como distrito industrial. O conceito de APL aproxima-se, também, daquilo que alguns estudiosos denominam distritos marshallianos.

Tanto nos APL como nos distritos industriais italianos, a ênfase é colocada no fato de que grande parte da produção e do emprego é gerado por empresas de pequeno e médio porte. Essas aglomerações produtivas locais caracterizam-se ainda pela flexibilidade das estruturas produtivas, quando comparadas àquelas do modelo fordista tradicional.

Em síntese, pode-se dizer que cada uma das definições enfatiza determinados aspectos das aglomerações produtivas. Porém, no que concerne ao eixo de análise pode-se afirmar que são conceitos diferentes, que estão ligados as várias abordagens existentes, ou seja, depende do referencial teórico que esta sendo utilizado. Independente da nomenclatura ou da metáfora que se utilize, seja cluster, distrito industrial ou arranjo produtivo local, parece não haver dúvidas de que, qualquer que seja o referencial teórico utilizado, trata-se de um fenômeno identificado com um sistema social de produção, com menor ou maior complexidade, que se reproduz sobre certo território.

Sendo assim, a fim de incorporar a dimensão territorial como uma unidade própria de análise que define o espaço onde processos produtivos e inovativos têm lugar, o conceito que servirá de base para o estudo empírico apresentado as seguir é o de arranjo produtivo local.