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2 ASPECTOS TEÓRICOS DAS AGLOMERAÇÕES DE EMPRESAS

2.5 A ABORDAGEM DE ECONOMIA REGIONAL

No enfoque da Economia Regional, há contribuições relevantes de vários autores (SCOTT, 1998; STOPER, 1996, 1997; HOLMES, 1986). Allen J. Scott, um dos expoentes da escola californiana de geografia econômica, sintetiza bem essas contribuições. O autor elabora uma análise do que considera ser uma tendência endêmica do capitalismo, a formação de aglomerações produtivas com importantes implicações em termos de crescimento, produtividade e comércio internacional (SUZIGAN, 2000, p. 9).

Ele estabelece uma nova relação entre geografia econômica e desempenho industrial, dando destaque a importância do arranjo institucional13 e as políticas na construção de vantagens competitivas localizadas. O autor enfatiza o papel das economias externas derivadas de uma construção social de ativos político-culturais localizados, tais como confiança mútua, conhecimento tácito, efeitos de aprendizado, formas de conhecimentos específicos e estruturas de governança (SUZIGAN, 2000, p. 9). Essa abordagem assinala que existem razões suficientes para conceber a região “como um nível essencial de coordenação econômica” (STORPER, 1994), ou como um motor indispensável do capitalismo contemporâneo (SCOTT, 1988).

A abordagem da Economia Regional chega aos novos paradigmas da produção e região através da teorização das relações entre divisão do trabalho, custos de transação e aglomeração. De modo resumido, essas relações se dão da seguinte forma:

As condições dos mercados dão origem a incertezas. Estas incertezas dão origem ao aprofundamento da divisão do trabalho que permite minimizar os riscos de excesso de capacidade e de perigo de desatualização tecnológica e maximizar os benefícios da especialização. Tornando externas mais transações complexas e imprevisíveis, os custos de transação associados às

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O enfoque “institucionalista” a que se faz referencia nos trabalhos da abordagem da economia regional não devem ser confundidos com o denominado novo institucionalismo (new institutionalism) que agrupa autores como O. Williamson, M. Olson e o prêmio Nobel D. North. Alguns aportes conceituais desses autores, estão subjacentes em parte dos debates desenvolvidos por essa corrente, mas não abordam os eixos e temáticas centrais desta linha de investigação.

interdependências comerciais tendem a aumentar com as distâncias geográficas porque estas dificultam os contactos pessoais e o estabelecimento de relações de confiança indispensáveis em certas transações complexas. Neste sentido, a aglomeração é uma forma de minimizar os custos de transação, permitindo a possibilidade de alterar rapidamente a cadeia produtiva com minimização das perdas. Os espaços locais ganham, assim, importância crucial na competitividade das empresas (NICOLAU, 2001, p. 2).

Para Scott (1998, p. 389-90), mesmo que existam diferentes localizações possíveis para uma determinada atividade econômica, pequenos eventos ocasionais podem colocar uma determinada região na liderança, pelo menos porque começou a crescer mais rápido. Ela pode também ser empurrada para a fronteira do desenvolvimento pelo simples fato de decisivos incidentes tecnológicos ou organizacionais terem ocorrido nesta região. Exemplos históricos bem conhecidos são os dos experimentos gerenciais e organizacionais de Henry Ford em Detroit e a constituição da empresa Fairchild de semicondutores no Vale do Silício na Califórnia. Uma vez que tal fato ocorra, são grandes as chances de que a região se consolide e amplie sua liderança, especialmente quando retornos crescentes e efeitos dinâmicos de aprendizado entram em operação, pois, à medida que o aglomerado cresce, o local amplia as economias de aglomeração, através de um processo cumulativo, fazendo com que ocorra:

1. maior divisão social do trabalho, maior diversificação econômica e crescentes sinergias locais;

2. surgimento de novas qualificações da mão-de-obra local, tornando o mercado de trabalho compatível com as necessidades da indústria;

3. a atmosfera industrial local se torna mais densa, surgem características culturais identificáveis por convenções e rotinas próprias das empresas locais;

4. o intercâmbio de informações e os efeitos de aprendizado se intensificam, tomando-- se cada vez mais densos, aumentando os estímulos a inovações tecnológicas; e 5. o avanço simultâneo de todos esses processos começa a se materializar em um complexo sistema produtivo local que, por determinado tempo, evolui com base no aproveitamento de economias externas de escala e de escopo.

Scott (1998, p. 389-90) procura demonstrar que uma vez que a região alcance uma liderança e passe a deter uma forte superioridade competitiva, o local pode gerar efeitos de trancamento (lock-in) numa trajetória circular de desenvolvimento, marcada por sua dependência em

relação ao seu próprio passado. Contudo, a noção de dependência de caminho implica também a possibilidade de ocorrência de pontos críticos de ramificação, decorrente de eventos em virtude dos quais a economia local ou regional pode mudar para qualquer uma de várias direções possíveis.

É nesses momentos que se faz mais importante a intervenção por meio de políticas, de modo a nortear o sistema local para direções mais promissoras no longo prazo, para permitir que tal acidente se propague de maneira ampla e duradoura. Se essas direções mais promissoras forem seguidas, e se não houver limites à apropriação de retornos crescentes, a aglomeração produtiva continuara o desenvolvimento, transformando-se num centro líder de atividade econômica especializada, fazendo com que essa atividade só possa ser exercida num número limitado de contextos locacionais (SUZIGAN, 2000, p. 10-11).

O processo evolucionário de uma aglomeração produtiva pode ocorrer também de modo inverso, quando mudanças radicais em mercados, tecnologias, qualificações, ambientes institucionais, organização industrial podem deslocar (lock-out) aglomerações produtivas locais que falham em se engajar rapidamente nas novas condições. O exemplo mais notório do último caso é o deslocamento do centro geograficamente dominante da indústria americana de computadores da Rota 128, com suas empresas e instituições autárquicas e sistema de produção rígido, para o Vale do Silício, com um sistema industrial mais aberto e flexível, caracterizado por múltiplas e diversas interconexões e um ambiente institucional propício a inovação e ao aprendizado coletivo (SAXENIAN, 1994, apud SUZIGAN, 2000, p. 11).

Para Scott (1998, p. 395), a economia moderna é um conjunto de sistemas produtivos regionais e locais interdependentes. Esses sistemas se formam com base em economias de aglomeração e custos de transação discutidos anteriormente. A ordem coletiva necessária aos sistemas regionais requer ações públicas e instituições. As políticas, em muitos casos, têm que ser locais ou regionais, por isso o espaço local e regional converteu-se em algo muito mais importante para a economia do que era antes. Com base nessas considerações, o autor propõe um conjunto de medidas de política, nenhuma de natureza pecuniária, o que afasta qualquer dilema quanto a possíveis trade-offs entre eficiência econômica e objetivos sociais.

1. Prover serviços e insumos críticos, como bens públicos aos produtores, em particular a investigação tecnológica e a capacitação profissional de trabalhadores.

2. Incentivar a cooperação entre empresas na produção. O governo deve ajudar para que haja governabilidade e continuidade, justiça e equidade nas relações empresariais de cooperação.

3. Fomentar foros de decisão estratégica. Scott dá alguns exemplos, como instituições que obtêm patentes e marcas, associações que detenham guerras de preços que possam minar a viabilidade de longo prazo dos sistemas regionais, e grupos que proponham o desenvolvimento de estratégias conjuntas.

Em geral, são medidas dirigidas a aglomeração produtiva local como um todo, visando aproveitar as variadas externalidades por meio de ações coletivas (cooperação, subordinada a estratégia de governança local), e reorganização (ou construção) institucional. E o que talvez seja mais importante, são medidas que não impedem que as forcas de mercado eliminem as empresas mal sucedidas.

Sintetizando, para a abordagem da Economia Regional, na interpretação de Scott (1998, p. 392), a geografia econômica e o desempenho industrial estão interligados. Existe uma tendência endêmica no capitalismo em direção a densos clusters localizados. “Esses clusters são constituídos como economias regionais intensivas em transação que, por sua vez, são enlaçadas por estruturas de interdependência que se espalham por todo o globo”.