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3 ASPECTOS METODOLÓGICOS

3.1 A ABORDAGEM DE PESQUISA

Conforme menciona Chizzotti (2013, p. 28), uma tendência da pesquisa qualitativa é a adoção de fenômenos nos seus lugares de ocorrências e a interpretação destes pelos sujeitos. Essa é uma visão que implica a partilha de significados ―com pessoas, fatos e locais que constituem objetos de pesquisa, para extrair desse convívio, os significados visíveis e latentes que somente são sensíveis a uma atenção possível‖. Nesse âmbito, o autor interpreta os resultados, explicitando a compreensão do objeto estudado, realizando intenso diálogo entre teoria e dados.

O caráter interpretativo da abordagem qualitativa, conforme esse autor, se diferencia do que alguns pesquisadores mencionam como abordagem quantitativa, haja vista que esta se apoia em análises quantitativas, estatísticas, como única forma de verificação. Chizzotti também ressalta que muitos estudos revelam a natureza ampla do que se define como pesquisa qualitativa, ressaltando variados métodos utilizados, entre estes, a entrevista, a pesquisa participativa, a etnografia, a pesquisa-ação.

Outro pesquisador que faz considerações sobre a abordagem de pesquisa em questão, Minayo (2012, p.21), salienta que neste tipo de pesquisa o investigador,

Responde a questões muito particulares. Ela trabalha com o universo dos significados, dos motivos, das aspirações, das crenças, dos valores e das atitudes o que corresponde a um espaço mais profundo das relações de processos e fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis.

Podemos considerar que a pesquisa qualitativa, como define os autores citados, busca compreender todo o universo que se relaciona com o objeto de estudo, numa tentativa de interpretá-lo, analisando-o dentro do conjunto de aspectos nos quais está envolvido e no qual se envolve.

Nessa visão, esta proposta de trabalho refletiu acerca de dados constitutivos do livro didático da EJA, nos aspectos referentes ao trato com a oralidade, por meio de descrição e interpretação de ocorrências. Essa discussão subsidiou a construção de sugestões que se soma ao que é proposto pelo livro, como forma contribuição. Assim, a pesquisa buscou inspiração em aspectos da pesquisa-ação, uma vez que, o pesquisador procura se inserir no universo pesquisado e, a partir das observações, descrição e análise do material didático, propõe encaminhamentos para o aprimoramento da prática pedagógica em sala de aula.

Segundo Andaloussi (2004, p. 86) na pesquisa-ação a pesquisa tem a função de

Diagnosticar uma situação, iniciar uma ação, acompanhá-la, observá-la, conferi-lhe sentido, avaliando-a e incitando-a a desencadear novas ações. A pesquisa permite analisar uma situação para trazer um auxílio, esclarecer o significado do comportamento dos diferentes parceiros e também reduzir as divergências entre os participantes para que alcancem objetivos comuns.

Como podemos perceber, para cumprir com suas finalidades, a pesquisa- ação exige um movimento extenso de análise, que se concretiza em etapas, desencadeadas por uma série de ações, a serem realizadas em torno da situação motivadora da pesquisa. Com o intuito de diagnosticar uma situação analisa-se sistematicamente a situação, na busca de alcançar os objetivos almejados.

De acordo com Chizzotti (2013, p.77) algumas pesquisas são denominadas ―pesquisas ativas‖, entre estas a pesquisa-ação e a pesquisa participativa. Nestas há o interesse do pesquisador em esclarecer fatos, com objetivo de orientar uma ação dentro de uma situação real, concreta. Na pesquisa-ação, busca-se orientar uma ação, na busca de soluções para um problema específico.

Também, nessa, perspectiva, Adelman (1993 apud ANDALOUSSI, 2004)com base nas categorizações feitas por Lewin com seus colaboradores, apresenta uma classificação da pesquisa-ação em quatro tipos, a saber: a diagnóstica, a participativa, a empírica e a experimental. O autor explicita que a pesquisa-ação diagnóstica trata ―de diagnosticar o problema e de recomendar medidas para remediá-la. Os fatores de mudança devem partir do problema colocado e propor soluções factíveis, efetivas e aceitáveis para as pessoas implicadas‖ (ALDEMAN, 1993 apud ANDALOUSSI, 2004, p.75).

Nesse contexto, este trabalho se inspirou nos princípios da pesquisa-ação de tipo diagnóstica, considerando que seu objetivo principal foi analisar como no livro didático do EJA, 6º e 7ºano, coleção ―É tempo de aprender‖, é contemplado o eixo da oralidade nas atividades voltadas para práticas orais, para cumprir como o propósito da elaboração de sugestões de trabalho. Para tanto, levamos em conta o que os PCN mencionam:

Os conteúdos de Língua Portuguesa no ensino fundamental devam ser selecionados em função do desenvolvimento de habilidades organizadas em torno de dois eixos básicos: o uso da língua oral e escrita e a análise e reflexão sobre a língua (BRASIL, 1997, p. 35) Com esse olhar, buscamos o pensamento de Andaloussi (2004), no que se refere às características da pesquisa ação. Este autor apresenta de modo sucinto conceitos definidos como: observação, implicação, complexidade, lugar do pesquisador e parceria. Estes aspectos são utilizados para um aprofundamento da abordagem da pesquisa ação, na qual buscamos situar nosso estudo, no que tange aos aspectos metodológicos necessários.

Sobre o aspecto da observação, o autor esclarece que há uma abundante literatura sobre a questão que a considera como um instrumento de base do conhecimento científico. A maioria dos manuais de pesquisa experimental sugere a sistematização da observação para verificar as hipóteses do trabalho. Nesta direção, o olhar para os aspectos da oralidade no livro didático do EJA busca observar se as orientações dos Parâmetros Curriculares Nacionais a respeito do ensino da modalidade oral e os estudos linguísticos desenvolvidos que tratam da questão da oralidade se efetivam em atividades de ensino no material didático. Paralelamente, observamos se as questões relacionadas à pedagogia do diálogo contribuem no desenvolvimento das propostas.

Quanto ao processo da pesquisa, Andaloussi (2004) esclarece que não se pode conduzir em um universo fechado, determinado do inicio ao fim, mas a pesquisa - ação deve assegurar a abertura a novos encaminhamentos não previstos no anteprojeto, assim como a participação de parceiros e atores envolvidos numa construção passível de mudanças. Nessa perspectiva, a pesquisa-ação torna-se participativa implicante e assume uma dinâmica que permite um processo colaborativo de troca de informações.

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