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CAPÍTULO I – METODOLOGIA DA PESQUISA

1.2 Método e Natureza do Estudo

A análise das práticas emancipatórias e de cidadania social do Serviço Social, na Ação/Assistência Social em comunidades vulneráveis potenciadoras de uma intervenção de integração social, constitui o objeto de estudo desta investigação que tem como objetivo geral:

- Sistematizar o(s) modelo(s) de Serviço Social e de Assistência Social a partir das práticas emancipatórias e de cidadania social.

E como objetivos específicos:

- Conceptualizar as dimensões de emancipação, proteção social e cidadania social; - Dimensionar as políticas de bem-estar social Portugal/Brasil;

- Relacionar as convergências e divergências entre os sistemas de assistência social do Brasil e Portugal;

- Categorizar as práticas de Serviço Social fundamentadas no sistema de proteção social de cada país, evidenciando as orientações de emancipação e cidadania social;

social de assistência social; e) Promover acesso aos demais serviços setoriais, contribuindo para o usufruto de direitos; e f) Apoiar famílias que possuem, dentre seus membros, indivíduos que necessitam de cuidados, por meio da promoção de espaços coletivos de escuta e troca de vivências familiares (Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais).

15 - Elaborar uma matriz de indicadores de Serviço Social potenciadores de políticas de proteção e assistência social.

Que dá lugar a um conjunto de proposições que se definem por indagações orientadoras da pesquisa, designadamente:

- A diversidade conceptual de políticas de proteção social e assistência social influencia o(s) modelo(s) de Serviço Social?

- A política e a corrente económica dominante determinam as políticas de proteção social e/ou assistência social?

- As políticas de proteção/assistência social fundamentadas em dimensões emancipatórias promovem a cidadania social ativa?

- O Serviço Social desenvolve práticas profissionais condicionadas pelas políticas de proteção/assistência social cujas consequências são visíveis no sistema de ação social? A investigação científica realiza-se através de um processo sistemático de pesquisa, mediante a aplicação de métodos e técnicas.

Minayo (2011) afirma que a metodologia “é o caminho do pensamento e a prática exercida na abordagem da realidade” (Minayo, 2011, p. 15). Desta forma, a autora acrescenta que fazem parte da metodologia a teoria da abordagem (o método), os instrumentos de operacionalização do conhecimento (as técnicas) e a criatividade do pesquisador (experiência, capacidade pessoal e sensibilidade). Para Minayo (2011), a metodologia vai além das técnicas. A mesma autora inclui as conceções teóricas da abordagem, “articulando-se com a teoria, com a realidade empírica e com os pensamentos sobre a realidade” (Minayo, 2011, p. 16).

A eleição da metodologia a ser utilizada na investigação social é um passo fulcral para a prática da investigação, e na própria construção do conhecimento científico. Assim, em consonância com os objetivos da presente pesquisa, privilegiamos no plano metodológico um estudo comparativo entre Portugal e Brasil, com natureza qualitativa, interpretativa e lógica indutiva.

A investigação apresenta uma análise comparativa entre a Política de Ação Social e a Política de Assistência Social, de Portugal e do Brasil, respetivamente.

Almond et al. (2001) defendem que “a análise comparativa é uma ferramenta poderosa e versátil” (Almond et al., 2001, p. 40-41), uma vez que

16 aumenta a nossa capacidade de descrever e compreender as preocupações políticas e mudanças políticas em qualquer país, oferecendo conceitos e pontos de referência de uma perspectiva mais ampla. A abordagem comparativa também nos estimula a formar teorias gerais de relações políticas. Ela nos encoraja e nos permite testar nossas teorias políticas confrontando-as com as experiências de muitas instituições e contextos (Almond et al., 2001, p. 41).

Para os autores, o primeiro passo deste processo científico é a descrição e, para isso, segundo Almond et al. (2001), é necessário primeiramente definir os conceitos de forma clara, através de uma estrutura conceptual. Uma vez descritos os fenómenos políticos, conceptualmente fundamentados, a próxima tarefa é explicar esses fenómenos. E isso significa “identificar as relações entre eles” (Almond et al., 2001, p. 41).

Segundo Marconi & Lakatos (2010) o método comparativo ocupa-se da explicação dos fenómenos e “permite analisar o dado concreto, deduzindo do mesmo os elementos constantes, abstratos e gerais” (Marconi & Lakatos, 2010, p. 89). Além disso, as autoras defendem que o uso deste método permite analisar elementos de uma estrutura, construir tipologias e “até certo ponto pode apontar vínculos causais, entre os factores presentes e ausentes” (Marconi & Lakatos, 2010, p. 89-90).

Para Ragin (1987) o que distingue a ciência social comparada é o uso de atributos de unidades macrossociais em declarações explicativas. Este uso especial está intimamente ligado a dois objetivos: explicar e interpretar a variação macrossocial. De acordo com o autor, a um nível muito geral, na abordagem comparativa o interesse reside em identificar as similitudes e as diferenças entre as unidades macrossociais. Este conhecimento, segundo o autor, “fornece a chave para entender, explicar, e interpretar diversos resultados e processos históricos e sua importância para os arranjos institucionais atuais” (Ragin, 1987, p. 6). Segundo o autor, as semelhanças e diferenças transocietais (cross-societal), para muitos cientistas sociais, são a característica mais significativa do panorama social e, consequentemente, esses pesquisadores têm preferência para explicações que citam fenómenos macrossociais.

Com base nas orientações dos autores mencionados, a presente investigação procura descrever as políticas de Ação Social e Assistência Social, em Portugal e no Brasil, bem como elabora um paralelo de ambas as políticas. Contudo, apresentamos no Capítulo III os modelos de bem-estar social português e brasileiro, e a política de assistência social desenvolvida, demonstrando que ambos apresentam algumas características em comum, apesar das disparidades

17 geográficas e socioeconómicas, bem como a intervenção do Estado de Bem-estar, em particular. Nesta linha de pensamento, apresentamos sucintamente a evolução da proteção social e Ação/Assistência Social em Portugal e no Brasil, bem como a análise documental da legislação em vigor, com destaque aos objetivos, aos princípios, aos destinatários, à diretiva, à gestão, ao financiamento e ao provimento da Ação/Assistência Social, objetivando relacionar as convergências e divergências entre as políticas de Portugal e do Brasil. Considerou-se necessário descrever separadamente cada política, para posteriormente se fazer a ponte entre as diferenças de perceção nos respetivos países. Mostramos no Capítulo IV um conjunto de indicadores sobre Portugal e Brasil que privilegia a contextualização e caracterização de ambos os países, no que se refere aos aspetos geográficos, económicos, políticos e sociais, com o uso de dados oficiais9. Em seguida, apresentamos uma análise sobre as vulnerabilidades (riscos sociais), principalmente no que diz respeito a pobreza, que trazem alguns constrangimentos para as políticas de Ação/Assistência Social e para o Serviço Social de ambos os países. Assim sendo, os primeiros capítulos contribuem com elementos chaves para aprofundar outros aspetos que seguem no desenvolvimento dos demais capítulos da pesquisa, ao encontro dos objetivos delineados para o estudo.

Foi considerada a opinião das cidadãs usuárias dos serviços para analisar melhor as práticas dos profissionais, visto que elas são o seu público-alvo. Deste modo, a abordagem interpretativa na pesquisa conduz um interesse “no significado humano na vida social e na sua elucidação e exposição por parte do investigador” (Erickson, 1986, p. 119), isto é, procura entender o fenómeno através dos significados que os indivíduos atribuem a ele. Neste sentido, esta investigação baseia-se em dados de natureza qualitativa na perspetiva do assistente social e na perspetiva dos sujeitos de intervenção, sem excluir a do investigador.

Restrepo (2003) afirma que a investigação qualitativa estabelece um caminho produtivo para o conhecimento, a descoberta e a revalorização dos sujeitos histórico-sociais, sendo estes os edificadores da prática profissional do Serviço Social.

9 Como informações do Instituto Nacional de Estatística (INE) e da Base de Dados Portugal Contemporâneo (PORDATA), no caso de Portugal, assim como do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no caso do Brasil. Acrescenta-se a utilização de dados Estatísticos da União Europeia (EUROSTAT) e da Comissão Económica para a América Latina e o Caribe (CEPAL). Outros dados utilizados foram do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial. Contudo, para outros elementos económicos, políticos e sociais toma-se como base o Relatório do Desenvolvimento Humano (PNUD) de 2015, visto que estes são reconhecidos universalmente.

18 O objetivo da abordagem qualitativa, segundo Fortin (2009), “é descrever ou interpretar, mais do que avaliar” (Fortin, 2009, p. 22). “O investigador que utiliza o método de investigação qualitativa está preocupado com uma compreensão absoluta e ampla do fenómeno em estudo. Ele observa, descreve, interpreta e aprecia o meio e o fenómeno tal como se apresentam, sem procurar controlá-los” (Fortin, 2009, p. 22). Para a autora, nesta abordagem a importância primordial reside na compreensão do investigador e dos participantes no processo de investigação.

De acordo com Flick (2014), a pesquisa qualitativa tem relevância específica para o estudo das relações sociais e isso deve-se à “pluralização dos universos de vida”. “Esta pluralização exige, por parte dos pesquisadores sociais, uma nova sensibilidade ao estudo empírico das questões” (Flick, 2014, p. 12). Para o autor, a principal razão para o uso da pesquisa qualitativa deve-se ao facto de a questão de pesquisa requerer o uso desse tipo de abordagem.

Nosso conhecimento sobre este universo de vida é muito limitado para começar de uma hipótese para testar em nossa pesquisa. Em vez disso, precisamos de sensibilizar conceitos para explorar e compreender este universo de vida e o processo biográfico individual (e social) que levaram à situação atual de nossos participantes (Flick, 2014, p. 12).

Segundo Flick (2014), as principais características de uma pesquisa qualitativa são: - Adequação de métodos e teorias (a escolha correta e apropriada dos métodos e teorias); - Perspetivas dos participantes e sua diversidade (reconhecer as diferentes perspetivas);

- Reflexividade do pesquisador e da pesquisa (a reflexão é parte do processo da produção do conhecimento); e

- Variedade de abordagens e métodos na pesquisa qualitativa (várias abordagens teóricas e seus métodos caracterizam as discussões e a prática de pesquisa. Os pontos de vista subjetivos são um primeiro ponto de partida, uma segunda sequência de pesquisas estuda a formação e o curso das interações, enquanto uma terceira busca reconstruir as estruturas do campo social e o sentido latente das práticas) (Flick, 2014, p. 15-17).

De acordo com Guerra (2012) encontram-se, na investigação qualitativa, práticas de pesquisas diferenciadas, baseadas nos mais diversos paradigmas de interpretação sociológica - no entanto, nem sempre os fundamentos são manifestados - e de onde desdobram-se em diferentes formas de recolha, registo e tratamento do material (Guerra, 2012, p. 11).

19 Esta autora defende que as “análises compreensivas”10 acolhem a conceção weberiana do

sujeito que o “considera capaz de ter racionalidades próprias e comportamentos estratégicos que dão sentido às suas acções num contexto sempre em mudança provocada pela sua própria acção” (Guerra, 2012, p. 17). Por outras palavras, para Guerra (2012), tendo em conta o ponto de vista qualitativo, “considera-se que os sujeitos interpretam as situações, concebem estratégias e mobilizam os recursos e agem em função dessas interpretações” (Guerra, 2012, p. 17). A autora assegura ainda que no contexto do paradigma interpretativo,

o objecto de análise é formulado em termos de acção, acção essa que abrange o comportamento físico e os significados que lhe são atribuídos pelo actor e por aqueles que ele interage. No entanto, tradicionalmente, e do ponto de vista sociológico, o objecto da investigação social interpretativa é o significado desta acção (meaning in action), e não o comportamento em si próprio (Guerra, 2012, p. 17).

De acordo com Minayo (2011) a pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares.

Ela se ocupa, nas Ciências Sociais, com um nível de realidade que não pode ou não deveria ser quantificado. Ou seja, ela trabalha com o universo dos significados, dos motivos, das aspirações, das crenças, dos valores e das atitudes. Esse conjunto de fenômenos humanos é entendido aqui como parte da realidade social, pois o ser humano se distingue não só por agir, mas por pensar sobre o que faz e por interpretar suas ações dentro e a partir da realidade vivida e partilhada com seus semelhantes. O universo da produção humana que pode ser resumido no mundo das relações, das representações e da intencionalidade e é objeto da pesquisa qualitativa dificilmente pode ser traduzido em números e indicadores quantitativos (Minayo, 2011, p. 21).

“Não há ciência sem o emprego de métodos científicos” (Marconi & Lakatos, 2010, p. 65). Para Marconi & Lakatos (2010) “o método é o conjunto das atividades sistemáticas e racionais que, com maior segurança e economia, permite alcançar o objetivo – conhecimentos válidos e verdadeiros – traçando o caminho a ser seguido, detectando erros e auxiliando as decisões do cientista” (Marconi & Lakatos, 2010, p. 65).

10Em seu livro Guerra (2012) denomina “metodologias compreensivas ou indutivas” as metodologias baseadas em quadros de referências weberianos (as etnometodologias, o interacionismo, as teorias enraizadas, etc.) e de “lógico- dedutivas ou cartesianas” as metodologias que se baseiam de quadros de interpretação sistémicos ou funcionalistas. Para a autora, Max Weber não exclui conceitos e as representações coletivas. Além disso, ele busca aprofundar a lógica social de certas estruturas societais que funcionam como enquadramento das formas como os sujeitos interagem.

20 Gil (2008) assegura que os

métodos esclarecem acerca dos procedimentos lógicos que deverão ser seguidos no processo de investigação científica dos fatos da natureza e da sociedade. São, pois, métodos desenvolvidos a partir de elevado grau de abstração que possibilitam ao pesquisador decidir acerca do alcance de sua investigação, das regras de explicação dos fatos e da validade de suas generalizações (Gil, 2008, p. 9).

Esta pesquisa utiliza o método indutivo e este, conforme Gil (2008), “parte do particular e coloca a generalização como um produto posterior do trabalho de coleta de dados particulares” (Gil, 2008, p. 10). De acordo com o autor, na abordagem indutiva o conhecimento é fundamentado exclusivamente na experiência, sem levar em consideração os princípios preestabelecidos. “Nesse método, parte-se da observação de fatos ou fenômenos cujas causas se desejam conhecer. A seguir, procura-se compará-los com a finalidade de descobrir as relações existentes entre eles. Por fim, procede-se à generalização, com base, na relação verificada entre os fatos ou fenômenos” (Gil, 2008, p. 10-11).

Marconi & Lakatos (2010) asseguram que a indução é um processo mental por intermédio do qual, partindo de dados particulares, suficientemente constatados, infere-se uma verdade geral ou universal, não contida nas partes examinadas. Portanto, o objetivo dos argumentos indutivos é levar a conclusões cujo conteúdo é muito mais amplo do que o das premissas nas quais se basearam. O argumento indutivo, segundo as autoras, fundamenta-se em premissas que conduzem às conclusões prováveis11. Além disso, tem o desígnio de ampliar o alcance dos conhecimentos12. Para Marconi & Lakatos (2010) a indução realiza-se em três etapas:

1) Observação dos fenómenos: nessa etapa observa-se os factos ou fenómenos e analisa-se com a finalidade de descobrir as causas de sua manifestação;

2) Descoberta da relação entre eles: procura-se, por intermédio da comparação, aproximar-se dos factos ou fenómenos, com a finalidade de descobrir a relação constante existente entre eles;

3) Generalização da relação: generaliza-se a relação encontrada na precedente, entre os fenómenos e factos semelhantes, muitos dos quais ainda não se observa (Marconi & Lakatos, 2010, p. 69).

11 O método dedutivo, segundo as autoras, se fundamenta em premissas verdadeiras e estas levam a conclusões verdadeiras (Marconi & Lakatos, 2010, p. 68).

21 Segundo Gil (2008), é crucial reconhecer a importância do método indutivo na constituição das ciências sociais, dado que este serviu

para que os estudiosos da sociedade abandonassem a postura especulativa e se inclinassem a adotar a observação como procedimento indispensável para atingir o conhecimento científico. Graças a seus influxos é que foram definidas técnicas de coleta de dados e elaborados os instrumentos capazes de mensurar os fenômenos sociais (Gil, 2008, p. 11)

Quanto à indução, Ferreira (2011a) menciona que esta assume um impacte na caracterização da investigação qualitativa, uma vez que “dá Voz aos sujeitos”. De acordo com Ferreira (2011b), em Serviço Social a construção do conhecimento passa essencialmente por um processo indutivo, por vezes baseado nos conhecimentos ontológicos do profissional.

A acção do assistente social não se fundamenta em intuições ou suposições sobre a leitura e diagnóstico do problema em análise/estudo, suporta-se no método que orienta a intervenção e ou a investigação que o mesmo desenvolve para compreender o problema real, levar o sujeito a tomar consciência do seu problema e a desenhar um plano de resposta ao mesmo (Ferreira, 2011b, p. 65).