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2 ASPECTOS TEÓRICOS DAS AGLOMERAÇÕES DE EMPRESAS

2.8 ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS, CLUSTERS E DISTRITOS INDUSTRIAIS:

2.8.1 Arranjo Produtivo Local

Nos últimos anos, formou-se um impressionante consenso sobre importância dos Arranjos Produtivos Locais (APLs) para o desenvolvimento econômico e social de uma região. A tendência de fazer dos APLs um dos focos das ações das políticas de desenvolvimento econômico e social do país fundamenta-se em alguns interessantes elementos de plausibilidade. Contudo, como todo consenso corre o risco de resvalar para a moda e conseqüente banalização, é sempre conveniente checar os elementos que compõem um APL e verificar sua racionalidade, seu alcance e possibilidade de eficácia.

Uma primeira questão a ser levantada é se qualquer aglomeração de empresas pode ser considerada um APL? Não, é a resposta. De acordo com a REDESIST, “arranjos produtivos

locais são aglomerações territoriais de agentes econômicos, políticos e sociais – com foco em um conjunto específico de atividades econômicas – que apresentam vínculos mesmo que incipientes” (ALBAGLI; BRITO, 2003, p. 3).

Da mesma forma, na medida em que se baseia numa concepção mais ampla de sistema de inovação, o conceito inclui não apenas a participação e a interação de empresas – que podem ser desde produtoras de bens e serviços finais até fornecedores de insumos e equipamentos, prestadoras de consultoria e serviços, clientes, dentre outros – e suas variadas formas de representação e associação. Incluem também diversas outras instituições públicas e privadas voltadas para a formação e treinamento de recursos humanos, pesquisa, desenvolvimento e engenharia, consultoria, promoção e financiamento. (ALBAGLI; BRITO, 2003; LASTRES; CASSIOLATO, 1999; VARGAS, 2000a; CASSIOLATO; SZAPIRO, 2002).

Logo, um arranjo produtivo local corresponde a uma aglomeração de empresas ou associações próximas territorialmente, agrupadas com o objetivo de realizar atividades produtivas em comum, onde se observa uma integração (mesmo que incipiente) entre empresas, governo, universidades, centros de treinamento, órgãos de pesquisa e financiamento. Esse tipo de interação rende aos participantes benefícios como redução de custo na produção, acesso a novos mercados e tecnologias, aumento do poder de barganha e troca de experiências.

Analisando o sentido semântico da palavra “arranjo”, a mesma expressa ato ou efeito de arranjar, de pôr em ordem, ou ainda, situação ou circunstância planejada, ordenada, acordo de conveniência entre pessoas. No Brasil, a palavra arranjo denota também um sentido negativo, “acordo entre pessoas para lesar ou enganar outras, conchavo, conluio, negociata” (DICIONÁRIO HOUAISS, 2004).

Para ser fiel ao significado expresso no dicionário – de uma situação ou ação planejada – o arranjo deveria destinar-se ao enquadramento de aglomerados industriais mais desenvolvidos, nos quais há percepção clara dos atores envolvidos sobre o papel desempenhado por cada um. Corresponderia a uma circunstância previamente planejada, ordenada, na qual os atores assumem responsabilidades no interior da aglomeração.

Contudo, este não é o entendimento comum na literatura, que define o arranjo produtivo local como aglomerações produtivas que apresentam relações menos intensas entre os agentes

locais, não se caracterizando como sistemas que apresentam maior complexidade na interação dos agentes (CASSIOLATO, SZAPIRO, 2002). Os sistemas produtivos locais (SPLs) seriam:

...aglomerados de agente econômicos, políticos e sociais, localizados em um mesmo território, operando em atividades correlacionadas e que apresentam vínculos expressivos de articulação, interação, cooperação e aprendizagem. Incluem-se não apenas empresas – produtoras de bens e serviços finais, fornecedoras de insumos e equipamentos, prestadoras de serviços, comercializadoras, clientes, etc. e suas variadas formas de apresentação e associação – mas também diversas outras instituições públicas e privadas voltadas à formação e treinamento de recursos humanos, pesquisa, desenvolvimento e engenharia, promoção e financiamento (VARGAS, 2002b, p. 10).

Para dar conta de sistemas locais ainda não inteiramente constituídos, a REDESIST adota o conceito auxiliar de arranjos produtivos locais para denominar “aglomerações produtivas cujas articulações entre os agentes locais não é suficientemente desenvolvida para caracterizá- las como sistemas”. Os sistemas produtivos locais seriam uma aglomeração produtiva especializada de “tipo ideal”, com uma forte capacidade endógena para gerar inovações. Dessa maneira, segundo a REDESIST, os sistemas produtivos locais “são aqueles arranjos produtivos em que interdependência, articulação e vínculos consistentes resultam em interação, cooperação e aprendizagem, com potencial de gerar o incremento da capacidade inovativa endógena, da competitividade e do desenvolvimento local.” (ALBAGLI; BRITO, 2003, p.3).

O processo de formação e consolidação dos arranjos e sistemas produtivos locais encontra-se geralmente associado a trajetórias históricas de construção de identidades e de formação de vínculos territoriais (regionais e locais), a partir de uma base social, cultural, política e econômica comum. O seu desenvolvimento é mais favorável em ambientes propícios à interação, à cooperação e à confiança entre os atores. Porém, a ação de políticas tanto públicas como privadas pode contribuir, também, para o seu surgimento e estímulo.

Os principais elementos que caracterizam um arranjo produtivo local são: a diversidade de atividade e atores econômicos, políticos e sociais; a proximidade territorial; a importância associada ao conhecimento tácito; a existência real ou potencial de processos de inovação e aprendizados interativos; as formas de governança inerentes às relações entre diferentes segmentos de atores (CASSIOLATO; SZAPIRO, 2002; VARGAS, 2002b).

Subjacentes a maioria dos estudos sobre arranjos produtivos locais desenvolvidos no Brasil, encontra-se presente a abordagem da Economia da Inovação, que se apóia no enfoque neo- schumpeteriano sobre sistemas de inovação. Essa abordagem, já discutida neste capítulo, permite explorar o papel de sustentação das configurações institucionais para as trajetórias de capacitação inovativa das firmas, ao mesmo tempo em que enfatiza o papel do conhecimento e do aprendizado interativo enquanto elementos centrais no processo de mudança tecnológica.

A esse respeito Cassiolato e Szapiro (2002, p. 4) afirmam que:

...a preocupação com o desenvolvimento tecnológico tem levado a uma ênfase significativa no caráter localizado do processo inovativo associado a processos de aprendizado específicos e na importância do conhecimento tácito em tal processo. Desta forma, ressalta-se a importância das instituições, de suas políticas, assim como de todo o ambiente sociocultural onde se inserem os agentes econômicos. A isso tem se adicionado, nos últimos dez anos, uma ênfase nas economias e aprendizado por interação (entre e inter-fornecedores, produtores e usuários), em sistemas de inovação que envolvem, além das empresas, outros agentes – particularmente instituições de ensino e pesquisa – nos âmbitos nacional, regional e local.

A partir dos conceitos de arranjo produtivo local e de sistema produtivo local, é possível estabelecer mais claramente, mesmo considerando algumas controvérsias, as diferenças entre clusters, distritos industriais na próxima seção.