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LISTA DE SIGLAS UTILIZADAS

6) A escola do intraempreendedorismo concentra-se na criação de novas atividades económicas no interior de empresas já existentes Os autores desta escola (Taylor,

1.2. A Abordagem Funcional – A Visão dos Economistas

A Economia procura aprofundar o impacto do empreendedorismo no sistema económico, onde Cantillon, Smith, Jean-Baptiste Say e, posteriormente, Schumpeter associaram o empreendedor à inovação (Filion, 1997).

O economista irlandês Richard Cantillon (1755) quando procurava novos nichos de mercado para fazer investimentos lucrativos percebeu que a análise do risco era essencial para a tomada de decisão. Na sua obra “Essai sur la nature du commerce en général”, utilizou o termo empreendedor para designar o empresário que corre riscos em função da sua

atividade, seja o produtor ou o comerciante. Os empreendedores compravam matérias- primas (geralmente produtos agrícolas) por um preço certo e vendiam-nas por preço incerto depois de processá-las, pois identificavam uma oportunidade de negócio e assumiam riscos. No entanto o lucro só ocorria porque existia inovação, isto é, fizera-se algo de novo e diferente. Este pensador económico foi o primeiro a oferecer uma visão clara a respeito da função socioeconómica do empreendedor (Filion, 1997). “Cantillon era basicamente um banqueiro que, hoje, poderia ser descrito como um capitalista de risco. Os seus trabalhos revelam um homem à procura de oportunidades de negócios, com uma preocupação de gestão económica e astuto na obtenção de um rendimento ótimo sobre o capital investido” (Filion, 1999, p. 6).

Segundo o relatório GEM (2008), Cantillon na sua definição arcaica de empreendedor, confunde o empreendedor com o ser dono de um negócio, isto é, com o capitalista e não como alguém que leva a cabo um empreendimento.

O economista francês Jean-Baptiste Say (1816) foi o segundo autor a demonstrar interesse pelos empreendedores. Say era um grande admirador de Adam Smith (1776), cujas ideias ele trouxe para a França, e da Revolução Industrial Inglesa. Do tratado “Riqueza das nações” de Adam Smith (1776), pode-se inferir que o empreendedor tem como finalidade produzir dinheiro, sendo um proprietário capitalista, um fornecedor de capital, concomitantemente um administrador situado entre o trabalhador e o consumidor (Filion,

1999).

Say via o empreendedor já de outra forma, distinguindo-o do capitalista, e atribuindo-lhe essencialmente o papel de coordenador no processo produtivo. “Say fazia uma distinção entre o empresário e o capitalista, e entre os seus lucros (Say, 1803; 1827: 295; 1815; 1816: 28-29; Schumpeter, 1954: 555). Ao fazer isso, ele associou os empreendedores com inovação. Ele via os empreendedores como agentes de mudança. Ele próprio era um empreendedor, e tornou-se o primeiro a definir os limites do que um empreendedor, no sentido moderno do termo, é na verdade” (Filion, 1997, p. 3).

No século XIX, Say definiu o empreendedor como uma pessoa que: “... une todos os meios de produção e que encontra no valor dos produtos ... o restabelecimento de todo o capital que emprega, e o valor dos salários, os juros, e a renda que paga, bem como os lucros que lhe pertencentem” (Rosário, 2007, p. 5).

Embora Say como Cantillon vejam os empreendedores como pessoas que assumem riscos porque investem o seu próprio dinheiro, Say dá ênfase à natureza administrativa do empreendedorismo. Este economista é o primeiro a investigar o papel do empreendedor na gestão da empresa, atestando que a experiencia e os conhecimentos na área de ocupação são fundamentais para o sucesso da empresa (Filion, 1999).

O empreendedorismo é referido por Mill (1848 como citado em Duarte, 2008), como sendo a origem da empresa privada. O autor define o empreendedor como uma pessoa que toma decisões e assume riscos, gerindo recursos limitados para o lançamento de novos negócios.

Já para Menger (1871 como citado em Costa, 2008), o empreendedorismo pode levar ao crescimento industrial, através da transformação de recursos em produtos e serviços uteis e criando oportunidades. Carl Menger considera que o empreendedor é aquele que consegue antecipar necessidades futuras, vislumbrando oportunidades que os outros não conseguem percepcionar e sendo compensados com lucros pelos riscos corridos.

No século XX, com a publicação da obra Teoria do Desenvolvimento Económico de Joseph A. Schumpeter (1911), a conotação de empreendedor adquire um novo significado. Schumpeter define o empreendedor como um agente da mudança, da inovação, que desencadeia o processo de destruição criativa no capitalismo. Para o autor o empreendedor é responsável pelo desenvolvimento económico através da inovação e do aproveitamento de oportunidades de negócios. Segundo Filion (1997), foi Schumpeter quem realmente lançou o campo do empreendedorismo, não só associando os empreendedores com a inovação mas também, mostrando a sua importancia na explicação do desenvolvimento económico.

“A essência do empreendedorismo está na perceção e exploração de novas oportunidades no âmbito dos negócios ... tem sempre a ver com fazer diferentes usos dos recursos nacionais, de forma que sejam retirados do seu emprego tradicional e sujeitos a novas combinações” (Schumpeter, 1928 citado por Filion, 1997, p. 4).

Para Freeman e Soete (1997) foi Shumpeter o primeiro a distinguir a invenção da inovação. A invenção é uma ideia, um desenho ou modelo para um produto ou processo novo melhorado. A inovação só é conseguida com a primeira transação comercial que envolva o produto ou processo novo.

Ainda de acordo com Schumpeter, embora o empreendedor seja mais conhecido como aquele que cria novos negócios, também pode inovar dentro de negócios já existentes,

ou seja, é possível ser empreendedor dentro de empresasjá constituídas. Neste caso, o termo que se aplica é o empreendedorismocorporativo (Dornelas, 2008).

No início do século XX, Frank Knight deu um forte contributo à teoria do empreendedorismo, com a publicação em 1921, da sua tese de dissertação de doutoramento

“Riscos, Incertezas e Lucros”. Knight distingue o empreendedor do capitalista e afirma que

cabe ao empreendedor assumir a incerteza que existe no meio e ao capitalista oferecer o capital. “Knight (1921) mostrou que os empreendedores assumiam riscos devido ao estado de incerteza em que eles trabalhavam, e que eles eram recompensados de acordo com os lucros que obtinham das atividades que haviam iniciado” (Filion, 1997, p. 4)

Tal como Schumpeter, Kirzner (1973 como citado em Dornelas, 2008) refere que o empreendedorismo é baseado na exploração de oportunidades. No entanto para este autor, o empreendedor é um árbitro, alguem que cria um equilíbrio, encontrando uma posição clara e positiva num ambiente de caos e turbulência, ou seja, contribui para o equilíbrio do mercado, ao estar atento às novas oportunidades, baseado em erros passados e corrigindo esses erros.

Como pudemos constatar os economistas (Cantillon, 1755; Say, 1816; Mill, 1848; Menger, 1871; Shumpeter, 1911; Knight, 1921; Kirzner, 1973) associam o empreendedorismo à inovação, pelo que importa também debrucarmo-nos brevemente sobre a definição de inovação.

Rogers (1995, p. 11) define inovação como: “uma ideia, prática ou objeto percebido como novo pelo indivíduo ou outra unidade de adoção”. Segundo o autor a aplicação de ideias novas para a produção de um novo bem ou serviço ou para a modificação de processos operacionais e administrativos, deve ser percebido como algo de novo e relevante não só pelo empreendedor, mas sobretudo por parte dos consumidores. É o interesse comercial que diferencia a inovação da invenção.

Para Van de Ven (1986, p. 592) “uma inovação é uma ideia nova, que pode ser uma recombinação de velhas ideias, um esquema que desafia a ordem presente, uma fórmula ou uma abordagem única que é percebida como nova pelos indivíduos envolvidos (Zaltman, Duncan & Holbek 1973; Rogers, 1982). Enquanto a ideia for percebida como nova para as pessoas envolvidas, é uma ‘inovação’, apesar de parecer para outros uma ‘imitação’ de alguma coisa que já existe”. Incluídas nesta definição estão as inovações técnicas (novas tecnologias, produtos e serviços) e as inovações administrativas (novos procedimentos, politicas e formas de organização)”. Em suma para o autor, a inovação pode ocorrer no

produto, no serviço e/ou no processo, na área mais técnica ou na área administrativa. O autor afirma, que as pessoas, as ideias, as transações e o contexto ao longo do tempo, são os quatro fatores que facilitam ou inibem a inovação.

Para Filion e Lima (2009), os empreendedores precisam de conhecer as características do seu setor de atividade, de forma a visarem adequadamente os espaços de mercado pouco explorados, imaginarem e estruturarem o modo como poderão efetivamente explorá-los com iniciativas que gerem contribuições valiosas. Os empreendedores precisam de conhecer os componentes da cadeia de valor ligados aos processos de conceção, produção e comercialização dos bens/serviços que têm em mente oferecer. Em suma, a inovação também pode ocorrer na entrada em um novo mercado e na conquista de novas fontes de matérias-primas.

Burgelman, Maidique e Wheelwright (2007) identificam dois tipos de inovações: incremental que se refere à melhoria de bens e processos existentes e radical associada ao desenvolvimento de novos bens e processos por meio de novos conhecimentos.

Para Nenson e Winter (1977) são as inovações que permitem a evolução, diferenciação e sobrevivência das empresas. A inovação é gerada nos processos de aprendizagem através das rotinas e pela imitação das inovações dos concorrentes. Nessa perspetiva a inovação constitui um pilar fundamental do empreendedorismo.

Segundo Luecke (2003) algumas empresas suportam a I&D em dois níveis: o nível corporativo e o nível de unidades de negócio. Geralmente, ao nível corporativo trabalham em inovações radicais e novas tecnologias que as diferentes unidades operacionais podem usar. Ao nível das unidades de negócio, em contrapartida, concentram-se em inovações incrementais que irão beneficiar diretamente as unidades no curto prazo. No entanto, em muitos casos, os dois tipos de inovação ocorrem simultaneamente. Logo após às inovações radicais, há um ciclo de inovações incrementais.

Para Dosi (1990) a inovação é um processo que trata de pesquisa, descoberta, experimentação, desenvolvimento, imitação e adoção de novos produtos, de novos processos de produção e novas formas organizacionais. Como um processo, ela é constituída por várias fases, entre elas a ideia, o desenvolvimento da ideia e da tecnologia e por fim a utilização do produto e/ou serviço e/ou processo por parte dos usuários.

“Pela capacidade de inovação, queremos dizer a realização efetiva da capacidade de gerar e comercializar novos e melhores produtos e processos de produção” (Dosi, 1990, p. 3).

Como pudemos constatar, entre as prioridades das investigações dos economistas não se encontra a pesquisa da personalidade dos empreendedores. São os psicólogos, sociólogos e outros ligados aos estudos comportamentais que fazem deste tema o seu objeto de análise.