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CAPÍTULO II – EMANCIPAÇÃO, CIDADANIA E SERVIÇO SOCIAL

2.1 Serviço Social: fundamentos teóricos, éticos, princípios e valores e prática

2.1.1 A Abordagem Ecossocial aplicada ao Serviço Social

O papel das teorias no Serviço Social é o de orientar, procurar e construir conhecimentos conduzidos pelo pensamento crítico e reflexivo (Amaro, 2008, p. 3). Desta forma, a abordagem Ecossocial tem como objetivo a emancipação, a integração, a autonomia e a participação da pessoa e vem ao encontro dos objetivos desta investigação. Esta abordagem aplicada ao Serviço Social fornece um meio holístico de visualizar ambientes de vida para o aumento da participação no planeamento de políticas (Matthies, 1993, citada por Matthies, Narhi & Ward, 2001, p. 8).

Ao considerar que

O ambiente inclui os vários sistemas sociais onde as pessoas estão integradas e o ambiente natural, geográfico, que possui uma profunda influência sobre a vida das pessoas. A metodologia participativa defendida pelo Serviço Social reflete-se em "envolver as pessoas e as estruturas para enfrentar os desafios da vida e promover o bem-estar" (IFSW, 2014).

A perspetiva teórica dos sistemas (a abordagem dos ecossistemas) destaca a importância do ambiente social como uma chave para o crescimento e o bem-estar humano. Esta enfatiza a abordagem holística e sistémica. A abordagem holística é considerada pelos assistentes sociais para entender melhor os problemas, recursos e interconexões na relação entre ambiente de vida e bem-estar dos usuários do serviço (Närhi & Matthies, 2016)

De acordo com Närhi & Matthies (2016) a teoria dos sistemas foi influente no Serviço Social na década de 1970. Esta forneceu uma estrutura conceptual e diferenciou as ciências sociais, incluindo o Serviço Social, de outras disciplinas ao desenvolver a perspetiva teórica dos sistemas que enfatizava os relacionamentos e o ambiente social, porém sem considerar o ambiente biofísico (natureza).

Esta perspetiva teórica tem sido críticada nos debates Ecossociais porque tem ignorado o amplo ambiente de vida e a natureza. Por não tomar uma posição sobre as questões ambientais globais, o papel do Serviço Social ficaria restrito a ajudar as pessoas a se adaptarem ao seu ambiente atual e às mudanças nele. Dessa forma, a neutralidade desta perspetiva teórica é considerada como sendo a sua fraqueza (Närhi & Matthies, 2016).

Na perspetiva Ecossocial, o Serviço Social estrutural diz respeito às estruturas da sociedade e da economia e, acima de tudo, como a natureza e o meio ambiente físico se relacionam com o bem-estar social e os problemas sociais.

36 De acordo com Närhi & Matthies (2016) as raízes da principal dimensão da abordagem Ecossocial, a perspetiva Eco-crítica em Serviço Social, podem ser identificadas na crise ecológica da sociedade moderna e no movimento ecológico que vem adquirindo força a nível global, desde os anos 1970 e 1980. Segundo as autoras, a abordagem questiona o modelo e estilo de vida da totalidade da sociedade ocidental que persegue o crescimento económico e baseia-se na exploração dos recursos naturais e humanos, a fim de ganhar lucro financeiro.

Närhi & Matthies (2016) referem que para uma sociedade sustentável e socialmente justa precisa-se de mudanças estruturais, para além de mudanças individuais. O Serviço Social, segundo as autoras, precisa refletir sobre as suas próprias ações e o desenvolvimento da sociedade com base nos critérios do desenvolvimento sustentável.

Rocha (2015) refere que as potencialidades do modelo Ecossocial se encontram na combinação de conceitos sistémicos e de estrutura ecológica. De acordo com a autora esta abordagem holística é focada na interação entre as partes para formar o todo, uma teoria que serve de ponte entre profissionais de várias áreas disciplinares e de suporte para a prática no terreno.

Para Rocha (2015) o Serviço Social Ecossocial Sistémico emerge como modelo inovador na intervenção comunitária porque permite uma intervenção abrangente, holística, de carácter universal, unindo vários campos teóricos de pesquisa, orientando profissionais e investigadores para a importância de uma intervenção integrada e participativa a vários níveis, para abordagens multidimensionais das relações indivíduo-ambiente, envolvendo todos os atores e demonstrando a capacidade de transformação das sociedades humanas, que não são só capazes de compreender, mas capazes de “aprender a aprender”.

Segundo Rocha (2015) a “procura de um novo sentido para as comunidades humanas encontra-se nos direitos humanos, na cidadania, no respeito pelas minorias, na conservação da vida e da natureza, na defesa da liberdade e da responsabilidade individual” (Rocha, 2015, p. 329), o que justifica, para a autora, um “repensar da estratégia de intervenção do assistente social e da sua formação” (Rocha, 2015, p. 329). Além disso, para a autora, promover a transformação e a mudança social, promover o empowerment dos indivíduos, responder aos desafios das comunidades socialmente vulneráveis, num universo globalizado é um obstáculo a ser considerado.

37 Nesse sentido, Rocha (2015) defende o desenvolvimento local integrado e sustentável, uma vez que este

é um modo de promover o desenvolvimento social e humano, que possibilita o surgimento de comunidades mais sustentáveis, capazes de suprir as suas necessidades imediatas, descobrir e despertar as suas vocações locais e desenvolver as suas potencialidades específicas, no sentido de ser parte da solução, dando assim o seu contributo para a sustentabilidade ecológica das comunidades mais vulneráveis (Rocha, 2015, p. 336).

Para Rocha (2015) o desenvolvimento sustentável possibilita ações que levam também em consideração as gerações futuras, ao garantir a estas o direito de forma equitativa aos bens e aos serviços. Para além disso, este também permite, na ótica da autora, um sistema de relações culturais em que são valorizados e protegidos os aspetos positivos de culturas distintas.

A sustentabilidade Ecossocial é considerada por Rocha (2015) uma condição positiva por ser criada em conjunto com indivíduos, instituições e políticas socioambientais, pois se aliam, para além das características de sustentabilidade social, ao uso de recursos naturais que não seja maior do que a sua fonte natural; um sentido de responsabilidade da comunidadede base local para o uso e gestão dos seus recursos; um sistema de transmissão de consciência socioambiental de uma geração para as próximas, assim como o sentido deresponsabilidade da comunidade para manutenção desse sistema (Rocha, 2015, p. 336).

Rocha (2015) considera que este modelo constitui uma contribuição para uma visão do Serviço Social que lhe atribui uma aplicabilidade prática e que se prova de grande relevância frente à realidade contemporânea, apelando a uma mudança paradigmática e a uma abertura das ciências sociais, cujo papel do Serviço Social deve cada vez mais ter um lugar. “O Ser Humano deve viver em harmonia com o meio ambiente, sendo este um processo vital para a transição ecológica, trata-se de uma relação simbiótica entre os indivíduos e o meio físico e social” (Rocha, 2015, p. 332).

Consideramos que o modelo Ecossocial constitui-se uma mais-valia para o desenvolvimento da prática profissional do Serviço Social, principalmente quando falamos na prevenção e no combate aos elementos que contribuem para as vulnerabilidades das comunidades e dos indivíduos, uma vez que este procura o fortalecimento dos ambientes saudáveis e potencialidades para uma qualidade de vida de forma sustentável.

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