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APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE DADOS

3.5. Considerações finais

Apesar da complexidade e heterogeneidade do fenomeno do empreendedorismo, demonstradas pela pesquisa empírica (Bygrave, 1989; Bruyat & Julien, 2000) há algumas conclusões que se podem tirar da análise das variáveis e suas correlações, presentes nas tabelas a seguir ilustradas.

Tabela 6 – Variação do TEA, OP, NE, OPNE, TEAM e TEAH/TEAM

Ano

Região

União Europeia America Latina

TEA 2007 5,48 18,47 2011 6,59 19,39 Variação 1,11 0,92 OP 2007 55,40 44,20 2011 52,00 38,40 Variação - 3,40 - 5,80 NE 2007 13,12 31,70 2011 19,41 27,38 Variação 6,29 -4,32 OPNE 2007 5,42 1,45 2011 3,97 1,41 Variação - 1,45 - 0,04 TEAM 2007 3,64 16,02 2011 4,62 16,82 Variação 0,98 0,80 TEAH/TEAM 2007 2,01 1,30 2011 1,84 1,31 Variação - 0,17 0,01

Fonte: Elaborado pelo autor com base nos relatórios GEM 2007,2008,2009,2010,2011

Todos os indicadores analisados apontam que os países na União Europeia foram mais afetados pela crise mundial do que os países latino americanos. Na União Europeia, o indicador que sofre uma maior variação é o empreendedorismo por necessidade, com uma subida de 6,29%, certamente resultado do aumento do desemprego.

Tabela 7 – Correlação entre as variáveis TEA, OP, NE, OPNE e o PIB per capita

PIB Coeficiente de Correlação

Spearman (ρ) Tipo de relação Avaliação qualitativa

TEA 0,709 Inversa Forte

OP 0,623 Directa Forte

NE 0,720 Inversa Forte

OPNE 0,747 Directa Forte

Fonte: Elaborado pelo autor no programa IBM SPSS Statistics 19

Os resultados corroboram as demais pesquisas encontradas na literatura (Stel, Carree & Thurik, 2005; Barros & Pereira, 2008; Dornelas, 2008), apontando para fortes correlações diretas entre o OP e o OPNE e o PIB per capita e fortes correlações inversas entre o TEA e o NE e o PIB per capita.

CAPÍTULO IV

CONCLUSÕES E

Longe de pretender ser conclusivo, o intuito do texto é estimular críticas e sugestões que possam contribuir para o aprofundamento do estudo do empreendedorismo e do seu papel na economia de um país ou região. O empreendedorismo é considerado por muitos, a maior fonte de crescimento económico e de inovação, promovendo produtos e serviços de qualidade, competição e flexibilidade económica (Kirzner, 1973; Reynolds et al., 1994; Gaspar, 2003).

Esta dissertação analisou em primeiro lugar, o comportamento e as caracteristicas da atividade empreendedora nos países da União Europeia e da América Latina, através da comparação dos indicadores do GEM; TEA, OP, NE e OPNE, assim como a sua evolução segundo caracteristicas demográficas e em segundo lugar a relação dos já referidos indicadores com o PIB per capita.

O programa GEM é reconhecido mundialmente como um esforço coletivo multinacional, que permite obter uma visão objetiva do processo de empreendedorismo no âmbito regional e global.

Mediante esta visão, da análise do principal indicador de empreendedorismo do GEM, o TEA, conclui-se que, a percentagem de indivíduos envolvidos em atividades empreendedoras early-stage cresceu analogamente nas duas regiões desde 2007. No entanto, os países da América Latina quando comparados com os países da União Europeia continuam a apresentar um TEA significativamente superior. Na União Europeia, em cada 100 habitantes existiam, em 2011, entre 6 a 7 novos empreendedores, enquanto na América Latina, em cada 100 habitantes existiam entre 19 a 20 novos empreendedores.

Os altos índices de TEA registados nos países da América Latina sugerem que possuem uma menor complexidade económica, que leva ao estímulo da atividade empreendedora por necessidade, devido à escassez de postos de trabalho formais (Bruneau & Machado, 2006).

O GEM faz esta distinção apresentando as duas razões principais que levam os indivíduos a empreenderem. A primeira a oportunidade, em que o empreendedor visionário sabe onde quer chegar, planeia a criação da empresa, tem em mente o crescimento que quer procurar para a empresa e visa a geração de lucros, empregos e riqueza. A segunda razão dá- -se pela necessidade de sobrevivência, uma vez que os indivíduos não vislumbram ou não possuem outras opções de trabalho. Nesse caso, esses negócios costumam ser criados informalmente, não são planeados de forma adequada e muitos fracassam rápidamente, não gerando desenvolvimento económico e agravando as estatísticas de criação e mortalidade

dos negócios. Este tipo de empreendedorismo é mais comum em países em desenvolvimento, como alguns países da América Latina (Dornelas, 2008).

A percentagem de indivíduos envolvidos em atividades empreendedoras early-stage movidos pela oportunidade tem vindo a diminuir desde 2007 nas duas regiões. Trata-se de um dado bastante significativo e preocupante, uma vez que a movimentação da engrenagem económica ocorre com mais intensidade a partir da ação desse tipo de empreendedor. Em 2011, os países analisados da União Europeia apresentam uma percentagem de empreendedores por oportunidade que margeia os 52%, em comparação com os 38% verificados nos países da América Latina.

Já o empreendedorismo por necessidade evoluiu de forma diferente nos países da União Europeia e nos países da América Latina. Este indicador sobe significativamente nos países da União Europeia, certamente fruto da crise económica que vem afetando a Europa, enquanto que, nos países da América Latina se regista uma diminuição da percentagem de empreendedores movidos pela necessidade.

Esta evolução não deixa de ser um indicador positivo para a América Latina, porém, ainda existe um percentual muito grande de empreendedores por necessidade quando comparado com a União Europeia. Em 2011, cerca de 27% dos empreendedores eram movidos pela necessidade na América Latina, em comparação com os 19% verificados na União Europeia.

Pelos dados já analisados e como seria de esperar o OPNE diminui no período analisado nas duas regiões, sendo que essa descida é mais acentuada nos países da União Europeia. No entanto, em 2011 apenas a Hungria, Roménia, Républica Dominicana e Uruguai, apresentavam uma percentagem de empreendedores movidos pela necessidade superior à percentagem de empreendedores movidos pela oportunidade.

No que diz respeito ao género e verificados os 27 países participantes neste estudo, constatou-se um predomínio masculino nas iniciativas empreendedoras, mas com a participação das mulheres em atividades empreendedoras a aumentar e a já representar cerca de 40% do total de empreendedores. Esse aumento foi mais significativo nos países da União Europeia, todavia, a participação da mulher na atividade empreendedora continua a ser mais expressiva nos paises da América Latina, o que pode ter origem nas precárias formas de ocupação, visando então a mesma, complementar ou mesmo prover renda familiar.

Portela, Hespanha, Nogueira, Teixeira e Baptista (2008) comprovam essa mesma desigualdade entre homens e mulheres na entrada no mundo empresarial e sobressaem o facto de as mulheres partirem mais frequentemente de situações de situações de vulnerabilidade social do que os homens.

Em relação à idade, a América Latina e a União Europeia também apresentam diferenças. Na América Latina, a maior taxa de atividade empreendedora verifica-se na faixa etária entre os 25 e 34 anos, enquanto na União Europeia a maior taxa de atividade empreendedora ocorre na faixa etária entre os 35 e 44 anos. Não coincidentemente, estes individuos possuem mais experiência profissional e procuram lançar-se sobre os riscos do próprio negócio.

Por outro lado, os empreendedores com níveis de escolaridade mais altos apresentam-se mais propensos a envolver-se em atividades empreendedoras early-stage. O cenário é comum para os países das duas regiões analisadas.

Um dos objetivos principais da pesquisa GEM é estudar o relacionamento de empreendedorismo com a renda nacional, tradicionalmente percebida como formadora de um círculo virtuoso. Foi possível, com os dados obtidos, relacionar as variáveis TEA, OP, NE e OPNE, com o PIB per capita dos paises.

Os resultados deste estudo apontam para uma forte relação inversa de dependência entre o PIB per capita e o TEA, isto é, um TEA elevado não está associado ao crescimento económico e ao desenvolvimento social, mas sim, a elevadas taxas de desemprego. A esse respeito, Dornelas (2008) refere que a criação de empresas por si só não leva ao desenvolvimento económico, a não ser que esses negócios estejam focados nas oportunidades de mercado.

O NE apresenta uma correlação forte negativa com o PIB per capita e o OP e o OPNE apresentam correlações positivas fortes com esta variável, assim sendo, os resultados corroboram as conclusões dos trabalhos de Stel, Carree e Thurik (2005) e Barros e Pereira (2008).

Tendo em conta os parágrafos anteriores, a resposta à questão da nossa investigação: Têm os países da América Latina conseguido vantagem competitiva face aos países da União Europeia, nos últimos 5 anos, graças ao empreendedorismo? É não.

Embora as “distâncias” entre os países da América Latina e os países da União Europeia sejam hoje menores, os indicadores GEM ainda revelam diferenças significativas entre as duas regiões.

Os países da América Latina apresentam TEA mais elevados que os países da União Europeia, no entanto, estes valores parecem estar sobretudo associados ao empreendedorismo por necessidade, e como tal, não expressa uma melhor condição socioeconómica.

Os países da América Latina são os que apresentam uma maior percentagem de empreendedores movidos pela necessidade e uma menor percentagem de empreendedores movidos pela oportunidade dos países analisados.

O empreendedorismo feminino, fortemente associado ao empreendedorismo por necessidade, também é expressivamente superior nos países da América Latina.

Não é objetivo deste estudo debater as causas das diferenças da atividade empreendedora nas duas regiões, no entanto, as dificuldades no desenvolvimento de atividades empreendedoras na América Latina, descritas por Bruneau e Machado (2006), parecem ainda se manter. São elas a dificuldade de acesso: às tecnologias, à informação apropriada sobre técnicas disponíveis, aos mercados internacionais e a infra-estruras- comerciais e infra-estruturas profissionais.

Os resultados parecem também indicar a ausência de políticas públicas nos países latino americanos, visando incentivar o empreendedorismo, apesar dos avanços que se vêm registando desde 2007.

Os resultados da pesquisa têm pois, implicações para as políticas públicas de apoio ao empreendedorismo e às micro e pequenas empresas. As políticas económicas que visam à redução da carga tributária e da taxa de juros, e a melhoria no ambiente de negócios, ao favorecer o empreendedorismo, poderão ter impacto social substantivo nas economias que têm sido fracas na geração de emprego (Barros & Pereira, 2008; Magali et al., 2011).

É fundamental alertar que a pesquisa aqui desenvolvida não esgota completamente o assunto, o que seria impossível, como de fato o é na quase totalidade dos trabalhos académicos. Um tema abrangente como o empreendedorismo suscita diferentes visões e abordagens, dificultando uma completa compreensão (Filion, 1997; Kapp, 2003; Campos et

As sugestões de futuras pesquisas podem ser em três direções. A especificação do modelo poderia ser ampliada, introduzindo outras variáveis explicativas do crescimento económico, como a dimensão e o capital físico.

Outra direção da pesquisa consideraria a extensão do estudo aos demais países da União Europeia e América Latina.

Por fim, nesta pesquisa, analisou-se uma série correspondente a 5 anos de indicadores, sendo que a continuidade da análise para um período maior, por exemplo 10 anos, pode trazer novos resultados.