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O empreendedorismo como fator de desenvolvimento socioeconómico das nações: um estudo comparativo entre a União Europeia e a América Latina com base nos relatórios GEM de 2007, 2008, 2009, 2010 e 2011

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UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO

Departamento de Economia, Sociologia e Gestão

O empreendedorismo como fator de desenvolvimento socioeconómico das

nações: um estudo comparativo entre a União Europeia e a América Latina

com base nos relatórios GEM de 2007, 2008, 2009, 2010 e 2011

Paulo Nuno Machado Rodrigues Dissertação de Mestrado

Mestrado em Gestão: variante Gestão Pública

Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

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UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO

Departamento de Economia, Sociologia e Gestão

O empreendedorismo como fator de desenvolvimento socioeconómico das

nações: um estudo comparativo entre a União Europeia e a América Latina

com base nos relatórios GEM de 2007, 2008, 2009, 2010 e 2011

De:

Paulo Nuno Machado Rodrigues

Orientador:

Professora Doutora Carla Susana da Encarnação Marques

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Este trabalho foi expressamente elaborado como dissertação original para efeito de obtenção do grau de Mestre em Gestão, sendo apresentado na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.

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Á minha família, pelo apoio incondicional

Ao Nuno Miguel, minha fonte de motivação e inspiração

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“O empreendedorismo é uma revolução silenciosa, que será para o século XXI mais do que a

Revolução Industrial foi para o século XX”

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Este trabalho não ficaria completo sem agradecer a todos os que me ajudaram a concretizá-lo.

Em primeiro lugar quero agradecer à Professora Doutora Carla Susana da Encarnação Marques, todo o seu saber, a sua ajuda, os seus conselhos e o modo como sempre me apoiou e incentivou, e a paciência e simpatia com que sempre me recebeu.

Quero ainda agradecer a todos os meus professores deste mestrado, pelo que me ensinaram e sobretudo pela metodologia de investigação que me incutiram, o meu muito obrigado.

Os meus agradecimentos finais e do fundo do coração são para a minha família que sempre me incentivou e encorajou desde a primeira hora, e em particular ao meu pai que foi um pilar no meu percurso de vida.

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novas empresas leva ao investimento nas economias locais e à criação de emprego (Sexton & Landstrom, 2000). No final do séc. XX e durante a primeira década do séc. XXI, os países latino-americanos alcançaram uma etapa de desenvolvimento que lhes permitem serem atores de destaque nos mercados internacionais. Num mundo cada vez mais globalizado, as empresas europeias serão inevitavelmente afetadas pela ascensão das empresas dos chamados países emergentes, no caso latino-americanos.

Este trabalho é uma pesquisa exploratória que utiliza dados do Global Entrepreneurship Monitor (GEM). É construído como uma análise comparativa do ponto de vista do empreendedorismo de alguns países membros da União Europeia que pertencem ao grupo das economias orientadas para a inovação e os países latino-americanos que pertencem ao grupo de economias orientadas para a eficiência, tal como definido no GEM.

Palavras-chave: Empreendedorismo, desenvolvimento socioeconómico, GEM, União Europeia, América Latina.

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It is believed that entrepreneurship is an engine of the economy. The creation of new firms leads to investment in local economies and job creation (Sexton & Landstrom, 2000). At the end of the XX century and during the first decade of the XXI century, the Latin American countries reached a stage of development that allows them to be prominent players in international markets. In an increasingly globalized world, European companies will inevitably be affected by the rise of companies of the so-called emerging countries, in the case Latin America.

This work is an exploratory research that uses data from the Global Entrepreneurship Monitor (GEM). It's built as a comparative point of view of entrepreneurship of some European Union member countries that belong to the group of innovation-driven economies and Latin American countries that belong to the efficiency-driven economies, as defined in GEM.

Key words: Entrepreneurship, socio-economic development, GEM, European Union, Latin America.

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ÍNDICE

INTRODUÇÃO ... 1

I – EMPREENDEDORISMO: EVOLUÇÃO E ATUALIDADE ... 5

1.1 – A TEMÁTICA DO EMPREENDEDORISMO ... 7

1.2 – A ABORDAGEM FUNCIONAL – A VISÃO DOS ECONOMISTAS ... 13

1.3 - A ABORDAGEM COMPORTAMENTAL – A VISÃO DOS PSICÓLOGOS E SOCIÓLOGOS ... 18

1.4 - A ABORDAGEM PROCESSUAL – A VISÃO DOS GESTORES ... 24

1.5 - A ABORDAGEM ATUAL DO EMPREENDEDORISMO – A VISÃO MULTIDISCIPLINAR ... 29

1.6 - O EMPREENDEDORISMO COMO FATOR DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÓMICO DAS NAÇÕES ... 33

II – DADOS E METODOLOGIA DE ANÁLISE ... 37

2.1 – METODOLOGIA, DADOS E SUAS FONTES ... 39

2.2 – MEDIDAS DE ATIVIDADE EMPREENDEDORA ... 46

III – APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE DADOS... 49

3.1 - INTRODUÇÃO À ANÁLISE ESTATISTICA ... 51

3.2 - TAXA DE ATIVIDADE EMPREENDEDORA EARLY-STAGE (TEA) ... 53

3.3 - EMPREENDEDORISMO POR OPORTUNIDADE E NECESSIDADE ... 58

3.4 - PRINCIPAIS TAXAS SEGUNDO CARACTERÍSTICAS DEMOGRÁFICAS... 69

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IV – CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES ... 79

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Principais correntes teóricas do empreendedorismo ... 13

Figura 2 - Modelo de DNA dos empreendedores da Ernst e Young – Comportamentos e características dos empreendedores ... 23

Figura 3 - Uma estrutura para descrever a criação de um novo negócio (Gartner, 1985) ... 26

Figura 4 - Modelo GEM (Reynolds et al., 1999) ... 40

Figura 5 - Modelo GEM Revisto ... 41

Figura 6 - O Processo Empreendedor ... 43

LISTA DE QUADROS Quadro 1 - Escolas de Pensamento segundo Cunningham e Lischeron (1991) ... 11

Quadro 2 - As características mais comuns atribuídas aos empreendedores pelos comportamentalistas ... 22

Quadro 3 - Principais blocos de pesquisa do empreendedorismo ... 30

Quadro 4 - Definições de empreendedorismo e empreendedor por autor ... 31

Quadro 5 - Teorias do crescimento económico ... 34

Quadro 6 - Países a analisar por região e fase de desenvolvimento económico ... 45

LISTA DE TABELAS Tabela 1 - TEA por fase de desenvolvimento económico e região ... 54

Tabela 2 - Percentagem de empreendedores por oportunidade por fase de desenvolvimento económico e região ... 59

Tabela 3 - Percentagem de empreendedores por necessidade por fase de desenvolvimento económico e região ... 62

Tabela 4 - Razão entre empreendedorismo por oportunidade e necessidade ... 66

Tabela 5 - Percentagem de indivíduos do sexo masculino e feminino envolvidos em atividades empreendedoras early-stage (TEA) ... 70

Tabela 6 - Variação do TEA, OP, NE, OPNE, TEAM e TEAH/TEAM ... 77

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Fatores de sucesso mais identificados pelos empreendedores ... 28

Gráfico 2 - Maiores desafios para um arranque de sucesso ... 29

Gráfico 3 - Análise de distribuição de frequências ... 51

Gráfico 4 - Box-plot do TEA por região... 55

Gráfico 5 - Relação entre o TEA e o PIB per capita... 56

Gráfico 6 - Evolução do TEA e do PIB per capita na União Europeia e América Latina desde 2007 ... 57

Gráfico 7 - Box-plot do OP por região ... 60

Gráfico 8 - Relação entre o OP e o PIB per capita... 61

Gráfico 9 - Evolução do OP e do PIB per capita na União Europeia e América Latina desde 2007... 61

Gráfico 10 - Box-plot do NE por região ... 63

Gráfico 11 - Relação entre o NE e o PIB per capita ... 64

Gráfico 12 - Evolução do NE e do PIB per capita na União Europeia e América Latina desde 2007 ... 64

Gráfico 13 - Relação entre empreendedorismo por oportunidade e necessidade em 2011 ... 65

Gráfico 14 - Box-plot do OPNE por região ... 67

Gráfico 15 - Relação do OPNE e o PIB per capita ... 67

Gráfico 16 - Evolução do OPNE e do PIB per capita na União Europeia e América Latina desde 2007 ... 68

Gráfico 17 - Distribuição por género dos empreendedores envolvidos em atividades empreendedoras early-stage (TEA) em 2011 ... 71

Gráfico 18 - Box-plot do empreendedorismo TEA feminino por região ... 71

Gráfico 19 - Relação entre o TEA feminino e o NE ... 72

Gráfico 20 - Evolução do empreendedorismo feminino por região ... 73

Gráfico 21 - Evolução do rácio empreendedores/empreendedoras ... 73

Gráfico 22 - TEA por idade e segundo níveis de desenvolvimento económico dos países ... 75

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LISTA DE SIGLAS UTILIZADAS

AL – América Latina CE – Comissão Europeia EU – União Europeia

EUA – Estados Unidos da América FMI – Fundo Monetário Internacional GEM – Global Entrepreneurship Monitor

GERA – Global Entrepreneurship Research Association NE (NEC no SPSS) – Empreendedorismo por necessidade

OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico OP – Empreendedorismo por oportunidade

OPNE – Razão entre empreendedorismo por oportunidade e necessidade PE – Parlamento Europeu

PIB – Produto Interno Bruto

SPSS – Statistical Package for Social Sciences TEA – Total Entrepreneurship Activity TEAH – TEA masculino

TEAM – TEA feminino

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Neste capítulo procuramos introduzir o tema deste estudo, referindo a sua importância, fim e fontes, assim como uma breve descrição da estrutura deste trabalho de investigação. Em termos genéricos, esta tese pretende estudar o fenómeno do empreendedorismo e, em particular, a relação da atividade empreendedora com o desenvolvimento económico na União Europeia e na América Latina.

O desenvolvimento económico é vital para sobrevivência de todas as sociedades. Os debates políticos centram a sua atenção na necessidade de garantir as condições necessárias ao desenvolvimento económico do seu país.

Nas últimas décadas, o empreendedorismo surge como uma peça fundamental no desenvolvimento económico dos países, através da criação de empresas e de emprego, mas também através da inovação (Wennekers, Van Stel, Carrel & Thurik, 2010).

No entanto, esta associação do empreendedorismo ao crescimento económico já vem sendo feita desde do seculo XVIII (Cantilon, 1730; Say, 1816). Say (1816) via os empreendedores como agentes de mudança, relacionando o empreendedorismo à prosperidade dos países (Filion, 1997).

Segundo Dornelas (2008), o papel do empreendedor foi sempre fundamental na sociedade, a ênfase atual no empreendedorismo não é apenas um modismo, mas uma consequência das mudanças tecnológicas e da sua rapidez. Vivemos a era do empreendedorismo, pois são os empreendedores que estão a eliminar barreiras comerciais e culturais, globalizando e renovando os conceitos económicos, criando novas relações de trabalho e novos empregos e gerando riqueza para a sociedade.

Numa outra perspectiva, Lambing e Kuehl (2007) acreditam que a pura dimensão do fenómeno justifica a atenção que a investigação dedica ao empreendedorismo.

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Para Espejo e Previdelli (2006) o empreendedorismo gera impactos na sociedade, na economia e na política, produzindo empregos, gerando rendas, proporcionando crescimento e desenvolvimento.

O Global Entrepreneurship Monitor [GEM] reconhece que a prosperidade de uma economia depende fortemente de um setor empresarial dinâmico. Importa referir que o projeto GEM surge em 1997, de uma iniciativa conjunta do Babson College, nos Estados Unidos, e da London Business School, na Inglaterra, com o objetivo de medir a atividade empreendedora dos países e observar o seu relacionamento com o crescimento económico (Pacheco, 2009).

O empreendedorismo é definido, pelo GEM, como “qualquer tentativa de criação de um novo negócio ou nova iniciativa, tal como emprego próprio, uma nova organização empresarial ou a expansão de um negócio existente, por um indivíduo, equipa de indivíduos, ou negócios estabelecidos” (GEM Portugal, 2007).

Wennekers, van Stel, Thurik e Reynolds (2005) definem o empreendedorismo como a capacidade e vontade dos indivíduos, tanto dentro como fora das organizações para: perceber e criar novas oportunidades económicas; introduzir as suas ideias no mercado, em face da incerteza e outros obstáculos, tomando decisões sobre a localização, a forma e o uso de recursos e instituições e competir com outros por uma parte do mercado.

O tema empreendedorismo é hoje, mais do que nunca, um tema muito importante, pelos problemas de desemprego e da baixa produção nas economias, poderem ser reduzidos com a atividade empreendedora (Dolabela, 2006).

Estes problemas têm-se supostamente agravado na União Europeia ao contrário da América Latina que tem escapado à crise mundial. Já passou a época em que o conceito de cooperação internacional entre a Europa e a América Latina se definia restritivamente em termos de transferência de recursos e de conhecimentos, de forma quase unilateral. Os países latino-americanos alcançaram uma etapa de desenvolvimento que lhes permite serem atores de destaque nos mercados internacionais.

Historicamente, o ininterrupto intercâmbio entre Europa e América Latina iniciou-se há mais de cinco séculos, com traços de luzes e sombras, como todo episódio da atividade humana. Mas mais do que a experiencia histórica, o mundo em transformação acelerada

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vincula os países da Europa e da América Latina, no campo político, estratégico e económico.

Num mundo cada vez mais globalizado, as economias e as empresas europeias serão inevitavelmente afetadas pela ascensão das economias e empresas dos chamados países emergentes, no caso latino-americanos.

O Parlamento Europeu [PE] (2010), considera as relações comerciais com a América Latina uma prioridade. No documento pode ler-se que a União Europeia tem intensificado as suas relações económicas e comerciais com a América Latina, tornando-se o seu segundo parceiro comercial. De acordo com o Eurostat, o volume de trocas comerciais duplicou entre 1999 e 2008, tendo as importações, para a União Europeia, de mercadorias provenientes da América Latina aumentado para 96,14 mil milhões de euros e as exportações de mercadorias para a região aumentado para 76,81 mil milhões de euros, registando-se um aumento constante do comércio de serviços.

A velocidade e as mudanças estruturais nas economias das duas regiões podem determinar quem conseguirá vantagem competitiva no mercado globalizado, isto é, para que lado penderá a balança.

As mudanças estruturais estão diretamente dependentes da atividade empreendedora e do perfil da inovação na estrutura produtiva, que introduzem nova concorrência, contribuindo para a produtividade (Bosma & Shutjens, 2011).

Com base nos parágrafos anteriores, chegamos à questão da nossa investigação: Têm os países da América Latina conseguido vantagem competitiva face aos países da União Europeia, nos últimos 5 anos, com base no empreendedorismo?

Note-se que esta questão reveste-se de particular importância, dada a relevância reconhecida do empreendedorismo pelos autores já referidos, para o crescimento económico e social dos países e a importância gradualmente crescente que os países da América Latina vão tendo do ponto de vista comercial e económico no mundo.

Os dados utilizados para o desenvolvimento do estudo foram dados secundários, publicados nos relatórios Global Entrepreneurship Monitor (GEM) referentes aos anos de 2007, 2008, 2009, 2010 e 2011.

O estudo está estruturado em cinco secções, tendo a introdução como a primeira; em seguida a fundamentação teórica para desenvolvimento do tema; metodologia, apresentação e análise dos dados dos relatórios do GEM; e por fim, as considerações finais.

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CAPITULO I

EMPREENDEDORISMO:

EVOLUÇÃO

E

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1.1. A Temática do Empreendedorismo

Embora o campo do empreendedorismo seja reconhecidamente de fundamental importância para a nossa economia, e apesar de muitos pesquisadores em todo o mundo centrarem a sua atenção no fenómeno, não há, por enquanto, nenhum acordo quanto ao objeto de investigação neste domínio científico. A pesquisa empírica tem mostrado que o fenómeno é muito mais complexo e heterogéneo do que se pensava na década de 80 (Bruyat & Julien, 2000).

Segundo Bygrave (1989), o conceito de empreendedorismo tem variado de época para época e dependendo do olhar que se lança ao papel que os empreendedores e o empreendedorismo desempenham na sociedade. O problema de definir a palavra empreendedor e estabelecer as fronteiras do campo do empreendedorismo ainda não foi resolvido.

Segundo Louis Jacques Filion (1999, p. 17), um dos pioneiros do estudo formal do fenómeno, “Atingiu-se, em empreendedorismo, um estágio no qual muitas pessoas anseiam por uma teoria consistente, baseada em axiomas universais, como os existentes em física, por exemplo”.

Bygrave e Hofer (1991) salientaram que uma boa ciência tem que começar com boas definições, ela só pode impor a sua presença se no longo prazo for capaz de estabelecer as suas fronteiras com outros campos, mesmo que essas fronteiras sejam em certa medida, confusas. Esta ideia é partilhada por Filion (1999, p. 6): “Na literatura sobre empreendedorismo há um nível notável de confusão a respeito da definição do termo empreendedor. Pesquisadores tendem a perceber e definir os empreendedores usando premissas das suas próprias disciplinas. Por esse ponto de vista, a confusão talvez não seja tão grande quanto querem fazer crer, porque semelhanças na perceção do que seja um empreendedor surgem em cada disciplina. Por exemplo, os economistas associam o empreendedor com a inovação, enquanto os comportamentalistas centram-se nos aspetos criativo e intuitivo”.

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Para Fillion e Lima (2009, p. 92) “Há poucas perspectivas tão presentes quanto o empreendedorismo no conjunto das diferentes disciplinas das ciências humanas. Vindo da ciência económica, ele está cada vez mais presente em quase todas as variações das ciências administrativas, contábeis e sociológicas e, enfim, em um número substancial de variações das ciências humanas tais como a geografia e os estudos étnicos, religiosos, sociais e outros”.

Segundo Campos, Parallada e Palma (2012), não há uma categorização amplamente aceite das diferentes correntes de pesquisa do empreendedorismo, aumentando o risco de inibir o crescimento do empreendedorismo como um esforço académico.

A pesquisa de Filion (1999) confirma que a literatura apresenta inúmeras definições, gerando confusão a respeito do que vem a ser empreendedor e empreendedorismo.

Sobre esta falta de consenso ao definir empreendedorismo, Baron e Shane (2007, p. 6), consideram que: “definições são sempre traiçoeiras, e para uma área nova como o empreendedorismo, a tarefa é ainda mais complexa. Não é de surpreender, então, que não exista atualmente um consenso sobre a definição de empreendedorismo como uma área de estudos dos negócios ou como uma atividade em que as pessoas se envolvem”.

Para percebermos melhor a complexidade do tema é necessário recuarmos à origem e à evolução do conceito nas várias perspetivas teóricas.

Segundo Hisrich e Peters (2004), Marco Pólo poderia ser considerado um empreendedor, pois agia como um intermediário, assinando um contrato com uma pessoa de recursos para vender as suas mercadorias no Oriente. Assumia desta forma, os riscos emocionais e físicos da viagem. Na Idade Média, a atividade empreendedora referia-se à ação de um participante ou administrador de grandes projetos de produção e obras. Nesse contexto, o empreendedor não corria riscos, pois somente administrava os recursos recebidos e, geralmente era contratado pelo governo.

Vérin (1982) examinou a origem e o desenvolvimento do termo empreendedor, revelando que embora o termo fosse usado antes de Cantillon, como Schumpeter (1954) apontou, Cantillon foi o primeiro a oferecer uma clara conceção da função empreendedora como um todo. Em 1730, Cantillon pela primeira vez associou o empreendedorismo ao crescimento económico, e usou a palavra entrepreneur para designar aqueles que trabalhavam por conta própria e toleravam o risco no intento de promover o seu próprio bem estar económico.

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No entanto, segundo Sexton e Lanstrom (2000) foi só nos anos 80 que houve uma proliferação de estudos, conferências, cursos e centros de investigação para estudar o fenómeno. Desde então, têm sido várias as áreas do conhecimento que têm procurado estudar o fenómeno de empreendedorismo.

Para Filion (1997), o campo do empreendedorismo está “partido” e os seus múltiplos componentes são analisados por economistas, sociólogos, historiadores, psicólogos, especialistas nas ciências do comportamento ou por especialistas na área da gestão. No entanto, Filion identifica duas correntes principais que estudam o empreendedorismo: os comportamentalistas que teve como principal responsável David McClelland (1917-1998), focam-se nos aspetos da atitude dos empreendedores, como a criatividade, a persistência e a liderança e os economistas que teve como responsáveis Richard Cantillon (1680-1734) e Jean-Baptiste Say (1767-1832) e desenvolvida por Joseph A. Shumpeter (1883-1950), associam o fenómeno ao desenvolvimento económico, à procura de oportunidades e à inovação.

Citando Filion (1999, p. 5): “Mais de mil publicações surgem anualmente no campo do empreendedorismo, em mais de 50 conferências e 25 publicações especializadas. Áreas de especialização têm sido criadas, em número considerável, incluindo inovação e criatividade, criação, inicio, novos empreendimentos, abertura e fecho de empresas, crescimento de empresas, autoemprego e microempresas, franquias, bem como as várias dimensões dos empreendedores (comportamentos, sistemas de atividade, processos empreendedoristicos, intraempreendedorismo e empreendedorismo corporativo, tecnoempreendedores), o desenvolvimento regional, o empreendedorismo étnico, os sistemas de apoio ao empreendedorismo e às politicas governamentais, o empreendedorismo cooperativo, a formação em empreendedorismo, os empreendedores do sexo feminino e, finalmente, a pesquisa de pequenos negócios e consequentemente as suas abordagens funcionais, incluindo finanças, marketing, gestão de operações, gestão de recursos humanos, sistemas de informação e estratégia”.

Já Veciana (2000) sustenta que a investigação em empreendedorismo tem sido feita a partir de quatro áreas de estudo distintas: a economia, a psicologia, a sociologia e a gestão.

Cunningham e Lischeron (1991) reviram a literatura e identificaram seis escolas de pensamento sobre empreendedorismo, com metodologias e objetivos diferentes. Cada uma dessas escolas pode ser classificada de acordo com o seu interesse em estudar as

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características pessoais, oportunidades, gestão ou a necessidade de adaptar um empreendimento já existente.

Segundo Duarte (2008):

1) A escola da “Grande Figura” centra-se na figura do empreendedor, como uma pessoa especial, detentora de uma espécie de “sexto sentido”. Os principais autores associados a esta escola (Garfield, 1986; Hughes, 1986; Silver, 1985) consideram que um individio já nasce empreendedor, isto é, com a capacidade intuitiva de reconhecer uma oportunidade e de tomar a decisão apropriada para tirar proveito da situação. Os empreendedores são vistos como indivíduos exepcionais, altamente motivados em direção à obtenção da sua indepedencia e sucesso, apresentando muito vigor, persistência e auto-estima.

2) A escola das características psicológicas vê o empreendedor como alguém que reconhece oportunidades. Os principais autores associados a esta escola (McClelland, 1965; Lachman, 1980) acreditam que o empreendedor é guiado por valores, atitudes e necessidades únicas, destacando-se a sua propensão ao risco. Também esta escola acredita que o empreendedor é diferente, neste caso pelas suas características de personalidade.

3) A escola clássica associa a inovação ao empreendedorismo. Alguns autores (Shumpeter, 1934; Peterson, 1985) definem o empreendedor em função de uma característica: a inovação. Esta escola refere-se ao empreendedorismo como um processo de criação de uma oportunidade ou uma forma de gestão que procura constantemente novas oportunidades, originando dessa forma a inovação.

4) A escola de gestão vê o empreendedor como alguém que organiza uma iniciativa empresarial, isto é, uma nova atividade económica. Os principais autores associados a esta escola (Fayol, 1950; Follet, 1942) vêm os empreendedores como gestores que planeiam, organizam, selecionam pessoal, orçamentam, coordenam e controlam uma empresa, assumindo o risco do negócio com o objetivo de ter lucro.

5) A escola da liderança vê o empreendedor como um líder que tem a habilidade de adaptar o seu estilo à necessidade das pessoas. Os principais autores desta escola (Hemphill, 1959; Kao, 1989) vêm os empreendedores como indivíduos que têm a capacidade de convencer os outros a comprometerem-se com uma causa.

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6) A escola do intraempreendedorismo concentra-se na criação de novas atividades económicas no interior de empresas já existentes. Os autores desta escola (Taylor, 1987; Knight, 1988) concebem o empreendedor como alguém dentro de uma organização que tem competências para desenvolver, criar, colocar no mercado e expandir produtos e/ou serviços. A escola do intra-empreendedorismo pressupõe que é possível promover a inovação nas organizações já existentes e consolidadas, encorajando as pessoas a trabalharem como empreendedores em unidades semi - autónomas.

O quadro 1 sintetiza os comportamentos e habilidades dos empreendedores enfatizados pelas diferentes escolas de pensamento.

Quadro 1 - Escolas de Pensamento segundo Cunningham e Lischeron (1991)

Escola Interpretação central Pressuposto Habilidades e comportamentos do empreendedor Estágio do empreendimento sua aplicação

“Grande Figura” O empreendedor possui intuição, traços e instintos inatos.

A intuição inata é a chave do sucesso. Intuição, vigor, energia, perseverança e auto-estima. Inicial Características Psicológicas O empreendedor possui valores, atitudes e necessidades que o impulsiona.

As pessoas agem orientadas pelos seus valores e comportamentos para satisfazer suas necessidades.

Valores pessoais, propensão e aceitação do risco. Necessidades de realizações. Inicial

Clássica A característica básica do empreendedor é a inovação. As pessoas contrapõem ao possuir. Inovação, criatividade e descoberta. Inicial e crescimento Gestão O Empreendedor

organiza, possui e gere empreendimentos económicos. O risco é assumido

Transformar pessoas em empreendedores por meio do treino. Planeamento, organização, direção e controle. Crescimento e maturidade Liderança O Empreendedor é um líder. Adapta seu estilo de liderança às necessidades das pessoas.

Para atingir seus objetivos, o empreendedor precisa e depende do concurso de outras pessoas. Capacidade de motivação e liderança. Crescimento e maturidade Intraempreendedorismo As habilidades do Empreendedor são úteis em organizações complexas. Criam unidades autónomas para geração, comercialização e expansão de negócios. A adaptação é fundamental para sobrevivência das organizações complexas. O Empreendedorismo resulta na criação de organizações e na transformação de empreendedores em gestores. Capacidade de decisão e alerta às oportunidades. Maturidade e mudança.

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Segundo Stevenson e Jarillo (1990), três perguntas fundamentais podem resumir muito da actividade de investigação sobre o empreendedorismo: “What on Earth is he

doing?” é a primeira pergunta, “Why on Earth is he doing?” é a segunda, “How on Earth is he doing?” a última. Encontramos nestas questões várias abordagens funcionais: (What) os

economistas, (Why) os especialistas em Ciências do Comportamento e os (How) os gestores. Considerando estes diferentes níveis de análise e abordagens em que o empreendedorismo tem sido estudado, torna-se necessário que se deixe claro o escopo a ser estudado quando se fala na temática, a fim de evitar certa superficialidade a que o tema pode remeter. Assim, neste estudo, vamos precisamente abordar as principais correntes teóricas sobre o empreendedorismo, com base na divisão apresentada por Stevenson e Jarillo (1990). Os autores afirmam que a pesquisa sobre empreendedorismo pode ser conduzida de três formas: a primeira refere-se à abordagem funcional proposta pelos economistas (associam o fenómeno à inovação); a segunda abordagem centra-se no indivíduo é proposta pelos especialistas das ciências do comportamento (procuram ampliar o conhecimento sobre a motivação e o comportamento do empreendedor) e a terceira, a abordagem centrada nos processos defendida pelos gestores (procuram analisar as competências do empreendedor em termos de gestão).

Nas palavras de Stevenson e Jarillo (1990, p. 18): “The plethora of studies on

entrepreneurship can be divided in three main categories: What happens when entrepreneurs act; why they act; and how they act.”

O diagrama da Figura 1 esquematiza as principais correntes teóricas sobre o tema do empreendedorismo, funcionando como um elemento condutor deste capítulo.

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A visão dos Economistas A Visão dos Psicólogos e

Sociólogos A Visão Dos Gestores

1680 Cantillon 1723 Smith 1734 1767 Say 1790 1806 Mill 1832 1840 Menger 1842 1864 Weber 1873 1883 Shumpeter 1885 Knight 1890 1909 Drucker 1914 Penrose 1917 McClelland 1920 1921 1922 1930 Kirzner 1935 1945 1950 1953 Gartner 1972 1988 1994 1996 2005 2011

Fonte: Elaborado pelo autor com base na revisão da literatura

Figura 1 – Principais correntes teóricas do empreendedorismo

1.2. A Abordagem Funcional – A Visão dos Economistas

A Economia procura aprofundar o impacto do empreendedorismo no sistema económico, onde Cantillon, Smith, Jean-Baptiste Say e, posteriormente, Schumpeter associaram o empreendedor à inovação (Filion, 1997).

O economista irlandês Richard Cantillon (1755) quando procurava novos nichos de mercado para fazer investimentos lucrativos percebeu que a análise do risco era essencial para a tomada de decisão. Na sua obra “Essai sur la nature du commerce en général”, utilizou o termo empreendedor para designar o empresário que corre riscos em função da sua

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atividade, seja o produtor ou o comerciante. Os empreendedores compravam matérias-primas (geralmente produtos agrícolas) por um preço certo e vendiam-nas por preço incerto depois de processá-las, pois identificavam uma oportunidade de negócio e assumiam riscos. No entanto o lucro só ocorria porque existia inovação, isto é, fizera-se algo de novo e diferente. Este pensador económico foi o primeiro a oferecer uma visão clara a respeito da função socioeconómica do empreendedor (Filion, 1997). “Cantillon era basicamente um banqueiro que, hoje, poderia ser descrito como um capitalista de risco. Os seus trabalhos revelam um homem à procura de oportunidades de negócios, com uma preocupação de gestão económica e astuto na obtenção de um rendimento ótimo sobre o capital investido” (Filion, 1999, p. 6).

Segundo o relatório GEM (2008), Cantillon na sua definição arcaica de empreendedor, confunde o empreendedor com o ser dono de um negócio, isto é, com o capitalista e não como alguém que leva a cabo um empreendimento.

O economista francês Jean-Baptiste Say (1816) foi o segundo autor a demonstrar interesse pelos empreendedores. Say era um grande admirador de Adam Smith (1776), cujas ideias ele trouxe para a França, e da Revolução Industrial Inglesa. Do tratado “Riqueza das nações” de Adam Smith (1776), pode-se inferir que o empreendedor tem como finalidade produzir dinheiro, sendo um proprietário capitalista, um fornecedor de capital, concomitantemente um administrador situado entre o trabalhador e o consumidor (Filion,

1999).

Say via o empreendedor já de outra forma, distinguindo-o do capitalista, e atribuindo-lhe essencialmente o papel de coordenador no processo produtivo. “Say fazia uma distinção entre o empresário e o capitalista, e entre os seus lucros (Say, 1803; 1827: 295; 1815; 1816: 28-29; Schumpeter, 1954: 555). Ao fazer isso, ele associou os empreendedores com inovação. Ele via os empreendedores como agentes de mudança. Ele próprio era um empreendedor, e tornou-se o primeiro a definir os limites do que um empreendedor, no sentido moderno do termo, é na verdade” (Filion, 1997, p. 3).

No século XIX, Say definiu o empreendedor como uma pessoa que: “... une todos os meios de produção e que encontra no valor dos produtos ... o restabelecimento de todo o capital que emprega, e o valor dos salários, os juros, e a renda que paga, bem como os lucros que lhe pertencentem” (Rosário, 2007, p. 5).

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Embora Say como Cantillon vejam os empreendedores como pessoas que assumem riscos porque investem o seu próprio dinheiro, Say dá ênfase à natureza administrativa do empreendedorismo. Este economista é o primeiro a investigar o papel do empreendedor na gestão da empresa, atestando que a experiencia e os conhecimentos na área de ocupação são fundamentais para o sucesso da empresa (Filion, 1999).

O empreendedorismo é referido por Mill (1848 como citado em Duarte, 2008), como sendo a origem da empresa privada. O autor define o empreendedor como uma pessoa que toma decisões e assume riscos, gerindo recursos limitados para o lançamento de novos negócios.

Já para Menger (1871 como citado em Costa, 2008), o empreendedorismo pode levar ao crescimento industrial, através da transformação de recursos em produtos e serviços uteis e criando oportunidades. Carl Menger considera que o empreendedor é aquele que consegue antecipar necessidades futuras, vislumbrando oportunidades que os outros não conseguem percepcionar e sendo compensados com lucros pelos riscos corridos.

No século XX, com a publicação da obra Teoria do Desenvolvimento Económico de Joseph A. Schumpeter (1911), a conotação de empreendedor adquire um novo significado. Schumpeter define o empreendedor como um agente da mudança, da inovação, que desencadeia o processo de destruição criativa no capitalismo. Para o autor o empreendedor é responsável pelo desenvolvimento económico através da inovação e do aproveitamento de oportunidades de negócios. Segundo Filion (1997), foi Schumpeter quem realmente lançou o campo do empreendedorismo, não só associando os empreendedores com a inovação mas também, mostrando a sua importancia na explicação do desenvolvimento económico.

“A essência do empreendedorismo está na perceção e exploração de novas oportunidades no âmbito dos negócios ... tem sempre a ver com fazer diferentes usos dos recursos nacionais, de forma que sejam retirados do seu emprego tradicional e sujeitos a novas combinações” (Schumpeter, 1928 citado por Filion, 1997, p. 4).

Para Freeman e Soete (1997) foi Shumpeter o primeiro a distinguir a invenção da inovação. A invenção é uma ideia, um desenho ou modelo para um produto ou processo novo melhorado. A inovação só é conseguida com a primeira transação comercial que envolva o produto ou processo novo.

Ainda de acordo com Schumpeter, embora o empreendedor seja mais conhecido como aquele que cria novos negócios, também pode inovar dentro de negócios já existentes,

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ou seja, é possível ser empreendedor dentro de empresasjá constituídas. Neste caso, o termo que se aplica é o empreendedorismocorporativo (Dornelas, 2008).

No início do século XX, Frank Knight deu um forte contributo à teoria do empreendedorismo, com a publicação em 1921, da sua tese de dissertação de doutoramento

“Riscos, Incertezas e Lucros”. Knight distingue o empreendedor do capitalista e afirma que

cabe ao empreendedor assumir a incerteza que existe no meio e ao capitalista oferecer o capital. “Knight (1921) mostrou que os empreendedores assumiam riscos devido ao estado de incerteza em que eles trabalhavam, e que eles eram recompensados de acordo com os lucros que obtinham das atividades que haviam iniciado” (Filion, 1997, p. 4)

Tal como Schumpeter, Kirzner (1973 como citado em Dornelas, 2008) refere que o empreendedorismo é baseado na exploração de oportunidades. No entanto para este autor, o empreendedor é um árbitro, alguem que cria um equilíbrio, encontrando uma posição clara e positiva num ambiente de caos e turbulência, ou seja, contribui para o equilíbrio do mercado, ao estar atento às novas oportunidades, baseado em erros passados e corrigindo esses erros.

Como pudemos constatar os economistas (Cantillon, 1755; Say, 1816; Mill, 1848; Menger, 1871; Shumpeter, 1911; Knight, 1921; Kirzner, 1973) associam o empreendedorismo à inovação, pelo que importa também debrucarmo-nos brevemente sobre a definição de inovação.

Rogers (1995, p. 11) define inovação como: “uma ideia, prática ou objeto percebido como novo pelo indivíduo ou outra unidade de adoção”. Segundo o autor a aplicação de ideias novas para a produção de um novo bem ou serviço ou para a modificação de processos operacionais e administrativos, deve ser percebido como algo de novo e relevante não só pelo empreendedor, mas sobretudo por parte dos consumidores. É o interesse comercial que diferencia a inovação da invenção.

Para Van de Ven (1986, p. 592) “uma inovação é uma ideia nova, que pode ser uma recombinação de velhas ideias, um esquema que desafia a ordem presente, uma fórmula ou uma abordagem única que é percebida como nova pelos indivíduos envolvidos (Zaltman, Duncan & Holbek 1973; Rogers, 1982). Enquanto a ideia for percebida como nova para as pessoas envolvidas, é uma ‘inovação’, apesar de parecer para outros uma ‘imitação’ de alguma coisa que já existe”. Incluídas nesta definição estão as inovações técnicas (novas tecnologias, produtos e serviços) e as inovações administrativas (novos procedimentos, politicas e formas de organização)”. Em suma para o autor, a inovação pode ocorrer no

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produto, no serviço e/ou no processo, na área mais técnica ou na área administrativa. O autor afirma, que as pessoas, as ideias, as transações e o contexto ao longo do tempo, são os quatro fatores que facilitam ou inibem a inovação.

Para Filion e Lima (2009), os empreendedores precisam de conhecer as características do seu setor de atividade, de forma a visarem adequadamente os espaços de mercado pouco explorados, imaginarem e estruturarem o modo como poderão efetivamente explorá-los com iniciativas que gerem contribuições valiosas. Os empreendedores precisam de conhecer os componentes da cadeia de valor ligados aos processos de conceção, produção e comercialização dos bens/serviços que têm em mente oferecer. Em suma, a inovação também pode ocorrer na entrada em um novo mercado e na conquista de novas fontes de matérias-primas.

Burgelman, Maidique e Wheelwright (2007) identificam dois tipos de inovações: incremental que se refere à melhoria de bens e processos existentes e radical associada ao desenvolvimento de novos bens e processos por meio de novos conhecimentos.

Para Nenson e Winter (1977) são as inovações que permitem a evolução, diferenciação e sobrevivência das empresas. A inovação é gerada nos processos de aprendizagem através das rotinas e pela imitação das inovações dos concorrentes. Nessa perspetiva a inovação constitui um pilar fundamental do empreendedorismo.

Segundo Luecke (2003) algumas empresas suportam a I&D em dois níveis: o nível corporativo e o nível de unidades de negócio. Geralmente, ao nível corporativo trabalham em inovações radicais e novas tecnologias que as diferentes unidades operacionais podem usar. Ao nível das unidades de negócio, em contrapartida, concentram-se em inovações incrementais que irão beneficiar diretamente as unidades no curto prazo. No entanto, em muitos casos, os dois tipos de inovação ocorrem simultaneamente. Logo após às inovações radicais, há um ciclo de inovações incrementais.

Para Dosi (1990) a inovação é um processo que trata de pesquisa, descoberta, experimentação, desenvolvimento, imitação e adoção de novos produtos, de novos processos de produção e novas formas organizacionais. Como um processo, ela é constituída por várias fases, entre elas a ideia, o desenvolvimento da ideia e da tecnologia e por fim a utilização do produto e/ou serviço e/ou processo por parte dos usuários.

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“Pela capacidade de inovação, queremos dizer a realização efetiva da capacidade de gerar e comercializar novos e melhores produtos e processos de produção” (Dosi, 1990, p. 3).

Como pudemos constatar, entre as prioridades das investigações dos economistas não se encontra a pesquisa da personalidade dos empreendedores. São os psicólogos, sociólogos e outros ligados aos estudos comportamentais que fazem deste tema o seu objeto de análise.

1.3. A Abordagem Comportamental – A Visão dos Psicólogos e Sociólogos

A abordagem comportamental abrange todos os especialistas do comportamento humano: psicólogos, psicanalistas, sociólogos, entre outros. O objetivo desta abordagem do empreendedorismo foi de ampliar o conhecimento sobre motivação e o comportamento do empreendedor.

Um dos primeiros autores destas áreas a mostrar interesse pelo empreendedorismo, foi Max Weber (1930). Em A ética protestante e o espírito do capitalismo, Weber aborda o empreendedor e faz duas contribuições para o entendimento do empreendedorismo: primeiro, ele observa a mudança decisiva ocorrida na atitude em direção ao empreendedorismo que toma lugar depois da reforma no mundo ocidental. Em segundo, ele identifica o sistema de valores como um elemento fundamental para explicar o comportamento empreendedor O motivador para quem se estabelecia por conta própria era a religião e/ou o trabalho ético protestante. O autor acreditava que os empreendedores são inovadores e independentes, e que com o cumprimento de seu papel de liderança nos negócios desempenhavam uma fonte de autoridade formal (Filion, 1997; Chianenato, 2007). Duas contribuições consideradas referência neste campo são as trazidas por David McClelland, com a sua obra The achieving society (1961), e Everett E. Hagen, com a obra

On the theory of social change (1962).Para McClelland o empreendimento, para acontecer, tem que ter um indivíduo realizador, enquanto Hagen argumenta que pessoas que crescem e vivem com certas minoridades desenvolvem mais características psicológicas propensas ao

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empreendedorismo, quando comparadas a pessoas que não pertencem a essas minorias (Chiavenato, 2007).

McClelland descobriu nas suas pesquisas uma correlação positiva entre a necessidade de realização e a atividade empreendedora. É a necessidade de realização que impulsiona as pessoas a iniciar e a construir empreendimentos e que uma sociedade que tenha um nível elevado de realização produzirá um maior número de empresários ativos que, por sua vez, trarão um desenvolvimento económico mais rápido (Chiavenato, 2007).

Segundo Carneiro (2008) McClelland dividiu os comportamentos empreendedores em três conjuntos:

1) O primeiro é o conjunto de realização: procura de oportunidades e iniciativa, persistência, correr riscos calculados, exigência de qualidade e eficiência e comprometimento.

2) O segundo conjunto é de planeamento: procura de informações, estabelecimento de metas, planeamento e monitorização sistemática.

3) O terceiro conjunto é o de poder: independência e autoconfiança e persuasão e rede de contactos.

Em suma, as características mais comuns dos empreendedores identificadas por McClelland são a procura de oportunidades e iniciativa, a persistência, o comprometimento, a exigência de qualidade e eficiência, o correr riscos calculados, o estabelecimento de metas, a procura de informações, o planeamento e a monitorização sistemática, a persuasão e a rede de contactos e por fim a independência e a auto confiança.

McClelland (1971 como citado em Filion, 1997, p. 5) define o empreendedor da seguinte forma: “Um empreendedor é alguém que exerce controlo sobre a produção que não é apenas para seu consumo pessoal. De acordo com a minha definição, por exemplo, um executivo em uma unidade de produção de aço na União Soviética é um empreendedor”.

Collins e Moore (1964) afirmaram que o ato de empreender é uma ação imitada dos modelos copiados da infância e que a característica mais importante do empreendedor é a sua necessidade de autonomia, independência e auto confiança. O que os motiva são conflitos não resolvidos e eventos dramáticos que ocorreram nas suas vidas.

Na mesma linha, Kets de Vries (1977) apontam que o comportamento empreendedor é o resultado de experiências na infância e caracterizada por um ambiente familiar hostil e

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muitos problemas emocionais. Estas situações levavam os indivíduos a desenvolver formas de personalidades desviantes e não inseridas no ambiente social estruturado, no sentido de que eles têm dificuldade em aceitar a autoridade e trabalho em equipa.

Já “Maslow (1943, 1971) afirma que os indivíduos são motivados por uma hierarquia de necessidades. No nível mais baixo está a necessidade de segurança, seguida numa ordem crescente pela necessidade de aceitação social, em seguida pela auto-estima, culminando com a necessidade de auto-realização. A hierarquia das necessidades sugere que os indivíduos avançam das necessidades básicas de alimentação, abrigo e conforto, para níveis mais elevados de necessidades incluindo a aceitação social, auto-estima e auto-realização” (Carland & Carland, 1995, p. 3). Para Maslow o potencial de atividade empreendedora é maior, à medida que o indivíduo sobe na hierarquia das necessidades, isto é, o empreendedorismo pode providenciar as necessidades básicas, mas também pode ser um meio para o indivíduo obter aceitação social, auto-estima e auto-realização

Carland e Carland (1995) elaboraram uma pesquisa que continha um instrumento que permitia medir as hierarquias de cada indivíduo em termos da sua visão do risco de negócio e concluíram que os inqueridos que apresentavam uma maior dinâmica empreendedora viam os seus empreendimentos como um veículo para a estima e auto-realização. Os que apresentavam uma menor dinâmica empreendedora viam os seus empreendimentos como um veículo para providenciar necessidades básicas financeiras. No entanto, inicialmente, todos os empreendedores viam os seus empreendimentos como o veículo para atingir o primeiro nível de necessidade: a segurança.

Para os autores supra citados, não existem dois empreendedores iguais, nem há qualquer possibilidade de dois indivíduos gerirem os seus negócios de forma igual e explicam o empreendedorismo como uma função de quatro elementos: traços de personalidade, ter postura estratégica, propensão à inovação e propensão a assumirem riscos. A pesquisa levada a cabo por Miner (2000) confirmou a existência de vários tipos de empreendedores. Miner identificou quatro tipos psicológicos de empreendedores com capacidade para fazer crescer empreendimentos:

1) O tipo “personal achiever” está próximo do padrão clássico estabelecido por McClelland. Este tipo psicológico de empreendedor tem sete características principais; motivação para a auto-realização, personalidade tipo A, desejo de feedback, desejo de planear e definir metas para realizações futuras, compromisso

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pessoal forte com os seus empreendimentos, desejo de obter informações e aprender e locus de controlo interno.

2) O tipo “real manager” que deriva da teoria e pesquisa indicando que, em algum ponto na curva de crescimento da empresa, os gestores devem assumir a autoridade e introduzir sistematização. Nesta fase do ciclo de vida organizacional, os empreendedores têm sete características principais: atitudes positivas em relação à autoridade, desejo de competir com os outros, desejo de afirmar-se, desejo de exercer o poder, directiva em estilo cognitivo, desejo de se destacar da multidão e desejo de realizar tarefas de gestão.

3) O tipo “expert idea generator” tem a sua origem na pesquisa de Minor, Smith, Bracker (1992) e Roberts (1991). Estes empreendedores também podem ser chamados de inventores. As quatro principais caracterististicas são: desejo de inovar, conceptual no estilo cognitivo, grande inteligência e desejo de evitar correr riscos. 4) O tipo “empathic supersalesperson” deriva inteiramente das pesquisas anteriores

sobre a tipologia dos empreendedores de Miner (1996; 1997). Duas das principais características deste tipo de empreendedor são: empatia e desejo de ajudar os outros. Miner (2000) identifica que os empreendedores com o tipo de personalidade

personal achiever (desejo de receber feedback, planear e estabelecer objetivos, elevada

iniciativa pessoal, forte envolvimento com o negócio e crença em objetivos pessoais) são aqueles que têm maior capacidade para fazer crescer as suas organizações.

Segundo Smith-Hunter, Kapp e Yonkers (2003), analisando os traços de personalidade dos empreendedores é possível agrupá-los em três grandes dimensões:

1) Necessidade de realização (como já referimos anteriormente, a necessidade de realização foi identificada por McClelland como a chave para perceber o comportamento empreendedor);

2) Locus de controlo (os indivíduos que não acreditam na sua capacidade de controlar o ambiente e as suas ações, são relutantes em assumir riscos e como tal em iniciar um negócio);

3) Propensão ao risco e sistemas de valores (a propensão ao risco quer seja de natureza financeira, social ou psíquica, e os seus sistemas de valores, são característica que distinguem os empreendedores).

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Após McClelland, os comportamentalistas dominaram o campo do empreendedorismo por vinte anos. O seu objetivo era definir o empreendedor e as suas características. O resultado foi milhares de publicações que descreviam as características do empreendedor. As características mais comuns entre os vários estudos encontram-se descritas no Quadro 2.

Quadro 2 – As características mais comuns atribuídas aos empreendedores pelos comportamentalistas

Inovadores Lideres

Tomadores de risco moderado Independentes Criativos Enérgicos Tenazes Originais Otimistas

Orientados para resultados Flexíveis

Engenhosos

Necessidade de realização Auto-consciência Auto-confiança

Envolvimento a longo prazo

Tolerância à ambiguidade e incerteza Iniciativa

Aprendizagem Uso de recursos

Sensibilidade para com os outros Agressividade

Tendência para confiar nas pessoas

O dinheiro como uma medida de desempenho Blawatt, 1995

Hornaday, 1982

Meredith, Nelson et al., 1982 Timmons, 1978

Fonte: Adaptado de Filion (1997), p. 6.

Já em 2011, uma pesquisa realizada pela Ernst & Young, que incluiu um inquérito a 685 empreendedores e entrevistas com vencedores do prémio “Empreendedor do Ano” em mais de 30 paises, permitiu identificar comportamentos e características comuns aos e desta forma criar um modelo do DNA dos empreendedores. No coração do modelo encontra-se um forte locus de controlo interno (acreditam na sua capacidade para controlar o ambiente e as suas ações), que é complementado por uma mentalidade que lhes permite reconhecer e aproveitar oportunidades, e por fim, a capacidade para calcular e assumir riscos e tolerância ao falhanço. O modelo do DNA dos empreendedores pode ser visualizado na Figura 2.

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Fonte: Adaptado do Relatório 2011 da Ernst & Young “Nature or nurture? Decoding the DNA of the entrepreneur”, p. 15.

Figura 2 – Modelo do DNA dos empreendedores da Ernst & Young - Comportamentos e características dos empreendedores

Da observação do modelo também podemos identificar os seis principais comportamentos atribuídos aos empreendedores:

1) Mobilidade, tenacidade e persistência;

2) Ser o arquitecto da sua própria visão: apaixonado e focado; 3) Construir um ecossistema de finanças, pessoas e know-how; 4) Procurar nichos e lacunas no mercado;

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6) Não conformista e um jogador de equipa.

Por último, na parte exterior do anel, são identificados os restantes comportamentos atribuídos aos empreendedores: resiliência (capacidade de recuperar), trabalho de equipa, inovação, paixão, liderança, integridade, qualidade, foco no cliente, flexibilidade e visão.

Como pudemos constatar há uma ampla variedade de pontos de vista, lógicas e metodologias que têm sido utilizadas nas pesquisas (Filion, 1997; Carland & Carland, 1995), no entanto, ainda não foi possível traçar um perfil psicológico absolutamente científico e consensual do empreendedor.

Por esta razão, o modelo centrado no indivíduo foi fortemente criticado pelos pesquisadores em empreendedorismo na década de 80, voltando-se, agora, para o estudo do processo empreendedor.

Esta corrente de pensamento é fundamentada na ideia de que há uma grande diversidade de situações de empreendedorismo e de criação de empresas, assumindo-se pela primeira vez, que o empreendedorismo é um fenómeno complexo e multidimensional (Fayolle, 2002).

1.4. A Abordagem Processual – A Visão dos Gestores

Das três perguntas fundamentais levantadas por Stevenson e Jarillo (1990), faltava responder ao How: ”How are new firms established?”, “How is the entrepreneur acting?” (Fayolle, 2002).

Como já referido, o aparecimento desta corrente é justificada pela idéia, cada vez mais aceite, da existência de uma grande diversidade de situações empresariais e na criação de empresas (Fayolle, 2002). De facto, os empresários e os seus projetos empresariais são diferentes uns dos outros. Esta visão é, contudo, bastante recente na história, embora nas últimas três decadas, muitos autores tenham proposto a concentração da investigação sobre o estudo do processo empreendedor (Gartner, 1985; Gartner, 1988, Stevenson & Jarillo, 1990; Bygrave & Hofer, 1991; Van de Ven, 1992; Bruyat, 1993; Bouchikhi, 1993; Gartner, 1993; Bruyat, 1994; Fayolle, 1996; Landstrom, 1998; Hernandez, 1999; Bruyat & Julien, 2001).

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Bygrave e Hofer (1991, p. 14) definem o processo empreendedor da seguinte forma: “The entrepreneurial process involves all the functions, activities and actions associated

with the perceiving of opportunities and the creation of organisations to pursue them”.

Um dos primeiros a destacar-se na área das ciências empresariais, foi Penrose (1959) que considerava o papel dos empreendedores inportante na introdução e na aceitação de novas ideias em nome da empresa (Duarte, 2008).

Peter Druker, um dos pensadores de gestão mais influentes de sempre, centra-se igualmente na noção de oportunidade, mas, para ele, não é necessário que os empreendedores causem a mudança, mas antes explorem as oportunidades que a mudança cria na tecnologia, na preferência dos consumidores, nas normas sociais, etc. Estas mudanças rápidas afetam também as organizações públicas sem fins lucrativos, que precisam de ser ainda mais empreendedoras e inovadoras do que qualquer outra empresa (Duarte, 2008). É esta ideia muito clara que fica na sua obra Innovation and Entrepreneurship, de 1985, referindo-se à criação da universidade moderna como o melhor exemplo da história do empreendedorismo (Nogueira, 2009).

Drucker (1985) dissocia a figura do empresário da do empreendedor, já que os últimos inovam no seu trabalho e empresa e não se limitam à gestão operacional dos negócios. Para o autor, o empreendedor não é um iluminado e o espírito empreendedor não é uma característica de personalidade, qualquer indivíduo pode aprender a comportar-se de forma empreendedora.

O empreendedor é para Druker (1985), aquele que pratica a inovação sistematicamente, isto é, procura de forma deliberada e organizada oportunidades.

Segundo Peter Drucker (1986, p. 25), “[…] inovação é o instrumento especifico dos empreendedores, o meio pelo qual eles exploram a mudança como uma oportunidade para um negócio diferente.” A inovação pode ocorrer em um negócio existente, em uma instituição pública, ou em um empreendimento iniciado por um único individuo na cozinha da família.

Druker (1986) afirma ainda que o meio ambiente em que o empreendedor está inserido é também importante, salientando que o surgimento da economia empreendedora é um evento tanto cultural e psicológico, quanto económico ou tecnológico.

Resumidamente, o empreendedorismo é visto como um processo criativo associado a inovações, que resulta da interação entre os elementos ligados ao individuo e os elementos

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ligados ao meio ambiente. O empreendedorismo não trata apenas de pequenas empresas, de novos empreendimentos e da criação de novos produtosou serviços, mas, sim, inovações em todos os âmbitos do negócio (produtos,processos, negócios e/ou ideias).

O processo empreendedor é definido por Bygrave e Hofer (1991, p.14) da seguinte forma: “O processo empreendedor envolve todas as funções, atividades e ações associadas com a perceção de oportunidades e a criação de empreendimentos para persegui-los”.

Alguns autores (Gartner, 1985; Bygrave, 1997) elaboraram quadros conceptuais ou modelos para descrever o fenómeno, dando origem a duas correntes de pensamento distintas que procuram explicar o processo empreendedor.

A primeira, iniciada por Gartner, defende que o estudo do empreendedorismo deve centrar-se sobre a análise do nascimento de novas organizações, chamada emergência organizacional (Fayolle, 2002).

O fenómeno do empreendedorismo integra no modelo de Gartner (1985), designado pelo “modelo de Gartner de quatro dimensões”, as principais perspetivas da criação de novos empreendimentos: o empreendedor, o processo de abrir a empresa, a própria empresa e o ambiente que os cercam e influenciam. Cada uma das dimensões relaciona-se com as outras. Por exemplo, o empreendedor age influenciado pelo ambiente, pela empresa em formação e pelo processo de criação do novo negócio (Scheel, 2009).

Fonte: Adaptado de Scheel, 2009.

Figura 3 - Uma estrutura para descrever a criação de um novo negócio (Gartner, 1985) Empresa em formação Indivíduo Ambiente Processo Condições Nacionais

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Gartner ao contrário de Drucker, sustenta que não há uma real diferença entre o conceito de empreendedor e o de proprietário de uma pequena empresa (Araújo, 1988) e que devemos concentrarmo-nos no estudo do processo de criação de empresas, abstraindo-nos do estudo do comportamento do empreendedor, já que este varia ao longo do tempo e por não ser suscetivel de prever e compreender com nenhum dos instrumentos atuais (Carland et al., 2000).

Esta corrente de pensamento foi criticada por alguns autores (Shane & Venkataraman, 2000; Davidsson, Low & Wright, 2001; Wiklund, Dahlqvist & Havnes, 2001) por se interessar na criação de organizações em detrimento do empreendedorismo, esquecendo que o processo de criação de uma nova organização por clonagem, duplicação ou por transferência da atividade não é uma forma de empreendedorismo (Fayolle, 2002).

A segunda corrente de pensamento de Shane e Venkataraman (2000) sustenta que o empreendedorismo está diretamente ligado à identificação e exploração de oportunidades económicas e definem o campo do empreendedorismo como o campo de estudo que procura compreender como as oportunidades que geram novos produtos e serviços são descobertas, criadas e exploradas, por quem e com que consequências. Esta perspetiva, como a anterior, refere-se à emergência, mas aqui é entendida como o surgimento de novas atividades económicas, não estando necessariamente ligada ao surgimento de uma nova organização.

Para Pacheco (2009, p. 13): “tanto a emergência organizacional como a oportunidade empreendedora baseiam-se na emergência (nascimento), embora esta última se baseie na emergência de uma nova atividade económica, enquanto a primeira aponta para a emergência de uma nova organização.”

Carland, Hoy & Carland (1988) sugerem de forma metafórica que, não se pode compreender a dança sem compreender o dançarino, por muito difícil que se avizinhe a tarefa. O empreendedor é apontado por Carland et al. (2000), como sendo o núcleo do empreendedorismo. O processo empreendedor é iniciado por um ato de vontade humana.

Segundo as conclusões do relatório “Nature or nurture? Decoding the DNA of the

entrepreneur” da Ernst & Young (2011) a construção de um empreendimento de sucesso

depende não só das características dos empreendedores mas também da complexa interação dos fatores internos e externos, incluindo o timing, geografia, cultura e algumas vezes sorte.

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A formação e a experiência profissional também são apontadas como vitais para o sucesso dos empreendedores. No gráfico 1 podemos visualizar os fatores de sucesso mais identificados pelos empreendedores no relatório.

Gráfico 1 – Fatores de sucesso mais identificados pelos empreendedores

Fonte: Adaptado do relatório “Nature or nurture? Decoding the DNA of the entrepreneur”

Os inqueridos e entrevistados concordam que existem três desafios principais para criar e fazer crescer um negócio: financiamento (existem cada vez mais barreiras no acesso ao crédito bancário), pessoas (encontrar as pessoas certas para executar a visão estratégica do empreendedor) e know-how.

Como podemos visualizar no gráfico 2, o financiamento é apresentado como o desafio mais importante dos três.

0 33% 30% 26% 21% 16% 13% 12% 11% 9% 5%

Experiência como empregado Educação superior Mentores Familia Cofundadores Educação secundária Colegas Pertencer ao quadro de executivos nivel C (o mais

elevado)

Amigos Investidores

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Gráfico 2 – Maiores desafios para um arranque de sucesso

Fonte: Adaptado do relatório “Nature or nurture? Decoding the DNA of the entrepreneur”

Para além do já referido, o estudo realizado pela Ernst & Young considera um erro considerar os empreendedores inerentemente diferentes dos gestores tradicionais. Os resultados apontam que a experiencia profissional, cultura e ambiente externo são mais importantes que as características pessoais inatas. Simplificando, a educação é mais importante do que a natureza na formação da mentalidade empreendedora.

Com base na literatura apresentada, podemos resumir o processo empreendedor nas seguintes expressões; organização, criação de mais-valia, inovação e criação de novas atividades.

No entanto, Bruyat e Julien (2001) chegaram à conclusão que, apesar do contributo para o conhecimento do empreendedorismo de todos esses trabalhos, por causa das suas características específicas, o campo do empreendedorismo, continua a ser um dos mais dificeis de estudar de um ponto de vista metodologico.

1.5. A Abordagem Atual do Empreendedorismo – A Visão Multidisciplinar

Segundo Filion (1997) o campo do empreendedorismo e muitos dos seus componentes são observados e analisados por economistas, sociólogos, historiadores,

0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35%

Financiamento Pessoas Know-how Riscos a curto prazo Operações

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psicólogos, cientistas do comportamento ou da ciência de gestão. O quadro 3 mostra os principais blocos de pesquisa do empreendedorismo.

Quadro 3 – Principais blocos de pesquisa do empreendedorismo

Clientes Sujeitos Especialistas Metodologias

Sistema Politico Empreendedores Empreendedores potenciais Educadores Empreendedores Empreendedores potenciais Educadores Consultores Políticas governamentais Desenvolvimento regional Características do empreendedorismo Ambiente empresarial Prática de negócios Atividades de gestão Financiamento Liderança Pensamento estratégico Economistas Sociólogos Comportamentalistas Sociólogos Antropólogos Gestores Quantitativa Quantitativa e qualitativa Quantitativa e qualitativa

Fonte: Adaptado de Filion (1997).

A literatura parece suportar o argumento de que não há uma definição genérica do empreendedor, ou se existe não temos os instrumentos para descobri-la neste momento (Kapp, 2003).

Por esse motivo, Bygrave e Hofer (1991) defendem que na ausência de uma definição universal, cabe a cada investigador explicar claramente o que entende pelo termo.

Adotando esta recomendação, no presente estudo escolhemos a definição do modelo GEM, que define o empreendedorismo como “qualquer tentativa de criação de um novo negócio ou nova iniciativa, tal como emprego próprio, uma nova organização empresarial ou a expansão de um negócio existente, por parte de um indivíduo, de uma equipa de indivíduos, ou de negócios estabelecidos” (GEM Portugal, 2007, p.3).

Como podemos constatar na literatura apresentada, são tantas as definições de empreendedorismo e empreendedor que a título de conclusão deste capítulo, vale a pena resumi-las no quadro 4.

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Figura 2 – Modelo do DNA dos empreendedores da Ernst & Young - Comportamentos e características  dos empreendedores
Figura 3 - Uma estrutura para descrever a criação de um novo negócio (Gartner, 1985) Empresa em formação Indivíduo Ambiente  Processo Condições Nacionais
Figura 4 - Modelo GEM (Reynolds et al. 1999)
Figura 5 - Modelo GEM Revisto Contexto social, cultural e político A partir de outras fontes disponiveis A partir da sondagem aos especialistas Requisitos básicos -Instituições -Infra-estrutura -Estabilidade macroeconómica -Saúde e educação primária Induto
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Referências

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