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3 ASPECTOS METODOLÓGICOS

3.1 A ABORDAGEM QUALITATIVA

Antes que iniciemos a nossa discussão sobre a abordagem qualitativa, é conveniente deixar claro que elegemos a abordagem qualitativa como o nosso caminho metodológico para esta pesquisa, conforme os estudos de André (2002), Bortoni- Ricardo (2008) e Gerhardt e Silveira (2009).

Com o intuito de um melhor conhecimento do ambiente escolar, suas práticas sociais e pedagógicas, os pesquisadores passam a aplicar a abordagem de pesquisa qualitativa na perspectiva de encontrar soluções para as problemáticas educacionais.

Surge, então, o interesse em estudar os dados sociais, sendo que essa decisão necessitava de uma abordagem de pesquisa diferente da positivista, que tivesse a perspectiva de sistematizar os estudos dos dados sociais em sua real situação e variação.

É frequente em livros de metodologia os autores abordarem tipos de pesquisa e tentarem diferenciar a abordagem quantitativa da abordagem qualitativa. Nesse contexto, entendemos que não se trata apenas da escolha de nomes de pesquisa, mas a escolha de uma abordagem específica ao tratamento de dados sociais, ou seja, formas de coleta dos dados.

Subsidiamos nosso estudo nas considerações de André (2002, p. 16), para deixar claro o que se define com relação à abordagem qualitativa:

A abordagem qualitativa de pesquisa tem suas raízes no final do século XIX quando os cientistas sociais começaram a indagar se o método de investigação das ciências físicas e naturais, que por sua vez se fundamentava numa perspectiva positivista de conhecimento, deveria continuar servindo como modelo para o estudo dos fenômenos humanos e sociais.

Desde o final do século XIX até os dias atuais, há conflitos entre essas duas abordagens de pesquisa, porém já se vê, aos poucos, o surgimento de pensamentos reflexivos quanto ao uso de uma ou de outra abordagem, ou o uso das duas, simultaneamente, em determinada situação.

Essa autora apresenta uma discussão bastante efetiva e importante a esse conflito de vertentes e abordagens de pesquisa, pois alguns pesquisadores associam a abordagem quantitativa à vertente positivista e, a abordagem qualitativa à vertente fenomenológica, criando uma oposição entre as duas. André (2002, p. 24) reflete que “o uso do termo „pesquisa quantitativa‟ para identificar uma perspectiva positivista de ciência parece-me no mínimo reducionista. Associar quantificação com positivismo é perder de vista que quantidade e qualidade estão intimamente relacionadas”. Entender que a abordagem quantitativa e qualitativa estão relacionadas nos fazem refletir que o que buscamos, segundo André (2002, p. 24) é: “diferenciar técnicas de coleta ou, até melhor, para designar o tipo de dado obtido [...]”.

Então, podemos dizer, diante dessa reflexão, que há diferença entre a abordagem qualitativa e a quantitativa, não com referência à pesquisa, mas a forma de tratamento dos dados. A qualitativa dá ênfase aos processos e significados que não são medidos em quantidade, volume, intensidade ou frequência. Já a quantitativa realiza-se pelo ato de medir, quantificar situações, pessoas, objetos, etc., podendo as duas estarem relacionadas em determinada situação de pesquisa.

Assim, a partir do entendimento que nosso estudo trata-se de dados sociais em um contexto de sala de aula, é necessário o uso da abordagem qualitativa, para observar, descrever, explicar e analisar esses dados, mesmo sabendo que, em determinado momento, podemos utilizar alguma abordagem quantitativa.

A abordagem qualitativa consolida-se por ser mais próxima para análise de dados do cotidiano escolar. Estudar os fenômenos humanos e sociais de forma qualitativa não é apenas diferenciá-los da abordagem quantitativa, mas tratá-los nas suas

variações reais para buscar descrever e analisar, ao máximo, os resultados empreendidos das situações vistas.

Assim, Bortoni-Ricardo (2008, p. 34) afirma que “A pesquisa qualitativa procura entender [...] fenômenos sociais inseridos em um contexto”. Esse contexto nos possibilita diversas descrições e análises de um determinado grupo ou dado social, observando uma realidade com as mais diversas situações reais. Observar, descrever e analisar os dados sociais de uma sala de aula nos leva a pensar e refazer nossas práticas de ensino.

De acordo com Gerhardt e Silveira (2009), a pesquisa qualitativa preocupa-se em compreender um dado ou grupo social. Nesse sentido, as autoras explicitam sobre essa abordagem, ressaltando:

As características da pesquisa qualitativa são: objetivação do fenômeno; hierarquização das ações de descrever, compreender, explicar, precisão das relações entre o global e o local em determinado fenômeno; observância das diferenças entre o mundo social e o mundo natural; respeito ao caráter interativo entre os objetivos buscados pelos investigadores, suas orientações teóricas e seus dados empíricos; busca de resultados os mais fidedignos possíveis; oposição ao pressuposto que defende um modelo único de pesquisa para todas as ciências.(GERHARDT e SILVEIRA, 2009, p. 32)

Com essa abordagem, buscamos compreender o comportamento de determinado grupo (alunos em sala de aula), não tendo como resultado, respostas objetivas e exatas, mas a descrição clara do que é visto de fato. Assim, observamos todos os momentos que as atividades foram desenvolvidas, buscando descrevê-las e analisá-las com padrões de pesquisa sistematizada.

3.1.1 O papel do professor pesquisador

Não há condição de observarmos a sala de aula sem nos deter nas práticas sócio- históricas e culturais. Para Bortoni-Ricardo (2008, p. 32), “a capacidade de compreensão do observador está enraizada em seus próprios significados, pois ele (ou ela) não é um relator passivo, mas um agente ativo”. As práticas sociais fazem parte de nós, e, nós somos parte das práticas sociais. Para a autora, compreender o papel de pesquisador e ao mesmo tempo interferir numa realidade, a qual fazemos parte como informante, nos torna um relator ativo de nossas práticas sociais (relata o que acontece com um olhar crítico de mudança).

De acordo com essa autora:

O docente que consegue associar o trabalho de pesquisa a seu fazer pedagógico, tornando-se um professor pesquisador de sua própria prática ou das práticas pedagógicas com as quais convive, estará no caminho de aperfeiçoar-se profissionalmente, desenvolvendo uma melhor compreensão de suas ações como mediador de conhecimentos e de seu processo interacional com os educandos. (BORTONI-RICARDO, 2008, p. 32-33)

Saber relacionar o papel do professor e pesquisador ao mesmo tempo, não é tarefa fácil, porém, temos a chance de agir-refletir-reagir, observando as situações práticas de planejamento da escrita dos alunos, descrevendo, refletindo sobre as problemáticas encontradas, e agindo, planejadamente, para sanar os problemas identificados. O professor-pesquisador, conforme a autora descreve, tem a oportunidade de agir, observar, analisar e refletir, podendo encontrar as dificuldades dos alunos e ao mesmo tempo reagir com uma possível solução (cf. essas ações na sequência didática).

Como bem aponta Bortoni-Ricardo (2008), o professor pesquisador não se contenta apenas a descrever as situações encontradas em sala de aula, mas, de analisá- las e buscar uma melhor forma de conduzir suas práticas de ensino, sanando as dificuldades encontradas; isso só é possível diante do professor que pesquisa suas próprias ações.

Para essa pesquisadora, há uma grande vantagem de ser professor-pesquisador, pois essa postura profissional resulta na criação de uma “Teoria prática”, quer dizer, um processo de ação-reflexão-ação.

A autora representa essa ideia com bastante clareza utilizando o esquema abaixo:

Figura 04: Relação entre a reflexão e a ação do professor pesquisador

A ideia proposta pela autora nos faz acreditar que podemos estudar nossos próprios passos no processo de ensino, podemos entender as variações de nossas salas de aula e interferir na realidade, de forma a ajudar os alunos a planejarem a produção escrita de seus textos para uma melhor interação com os outros.